Kent-Inglaterra 23 de Setembro de 2019
Chaeyoung:
- Obrigada pela carona, Eunha - Agradeci e depositei um beijo na bochecha da minha amiga, Jimin e eu desembarcamos com ele me contando como havia sido seu encontro com Rosé. Sorri ao vê-lo tão feliz, alguém tinha que estar não é?
Meu amigo era só sorrisos o tempo inteiro, diferente de mim, meu headphone estava em volta do meu pescoço, só esperando para que ser usado. Adentramos a escola e eu segui até o meu armário. Tzuyu havia faltado então nem ao menos minha amiga eu tinha por perto naquele momento, na verdade, fazia alguns dias que nem ela era mais a mesma.
Suspirei e peguei meu material, guardando o que eu não usaria e segui pra aula, matemática, a que eu mais detestava, para o meu azar, quando cheguei a porta ainda estava fechada e não demorou para que Mina surgisse, seu cheiro como sempre tão bom me causando aquela terrível vontade de suspirar.
Coloquei os fones e dei play em Vídeo Games da Lana Del Rey, balançando a cabeça e fechando os olhos, tentando esquecer a presença da garota ali, já bastava eu estar vestindo seu casaco, evitando que eu me enjoasse.
Me chame de infantil se quiser, mas eu queria evitá-la, não estava com humor nenhum pra conversa e muito menos para discussões, preferia que tanto ela quanto meus irmãos ficassem distantes de mim, pelo menos por hora.
Sejamos sinceros, os três me omitiram coisas, fizeram algo pelas minhas costas e Mina ainda tentou se justificar, como e porquê eu perdoaria aquele comportamento? Sem querer pensar nisso, adentrei a sala assim que o professor chegou e abriu a mesma, sentei no meu lugar designado e tirei meu caderno de desenhos da bolsa. Se eu pudesse passaria o resto do dia daquela forma.
Minha mão traçava as linhas no papel, o desenho aos poucos tomava forma, em sua maioria eram formas geométricas, um círculo maior e mais fino rodeava dois menores, dentro do menor deles, um retângulo levemente deformado, dentro dele, um pêndulo que se erguia até o topo do círculo.
Existiam mais detalhes, mas não fui capaz de colocá-los no papel, pois como se me arrancasse de um torpor, o sinal do fim daquela aula soou. Com meu coração palpitando pelo susto, guardei meu material e me levantei, seguindo para a próxima aula calmamente, mesmo que sentisse o cheiro de Mina me acompanhando. Suspirei, aquele seria um longo dia.
O sinal indicando que o horário de almoço havia começado tocou estridente, pela primeira vez em dias me incomodando. Percebi Mina se levantar antes de mim e seguir para a porta, onde Jihyo estava. Coloquei meus fones na cabeça, pra minha alegria havia descoberto o melhor volume para deixar o mesmo sem que eu acabesse tendo uma dor de cabeça.
Me levantei e comecei a guardar meus materiais, as vezes desviando meu olhar para as duas, que trocavam palavras acaloradas. Eu podia sentir toda a raiva e preocupação vinda de Mina, além de culpa enquanto elas discutiam. Mordi meu lábio inferior, era bom saber que ela sabia que tinha culpa pelo meu afastamento.
Me aproximei de Jihyo quando a Park já tinha sumido de vista com uma cara de poucos amigos. A loira suspirou ao meu lado enquanto caminhávamos pelo corredor, e foi minha vez de sentir culpa, esta misturada com um certo alívio.
Jihyo poderia ser a primeira a me virar as costas e falar que eu estava exagerando em minhas reações, ficando ao lado de Mina, que era sua melhor amiga desde que elas eram bebês praticamente, e ainda assim ela havia ficado do meu lado e estava me dando apoio, eu tinha muita sorte por tê-la como amiga.
- Terra pra palmito - Ouvi a voz de minha amiga, me tirando dos meus devaneios sobre a mesma e revirei os olhos, pois ela havia puxado meu fone e encaixado em meu pescoço enquanto caminhávamos para nossa mesa de sempre, depois de enchermos nossas bandejas de comida. - Eu nem perguntei, você tá bem, depois de ontem.
Suspirei com sua pergunta e dei de ombros, colocando minha bandeja na mesa logo em seguida. - Eu não sei Jih, eu confiei nela e ela fez o que fez - Murmurei me sentando e sem pensar voltei a pegar meu caderno de desenho e o lápis, passando a comer com uma mão e dar mais detalhes ao meu último desenho com a outra. - Podemos só não falar sobre isso?
- Tudo bem, branquela, a decisão é sua, agora...- Puxou o caderno da minha frente. - Que merda é essa!? - Seu tom pareceu um misto de surpresa e desagrado. - É meu desenho, eu não sei o que é, só me veio a cabeça e coloquei no papel, por quê? Você conhece esse desenho? - Perguntei e ela assentiu, se silenciando logo em seguida. Suspirei, sentia que ia precisar esperar pelas respostas.
Inesperadamente fomos dispensados ao final do horário de almoço, Jihyo, Jimin, Rosé e eu seguíamos para o estacionamento, a ruiva e eu estávamos conversando animadamente sobre alguns gostos em comum que não sabia que compartilhávamos, pra falar a verdade, estava adorando conhecê-la melhor.
- Jimin - Ouvimos uma voz grave e rouca chamar, todos nos viramos, o pai de Jimin estava recostado em sua adorada Mercedes prateada, o esperando, meu amigo sorriu abertamente, era tão raro que o mais velho estivesse ali para Jimin que o garoto se alegrava sempre que ele se fazia presente.
O moreno dividiu nosso grupo ao entrelaçar os dedos aos da namorada e caminhar animadamente até o pai, que por um instante passou o olhar por mim, me causando um arrepio gélido que subiu desde a base da minha coluna até minha nuca. O arrepio só passou quando ouvi Jihyo xingar baixinho ao meu lado. - O que foi? - Questionei curiosa.
- Eunha está resolvendo algumas coisas pra mãe dela, não vai poder vir - Respondeu guardando o celular no bolso. Mordi meu lábio inferior, Mina teria sido minha primeira opção, mas obviamente não iria pedir carona a ela. - Precisando de ajuda? - Questionou Minwoo ao meu lado, me fazendo saltar de susto, o que lhe causou uma risada, bati em seu braço, mas sorri. - Chegou na hora certa, a anã aqui e eu precisamos de uma carona.
Revirei os olhos para as palavras da coreana ao meu lado, mas isso pareceu apenas causar mais risadas no moreno a nossa frente. - Vamos? - Perguntou ele, assenti, e logo caminhávamos em direção a um belo Camaro RS de 1967 preto, no qual não demoramos a embarcar para finalmente ir pra casa.
Aíte Sithe, Kent - Inglaterra 23 de Setembro de 2019
Jihyo foi a primeira a desembarcar quando chegamos a cidade, reclamando da forma que Minwoo dirigia, ou seja, respeitando as leis de trânsito. Revirei os olhos e arrumei minhas coisas para sair do carro também. - Hey, Chaeyoung - O rapaz chamou minha atenção, seus olhos castanhos encontrando os meus pelo espelho retrovisor. - Mina sabe que ela errou, mas você tem que entender os motivos dela...- Comentou, suspirei.
- Eu entenderia se ela ao menos me contasse quais são. - Murmurei e joguei a mochila nas costas, logo descendo do veículo.
- Achei que ia demorar mais - Afirmou minha amiga, com os braços cruzados, mas um pequeno sorriso no rosto. - Ainda está com aquele desenho? - Assenti e a loira segurou meu pulso, para logo me puxar em direção a "rua" principal do lugar. - Jihyo, que desespero todo é esse?
Como resposta, seguimos em direção a pequena loja de elixires da família de minha amiga, onde sua mãe conversava calmamente até a desesperada que me arrastava adentrar o estabelecimento, a respiração ofegante e os cabelos desarrumados. - Oi tia Park, Niki - Cumprimentei envergonhada, às vezes eu me perguntava como eu era amiga de alguém como Jihyo.
- Mostra o desenho - Praticamente mandou a loira, revirei os olhos e coloquei a mochila no chão, peguei meu caderno de desenho e o coloquei sobre a bancada da loja, onde, com facilidade localizei a folha na qual eu havia desenhado mais cedo.
Ambos empalideceram tão rápido que me preocupei. - Onde você viu isso, Chaeyoung? - Questionou a mais velha.
- Num sonho ontem a noite, eu acho, eu não me lembro direito, apenas desenhei, por quê? - Indaguei preocupada. Me surpreendi ao ouvir as próximas palavras do único homem presente no ambiente:
- Porque isso é o selo de um demônio...