Pov: Chuuya
15 de abril, sábado.
Eu ainda estava sentado de frente para os túmulos, me arrependendo de não ter confiado em Dazai naquela época. Mas também não foi culpa do Shirase. Foi tudo obra daquela merda de gangue.
—Que droga, sem vocês aqui vai ser difícil. No ano que nos conhecemos, se eu pensasse, por acaso, sobre perder vocês, eu nem conseguiria imaginar isso. É como se um mundo sem vocês não existisse. Mas é o mundo de agora, não precisei imaginar como seria. Sinto falta de vocês, dos conselhos que me davam, do carinho e até das palavras que me acertavam mais como um tapa na cara. –Digo, erguendo meus lábios em um sutil sorriso. —Não sei como ajudar ele. É a primeira vez que conheço alguém assim, que quer tirar a própria vida. E se...algum dia, quando eu for pra faculdade, eu descobrir que Dazai se... matou? Não gosto disso, mas não sei o que fazer. Como deve estar a mente do coitado do Atsushi? Ele deve estar em Pânico o tempo todo. A única pessoa que sobrou, quer cometer suicídio, e ele sabe disso, Atsushi sabe das tentativas de Dazai, ele que impediu uma parte delas. Quantas vezes ele já não viu uma cena dessas? Ele deve estar tão perdido. O que posso fazer pra ajudar? Que inferno, eu só queria servir de alguma coisa pra compensar que não estava aqui quando eles precisaram!
Grito aquela frase e acerto o punho cerrado na grama ao meu lado, abaixando a cabeça e sentindo uma lágrima escorrer pelo meu rosto.
Eu tava segurando o choro há um tempo, não me permito chorar na frente dos outros. Definitivamente, não me permito a isso.
Logo uma doce memória invade minha cabeça, de quando conheci as pessoas maravilhosas que deixaram esse mundo ano passado...
Quando eu estava no segundo semestre do primeiro ano do ensino médio.
Conheci Dazai logo no primeiro dia de aula do ano, foi horrível. Pior ainda quando descobrimos ser da mesma turma.
O santo simplesmente não bateu. A gente se odiava, não aguentávamos a personalidade um do outro. Mas a pior parte era o fato de Dazai se aproveitar da minha impaciência e estresse para me tirar do sério.
Ficamos assim durante o primeiro semestre inteiro.
Porém, tudo mudou no último dia de aula antes das férias de verão.
Dazai me ajudou com uns caras do terceiro ano.
Depois daquele dia, percebemos algo diferente um no outro.
Dazai sabia ser gentil, eu havia finalmente notado isso. Enquanto ele percebeu que eu sabia ser amigável.
Depois das férias de verão, logo no primeiro dia, estávamos diferentes. Claro, ele continuava com as provocações e eu continuava ameaçando ele e chegando a o agredir. Mas algo havia mudado. Agora parecia uma brincadeira nossa. Ele parecia implicar comigo inocentemente. E eu não batia de verdade e nem me sentia verdadeiramente irritado.
Demorou para a gente se acostumar, tanto que ainda dizíamos nos odiar.
Bom, um dia um professor resolveu passar um trabalho em dupla, onde ele as escolheria.
Só que, enquanto o professor explicava e escolhia as duplas, eu e Dazai estávamos discutindo, ele zombando de mim e eu o ameaçando. Mas o professor viu isso, mesmo a gente sentando lá no fundo da sala.
Já que não ouvimos a explicação dele, nem uma única palavra, ele se irritou e decidiu nos colocar de dupla, sabendo que não nos dávamos bem.
Sendo assim, decidi marcar de fazer o trabalho na casa de Dazai, já que ele próprio se ofereceu. Além disso, minha casa estaria vazia e eu não gosto muito de ficar sozinho, sinto algo estranho quando isso acontece. Então, pretendia ficar na casa dele, já sabendo que ele morava com seu irmão mais novo e seus pais.
O que eu não sabia é que essa seria a melhor decisão que eu já teria tomado. O meu medo estranho de ficar sozinho me salvou e me fez conhecer os pais de Dazai, que eram quase como meus pais.
Eu lembro que naquele dia eu estava nervoso, com medo dos adultos serem intimidadores e não gostarem de mim. Dazai me garantiu que eles não tinham qualquer preconceito contra mim e que eu poderia relaxar. De alguma forma, o moreno consegue adivinhar alguns de meus pensamentos e inseguranças.
Quando chegamos em sua casa, depois da aula de uma tranquila sexta-feira, fomos muito bem recebidos pelos outros três integrantes daquela família.
—O onii-san, chegou! –O jovem albino anuncia empolgado, enquanto abria a porta. —Sejam bem-vindos! Pode me chamar de Atsushi, é um prazer. –O mais novo oferece o sorriso mais gentil que já vi, estendendo sua mão.
—Pode... Pode me chamar de Chuuya. –Respondo, apertando sua mão e dando um sorriso tímido.
—Eu já estava preocupada, por que demoraram tanto? –Uma mulher, até que alta, aparece logo atrás do garoto, abrindo um leve sorriso, um sorriso caloroso. —Entrem logo, meninos.
—Em minha defesa, nos atrasamos porque ele anda como uma tartaruga. –Dazai acusa, apontando para mim, enquanto adentrávamos a residência. O lanço um rápido e discreto olhar de irritação, logo me voltando para sua mãe.
—Obrigado por me receber, sou Nakahara Chuuya. –Apresento educado, me curvando levemente.
—Eu que agradeço por vir. –Ela murmura gentil. —Tem horário pra voltar para sua casa?
—Bem, na verdade, não tenho. –Respondo, lembrando que meu irmão só voltaria de madrugada.
—Gostaria de ficar para jantar? –Ela convida.
—N-Não, não precisa, eu-...–Tento recusar, mas logo um homem muito alto aparece, me lembrando um pouco Dazai, na verdade, ele parecia com ambos os adultos.
—Ah, nossa visita precisa experimentar a comida divina dessa mulher! –O mais velho exclama, rindo um pouco em seguida. —Nakahara, certo? Não se preocupe, fique a vontade.
—Muito obrigado. Talvez eu...fique para o jantar. –Digo encolhendo os ombros.
—O que?! –Dazai pergunta surpreso, como se não contasse que eu fosse realmente considerar. —Você vai ficar na minha casa até a hora do jantar?
—Qual o problema? –Sua mãe se intromete, franzindo o cenho. —Bom, vão começar o trabalho de vocês, não desperdicem seu tempo.
Dito isso, o moreno ao meu lado suspira, pousando sua mão nas minhas costas e me empurrando, não tão delicadamente, até a sala, onde sentamos no chão, próximos à mesa de centro, de frente um para o outro.
Dazai jogou sua bolsa da escola ao seu lado, retirando os materiais que seriam necessários.
—Vamos dividir assim: eu resolvo o trabalho e você transcreve tudo, já que é pra ser manuscrito. –O outro decide, parecendo desanimado.
—Por que você vai resolver todo o trabalho? –Pergunto, um pouco indignado, mas me impedindo de cometer qualquer ação rude. Não poderia tratar Dazai mal na frente de sua família.
—Oras, porque eu sou o inteligente aqui. Não vou comprometer nosso trabalho confiando em você pra acertar as questões. Você sabe que, por mim, eu nem faria isso, mas não tem outro jeito. Se for pra perder tempo com esse trabalho, quero uma boa recompensa, quero, no mínimo, ganhar a nota total. –Ele explica, de forma arrogante. —Além disso, os professores preferem sua escrita do que a minha.
—Mas é claro, sua letra é um carrinho, custo entender o que você escreve. –Respondo, mordendo o lábio inferior logo depois, por não conseguir controlar minhas palavras.
—Ah, pode até ser, mas eu ouvi dizer que gênios costumam ter uma péssima caligrafia. –Ele diz, com um sorriso convencido.
—Eu acho que não funciona bem assim. Mas você me convenceu. Só vamos terminar logo isso. –Suspiro, organizando as coisas.
—Ainda bem que concordamos. –Ele sorri inocente, fechando seus olhos.
Depois de um longo tempo, finalmente, o trabalho estava concluído.
Sem perder tempo, Atsushi nos chamou para jogar vídeo game, mas só após muitas provocações, vindas de Dazai, sobre eu ter medo de perder para eles, que eu aceitei jogar.
Alguns minutos seguintes do início do jogo, a mãe de Dazai se sentou no sofá e passou a nós assistir em silêncio.
O albino foi o primeiro de nós a ser eliminado, então, decidiu se sentar perto da mãe e conversar com ela.
—Eles me lembram muito a senhora e o pai. –Atsushi comenta de repente, me fazendo ficar atento a sua conversa. Como eu e Dazai, com nossa relação conturbada, poderíamos parecer seus pais?
—Ah, é mesmo? –A mulher pergunta curiosa. —Nakahara-kun, você se estressa fácil também?
—Eu...bem, às vezes eu esquento a cabeça muito rápido. –Respondo envergonhado.
—Osamu deve encher sua paciência, não? –Ela indaga divertida.
—Na verdade, eu diria que ele é uma das pessoas mais irritantes que já conheci, m-mas, não, eu não quis dizer isso do seu filho, ele só...–Travo, mordendo meu lábio inferior.
—Não tem problema. Eu sei muito bem como meu filho pode ser insuportável quando ele quer. Mas também sei que ele pode ser gentil. A personalidade dele é parecida com a do pai. Mas Osamu com certeza é mais inteligente e racional. –A mais velha diz, com um sorriso pequeno. —Ele realmente consegue me tirar do sério com as provocações.
—Tá me dizendo que a senhora é muito estressada? –Pergunto, vendo que fui eliminado e ouvindo o moreno comemorar, mas ignoro tudo para sentar no outro sofá e conversar com a mãe dos garotos.
—Sim, quando eu era bem pequena, chegava a bater nas outras crianças. Era preocupante. Fiz terapia por um tempo por causa disso. Mas hoje estou bem. Ser estressada faz parte da minha personalidade, não posso mudar isso. Mas posso ter controle. Posso impedir que...a bomba exploda, entende? Fico irritada, entretanto, não fico agressiva. Há diferença.
—Você tem razão. Quando eu me irrito de verdade, eu perco meu controle. Posso bater nos outros e machucar. –Confesso, abaixando a cabeça. —Mas eu juro que nunca bati no seu filho, pelo menos, não pra machucar! Ele não me irrita tanto assim, não chego a perder a cabeça.
A mulher sorri e concorda, se aproximando e dando um rápido carinho no topo da minha cabeça.
O sentimento que ela transmitia era puro, confortável e cuidadoso. Minha mãe nunca havia me transmitido isso, tanto que me abandonou.
—Eu sei disso, se você tivesse machucado meu filho, ele chegaria em casa chorando e reclamando horrores. Mas isso nunca aconteceu. –Ela conta, ainda sorrindo. —Certo, meninos arrumem a sala, já o Nakahara, venha comigo. O jantar já tá quase pronto.
E, então, acompanhei a mais alta até a cozinha, onde ela pediu para eu me sentar.
Me fez perguntas simples como: "tem alguma alergia?" Ou "tem alguma coisa que você não gosta de comer?", neguei essas perguntas.
Longos segundos de silêncio se estenderam. Mas, para quebrar o desconforto, ela perguntou:
—Sabe cozinhar? –Concordo com a cabeça. —Ah, que ótimo, Osamu não sabe nem fazer miojo, ele não tem interesse em qualquer coisa relacionada a cozinha, só em comer, então ele não quer aprender essa arte. Você gosta de cozinhar ou faz por obrigação?
—Eu aprendi a gostar. Meu irmão fica a maior parte do dia fora de casa e chega muito cansado, então, eu cozinho pra gente. Muitos dizem que cozinhar é estressante, já outros que é relaxante. Mas eu acho que depende do que aconteceu com você no dia e dependendo do que você tá cozinhando. –Explico, sem manter contato visual, logo a mulher serve meu prato.
—Seu irmão trabalha de quê? –Ela pergunta.
—Ele faz parte de uma empresa de segurança. Contratam a empresa que manda os seguranças para os locais ordenados. –Respondo, agradecendo pela comida em seguida.
—Seu irmão cuida bem de você? –Ela continua, na intenção de puxar assunto.
—Cuida, sim. Ele cuida de mim desde sempre. Meus pais não gostaram muito de ter um segundo filho. Mas Paul tinha um instinto fraternal muito grande desde novo. Ele me protegia. –Conto, não conseguindo evitar o suave sorriso que surgiu em meus lábios. Sou grato por ter Paul na minha vida.
—Acredito que o amor entre irmãos seja um dos mais fortes, senão o mais forte, que existe. Eu quase tive uma irmã, mas infelizmente ela morreu durante o parto, junto de minha mãe.
—Eu sinto muito, deve ter sido horrível. –Lamento, me sentindo mal.
—Faz muito tempo. Agora tenho minha família, e sou feliz assim. –Ela sorri alegre. —Sabe, você é muito bem-vindo aqui. Osamu já comentou sobre você, mas você é realmente um garoto bom. Se seu irmão permitir, venha nos visitar mais vezes. Se quiser, pode traze-lo, vou adorar conhecer um irmão tão gentil.
—Pode deixar. Muito obrigado. –Murmuro, sorrindo sinceramente, chegando a cerrar meus olhos.
Sempre que entrava naquela casa, eu sentia um calor especial. Quase como se eu fizesse parte da família.
Depois de um tempo os visitando, usando trabalhos como desculpa e, quando não os tinha, eu e Dazai acabávamos apostando em algum jogo de vídeo game, usando isso como desculpa para eu ir até sua casa, passei a ser recebido por abraços, vindos de seus pais e até de Atsushi.
Logo todos me chamavam pelo primeiro nome e eu me sentia cada vez mais acolhido.
Paul chegou a os visitar algumas vezes também, era uma bagunça, mas era divertido.
Lembrar de tudo isso e estar ciente de que nunca mais vou viver esses momentos foi doloroso.
Quando percebi, lágrimas rolavam por minhas bochechas de novo. O sentimento de nostalgia me consumia. Eu só gostaria de voltar naquela época e aproveitar mais.
Chorei, berrei, soquei a grama, repetidas vezes. Até que finalmente me acalmei. Limpei meu rosto e levantei.
—Eu vou voltar qualquer dia ainda. E eu pretendo voltar a cuidar do Dazai, como vocês diziam. Vou voltar a ser o amigo que eu era antes da nossa briga. Quero ter aquela amizade de novo. –Murmuro, suspirando em seguida. —Talvez, melhor do que antes, já que ele aquele imbecil parece estar um pouco mais maduro. –Resmungo, cruzando os braços e virando o rosto. —Acho que...minha discussão com meus avós, que me impediu de ir estudar na Europa, e o fato de eu não conseguir me sustentar lá sozinho, não foram só coincidências afinal. Dazai também não conseguiu sair do país. E fomos pra mesma universidade e acabamos nos encontrando lá. Se eu tivesse saído do país, talvez demorasse ainda mais, ou nunca descobrisse, que vocês partiram. Também não teria notícias e nem contato com o Dazai. –Reflito em voz alta, ficando pensativo. —Parece que ganhei uma segunda chance, não? –Digo dando um sorriso ladino e me virando. —Pretendo fazer direito dessa vez, não vou me deixar levar pela merda da raiva e cortar laços com ele. Até logo!
E, enfim, vou em direção a entrada do cemitério, me sentindo um pouco mais leve.
Logo vejo Dazai escorado no muro, parecendo distante, enquanto olhava para o céu.
—Já podemos ir. –Anuncio, ficando ao seu lado.
—Você é muito enrolado, meu Deus. Parece uma lesma andando e ainda perde totalmente a noção do tempo. –O mais novo reclama, em tom brincalhão.
—Eu não ando igual uma lesma! Você que faz questão de andar mais rápido quando tá comigo. –Resmungo irritado, cruzando os braços.
—E como você sabe que é só com você? Acho que o problema é que suas pernas são muito curtas, aí você acaba dando passos pequenos e demora mais. –Ele aponta, sorrindo de lado enquanto eu fechava a cara.
—Minhas pernas não são curtas! –Tento retrucar, mas sou ignorado. Ele pega seu celular e chama um carro de aplicativo.
—Quer sair? Comer em algum lugar? O Mori ainda deve estar lá em casa, então, ele cuida do Atsushi. –Dazai oferece, sem olhar para mim.
—Não precisa, só viemos ver seus pais. Além disso, não trouxe dinheiro para mais nada. –Digo indiferente.
—Sem problemas, conheço um lugar baratinho e eu posso pagar pra você. –Ele rebate, desviando o olhar para mim e dando um leve sorriso.
—Pagar pra mim? De jeito nenhum! Não vou ficar te devendo. E você nem tem dinheiro, idiota. –Acuso franzindo o cenho.
—Quem disse? Tô começando um novo trabalho, lembra? Aliás, vamos comer lá. O pessoal é bem de boa. Fica no térreo de um prédio, que tem uma agência de detetives uns andares acima. –Ele explica, chamando finalmente o maldito carro.
—Agência de detetives? E isso aí funciona? –Questiono desconfiado, nunca vi uma agência trabalhar de verdade.
—O pior é que funciona muito bem. De vez em quando eles resolvem alguns casos com a ajuda da polícia, já apareceu na televisão, mas eles não costumam dar as caras nos jornais, sabe? –Ele conta, dando de ombros.
—Parece interessante. Mas não concordei em comer lá! Eu já disse que não tenho como pagar e você não vai pagar pra-...–Sou interrompido pelo indicador do mais alto sendo pressionado contra meus lábios.
—Às vezes você fala demais. –Ele reclama, tirando seu indicador de onde estava. —Eu já disse que vou pagar. Prometo que vai gostar de lá.
O carro chega e passo o caminho todo emburrado. Estou sendo obrigado a comer fora! E vou acabar devendo uma para o Dazai de merda! Isso não é justo.
Adentramos uma pequena, porém aconchegante, cafeteria. E sentamos numa mesa mais afastada, no canto do lugar.
—Dazai-san? Veio comer aqui hoje? –Uma mulher jovem e de cabelos castanhos presos em um coque se aproxima.
—Vim sim! E ainda trouxe um amigo, já que comer sozinho é muito deprimente. –Ele responde meio dramático, oferecendo um sorriso para a mulher, que apenas ignora e nos entrega o cardápio.
—Pra um lugar pequeno, até que tem bastante coisa. –Comento impressionado, folheando tudo.
—É um dos motivos pra eu querer comer aqui. Além daquela gata que nos atendeu. Eu acho que tô quase conquistando ela. –Ele diz, a olhando de longe de forma descarada, com o rosto apoiado na palma da mão.
Com sua fala, solto uma risada debochada: —Até parece. Ela deve pensar que você é um traste. E não tá errada. Sinto muito, mas parece querer apenas distância de você.
—Que maldade. Você não entenderia, você não gosta de mulheres. Esse é o jeito delas de demonstrar interesse. Elas se fazem de difícil e isso só deixa os homens mais loucos para ficar com elas, entende?
—Se você tá dizendo, não vou contrariar sua doce ilusão com aquela coitada. –Murmuro, finalmente decidindo o que comer. —Aliás, você não trabalha hoje, não?
—Não, só trabalho de segunda à sexta, incrível né? –Ele responde, fazendo os pedidos para a garçonete.
Depois que a mulher se afasta, um silêncio paira no ar, é raro isso acontecer entre mim e Dazai, ou simplesmente estamos "brigando".
Ficar em silêncio faz nossos pensamentos falarem mais alto. E, na maioria das vezes, isso pode ser ruim. Você pode pensar em coisas que te afetam negativamente e se afundar nisso.
E é o que costuma acontecer comigo. Depois de tudo lá no cemitério, agora estou preso ao passado.
Mas o silêncio não durou muito.
—Nossa, que silêncio horrível! –Dazai resmunga dramaticamente. —Vamos conversar, vai. Me diz, você ainda tem aquele medo de ficar...sozinho?
A pergunta me pega de surpresa. Dazai já sabe desse medo estranho que possuo. Ele sabe desde o fim do primeiro ano.
Minha amizade com ele sempre foi...diferenciada. A gente conversava sobre as coisas que nos incomodavam, mas essas conversas não eram profundas, nunca, nem um de nós dois, quis demonstrar um momento de fraqueza para o outro, nosso orgulho é maior que qualquer coisa.
Mas eu já havia comentado que gostava de ir para a casa dele porque lá eu não me sentia sozinho. Automaticamente, ele entendeu que eu me sentia mal se ficasse em lugar sem ninguém por perto.
Eu já fiz terapia e tanto Dazai, que fez mais uma suposição, quanto o terapeuta, que obviamente tinha mais conhecimento e experiência, disseram que esse medo poderia ter surgido por causa do abandono que sofri dos meus pais e por causa da rejeição dos meus avós, as figuras que deveriam cuidar de mim. Percebendo que a única pessoa que se importava comigo, quando esses...traumas aconteceram, era meu irmão, passei a ter uma consideração muito grande por ele, ficando muito mais ansioso com suas reações do que o necessário. Me preocupando muito mais com ele do que realmente é normal.
Além disso, tenho problemas para confiar nos outros, chegando a afastar as pessoas, abusando de minha personalidade agressiva para isso.
Porém, Shirase e Dazai foram os únicos que, mesmo me esforçando para afastar, eles não desistiram de mim. Shirase sempre esteve ao meu lado, atencioso e gentil. Enquanto Dazai parecia sempre aliviar o clima, mesmo me irritando, ele era divertido, e ainda é.
Com isso, confio muito neles, uma confiança cega. Eu poderia andar vendado na rua e pedir para eles me guiarem, sem qualquer medo de algo ruim acontecer, porque confio neles.
—Qual foi? Já somos adultos, não tenho mais esse medo bobo. –Minto, com vergonha de admitir que até hoje sinto isso.
—Não é bobo. Atsushi tem medo de barulhos altos, parecidos com tiros. Se veio de um trauma, não tem como ser um medo bobo. Mas se não quiser falar sobre, não posso te pressionar. –Ele diz, com uma expressão mais séria, deitando a cabeça na mesa.
—Eu já tô acostumado, tá? Já superei esse medo. Além disso, posso passar um tempo com Shirase se eu quiser. Mas ele também tá ocupado ultimamente, ele conseguiu um emprego, já que não entrou na faculdade, e fica a tarde toda trabalhando. –Murmuro, suspirando.
Dazai deixa o assunto de lado, começando a falar coisas aleatórias, como fofocas da escola, acabando discutindo comigo sobre qual seria o lado certo e qual seria o lado errado.
Nossos pedidos chegaram e me surpreendi. Mesmo sendo um lugar pequeno e...acessível, a comida era ótima.
Quando estávamos terminando para pagar, duas pessoas entraram no local.
Um deles era alto e parecia mais velho, pelo menos uns vinte anos a mais que a gente. Seu cabelo claro e uma expressão séria e cansada.
O outro era mais baixo do que ele (mesmo assim, mais alto do que eu), o cabelo mais escuro com uma espécie de boina sobre ele, sua expressão entediada, mas uma voz escandalosa.
Eles foram rapidamente atendidos, enquanto eu e Dazai já estávamos de saída.
—Aquele mais velho é o presidente da agência de défices que eu comentei. A agência fica no quarto andar, então eles costumam frequentar a cafeteria. –O moreno explica, colocando os braços atrás da cabeça, andando despreocupado. —O outro, que parece um adolescente, na verdade já é um adulto. Se brincar, até mais velho que a gente. Ele parece ser o filho do presidente, mas não trabalha com o pai ainda. Ele tá na nossa universidade, podemos até esbarrar nele por aí.
—Espero que não, ele é muito irritante. Parece uma criança! –Comento indignado.
—Como você pode ter opiniões formadas sem nem conhecer ele? Assim que ele entrou a gente saiu. –O mais alto diz, dando um peteleco em minha testa, o que me fez fechar a cara.
—Ele chegou gritando, dizendo que as aulas estavam um saco e que ele mesmo poderia explicar melhor que os professores. Um convencido. –Bufo, cruzando os braços.
—Você também é convencido, chibi. Além disso, ouvi falar que ele é bem inteligente mesmo. Ele sempre estava em primeiro lugar no colégio, estudou na melhor escola da cidade. Parece que foi aceito em todas as universidades que ele tentou, mas que por escolha própria, ele quis ficar aqui. –Ele conta indiferente. —Acho que ele é até mais inteligente do que eu, acredita?
—Claro que acredito. –Respondo mostrando a língua, mas estava só escondendo minha surpresa. Eu não iria admitir que Dazai era muito inteligente, nunca faria algo assim. E se aquele pivete é mais inteligente que o Dazai, ele só pode ser um super gênio, um dos melhores prodígios.
—Bom, isso não importa. Agora eu só quero ir pra casa e dormir. –Dazai diz, com um leve sorriso.
—Vai dormir mais ainda? Não sei como consegue essa proeza. –Comento surpreso, afinal, não sou do tipo que dorme durante o dia, não consigo.
O moreno pega o celular e chama o carro, ficando confuso quando entro com ele.
—Não vai pra sua casa? –Ele pergunta, erguendo uma sobrancelha.
—Atsushi me convidou para ficar até o jantar. Eu recusei, mas ele insistiu tanto que acabei aceitando. –Esclareço dando de ombros.
—Entendi, então você vai fazer o jantar? –Ele indaga, um pouco mais animado.
—Eu mesmo disse que só ficaria até tão tarde se ele me deixasse cozinhar, algo que ele aceitou sem nem pensar. –Respondo suspirando.
—Gosto da comida do Atsushi, mas ele ainda é novo na cozinha. Você tem uns anos de experiência, além de ter aprendido algumas coisas com minha mãe. Sua comida não é tão ruim. –O mais novo diz, passando a observar a janela.
—Pelo menos, eu sei cozinhar. –Retruco, vendo seu rosto virar rapidamente em minha direção, com uma expressão dramaticamente indignada e magoada.
—Pelo menos, eu...sou bem mais inteligente que você e não preciso me matar de estudar pra tirar uma nota mediana ou pedir ajuda pra entender a matéria. –Ele rebate infantil, lembrando da época do colégio.
—Eu não me matava de estudar! Eu tirava notas altas também, não eram só medianas. –Resmungo cruzando os braços.
E ali se iniciou mais uma discussão besta, que não levaria a lugar algum, e ambos sabiam bem disso, mas continuávamos, porque, querendo ou não, esses nossos momentos de "briga" sempre foram divertidos.
Passamos o caminho inteiro assim, só paramos quando chegamos em sua casa.
4250 palavras
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Nota da autora (Paola): oi, gentee!
Consegui postar hoje, que glória!
E o que vcs estão achando? Eu espero q o desenvolvimento dos soukoku esteja bom, é uma das minhas maiores inseguranças-
Mas, bom, espero q tenham gostado <3
Ahh, um recadinho aqui: no meu niver, dia 12, tô querendo publicar outra fic soukoku! Tô amando escrever ela tbm, então, espero q gostem de ler (se quiserem ler, é claro)
Ah, e eu queria me desculpar pela minha enrolação pra introduzir os personagens T-T, mas eu n consigo introduzir tudo de uma vez, pq n encaixa na história e dps acabo esquecendo de introduzir eles e acabo ficando só no soukoku hihi ent desculpa
Acho q era só isso...
Obg pela leitura e até a próxima!