LEMBRE-SE DE NÓS

By srtamayfieldd

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Bianca Andrade tinha o que muitos chamariam de vida perfeita. Seu nome era extremamente conhecido e suas marc... More

Prólogo
Capítulo 1 - Eu poderia te segurar por um milhão de anos
Capítulo 2 - Eu não sei o que sinto
Capítulo 3 - 15 de novembro
Capítulo 4 - The Lady In Red
Capítulo 5 - (A)mar
Capítulo 6 - Entrelaçar
Capítulo 7 - Se eu pudesse
Capítulo 8 - Te salvaria
Capítulo 9 - Do crepúsculo ao amanhecer
Capítulo 10 - Devoção
Capítulo 11 - Calmaria
Capítulo 12 - Tênue
Capítulo 13 - Será para você
Capítulo 14 - Saudade
Capítulo 15 - Você ainda vai ficar?
Capítulo 17 - Você me tornou digna
Capítulo 18 - Catarina
Capítulo Bônus
Capítulo 19 - A vida acontecendo (parte um)
Capítulo 20 - A vida acontecendo (parte dois)
Capítulo 21 - Acalento
Capítulo 22 - Me conta, meu bem
Capítulo 23 - Um sonho real

Capítulo 16 - Surpresa

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By srtamayfieldd

São Paulo, 2023.


Bianca caminhava pelos corredores do mercado afim de pegar todos os itens que tinha em sua lista. Faria uma noite de pizza com o filho. Este que estava dentro do carrinho segurando as bordas de ferro com força e apontava algumas coisas para a carioca.

— Mama, podemos pegar chocolate? — O pequeno perguntou juntando suas palmas e as balançando para a mulher. — Por favor?

— Podemos, mas apenas um, ok? Se sua mãe souber que eu estou te dando doces além do normal, ela me mata.

Bianca se esticou para pegar o chocolate que já sabia que o garoto amava e o colocou dentro do carrinho. Ao subir seus olhos para Cadu, encontrou os claros dele triste.

— O que foi, carinha?

— Hoje é sexta. A mamãe não vem?

Bianca suspirou. Com calma ela levou a mão até os cabelos do filho e se aproximou beijando sua testa.

— Não, meu amor. Ela não vem esse final de semana.

— É o terceiro final de semana que ela não vem, mama. — Cadu murmurou cabisbaixo. — Por que ela não vem?

— Escuta. — Bianca pediu se encostando no carrinho para fitar com atenção os olhos do menino. — A mamãe tá tendo que trabalhar aos sábados e ela descansa no domingo. Entende? Seria muito cansativo pra ela vir. Mas nós vamos vê-la na chamada de vídeo hoje.

As gravações não estava dando muita folga para Rafaella, ela estendeu aos sábados para que conseguissem finalizar a novela na data definida. Por conta disso, a mineira não ia para casa por dois finais de semana, com esse, seriam três.

Rafaella ligava todas as noites, via o filho pela tela do celular e tentava se manter presente mesmo de longe. Sempre perguntava para Bianca como estava sendo com ele, afinal de contas, aquilo não era comum para Cadu.

E por conta disso, cada vez que o pequeno sabia que Rafaella não iria para casa, Bianca tinha que lidar com a tristeza e a manha de Cadu. Então quando leu a mensagem que a mineira mandou de manhã, o coração da empresária já se apertou.

— Podemos falar com ela agora?

— Eu acho que ela está ocupada, carinha. — Bianca proferiu voltando a empurrar o carrinho. — Ligamos mais tarde.

— Por favor, mama, eu quero ver a mamãe.

— Tudo bem. — Suspirou.

Desbloqueando o celular, Bianca entrou no contato de Rafaella e respirou fundo ao ler a última mensagem da esposa em que ela explicava que não conseguiria ir pra casa e a resposta da carioca foi apenas um "ok".

Clicando sobre o desenho do telefone, Bianca iniciou uma ligação para Rafaella. Escutou pacientemente chamar e chamar, mas não ser atendida. Encarando as órbitas ansiosas do pequeno, ela tentou mais uma vez e no quarto toque, conseguiu.

— Oi, Bi. — A voz suave e cansada de Rafaella fez o corpo de Bianca tensionar. — Aconteceu algo?

— Cadu quer falar com você, amor. Consegue chamada de vídeo?

— Sim, linda.

A carioca então mudou o formato da ligação e passou o aparelho para o pequeno que o segurou com rapidez. O garoto abriu um enorme sorriso ao ver o rosto da mãe.

— Mamãe!

— Oi, meu pequenino. Que saudade de você. — Rafaella murmurou passando a mão sobre os olhos tentando impedir que chorasse.

— Eu também, mamãe. Por que você não vem?

— A mamãe tá cansada, querido. Amanhã eu tenho trabalho e no domingo eu preciso descansar só um pouquinho.

— Eu tô com saudade. — Cadu murmurou ameaçando chorar.

Bianca assistia aquela cena com atenção enquanto andava pelos corredores do supermercado para pegar o último item que faltava.

— Eu sei, meu amor, e eu prometo que o próximo final de semana eu vou estar agarrada em você. Tá bom? — Rafaella proferiu vendo o bico se formar nos lábios do filho. — Não chore, por favor.

— Tá bom. — Cadu respondeu baixo.

— Ei, me diga onde vocês estão. Não estão em casa.

— A mama disse que hoje é noite de pizza, mas a gente que vai fazer a pizza.

— Mas isso vai dar certo?

— Não sei, mamãe, mas a vovó disse pra eu ficar com o telefone na mão porque se a mama colocar fogo na casa, eu preciso ligar pra ela.

— Traidores. — Bianca sussurou ao fundo escutando a gargalhada da esposa.

— Eu concordo com a sua vó. — Riu. — Estão no mercado?

— Sim.

— Sua mama não deixou você comprar tudo que quer, né?

— Ah, claro que não. — O pequeno sorriu amarelo.

— Tá bom, eu acredito.

— Se despeça da sua mãe, carinha, vamos passar no caixa. Você não quer me ajudar?

— Sim! — Exclamou animado. — Mamãe, eu posso ligar mais tarde pra mostrar a pizza?

— Claro que sim, meu pequenino. Eu te amo, tá? Muitão.

— Também te amo muitão, mamãe. — O garoto deu um beijo estalado na tela fazendo Rafaella rir.

O celular foi passado para a mão de Bianca antes que a chamada fosse encerrada. E ela suspirou fortemente ao ver o rosto da esposa. A saudade esmagou seu peito e ela quis gritar para que Rafaella simplesmente largasse tudo e voasse até São Paulo.

— Ei, linda.

— Oi, amor. — A mineira sorriu de lado.

— Acabou de chegar?

— Sim, vou tomar um banho.

— Tudo bem, te ligamos mais tarde.

— Bia... — Rafaella suspirou. — Eu te amo, desculpa por não conseguir ir.

— Ei, nós entendemos, ok? Eu te amo.

E por fim, a chamada foi encerrada.

Não demoraram para chegar em casa e o resto da noite se passou tranquila. Fizeram a pizza entre brincadeiras e gargalhadas, e ao chegar no fim dela, a cozinha parecia um verdadeiro cenário de terror. Após limparem, a carioca e o filho se sentaram sobre o tapete macio com uma Meg deitada entre eles.

Assistiram três filmes em sequência, os favoritos dos dois. E quando terminavam de ver Tá dando Onda, Bianca percebeu o filho apagado em um sono tranquilo praticamente caindo na cachorra ao lado dele. Pausando o longa, a empresária se preparou para carregar o pequeno e leva-lo até a cama.

Assim que fez menção de levanta-lo, Cadu despertou enfeitando seus lábios com um bico.

— Ei, garoto. Vamos pra cama.

— Não, mama. — Choramingou. — Não quero dormir, quero assistir.

— Você tá cansado, meu amor. Precisa dormir um soninho gostoso.

Segurando o mais novo, Bianca se levantou e logo Cadu passou as pernas pela cintura da mãe, e deitou o rosto sobre o ombro dela piscando devagar.

— Quero dormir aqui.

— Na sala? — Bianca questinou começando a andar. — Não acho que o sofá dê pra mim, pra você e pra Meg. Você é bem espaçoso.

— Não, mama. Quero dormir no seu colo.

— Ah, garoto, você não é mais tão leve quanto antes.

— Por favor, mama. — O pequeno pediu sonolento.

Bianca iria negar porque Cadu já estava praticamente dormindo de novo, mas ao sentir uma única lágrima do filho molhar seu ombro, ela suspirou e o apertou mais sobre seus braços. Ali, no meio da sala, ela começou a nina-lo como fazia quando ele era bebê.

— Tudo bem. A mama tá aqui, apenas durma.

- Você pode cantar aquela música? — O menino perguntou deslizando a mãozinha pela bochecha de Bianca. — Aquela do filme dos pássarinhos azuis.

Rio. Era um dos filmes favoritos dos dois e era um dos que tinham visto naquela noite. Então, ela começou a sussurrar as palavras da canção e aos poucos o corpo de Cadu amoleceu em seus braços denunciando que ele já estava adormecido.

Beijando os cabelos do filho, Bianca pensou em como queria poder fazer algo. Cadu era uma criança sensível e a falta de Rafaella não estava lhe fazendo bem, por mais que ele fosse um bom garoto e compreendesse que a mineira estava trabalhando, ainda sim sentia saudade. E definitivamente não se acostumaria com aquilo.

E se levasse Cadu até o Rio? Fazia um tempo que ele não iria lá e o pequeno amou quando viajaram para a cidade durante alguns dias. Não iria ser uma má ideia, mas seria bem em cima da hora.

Suspirando, a carioca colocou o garoto sobre a cama vendo-o se agarrar em seus lençóis. E com calma para não fazer barulho, Bianca saiu e apagou a luz.

Alguns anos atrás.

Enquanto observava Bianca falar sobre algo interessante, Rafaella estava perdida em sua própria cabeça. Sabia que era interessante porque era referente aos novos projetos da carioca, mas mesmo assim, a atriz não conseguia dar a devida atenção às palavras proferidas.

Em sua mente, ela só pensava em seu bebê. Aquele bebê que carregava no ventre e que tinha tanto medo de perder como perdeu o outro. Ah, e ela também pensava que havia descoberto o sexo.

Era Cadu.

Era ele, assim como Bianca disse que seria.

E ali, sentadas uma de frente para a outra, com um restaurante inteiro para elas. Acariciando seus dedos vez ou outras através do contato sobre a mesa e os sorrisos sendo compartilhado de maneira extremamente cúmplice.

Ali, Rafaella imaginava como contaria. Meu Deus, tinha certeza de que iria entrar em êxtase.

A escolha de descobrir o sexo do bebê sem Bianca se deu ao fato de que a carioca estava com muitas expectativas. E Rafaella também. Elas sonhavam com Cadu. É claro que se viesse uma menina, a felicidade seria igual. Mas Rafaella sentia que não era e ela queria ter a reação de Bianca somente para si. Somente as duas, em seu próprio mundo particular.

Sentiu o estômago revirar em ansiedade e não suportando mais adiar aquilo, Rafaella segurou firme no pulso da esposa fazendo-a parar de falar.

— O que foi, amor? Sente alguma coisa? — Preocupada, a carioca questinou ao ver os olhos verdes brilharem. — Rafa?

— Bia...

— Oi? Amor, tá me assustando. — Bianca proferiu ameaçando se levantar para se aproximar mais da mineira, porém Rafaella lhe impediu. — Apenas diga, Rafs.

— É ele.

— Ele? — Confusa, a empresária engoliu em seco franzindo as sobrancelhas.

— É o Cadu, Bi.

Bianca não soube o que dizer. De repente, o ar não lhe entrava mais e o coração parecia que iria ultrapassar sua pele e saltar para fora. Suas mãos se tornaram geladas e trêmulas, sua língua tentou inutilmente molhar o seco de seus lábios e os olhos piscaram inúmeras veres.

— Eu... Meu... Cadu. — A frase de Bianca saiu entre cortada, a sua respiração falha não lhe permitiu falar nem um pouco sequer.

Observando as lágrimas começarem a cair dos olhos da carioca, Rafaella puxou sua mão fazendo a esposa levantar-se e sentar sobre suas coxas. O corpo quente da mais nova foi abraçado pelos braços firmes da mineira e juntas elas choraram a felicidade de saber que seu garoto estava a caminho.

— É ele, Rafs. — Soluçou. — É o nosso Cadu.

Ali, nos braços de sua mulher, Bianca desabou. Não era um choro ruim, era um choro de alívio, de felicidade, de realização. Bianca estava nas nuvens e não saberia colocar em a palavras a dimensão do que estava sentindo.

— Eu sei, amor. — Rafaella murmurou com a voz fraca.

Os soluços de Bianca faziam o corpo de Rafaella também se mover e as palmas quentes da mineira subiam e desciam pelas costas nuas da mais nova.

— Bi, pelo amor de Deus, respire. — A atriz pediu afastando-se um pouco para poder segurar nas bochechas de Bianca. — Respire, meu amor.

— Eu tô tão feliz.

— Eu sei, mas eu não quero criar um filho sozinha. — Sorriu curto. — Eu te amo, tá?

Rafaella acaricava o rosto de Bianca com tanto carinho que a mais nova apenas sentia vontade de chorar mais e mais. Meu Deus, teriam uma família. Era o Cadu.

Caralho.

— Caralho, Rafs. É o Cadu! — Bianca arregalou os olhos — É ele!

— Eu sei, amor. — Rafaella gargalhou quando a carioca abraçou com força seu pescoço. — Deus, Bi, eu te amo.

Era ele. Elas só tiveram que esperar um pouco e ele veio. Como Bianca sabia que viria.

Simplesmente, algumas coisas estão destinadas a acontecer. As almas de Bianca e Rafaella eram entrelaçadas, e daquilo nasceria o fruto de um amor sem dimensão.

Era ele. E ainda é.

Rio de Janeiro, 2023.

Rafaella levou a maçã a boca enquanto seus olhos percorriam as palavras da folha que tinha em mãos. Havia acabado de sair do banho, seus cabelos ainda estavam úmidos e ela vestia apenas um roupão.

Estava sentada na sacada do quarto, as vezes ela suspirava e parava de ler suas falas. Encarava o céu e depois de um tempo volta a se concentrar de novo. Não havia muito o que fazer, era pra estar descansando e não grudada naquelas folhas, mas se não ocupasse sua mente, iria se martirizar ainda mais de não poder ir para casa.

Mais um final de semana. Rafaella suspirou.

Mais uma final de semana sem ver Bianca ou Cadu.

Balançando levemente a cabeça, Rafaella esticou o pescoço afim de aliviar o desconforto e voltou a se concentrar para gravar suas falas. Tão focada, não percebeu quando a porta do quarto foi aberta e muito menos quando as duas figuras se aproximaram de suas costas.

Apenas sentiu quando sua visão foi bloqueada por duas mãos. Suspirando pelo susto e sentindo o coração bater mais rápido, Rafaella largou as folhas e levou seus dedos para o rosto afim de tocar aquelas mãos.

Seus dígitos sentiram a pele macia e então a aliança fina e delicada que tinha sobre o anelar esquerdo. Engolindo em seco e tentando regular os batimentos cardíacos, Rafaella segurou naquelas mãos e as tirou de seus olhos. Se virando, ela conseguiu encarar o sorriso mais lindo do mundo. Aliás, os sorrisos mais lindos do mundo.

— Surpresa. —  Bianca sussurou.

— Mamãe! — Cadu se jogou nos braços de Rafaella e logo a mineira o ajudou a subir em seu colo.

— Deus, Bia... — Ela murmurou derramando suas lágrimas felizes. — Meu Deus, que saudade, pequenino. Saudade do seu cheirinho.

— Saudade também, mamãe. — Cadu proferiu sorridente e esfregando o rosto sobre o pescoço da mãe. 

— Me deixe te ver. — Pediu vendo o pequeno se afastar. — Você tá tão grande, você cresceu!

— Não seja tão dramática, Rafs, você não passou um ano longe.

— Chata. — Rafaella lhe mostrou a língua. — Meg! Você trouxe a Meg!

A cachorra lambeu a perna de Rafaella enquanto balançava o rabo e corria pelo espaço do quarto.

— Não quis deixar ela lá.

— Como você passou esses dias, meu amor? Como tá na escola?

— Tá tudo bem, mamãe. Eu fiz um coleguinha novo.

— É mesmo?

— Sim, ele se mudou pra minha escola! O nome dele é Caio.

— Que bom, pequenino. E a natação? Você está gostando?

— É tão legal, mamãe! — O pequeno saltou do colo de Rafaella. — Eu faço assim na água, ó! — Cadu inclinou o corpo e balançou os bracinhos tentando mostrar como nadava na piscina.

Óbvio que aquilo arrancou uma gargalhada das mães dele. E Bianca se aproximou agarrando o filho e o suspendendo até que o tivesse sentado em seus ombros.

— Você é o Aquaman, cara! — Balançou devagar o pequeno vendo-o gargalhar.

— O que você acha de irmos pra piscina do hotel e você mostra pra mamãe como que é na água? — Rafaella sugeriu piscando pro filho.

— Ebaaaa! — Ele bateu palminhas e logo deslizou pelo corpo da carioca sendo colocado no chão.

— Vá indo até o banheiro, eu já vou atrás de você pra trocar de roupa. — Rafaella mandou beijando a cabeça do mais novo.

— Ei, você. — Bianca sorriu assim que ficou sozinha com esposa. Logo estava nos braços dela. — Gostou da surpresa?

— Eu amei. — Suspirou se aproximando para beijar os lábios da mais baixa. — Vocês vieram de avião?

— De carro.

— Ah, ok. — Rafaella murmurou acariciando a nuca da carioca. — Foi tranquilo?

— Uhum, tudo extraordinariamente tranquilo.

— Eu tava com tanta saudade de você. — Afundando o rosto no pescoço de Bianca, Rafaella firmou mais o aperto de seus braços sobre a cintura fina. — Tanta saudade.

— Eu também, Rafs.

Bianca suspirou, tão fundo que sentiu seus pulmões doerem. O cheiro adocicado de sua esposa invadiu suas narinas e ela relaxou ainda mais. As pálpebras fecharam e imediatamente o coração de Bianca soube que ela estava em casa.

Porque aqueles braços eram sua casa. Os braços que agora lhe seguravam com força e a boca que depositava beijos delicados pelo seu ombro.

— Eu senti tanto sua falta. — Bianca confidenciou.

E Rafaella entendeu. Ela entendeu que era além da falta presencial, era saudade da conexão que tinham. Do amor.

— Eu sei, meu amor. Eu sei.

Se afastando, Rafaella segurou as bochechas de Bianca e fitou com carinho seus olhos castanhos. Juntas, elas sorriram e logo encostaram seus lábios em um selinho longo e molhado.

— Como foi com a Ca esses dias?

Rafaella puxou Bianca para se sentarem na cama e a a carioca logo estava mais uma vez entre os braços da maior e com a cabeça encostada em seu ombro.

— Foi difícil, Rafs. Você sabe que ele não tava acostumado com isso.

— Eu sei.

— Ele fez algumas birras, por exemplo, quando eu coloco ele pra dormir ou mando que guarde os brinquedos, ele me compara com você. Diz que gostaria que você voltasse porque eu estava ficando chata.

— Ele falou isso?

— Sim. — Bianca suspirou. — Mas eu conversei com ele e você sabe que ele é tão compreensivo, Rafa. Ele me pediu desculpas e disse que entendia. A partir desse dia, ele foi ficando mais calmo. Mas ainda sim sentia muito sua falta.

— Eu queria ter voltado pra casa, Bia.

— Eu sei e por isso que nós viemos. Vai ser melhor pra você e pra ele, ok? — Bianca se virou deslizando as mãos pelo pescoço da esposa. — Não se culpa, é seu trabalho e ele entende. Ele é um bom garoto.

— Nós estamos criando ele direito.

— Estamos sim.

Rafaella sorriu e abraçou mais uma vez a carioca aproveitando para inspirar seu cheiro. E de novo, ela agradeceu pela esposa e filho que tinha. Algum tempo depois, observando Bianca e Cadu brincarem juntos ao redor da piscina, ela agradeceu de novo.

Achou que aquele dia seria solitário e triste, mas agora estava perto da duas pessoas que mais amava no mundo.

De noite, quando Bianca colocou um Cadu sonolento na cama, a mineira se aproximou dele e acariciou seus cabelos vendo-o piscar os olhos lentamente.

— Durma, pequenino. — Sussurrou.

— Você vai estar aqui amanhã?

— Sim, meu amor. A mamãe vai estar aqui amanhã. — Rafaella se inclinou e beijou suavemente a testa do filho. — Eu sempre vou estar aqui.

Apertando firmemente o bichinho de pelúcia entre seus braços, Cadu adormeceu ao lado de Meg que estava também adormecida no pé da cama. Aquilo permitiu que Rafaella e Bianca sentassem na sacada do quarto enquanto dividiam uma latinha de refrigerante.

— Algumas coisas realmente mudam, não é? — Bianca comentou sorrindo. — Antes nós compartilhavamos um vinho, agora divimos uma Coca.

— Estamos mais velhas e somos mães. — A mineira riu. — Não podemos correr o risco de acordar com dor de cabeça amanhã, seu filho vai despertar com a energia de sempre e ainda com uma extra.

— Você tem um ponto. — A empresária concordou. — Realmente tem um ponto.

— Eu sei. — Deu de ombros. — Como está as coisas no trabalho?

— Eu quero te contar algo refente à isso, mas vou deixar apenas para depois.

— É algo bom?

— Acho que depende do ponto de vista.

— Bia, fale de uma vez. — Rafaella bateu levemente nas pernas da esposa que estava apoiada em seu colo. — Ou posso te jogar dessa sacada.

— Você não faria isso, amor. Lembro que a alguns anos você disse que não queria ser mãe solteira.

— Você mesma disse que algumas coisas mudam.

— Ok, eu devo ligar para a polícia? — Cerrou os olhos.

— Não, eu não conseguiria ficar sem ver este rostinho. — Piscou para a mais nova. — Venha aqui.

Empurrando a cadeira para trás, Bianca se levantou e aproximou-se de Rafaella logo sentindo os braços firmes abraçarem sua cintura. Sentou nas coxas da mineira e depositou um beijo delicado em seu nariz.

— Amor, podemos conversar?

— Sim. — Rafaella respondeu desenhando círculos invisíveis na pele da carioca. — Você quer começar?

— Acho que sim. — Mordeu o lábio. — Só preciso organizar as palavras.

— Está tudo bem. Eu espero.

Alguns segundos depois, Bianca tornou a falar, tendo a total atenção de Rafaella.

— Eu pensei no que me pediu.

— No que exatamente?

— Em ter outro filho.

— E a que conclusão chegou?

— Antes quero te perguntar algo. — A carioca falou fitando os olhos temerosos da esposa. — Quando você pensa nisso, você pensa no nosso futuro ou no presente?

— Como assim, Bi?

— Eu penso a longo prazo, Rafa. Desde que descobri a minha doença, todas as decisões que penso, eu já as imagino a longo prazo. No meu futuro, no nosso. — Bianca acariciou a bochecha da mineira. — O nosso futuro vai ser doloroso.

— Não precisa ser definido apenas por dor.

— Eu sei. O que quero dizer é nessa questão, meu amor, você já pensou em como seria nosso futuro se tivéssemos mais um filho?

— Acho que sim, Bia. — Suspirou. — Eu não sei.

— O Cadu e ele ou ela teriam uma diferença de idade que seria significativa, Rafa. Enquanto o Ca já iria ser maduro o suficiente pra entender a situação e te ajudar, o nosso outro filho não seria. Ele iria ser dependente de você, entende?

— Sim.

— Assim como eu seria. — Respirando fundo, Bianca brincou os dedos da mineira. — Vai ter uma hora que eu não vou ser mais eu, Rafa. E você vai ter que segurar as pontas. Eu não quero que uma hora você se veja sobrecarregada, com um jovem adulto, uma criança e uma esposa dependente de você. A razão de eu não querer mais um filho é por pensar em como posso tornar mais fácil pra você.

— Bia...

— Eu não quero te deixar na mão, Rafa, eu quero criar nossos filhos e dividir problemas com você. Mas uma hora, eu não vou conseguir mais ter poder sobre isso.

— Eu entendo. — Rafaella murmurou. — Eu não pensei nessa parte, acho que estou tão focada no nosso agora. Quero conseguir viver o que eu puder com você, Bia, cada coisa. Porque eu sei que não vamos ter muito tempo e isso me assusta. Não quero fazer nada com pressa, mas sinto que devo para não deixar de viver nada contigo.

— Eu me sinto assim também.

— Você acha que não estou pronta? — Rafaella questionou, o medo percorrendo sua frase.

— Eu acho que você é pessoa mais forte que já conheci, amor. Mas você tem um limite, assim como eu tenho e o Ca tem. Eu tô pronta se você estiver. — Dando um selinho nos lábios alheios, Bianca pousou a mão sobre o peito da mulher sentindo o batimentos acelerados de seu coração. — Enfrento qualquer coisa do seu lado e essa é apenas mais uma pra gente vencer.

— Estou pronta pra isso, Bia. O nosso futuro não me espanta, eu sei que vamos transforma-lo em algo bonito. E sei que você vai estar em algum lugar, mesmo que não esteja lá.

— Eu confio em você, Rafs. E sei que qualquer decisão que tome, você tem plena certeza dela.

— Me diga, Bia. — Segurando no queixo da carioca, Rafaella pediu. — Em que conclusão você chegou?

— Eu teria mais dez filhos com você, Rafa. Se assim é o que você quer.

— Certeza?

— Assim como você disse, eu não quero deixar de viver nada. Eu odeio o medo, Rafs, não quero existir com ele. Apenas com você.

— Bia... — Rafaella juntou as testas. — Faremos tudo juntas, tá? Como sempre fizemos.

— Agora sou eu que peço que pense. — Bianca segurou as bochechas da esposa. — Em tudo que te falei, tá bom? E quando se sentir pronta, nós faremos isso.

— Teremos mais um bebê?

— Sim, amor. Mais um bebê.

A vida não pode ser baseada no medo. Rafaella e Bianca sabiam daquilo. E não iriam deixar, de forma alguma, aquele sentimento atrapalhar os planos que tanto desejam realizar juntas.

— Hum... — Bianca murmurou cortando o beijo que trocava com a mulher. — Acho que agora não quer mais me jogar da sacada, né?

— Eu acho que você deveria ficar um pouco quietinha, vai que eu mude de ideia.

A mineira se levantou subitamente fazendo com que o grito fino cortasse a garganta da carioca e ela riu depois segurando-se mais forte na esposa. Sentindo a costas baterem contra a porta da sacada, Bianca firmou mais o aperto de suas pernas ao redor de Rafaella e acariciou sua bochecha.

— Eu te amo, Rafs.

— Te amo mais. Tipo, muitão, do tamanho do mundo inteiro.

— Do tamanho do universo? — A carioca sorriu de lado.

— Muito mais, ih, tem nem comparação. — Rafaella abriu um largo sorriso. — O que é o universo comparado ao meu amor por você? É uma formiguinha.

— Boba. — Bianca riu batendo levemente no braço da mulher.

— Sua boba.

— Minha, só minha.

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