《Alissa 》
Com sua boca curvada num sorriso, Robert pousa a mão na lateral do meu rosto. Usando o polegar, acaricia minha bochecha.
—Está fazendo um excelente trabalho. —Suas sobrancelhas levantam-se.
Afastando-se, despido ele direciona-se para o extenso closet ao fundo do quarto. As nádegas firmes e avantajadas mexendo-se suavemente enquanto ele o faz.
Pendo ligeiramente a cabeça, para melhor absorção dessa vista celestial. Indago-me a qual exatamente, ele se refere. Passo meu lábio inferior pelo superior.
—Obrigada Daddy.
Estico um dos lados da minha boca. Ele parece calmo, para alguém que quase tomou um tapa. Engraçado que Susan também, embora existisse uma ligeira luminosidade em seus olhos, quando ingressei na sala, acompanhada pelas crianças.
De volta ao cômodo, no acesso ao Closet, Robert solta o cós do short azul que usa. Descer meu olhar para o abdômen bem definido, faz-me passar a língua pelo centro do meu lábio superior.
O movimento não passa despercebido por ele. Robert curva a boca num sorriso rápido. Com as laterais da camisa cinza já em seus braços, ele ergue-os passando a abertura no topo da vestimenta pela cabeça. Puxando as barras pelo corpo, seus olhos focalizam-me.
—Vá se alimentar querida. —Ele estira sua mão, pousando-a no meu queixo, traça círculos com o polegar no topo.
—Nos vemos mais tarde. —Acrescenta, encarando o gesto. Inclinando-se, pressiona seus lábios contra os meus, subindo o seu inferior, penetra a abertura da minha boca. Sugando o meu superior. Um sorriso toma os meus, encaminho-me para a porta.
Pra me julgar assim, gosto que me imagine como a Adria Rae. Detenho-me na saída, segurando a porta, lanço um breve olhar pelo cômodo, encontrando seus olhos, movo os meus para o piso. Cubro meu lábio inferior com o superior e deixo o local.
Na tigela de vidro em que apoia sobre o mármore escuro da bancada, Courtney mexe com delicadeza uma massa branca de cheiro adocicado, quando chego a cozinha. Pisco, desviando meu olhar para o piso. Uma vez que com a minha proximidade, atraio o olhar da cozinheira, carregando o um tímido julgamento.
—Tem carne de panela com legumes grelhados. Caso queira almoçar. —Informa, recolhendo o olhar para a massa.
—Tem pratos, talheres e copos ali. —Acrescenta, apontando para o pequeno armário branco de piso, cuja parte traseira é voltada para a sala, como uma parede branca.
—Também tem limonada na geladeira, se quiser.
Absorvo o ar, num gesto rápido. Vou até o armário. Puxando a primeira porta, encontro os pratos. Posto um sobre a bancada no topo.
—Nessas massas, assim costumo por noz. —Comento, pegando um copo na porta ao lado. Junto-o ao prato.
—Conheço esse truque, mas a Sra. Downey é alérgica.
Depois que pego os talheres na porta logo abaixo, ponho-os no centro do prato, direciono-me para o fogão. Courtney está a poucos centímetros do local, sua postura defensiva, ligeiramente ameniza-se.
Descubro a panela com a carne e legumes, sirvo-me de duas conchas do prato. Levo meu olhar para a cozinheira, com uma careta em minha feição.
—O Sr Bragança sempre pede, quando vai levar alguém para dormir. —A ideia de pintá-lo como Charlie Sheen sem AIDS me soa como uma vingança a altura para aquela versão, ditatorial que ele exibiu ontem.
Courtney franze o cenho.
—Pensei que ele fosse casado.
—Por seis meses. Acho que o que ele queria mesmo era um filho. —Na panela com arroz branco ao lado, sirvo-me de uma colher. —Se divorciou da esposa com três meses de gravidez.
Mesmo que tudo isso seja efeito dos antidepressivos em meu organismo, arrisco-me a dizer que adoro este momento da minha vida.
Courtney une as sobrancelhas levemente, balança a cabeça.
—Da forma como você fala, é o que parece.
Ponho meu prato na bancada, pego o copo, vou até a geladeira. Inclino-me, após apanhar a jarra transferir um pouco da limonada para o recipiente, devolvo-a a geladeira. Erguendo-me, fecho a porta em seguida.
—Nosso local de refeição fica na primeira porta da direita. —Informa, indicando a passagem na lateral do cômodo que se situa em oposição a sala de estar.
Pego meu prato, com os talheres nas bordas. O copo em minha outra mão. Olho para o seu conteúdo por um curto instante.
—Um almoço feito pela cozinheira dos Downeys. —Obtendo o seu olhar, faço um muxoxo. —Isso pode inflar meu ego.
Meneando a cabeça, Courtney estapeia o ar. Encaminho-me para o local indicado por ela, desfaço meu riso no percurso.
Situado de frente a porta do compartimento que passei a noite, o interior do cômodo não é uma lavandeira. É um espaço amplo, com a parede em oposição á porta toda em vidro, exibindo a vista da grama do jardim. Com Tv presa a lateral que faz aresta com a entrada. No centro a passagem para a lavanderia não tem porta. Um sofá cinza alguns metros a frente, posiciona-se no outro lado que compreende a outra aresta do local. É para onde me dirijo.
Posto meu prato na lateral que fica de frente a TV. Retiro meu celular no bolso frontal da calça branca, ponho-o ao lado do prato, acomodo-me em seguida.
Pego um pedaço da batata, unindo-a a um pedaço de carne no garfo, levo-os a boca. Pegando o celular, enquanto mastigo, desbloqueio a tela. Abro meu Whats. A maioria das notificações provém dos grupos do MBL, uma da minha mãe. Tratando-se o conteúdo, de um áudio, que ela me pergunta como estou, depois que respondo-a, fotos bombardeiam a tela. No instante seguinte em que retornando o Menu de conversas abro as mensagens do MBL NATAL. Piscina e recepção mais cedo no auditório duelam pelo domínio de cenário.
Sendo Alexandre, John, Carlos, Pablo e Nico os ocupantes. Ocasionalmente alguns membros que devem ser de Pernambuco e Paraíba —O último citado não chegou a sediar o evento — E fundadores do movimento, surgem nas fotos.
Pego outro pedaço da carne, dessa vez depois de leva-las a boca, mais um pouco de legume.
Numa das fotos, Carlos fita Holiday ao seu lado. Na outra lateral, o toque de Pablo no braço do vereador exala uma conversa divertida. “Uma provável orgia?” Tendo Nico como emissário, essa é a legenda logo abaixo.
Engolindo minha comida, dou um gole no meu suco. Neste novo movimento, carne e abobrinha são o conteúdo que tiro do garfo com minha boca. Rolo a tela, na fotografia abaixo, Burrinho tem um copo em sua mão. Instalado numa das cadeiras a alguns metros da piscina, suas pernas estão cruzadas e ele fita seu telefone. “Foras não é?” Abaixo da legenda Nico faz menção a meu nome. Várias menções tomam a tela, a pergunta “Como assim?” as acompanham.
Pego um pouco mais das batatas, a carne junto-a a elas na boca ao final. No instante seguinte em que ingiro-as dou um gole no suco. Volto ao Menu, abro minha conversa com Nico.
“Noite agitada?” Digito.
“Quer falar mais baixo, por favor!” A resposta chega poucos segundos após o envio.
Com o auxílio da faca, empurro a quantidade restante da cenoura para o garfo. “Nunca pensei que fosse preferir estar na cama que num congresso” A informação chega, antes que possa formular qualquer coisa.
“Está tão ruim assim?” No instante seguinte que ingiro a quantidade restante da carne com os legumes, dou o último gole do meu suco. “Você adora falar”.
“Que bom que desistiu dessa coisa de morrer no pau”. Meu estômago
estremece, por pouco não engasgo com a comida. “Sempre pensei que falta de sexo fazia mal, mas a esse ponto...”.
Pressiono o guardanapo nas laterais da minha boca, ponho-o no prato ao final.
“Está mostrando o dedo do meio para mim, não está?”
Rindo, sacudo a cabeça. Levanto-me arrasto a cadeira no piso claro com o gesto. Direciono-me para o sofá, onde sentando-me cruzo minhas pernas.
Na foto que surge, a plateia está atenta a direção da câmera, que imagino estar o palco, uma vez que Nico será um dos palestrantes. Na segunda fileira Pablo apoia o queixo no ombro de Carlos que por sua vez tem seus dedos erguidos num V, ao seu lado Alexandre sorri. “Só falta você aqui”. A legenda faz-me entortar um dos lados da minha boca.
O som de passos aproximando-se faz-me devolver o celular ao bolso.
Levanto-me rapidamente.
Indio ergue suas mãos abertas. Ingressando no local, balança a cabeça.
—Relaxa, acho que você só tem que trabalhar quando as crianças estiverem acordadas. —Ele mostra um sorriso amarelo, exibindo seus dentes brancos e brilhantes e direciona-se para a lavanderia.
—Só vim deixar a toalha. —Diz erguendo o item em questão, pendurado em seu ombro exposto.
Como bom metaleiro, ele não é gordo. Seu abdômen não chega a ser definido como o do pai, mas de certa forma, o fato dele ser seco, o torna bonito. Pela tonalidade branca de sua pele.
—Namorado? —Postando a toalha no topo da máquina de lavar, ele volta seu rosto para mim.
Sento-me no sofá. Bem, poderia contar para ele minha história com o seu pai, e questioná-lo em que pé, acha que estamos, mas não me parece uma boa ideia.
—Não tenho. —Atenho-me em responder.
Devolvendo seus passos para a sala, sua testa vinca-se no trajeto.
—Então essa é uma boa notícia. —Ele se acomoda no sofá á poucos centímetros de mim.
—Para mim, ao menos. —Rindo, encosta as pontas dos dedos em seu peito. —Quero convidá-la para jantar comigo hoje.
—Estou começando a achar que vou te roubar do Sr Bragança Alissa. — Ingressando no ambiente, Susan carrega o biquíni preto usado mais cedo.
Os olhos claros passeiam de Indio para mim. Puxo o ar num gesto apressado, faço menção de levantar-me.
—Então, aceitou? —Ladeando um sorriso, Susan torna seu olhar para Indio.
Que por sua vez arqueia seus lábios.
—Estava fazendo o convite.
Susan vinca a testa, levando sua mão para trás, pega o celular em seu jeans. A expressão que vi mais cedo, na chegada para o almoço das crianças assume seus olhos.
—Com licença. —Ao fim de suas palavras, ela dirige-se para a área de serviço. Volto meu rosto para Indio, corro meu olhar pelo seu semblante.
—Não tenho motivos para recusar. —Faço um muxoxo.
Indio sorri.
Alguns metros a frente, Susan tira o celular da orelha. Piscando, devolve-o ao bolso do seu jeans. Posta o biquíni sobre a toalha na máquina.
Levanto-me, rumo em sua direção. Pestanejo, recebendo seu olhar mediante a minha proximidade. Enrugo a testa.
—Está tudo bem Sra. Downey? —Indago, unido levemente minhas sobrancelhas.
Seus olhos claros passeiam pelo meu rosto. Ela absorve o ar, põe a mão na lateral do quadril. Virando o rosto para o lado, prende o centro do seu lábio inferior no superior. Voltando seu olhar para mim, ela o liberta.
—Costumamos comer as 18h. —O muxoxo em sua feição é mal ensaiado. — Aqui vocês costumam comer, mais tarde não é?
—Sim. —Um sorriso vacila em meu rosto.
—Prometemos assistir Coco as crianças, depois que elas acordarem. —Seu rosto move-se para o lado. Susan puxa o ar.
Retornando seu olhar para mim, pousa sua mão em meu braço.
—Estou bem. —Assegura. O sorriso que toma seu rosto soa-me como forçado. —Foi apenas minha babá que acabou de pedir demissão.
Susan pisca.
—Com licença.
As crianças despertam poucas horas depois. Os sirvo com torta Alemã para Avri e Cheescake de brownie para Exton acompanhado de limonada como lanche. Ao término, levo-os para o piso superior para limpar os dentes. No nosso retorno para sala, Exton disserta alegremente sobre o quanto gosta do animal espiritual da Mamá Coco. Com Avri em meus braços instalo-me numa das laterais do extenso estofado branco.
Pipoca, refrigerante e alguns petiscos foram postos no largo de centro de madeira escura, à frente do sofá. Sentado numa das poltronas cinzas á alguns centímetros do outro lado do estofado em que me situo, Robert tem as pernas cruzadas enquanto corre os olhos pela tela do Ipod em sua mão.
O filme narra a história do jovem Miguel. Um menino que sonha em ser um grande músico como um dia seu bisavô foi. Mas, por tratar-se de uma profissão mal vista pela família, ele é proibido de seguir o seu sonho. Não atendo-se apenas a isso, a história fala sobre amor, família e perdão. E não diferente de outros filmes do estúdio, meus olhos marejam-se enquanto acompanho a trama. Que faz-me indagar como seria, se aquele puto tivesse levado mais dois minutos para me encontrar
Provavelmente agora minha mãe estaria se perguntando o que poderia ter feito para evitar que sua filha se matasse. Ou buscando a razão que me levou a fazer isso. Eu não sentiria o conforto do abraço dos meus irmãos. Como costuma ser quando nos encontramos. Não mais nos sentaríamos na sala da minha mãe e riríamos enquanto relembramos nossa infância. Eu nunca teria conhecido Nico, nem o MBL.
Entorto um dos cantos da minha boca, absorvo o ar. Avri arqueia o pescoço.
Sua testinha franze-se, ao fim do gesto.
—Está chorando Alissa? –Seus dedinhos passeiam pelo dorso da minha orelha. —Chora não.
No instante seguinte em que volta o rostinho para mim, Exton põe os joelhos no sofá, arrasta-os em minha direção.
—É só um filme. —Seus lábios contraem-se. Fitando-me, passa a mãozinha pelo meu rosto. —Não fica assim.
Ele deita o rostinho sobre meu ombro. Seus dedinhos entrelaçam-se no meu pescoço.
—Não precisa ficar triste. —Ele desliza o polegar na minha pele.
Isso me acalenta. Viro meu rosto, passando a mão pela lateral, pego a lágrima que escapou. O movimento faz-me encontrar os olhos de Susan.
Absorvo o ar.
—Sou muito manteiga derretida. —Solto um riso baixo.
—A história linda. Difícil de não se emocionar. —Susan ergue um dos cantos da boca, volta seu olhar para a TV em seguida.
Reproduzo o gesto, no instante seguinte em que avançando meu olhar cruzo-o com o dele, que carrega uma ligeira luminosidade. Volto minha atenção a TV.
A imagem de Nico sentado no sofá sobre o pé, com os braços cruzados em torno do peito, fitando-me de olhos cerrados enquanto balança a cabeça e estala a língua num gesto reprovador toma minha mente, provocando o estremecimento do meu estômago, pelo riso que forma-se.
A sessão finda-se alguns minutos antes do horário indicado por Susan para o jantar. O crepúsculo que cai sobre a propriedade, produzindo um aspecto arroxeado na parte baixa do céu, acompanha o decorrer da refeição. Ao seu término, encaminho-me para o piso superior com Avri em meus braços.
Acompanhando-nos, Exton segura o centro da minha mão, enquanto disserta no quanto é bom no banco imobiliário. Jogo esse que consome duas horas até o instante que Avri separa seus lábios emitindo um bocejo. No instante seguinte em que banho-os, visto-os com os respectivos pijamas e acomodo-os na cama, a história da vez é A Bela e a Fera.
Inicio a leitura no momento seguinte após instalar-me na beirada da cama. Por períodos ocasionais desvio meu olhar para eles. Encaminhando-se para o final, dessa a vez a serenidade que encontro em seus semblantes, unindo-se as suaves lufadas de ar que deixam suas narinas acompanhando o sono, faz-me esticar um dos cantos da minha boca. Posto o livro na escrivaninha a alguns metros da cama. No meu retorno para o local, tiro Avri com cuidado das cobertas.
Pousando a cabecinha no meu ombro, enquanto circulo as dobras das suas pernas com o braço, devolvo a ponta do edredom ao seu lugar. Dirijo-me para a saída, apagando a luz antes de fazê-lo. Depois de acomodá-la em seus aposentos, conduzo-me ao piso inferior.
Jesus! O vestido que opto possui uma tonalidade verde gasta. Na estampa de ligeira transparência do tecido, os ramalhetes têm flores vermelhas suaves, não aplicando-se as mangas e a cauda que tem comprimento até os meus joelhos. Já de banho tomado, cabelo limpo e seco, de frente ao espelho, com a vestimenta em meu corpo. Fitando-me, enquanto faço o esfumado suave em minhas pálpebras, lembro-me da minha tentativa frustrada de ser protestante. A maquiagem é leve. O batom vinho que cobre meus lábios é o único chamativo. Ponho sandálias beges de tiras. Depois que pego minha bolsa, saio do cômodo.
Comprimo meus lábios. Sentado na poltrona cinza da sala de estar, Indio apoia o tornozelo coberto pelo jeans escuro na sua coxa. Agitando o pé calçado com All Star preto. Os olhos claros levantam-se com a minha acanhada aproximação. Erguendo-se ele sorri e guarda o celular em sua mão no bolso traseiro do jeans.
As mechas loiras presas na nuca, ele usa uma camisa gola V preta, com uma jaqueta de mesma cor sobre ela. É meu sonho de 15 anos tomando forma.
Ele estende sua mão para mim.
—Você está linda.
Segurando seus dedos, curvo meus lábios unidos num sorriso.
—Obrigada
No movimento de levar o dorso da minha mão aos seus lábios, Indio passa seus dedos pelos meus. Tirando os lábios do local, mantém-se segurando minha mão.
Seus olhos movem-se pelo meu semblante, piscando, ele solta um riso baixo.
—Vamos? —Incita.
—Vamos.
No centro do céu limpo, a lua que se aproxima-se da fase cheia, provoca um suave aspecto prateado no jardim quando saímos da propriedade. Elevando um dos cantos da minha boca, franzo o cenho. Buscando vestígios da silhueta masculina que vi na varanda do piso superior no instante que o Honda Civic preto avançou para fora do local, foi fruto da minha imaginação.
Absorvo o ar, levo meu olhar para a lateral. Fitando o verde que precipita-se nas arvores de troncos finos e alongados que ladeiam a estrada, dando para os altos morros alguns metros logo atrás. Sinto o apressado passeio dos seus olhos claros para mim.
—Adoro os pratos com frutos do mar que esse restaurante produz. — Comenta.
Levo meu olhar para ele. Sua atenção centra-se na estrada de pavimentação escura.
Elevo um dos lados da boca.
—Isso porquê não conhece um dos que tem no meu estado chamado Camarões.
Quando move seus olhos para mim, Indio tem uma das pontas dos seus lábios erguida, que ele a contrai no momento seguinte.
—Quer ouvir alguma coisa?
A ideia de Kinslayer do Nightwish provoca o surgimento de uma rápida lufada de ar. Mas uma canção, cuja letra Tuomas Cabelo Assanhado —Meu Deus nem para comprar uma hidratação—Holopainem, retrata o massacre de Colunbine, não soa como boa pedida.
Faço muxoxo.
—Vou deixar por sua conta. —Cedo.
Um sorriso rápido forma-se em resposta. Indio curva-se, pressionando um botão no painel no instante seguinte Secrets de One Republic toma o automóvel.
O restaurante onde ele para o veículo no estacionamento, tem um formato arredondado, todo revestido em espelhos com vigas brancas circulares distribuídas em sua extensão, delimitando o que imagino ser o acesso para funcionários. Uma vez que á alguns metros do carro existe uma rampa branca, dando acesso ao piso superior. Reforçada pelas várias catracas formando uma linha, afastadas por um amplo da lateral em que nos situamos.
No momento seguinte em que empurra a porta e sai do veiculo, Indio detém-se na minha lateral, repetindo o movimento, estira sua mão aberta para mim. Agarro seus dedos, uso-os como apoio para deixar o automóvel. A brisa noturna provindo das suaves ondas do mar levemente escuro no outro lado agita a saia do meu vestido quando o faço. Após bater a porta do carro, acionar a trava, Indio entrelaça seus dedos aos meus e rumamos para o piso superior.
Acompanhando o topo branco reto do estabelecimento, a delimitação do restaurante nessa região vai alargando-se até tocar o piso. O espelho que reveste-a é um preto opaco. Com um extenso guarda-corpo branco, distanciado por alguns metros, circulando-o. O vento aqui é levemente mais forte, golpeando meu rosto. Afasta violentamente meus cabelos dos ombros, sacudindo-os atrás das orelhas.
Puxo o ar, precipitando meus lábios no segundo seguinte num sorriso de incredulidade. Similar ao revestimento da delimitação do lugar, a estrutura circular, alguns metros abaixo do andar forma a passagem para uma barca no momento ancorada alguns metros á frente.
O movimento rápido de pigarrear de Indio faz-me girar. Um sorriso espalha-se pela sua feição.
—Como aparentemente você gostou daqui. —Usando o lábio inferior ele empurra o superior. —Vou ver nossa mesa.
Crispo meus lábios, acenando com a cabeça. No instante seguinte em que ele afasta-se, encaminho-me para a sacada. Pouso com delicadeza meus dedos no corrimão branco no topo. O som suave das ondas tocadas pela brisa quebrando-se na areia faz-me esticar meus lábios num sorriso. Após o mar levemente escuro, existem diversos pontos brilhantes ocasionalmente largos envolvendo o princípio das silhuetas dos altos morros escuros.
Tímida, a suave melodia do piano provindo do interior do estabelecimento ecoa pelo ambiente. Iniciando com os ombros logo minhas pernas balançam-se com leveza, acompanhando o som emitido pela pressão das teclas em Slow, Love, Slow de Nightwish.
Mãos pousam nas laterais do meu quadril. A lufada quente e vigorosa da sua respiração enquanto ele inclina-se, toca minha pele. Mantenho-me acompanhando a música com meu corpo. Esfregando o tecido delicado que cobre meu quadril contra sua virilha coberta pelo jeans escuro. Os pelos da sua barba perfuram o tecido delicado e tocam meu ombro. Indio pressiona seus lábios no local. Encosto meu rosto no seu peito sob o tecido macio da camisa.
Ergo meu olhar. Um sorriso forma-se em seu semblante. Indio agarra minha mão e gira-me. Passando seu braço pela minha cintura, quando ao fim do movimento, detenho-me de frente para ele. Movendo-nos lentamente, num gesto rápido, ele desliza o polegar num trecho da cicatriz no meu pulso.
—Essas tatuagens tem algum significado?
Estiro uma das pontas da minha boca.
—Uma lembrança de gratidão pela segunda chance que recebi.
Indio puxa o ar.
—Estão aprontando nossa mesa. —Informa, levantando um dos cantos dos seus lábios. —Reservei uma aqui mesmo porquê sabia que você iria gostar.
Formo um sorriso rápido. Fitando-o, vinco a testa com suavidade.
—Porquê Indio? —Indago-o bruscamente. Franzindo a testa, ele pisca.
—É um nome bem incomum. —Acrescento.
—Alissa com I também é. —Ele defende-se. Cala a boca!
—Gosto da ideia que é uma variação Finlandesa para Alyssa. –Faço uma careta. —Mas a verdade deprimente é que foi apenas um funcionário do cartório de disposição duvidosa para o trabalho.
Ele sorri.
Foi um evento divertido. Nossa salada de entrada, risoto de camarão como entrada para mim, salmão com lâminas de amêndoas para Indio acompanhada por vinho branco —Eu com apenas uma taça—foram acompanhadas por muitos risos provocados pelo compartilhamento de histórias da nossa infância.
Momentos questionáveis da nossa adolescência e bebedeiras, que nesse quesito as minhas tiveram predominância. Conversas sobre sua banda compreendeu metade do percurso para casa. Na outra, após sua revelação que chegou a abrir um Show do Nightwish, e eu enche-lo de perguntas, viemos entoando algumas músicas do grupo.
O veículo avança para o interior da propriedade, depois da falha miserável da minha voz ao tentar reproduzir o lírico na peça The Poet And The Pendulum, viro meu rosto para ele, com um sorriso aberto.
—Me diverti muito. —Estico um dos cantos da minha boca.
O grosso portão escuro eleva-se com a proximidade do veículo. Ingressando na garagem, Indio desliga o motor. Um dos cantos da sua boca sobe-se, ele gira o rosto para mim.
—Só queria lhe proporcionar um momento de diversão.
Segurando a trava, ele empurra a porta e sai do automóvel. Contorna o capô e no instante seguinte detém-se em minha lateral, liberando o acesso, estende a mão aberta para mim. Agarrando-a, saio do local no momento seguinte com as sobrancelhas erguidas.
—Funcionou muito bem.
Ele ergue uma das laterais da boca. Os olhos claros em meu semblante emanam avaliação.
—Também me diverti muito. —Ele sorri.
Sua mão ergue-se. Indio passa a extensão do dorso dos seus dedos em minha bochecha.
Comprimo meus lábios. Pisco.
—Acho melhor entrar. —Puxo o ar, abro um sorriso. —Trabalho amanhã.
Seus dedos passam rentes a minha orelha, o indicador posiciona-se a frente do lóbulo, os demais penetram meu cabelo. Afasto-me, obtendo a ligeira união de suas sobrancelhas, emanando confusão.
—Indio. —Pisco. —Foi ótimo sair com você.
Passo minha língua centro do meu lábio superior. Entorto-o em junção ao inferior em seguida.
—Mas não acho que seja uma boa ideia.
Desvio meu olhar para o piso escuro em reação a confusão que toma sua feição.
Aperto meus lábios.
—Com licença. —Retiro-me ao fim dessas palavras.
Entro no meu quarto ofegando. No par de olhos claros que em encaram em minha mente existe frieza. Vou para o banheiro, encarando-me de frente ao espelho, removo a maquiagem. Tiro o vestido, o conjunto de lingerie e dirijo-me para o Box ao fundo.
Fantasiei isso desde os meus 12 anos —É soa como pedofilia, mas eu se quer, o conhecia— por isso que por mais que o admirasse, sempre o fantasiei da forma como o tenho agora. Mas apenas isso, sexo gostoso e brutal. Então qual a lógica de ansiar mais que isso?
Minha garganta está seca, na minha saída do banheiro. Movida a isso ponho uma saia jeans de botões pouco acima do meu joelho uma blusa de poliéster listrada de azul e branco, calço chinelos de dedo —Obrigada Fabiano opressor— a irmã Alissa se encaminha para a cozinha.
Agora vamos as probabilidades. Primeira, casualidade. Segunda, eu estava terrivelmente enganada quando pensei que a época de ser vigiada pelos meus pais tinha acabado aos meus 18 anos. Uma vez que de regata cinza exibindo os bíceps bem definidos e uma calça de moletom azul, Robert encontra-se na cozinha. Água ocupando o copo transparente em sua mão. É, autoconfiança em excesso.
Limpo a garganta.
—Vim só pegar um pouco de água. —Formo uma linha com meus lábios.
Pondo o copo na bancada escura, Robert vira-se ao final. Um dos cantos da sua boca erguidos num meio sorriso.
Puxo o ar, encaminho-me para o armário de piso no outro lado da cozinha. Acho o recipiente na primeira porta. Tiro o item do local, corrijo a postura. Robert move-se para mim, enquanto o faço.
—Estava linda naquele vestido verde. —Ele posta a mão aberta na bancada no topo do móvel.
Encolho-me, direcionando um rápido olhar para a sala. Sua mão agarra meu queixo, ele vira meu rosto para si com violência.
—Por favor. —A lufada pesada da sua respiração toca minha orelha, no esfregar da lateral do seu rosto contra o meu. —Me diz que não deixou que meu filho a tocasse.
Ele mordisca o lóbulo da minha orelha. O cheiro o seu creme de barbear penetra minhas narinas.
—Daddy. —Arfo. O principio da sua ereção toca minha virilha. —Aqui é arriscado.
A nova mordiscada em minha orelha causa o eriçamento dos pelos do meu corpo. Encolho-me rindo.
—Pai? —O som de passos na escada emaranha-se a voz de Indio.
Afasto-me institivamente. Mas sem tempo o suficiente para sair, o campo de visão da cozinha já é possível para Indio.
Deixando o último degrau da escada seus olhos movem-se do seu pai para mim.
—O que está fazendo aqui?