Esther acordou no domingo às oito e meia, estava chovendo muito.
Mas isso não a acordou, ela acordou depois de escutar barulhos altos de louça, então desceu para tomar café com a sua mãe.
Quando chegou a cozinha, viu um bilhete na porta da geladeira.
* Oi meus amores, tive que sair para resolver algumas coisas do trabalho, não vou poder passar o final de semana com vocês, mas deixei dinheiro para pedirem o almoço, assim você não vai precisar cozinhar Esther. Um beijo, amo vocês. *
Esther ficou com medo, não queria ficar naquele lugar sozinha, então decidiu que era melhor mandar mensagem pro Arthur já que Ayla estava ocupada.
Ela pegou o celular e viu que tinha uma mensagem à uma hora e meia atrás.
*- Bom dia! - Arthur
-* Bom dia. Arthur, você se importa de passar aqui? Minha mãe não está aqui e ouvi alguns barulhos. - Esther
- Com medo rainha da sabedoria? Kkk - Arthur.
- Eu perguntei se você pode, não se tem uma "piada" na ponta da língua. - Esther.
- Acordou com o pé esquerdo ou os espíritos cortaram o direito? Bom, chego aí em duas horas. - Arthur.
- Obrigada. - Esther.
Ela fez um misto quente com suco de laranja e foi tomar banho.
Depois do banho, ela subiu para o quarto para acordar Alice.
- Princesa?
- Você viu? Você viu? - Alice levantou correndo da cama e agarrou a perna da sua irmã.
- Vi o quê? - Ela estava aflita, Alice não parava de puxar o seu short.
- O sangue na parede! Você não viu?
Esther pegou ela no colo e sentou na poltrona com ela.
- Não vi não meu amor, onde estava?
- No quarto todo, não quero ficar aqui, eu quero ir embora. - Ela colocou as mãos no pescoço da sua irmã e o rosto em seu peito.
- Não foi nada, tá bom? Você está suando, por que não vai tomar um banho para relaxar? - Alice apertou mais forte o pescoço dela. - Quer que eu te leve até o banheiro?
Alice não disse nada.
- Vamos ver desenho na televisão lá embaixo, que tal? - Esther levantou ela em seu colo e desceu para a sala.
Ela ligou a televisão e deixou o desenho passando, quando a campainha tocou.
- Eu já volto, fica aí. - Ela se levantou e foi abrir a porta.
- Oi, você tá bem? - Arthur carregava algumas bolsas pesadas.
- Oi. Estou sim. Para que tudo isso?
- Essas duas são de roupas, e essa daqui é para Alice, aposto que ela já te contou do ratinho.
- É, ela me contou, você tem um parafuso a menos? - Eles entraram e pararam perto da escada.
- Uau, aqui é realmente muito bonito, será que os fantasmas gostam de doces? E aí, onde é meu quarto?
- Seu quarto? Que eu saiba te chamei para passar a tarde aqui.
- É, eu sei, mas eu vim pra ficar, sabe como é, não descubri o que vem depois da morte, quem sabe um fantasma de diga, anda, cadê o meu quarto? Péssima anfitriã você.
- Não sei se vou aguentar você por muito tempo, talvez eu devesse ficar só com os espíritos, aguentar um bicho-papão não deve ser legal. Vem, vou te mostrar onde você vai ficar. - Eles começaram a subir as escadas.
- Ufa! Por um momento pensei que iria me deixar na sala com os espíritos.
- Não seria uma má ideia, e não faça piadas sobre espíritos na frente da Alice, ela já está com medo o suficiente.
- Tá bom madame.
- E você pretende ficar como mendigo na minha casa por quanto tempo? - Ela abriu a porta de um quarto.
- Foi você que me chamou, então não vai expulsar a sua visita, não é? Quem sabe até ano que vem, ou até você ficar com cabelo brancos, se não morrer antes, é claro.
- Já me arrependi de ter chamado.
- Larga de ser chata. Cadê a Alice?
- Lá embaixo.
- Tenho que ter uma conversa de gente grande com ela, vamos. - Ele saiu andando pela escada.
- Vocês são duas crianças!
Ele pulou nas escadas como se elas fossem um pula-pula.
- A escada tá firme mesmo. Oi Alice!
- Oi.
- Olha o que o titio trouxe para você, um saco enorme de bala e pilurito. - Ele jogou um saco enorme de doces no sofá.
- Eba!!!! - Ela começou a abrir o saco rasgando ele.
- Epa epa, nada de doces antes do almoço.- Esther tirou o saco da mão dela e colocou do outro lado da sala.
- Só um pouquinho!
- Não, se não você não almoça depois princesa.
Arthur se sentou do lado de Alice.
- Sabe, sempre pensei que sua irmã parecesse mais bruxa do que rainha. E sabe o que bruxas fazem com princesas? - Ele fez cara feia para ela.
- Não! - Ela começou a rir.
- Coziam elas! - Ele fez cócegas nela.
- Para, para! - Ela não parava de rir.
- E então? O que vamos comer? - Ele se sentou direto no sofá.
- Não sei, vamos pedir comida japonesa, talvez?
- Comida japonesa? Que saco! Pensei que iria provar que cozinho melhor do que você hoje.
- Duvido muito. - Ela revirou os olhos.
Ele voltou sua atenção para Alice.
- Você quer a comida do titio, não é? Fala para a sua irmã largar de ser chata só hoje. - Ele sussurrou em seu ouvido. - Vamos fazer carinha triste e você fala, tá bom?
- Tá bom! - Ela gritou.
- No já.
- Já. - Ele sussurrou em seu ouvido.
- Para de ser chata Ister, deixa o tio fazer comida hoje, por favor, por favor!
- É, você fica com a louça, é claro. - Ele fez cara de cachorro sem dono.
- Tá bom, mas não me responsabilizo de você ficar com fome com a gororoba dele Alice. - Ela seguiu para a cozinha.
- Vencemos! - Ele gritou e pegou Alice no colo seguindo Esther até a cozinha.
- Podem sentar na mesa, vocês vão experimentar o melhor strogonoff que vocês já viram. - Ele pegou o avental e começou a pegar as coisas na cozinha para começar.
- Eba! - Alice bateu na mesa.
- Espero não precisar de um banheiro só para mim o dia todo. - Ela se sentou de mal humor.
Arthur se virou para elas.
- Por gentileza princesa das neves, pode calar a rainha da sabedoria? Ela é um saco. - Ele pediu a Alice revirando os olhos.
- É, vai ficar bom, pode confiar mana.
- De novo contra mim?
- Eu disse que aprenderia a cuidar de crianças para te superar, e você tá fazendo bem o seu papel em ser chata, não pensei que me superaria, parabéns.
- Obrigada, por mais que eu ainda tenha que aprender a ser muito pior para me igualar a você.
- Você está com um ótimo humor hoje, o que aconteceu? Os espí... - Esther o cortou.
- Bom, vai começar ou não?
- Já estou começando, calma, você está muito estressada.
Eles foram conversando enquanto ele cozinhava por um bom tempo.
- Está pronto, Cadê os pratos? - Ele olhou para a mesa e a bancada.
- Guardados.
Ele se virou incrédulo para Esther.
- Vou fazer tudo?
- Não era assim que você queria?
- Com uma ajudante dessas era mais fácil eu ter pedido ajuda aos esp.... para a sua irmã, ela ia me ajudar bem mais, não é princesa das neves?
- Sim! Posso ajudar? Você deixa? - Ela se levantou pulando.
- Pode sim, o seu primeiro desafio como princesa das neves é arrumar a mesa.
- Eba! - Ela saltou da cadeira e foi ao armário.
- Viu? A sua irmã gosta de mim.
- Ela tá confusa, tadinha. - Ela disse em tom sarcástico, tirando a mão da bochecha e jogando sobre a mesa.
Ele riu.
- Acabei tio!
- Então senta lá que eu já vou levar, princesa.
Arthur colocou a comida nos três pratos e se sentou.
Alice foi a primeira a experimentar.
- Que delícia tio!
- E você Esther, gostou?
Esther provou, estava mesmo muito bom.
- Pelo menos você serve para alguma coisa, não é?
- Viu? Eu sei cozinhar e você não, já posso casar não é? - Ele fez uma voz fininha tentando imitar uma garota.
As duas riram.
- Pode sim, só falta alguém que te ature.
- Posso dizer o mesmo de você, no seu caso é só com dívida de jogo.
A luz piscou e se apagou, então Alice apertou a mão de Ester por cima da mesa.
- Calma princesa, deve ter sido a chuva, está ficando mais forte.
Arthur acendeu a lanterna do celular.
- É pequena, é só a chuva, e, bom, a cara feia da sua irmã também. Aí! - Esther deu um pisão em seu pé.
- Cala a boca, ela tá com medo, para de fazer gracinha.
- Tá bom chefe. Princesa das neves, se importa de ficar no escuro um minutinho? O titio precisa ir ligar o gerador.
- Tá bom. - Ela colocou o rosto no peito de Esther.
- Eu não sei onde fica o gerador. - Ela olhava ele assustada.
- Muito menos eu, vou procurar.
- Você vai demorar muito procurando. - Arthur fez cara feia para ela e se voltou para Alice.
- Vou ser rápido, pode cuidar dessa rainha chata para mim?
Alice riu, mas voltou a ficar com medo imediatamente.
- Posso sim rei!
- Ele não é um rei, ele tá mais para o cavalo do príncipe.
Alice riu de novo.
- Olha aqui rainha deformada, eu sou um rei muito lindo, O.K? Se a princesa disse, é porque eu sou.
- Quem manda é a rainha, não a princesa.
- As rainhas são sempre más e chatas, feias que só Deus na causa. Já as princesas são legais, então fica quieta porque só eu tenho moral, tá legal?
Esther colocou as mãos para cima, atrás da cabeça.
- Tá bom então, não tá mais aqui quem falou. Mas ainda acho que um cavalo ou um bicho-papão cairia bem melhor.
- Há há há, muito necessária você, eu vou ir atrás desse gerador, vai que eu consigo a minha foto. - Ele disse a última parte com um falso entusiasmo.
- Se conseguir fique por lá mesmo. Vai que ao menos eles te aguentem.
Ele ignorou ela e foi até a sala.
* Bom, de duas à uma, ou essa escada maldita, ou o porão. Lá em cima não deve estar, então provavelmente ele fica no portão.*
Ele caminhou até uma portinha atrás da escada e a abriu.
Lá tinha uma escada meio quebrada feita de cimento, ele colocou o celular no bolso e desceu de vagar.
Quando chegou no chão, ele pegou o celular e ligou a lanterna para iluminar.
Ele tateou a parede atrás de um interruptor, mas não achou.
Ele caminhou para frente, observando cada canto, quando a porta rangeu e se fechou logo atrás dele.
* Mais que merda! Aonde fica essa desgraça de gerador? Talvez se eu fosse para frente, bom, quem é um peido pra quem já está cagado? Talvez seja muito de novo. Que saco! Se eu parasse de pensar e ir seria melhor.
Ele caminho para frente, quando a lanterna do seu celular começou a piscar e ele ouviu barulho de água.
- Tem alguém aí? - Ele gritou para o nada.
- Esther? Esther isso não tem graça, tá legal?
Ele deu alguns passos para frente e pisou em algo molhado, em uma grande quantidade, ao ponto de chegar ao seus joelhos. Provavelmente água.
* Que merda, esse lugar tem goteira também? *
* O seu lugar não é aqui, pequeno!*
Ele ouviu uma voz atrás dele.
Ele se virou rápido de mais e estalou o pescoço.
- AÍ! - Ele colocou a mão no pescoço quente.
- Quem tá aí? - Ele se encostou na parede, se rastejando por ela para não ser pego desprevenido e começou a procurar mais rápido o gerador.
- Quem está aí? - Ele gritava olhando para os lados assustado.
Ele andou na água e viu o gerador do outro lado.
* Quem é o maluco que arrumou essa casa que deixou o gerador em um lugar com goteira?"
Ele se rastejou pela parede até chegar nele.
* Seu lugar não é aqui, não queremos você!*
A voz disse atrás dele.
- O que você quer? - Ele gritou assustado tentando chegar ao gerador, olhando para os lados sem ver ninguém.
* Não queremos você...*
- O que vocês querem porra? - Ele gritou e chegou mais perto do gerador, quase o alcançando.
Quando tentou tocar nele, ele escorregou e quase caiu.
A coisa imitou a voz de Alice.
* Acabei tio! Não, gosto de ficar com você. Sim! Posso ajudar? Você deixa? *
A coisa repetiu algumas das últimas frases da Alice na casa.
Arthur se arrastou um pouco mais para frente e conseguiu ligar o gerador.
Ele se arrastou até a porta e a empurrou, ele foi correndo sem olhar para trás até a cozinha.
Esther olhou espantada quando ele chegou.
- Viu princesa das neves? Não demorei nada.
- Meu amor, que tal você ir comer seus doces e ver desenho na sala? Vamos arrumar a cozinha. - Ela disse e quando acabou voltou com um olhar espantado para Arthur.
- Tá bom! - Ela saiu correndo para a sala.
- O que foi? Estou tão feio assim? - Ele tentava manter a voz sem alteração, não queria contar a ela sobre sua irmã.
- O que aconteceu lá? - A voz dela era confusa.
- Nada, vem, me ajuda a arrumar a cozinha.
- Nada? Como nada? A sua calça tá cheia de sangue até o joelho!
- Ah. - Ele olhou para baixo. - Então não era água.
- O que aconteceu? - Ela começou a lavar as louças e entregar para ele enquanto falava, ainda espantada.
- Quando cheguei lá, a porta se fechou e minha lanterna piscou, pensei que fosse você, mas ouvi algumas vozes, eles não querem saber de mim, eles estão atrás de vocês. - Ele evitou o assunto de Alice.
- O que dizia as vozes?
- Eu deci para onde estava o gerador e vi que estava molhado, achei que fossem goteiras. A voz disse que meu lugar não era aqui, ela não me queria, então perguntei o que ela queria. - Ele parou tentando se concentrar em secar os pratos.
- E então?
Ele parou e olhou para ela, ela havia parado de lavar a louça e o fitava ansiosa e com medo.
- Ela não me respondeu. Então falou de novo e eu perguntei de novo, só que com mais raiva, então ela respondeu, não disse nada, só imitou a voz da sua irmã e falou o que ela falou hoje, coisas aleatórias, sem contexto nenhum.
Esther ficou paralisada. Ficou com medo do que podia acontecer com a sua irmã. E então, com a voz calma respondeu :
- Vai tomar um banho e trocar essa roupa, eu vou ficar de olho nela.
- Talvez você devesse deixá-la com a Ayla.
- Não, tudo o que ela disse antes, a um tempo atrás, bom, ela não precisou está na casa para isso, e eu também não precisei estar aqui para ter sonhos e nem me machucar. Ela vai ficar comigo.
- O seu quarto é bem grande, não é?
- Sim, por quê?
- Ótimo, vou colocar um colchão lá, não vou ficar em um quarto sozinho nem a pau!
Esther riu.
- Você não era corajoso? Não ia tirar fotos com eles?
- Talvez eles não sejam tão amigáveis assim.
- Vai tomar banho, não entra no meu quarto desse jeito se não eu arranco sua cabeça.
- Você anda cheia das ameaças, pior que os espíritos.
Eles caminharam até a sala. Quando chegaram, viram Alice no canto da sala, bem longe da televisão, olhando para a janela assustada.
Esther correu até ela, se sentou do seu lado e a abraçou.
- O que foi querida?
Alice estava paralisada de medo.
- O que foi meu amor? Conta para mim por favor.
- Não posso contar! - Ela gritou, colou as mãos nos ouvidos e começou a balançar a cabeça muito rápido.
Arthur tentou segurar seus bracinhos para acalmar ela, mas ela apertou sua mão e ele se sentou ao seu lado.
- Vamos princesa das neves, você consegue nos contar o que aconteceu. - Ele disse com a voz mais calma que conseguia, mas ele e Esther estavam espantados.
Ela começou a balançar a cabeça ainda mais rápido.
- Não! Não posso! Ele vai me pegar! Vai entrar aqui! Por favor, não me peça pra dizer! - Ela gritava muito.
- Calma meu amor, relaxa, não precisa falar agora. - Esther deu um beijo em seu cabelo.
Alice tirou as mãos da cabeça e segurou o braço de Esther que a abraçava, e então desabou no choro.
Esther afagou seu cabelo.
- Você está segura aqui, tá bom?
Arthur colocou a mão sobre a cabeça de Alice.
- Por favor, seja forte como uma princesa das neves é, me conte para que eu possa ver o que está acontecendo. Confie em mim.
Ela se soltou dos braços de Esther e olhou para Arthur.
- Na janela.
- O que tem na janela, meu amor? - Esther continuava a afagar seus cabelos.
Alice respirou e virou para ela.
- Um animal, com chifres, acho que um cervo.
- Ah, um cervo aqui? Fica tranquila meu amor, não vai entrar nenhum animal aqui. - Esther suspirou aliviada.
Alice voltou a sacudir a cabeça.
Ela falava com as lágrimas rolando e a foz fraca.
- Não, não, não.
- Ei, ei, calma princesa. - Artur tirou as suas mãozinhas da cabeça.
- Ele, ele....ele era diferente...era...era todo vermelho...os olhos pretos e sangue nos chifres, ele tinha uma marca de mão preta na pele. - Ela abraçou Esther.
Esther e Arthur se olharam.
Estrummmmmmmmm