JiSung passou um tempo no jardim, de frente às flores amarelas, quando voltou para o quarto, não disse uma palavra.
Min não ouviu o príncipe. Pela tarde inteira só o observou. Viu JiSung pegar alguns livros, os colocar em cima da escrivaninha. Da cama, o assistiu sentado, virando algumas páginas e escrevendo no papel.
O silêncio estava imerso no quarto ao ponto de ouvir o vento entrar, sutilmente, balançando as cortinas e até mesmo a caneta bico de pena fazendo toc, toc, toc… sobre o papel na madeira da escrivaninha.
Toc.
Toc.
Toc.
Toc.
Ressoava as pequenas batidas.
O ritmo foi pausado com a quebra do pensamento.
— Ele acha que sou tão tolo assim?
JiSung ficou de pé. Min o acompanhou passar ao seu lado e sair do quarto, mas não percebeu a natureza dos olhos de JiSung, a aura escura que cobria o príncipe, aquela que o fantasma via em seus sonhos ruins.
A natureza dos olhos que viram as costas de HyunJin, no pátio de Hwang.
O loiro pegava um vaso das mãos de uma das criadas.
— Alteza, o que você faz aqui uma hora dessas? — o sol já se punha e aquela outra jovem se preparava para guardar o balde, em volta dos braços.
Mas ela ignorou a falta de resposta, e até mesmo a própria pergunta: viu a espada na mão de JiSung, o objeto roubado de Bang Chan. Assim, a arma foi erguida e as criadas ao redor, segurando bacias de roupas, alarmaram com gritos.
HyunJin olhou para os lados, confuso com a barulheira. Quando se deu conta, uma espada era apontada para seu peito. Da mão de Hyun Jin, o vaso caiu e se espatifou.
— O que você está fazendo, JiSung?
HyunJin deu alguns passos para trás, lentos e assustados. O reflexo do loiro estava no metal pontiagudo.
— O que estou fazendo, HyunJin?
JiSung continuou se aproximando, forçando o loiro a se afastar. HyunJin andava de costas, fixado na espada, tropeçou nos degraus da casa onde dormiam as criadas. Caiu no chão.
O príncipe ficou acima do corpo, mantendo a espada apontada para o loiro.
Sentia-se cansado:
— Por que você está indiferente comigo? — a voz soava fraca. — Por que está me tratando daquela forma? — os olhos encheram-se de lágrimas. — Por quê?
E as lágrimas que JiSung tentava segurar caíram, gotas e mais gotas, sobre HyunJin.
[…] Passado On [...]
HyunJin não entendia a aparência assustada: — Você está bem? O que aconteceu?
Ele se agachou, frente ao príncipe sentado na cadeira. Havia se surpreendido com JiSung tremendo ao lado das prateleiras. Por isso deixaram a biblioteca.
— HyunJin… Por favor me diga. O que são aqueles livros, com os coelhos?
HyunJin abaixou a cabeça. Já imaginava que seria questionado. Deveria estar envergonhado.
— Os livros com os coelhos, são livros de Ordem Divina…
JiSung sabia o que significava. Tinha a memória de ter lido uma vez nos velhos livros que Min o dava.
Os livros de Ordem Divina traziam escrituras de feitiços proibidos. Nunca eram mencionados, a não ser nos livros de ensinamentos antigos encontrados na Casa Dos Magos.
HyunJin ergueu a cabeça: — Mas eu juro, eu não sabia, Ji Sung! Não fazia ideia que a família Bang guardava esses livros!
Mentira. Hwang tinha pleno conhecimento do conteúdo que havia naquela sala, como bem os livros que a família Kim guardava...
— Eu não quero voltar para aquele lugar... — a imagem do coelho fazia JiSung temer a biblioteca.
— Não vamos, eu prometo! — e nem deveriam. Bang Chan não poderia saber que haviam entrado... que JiSung sentia-se mal. — Eu vou pegar um pouco de água para você!
HyunJin se levantou e dos bolsos de sua vestimenta um papel amarelado caiu.
Vendo a folha, JiSung a pegou. Viu algo escrito, mas não pôde tentar traduzi-lo. Rapidamente, a folha foi arrancada de sua mão.
HyunJin encarou o príncipe, surpreso com o modo brusco que havia pegado a página. — Ah... Não é nada muito importante — guardou o papel dentro do bolso.
— Eu vou pegar sua água! — HyunJin partiu rápido para fora do quarto...
Depois de saírem da biblioteca, nos dias que se seguiram, JiSung não chegou a ver HyunJin com tanta frequência. Entanto, das poucas vezes que o encontrava, notou como o corpo dele parecia revigorado.
O Hwang passava mais tempo caminhando ao seu lado e não sentia-se exausto, até mesmo conseguiu, pela primeira vez, realizar um feitiço sem desmaiar.
JiSung ficou contente pela conquista, afinal, HyunJin possuía magia, somente o corpo era fraco demais para dominá-la, para então a fonte azulada em seu peito se tornar maior.
Mas, estranhamente rápido, HyunJin começou a avançar e se antes não podia fazer um feitiço básico, agora usava magia como se tivesse uma aura vermelha.
Mas JiSung viu, como a aura de HyunJin agora era brilhante: de cor violeta.
JiSung ficou intrigado com a tonalidade. Quis contar para HyunJin. Mas ele parecia inacessível: na Casa dos Magos sempre havia um grupo de jovens em torno de HyunJin, surpreendidos por sua magia. E quando JiSung ia para a casa do Hwang as criadas diziam que HyunJin não estava...
JiSung sentiu que era evitado, até que, em uma casualidade, o encontrou desacompanhado, ou foi o que tinha pensado…
— HyunJin, você acha que JiSung deveria nos poupar dessa vergonha, e tirar a própria vida?
O loiro viu Jiung olhar em seus olhos. Se inclinou e respondeu:
— Você faria isso por nós, Alteza?
[…] Passado Off [...]
A espada estava na direção do corpo do loiro. Ji Sung chorava.
— Eu gostava tanto de você… Por quê? Eu amei você e eu pensei que você também…
Os olhos de HyunJin se abriram. Achou que estava louco pelo que ouvia. Não pôde deixar de esboçar um sorriso, forçou uma risada. — O que você está dizendo? Eu estou com nojo. JiSung, você achou que eu… — as risadas se transformaram em verdadeiras gargalhadas.
Ao som das risadas, algo cresceu em JiSung, o corpo tomou-se pela raiva. JiSung fingiu abaixar a guarda, mas sem exitar, pesou sua mão sobre a espada.
HyunJin gritou e o coração acelerou. A lâmina havia rasgado os tecidos de sua pele, perfurado dentro de sua barriga.
— Você acha isso engraçado?!
Bruscamente, JiSung afundou a espada. E outra vez, HyunJin urrou. O sangue começou a escorrer e manchar a roupa do Hwang, enquanto o príncipe assistia a expressão horrorizada: os olhos arregalados, a boca aberta, ofegante.
— Isso não é nem comparado com a dor que você me causou…
O corpo suava. Tremia. As pernas, os braços, em transe, pela dor incontrolável que o Hwang sentia.
JiSung tomava o controle da espada. E agora sua voz era tão tranquila como se não houvesse mais raiva: — Você quer tanto que eu me mate, Hwang? E se eu te levar comigo?
JiSung iria matá-lo.
Em desespero por sua vida, HyunJin conseguiu usar a mão, ainda com o tremor levantou os dedos e usou magia.
Quando Ji Sung olhou para o lado, um enorme vaso vinha em sua direção. A porcelana chocou com o seu corpo, foi arremessado para o chão. A terra caiu sobre JiSung e os pedaços do vaso cortaram a pele de suas pernas e braços.
O príncipe apagou. Desacordado por um tempo, até ouvir:
— Minha criança! — em desespero gritar a voz feminina.
JiSung despertou vendo o sol já sumido. Estava cheio de sangue e terra, uma espada estava em sua mão, e pouco a frente HyunJin; tremendo, coberto pelo vermelho.
Os batimentos de JiSung aumentaram. Olhou para o lado, distante estava uma mulher loira, da qual a voz tinha ouvido: a Marquêsa Hwang e Bang Chan.
Surpreendido por ver Bang Chan, rapidamente JiSung se levantou, mas pouco manteve o equilíbrio por uma dor na perna.
O coração estava acelerado, agonizado, e confuso. Pela última vez, encarou o corpo de HyunJin. Sentindo medo do que havia feito, largou a espada, começou a se afastar, a correr e fugiu.