Pov Roseanne Park
Dei o último intervalo dos meus alunos antes da aula acabar, só faltava uma hora para isso.
Aproveitei para me hidratar pegando uma das cinco garrafas que tinham no meu pequeno frigobar, o líquido gelado desceu rasgando minha garganta e eu gemi em satisfação.
Mesmo com ar condicionado ligado aquela sala conseguia ficar quente igual ao inferno, terminei toda a água da garrafa e voltei para frente do espelho, ainda sozinha na sala.
Estava começando um alongamento antes de sentir o meu corpo mole, isso acontecia as vezes quando o sangue esfriava, mas quando eu me abaixei um pouco e levantei depois senti a minha cabeça rodar.
Me apoiei na barra de ferro perto da parede.
— Professora, está tudo bem?. -Ouvi a voz de uma das minhas alunas atrás de mim, mas não consegui me virar para encara-la.
— Acho que estou passando um pouco mal.
Ela me estendeu sua mão e me ajudou a caminha até o fundo da sala, eu me sentei na primeira cadeira que vi sentindo meu estômago revirar.
— Você quer um pouco de água?. -Concordei com a cabeça e ela andou até o frigobar abrindo outra garrafa de água para mim.
Quando tomei dessa vez, o líquido desceu pesado, como se minha garganta estivesse anestesiada.
— Acho que não vou conseguir terminar a aula, deve ser o calor não sei. -Levei a mão até minha nuca pressionando os meus dedos ali de leve.
— Quer que eu avise a todos?.
— Eu quero sim muito obrigada Ísis.
— Imagina, quer que eu te acompanhe até o carro?, pegue alguma coisa?.
— Eu consigo fazer isso não se preocupe.
Ísis concordou e saiu da sala para avisar os alunos, eu peguei minha bolsa e andei até a entrada da academia.
Senti minhas pernas bambearem quando ganhei o gramado do lugar, que porra estava acontecendo?.
Me encostei na primeira árvore que vi, tentando respirar direito, mas quando me inclinei um pouco senti uma vontade absurda de vomitar.
Depois de alguns minutos parada eu comecei a me apavorar, percebi que não estava bem e não demoraria para eu desmaiar ou perder a coincidência.
Andei até meu carro abrindo a porta com dificuldade, me sentei no banco do motorista encostando a cabeça no volante, eu precisava ligar para alguém, gritar que eu estava prestes a desmaiar mas não conseguia me mover.
Ouvi o barulho da porta do carona sendo aberta, encarei uma mulher ao meu lado mas não consegui ver quem era, um casaco grande cobria o seu corpo e o seu rosto.
Voltei a apoiar a cabeça no volante até sentir seus braços em volta do meu corpo, eu não tinha percebido que ela havia passado para o banco de trás do carro.
Suas mãos me puxaram para trás deitando meu corpo completamente, segundos depois eu apaguei.
[...]
Assim que recobrei a consciência senti a minha cabeça latejar de dor, não conseguia abrir os olhos eles estavam pesados demais.
Tentei mover minhas mãos mas elas estavam presas por alguma coisa, senti cheiro de comida sendo preparada e barulho de panelas batendo no fogão.
Onde eu estava?, o que tinha acontecido?, eu ainda não conseguia pensar com coerência, tudo parecia confuso, como se eu estivesse acordando de uma noite regada de bebidas e drogas.
Mas eu não tinha bebido e muito menos usado drogas.
Quando consegui abrir os olhos meu coração disparou ao encarar um escuro cortante na minha frente, não enxergava nada além da pouca luz que passava por baixo de uma porta fechada.
Encarei em volta percebendo que estava em um quarto, olhei para os meus pulsos ainda deitada no chão, virada de um lado só, senti o meu punho doer quando tentei soltá-los da fita resistente que os envolvia.
Pisquei os olhos algumas vezes me levantando lentamente, com muita dificuldade. Percebi que tinha uma parede atrás de mim então me escorei nela.
— Alguém?. -Minha voz saiu tão baixa que seria impossível ser ouvida por qualquer pessoa que estivesse ali. — Socorro!. -Tentei gritar em meio ao barulho que ouvia saindo da cozinha.
Quando o barulho que vinha de lá cessou meu coração parou, porque naquele momento eu tremi o corpo inteiro de tanto medo, finalmente percebendo que eu não estava em casa, nem na academia, nem no apartamento de Lisa.
Ouvi os paços lentos do outro lado da porta, andando em minha direção sem pressa. A pessoa colocou a mão na maçaneta e a abriu fazendo com que a luz invadisse o quarto de uma vez só, o que incomodou meu olhos, já que eu havia passado não sei quantas horas em completo escuro.
— Finalmente acordou.
A primeira coisa que eu percebi, ainda de olhos fechados, era que a voz era feminina e familiar, eu estava com medo de ver quem era, porque no fundo eu já sabia.
— O que aconteceu?. -Senti um toque em meu rosto e me encolhi na hora por extinto.
— Abre os olhos amor, olha pra mim.
Sim eu estava completamente certa de quem era, e quando abri os olhos tudo se confirmou.
— O que você está fazendo?. -Perguntei encarando seus olhos, sentindo um frio escorrer pela minha espinha.
— Nós temos muita coisa para conversar, mas vamos fazer isso no jantar tudo bem?, já faz horas que você comeu.
— Eu não vou jantar com você. -Cospi as palavras em cima de Suzy. — Onde eu estou.
— Assim vai ficar difícil de você ter alguma resposta amor.
— Para de me chamar de amor. -Quanto mais eu ouvia sua voz mais o meu estômago revirava.
— Eu sei que você vai ceder, você ainda me ama, não teve como ver isso porque ninguém deixava eu me aproximar.
— Suzy você enlouqueceu de vez?. -Perguntei desacreditada. — Eu não te amo mais, você conseguiu matar qualquer sentimento bom que eu tive um dia por você.
— Eu errei Rosé, mas quem não erra nessa vida?, você por exemplo se entregou para aquela nojenta assim que terminou comigo.
— Não ouse falar sobre Lisa, você entendeu?. -Eu vi os olhos de Suzy escurecerem quando ela ouviu as minhas palavras.
Ela respirou fundo se levantando.
— Não tivemos um bom começo, mas eu tentei.
— Onde você vai?. -Perguntei observando ela andando até a porta.
— Vou jantar, e você vai pensar bem nas palavras que acabou de dizer pra mim.
Ela bateu a porta atrás de si e me deixou novamente sozinha no quarto.
Comecei a organizar os meus pensamentos, lembrando do que tinha acontecido antes de ter chegado até ali.
Alguns flashs invadiram a minha mente e eu fechei os olhos tentando lembrar de cada detalhe, Ísis me ajudando na academia, eu passando mal e indo até o carro.
Alguém me puxando para o banco de trás, abri os olhos de novo sem acreditar no que estava acontecendo, Suzy havia me dopado e me sequestrado.
O quarto escuro começou a me apavorar, eu não tinha forças para me levantar, então só comecei a chorar desesperada, sentindo o meu peito doer como se estivesse sendo esmagado.
Não podia ser real, talvez fosse um pesadelo e eu só precisasse acordar, comecei a bater a minha cabeça na parede atrás de mim enquanto o choro desesperado rasgava a minha garganta.
Ouvi a porta sendo aberta de novo, e Suzy abaixou na minha frente me encarando com os olhos assustado.
— Não precisa se desesperar, eu não vou te fazer nenhum mal. -Suas mãos tocaram o meu rosto novamente fazendo um carinho calmo, eu tentei me livrar do seu toque, em vão.
— Você me sequestrou sua maluca, tem coragem de dizer que não vai me fazer nenhum mal?. -Falei me meio as lágrimas. — Você já fez.
— Nós só precisamos de um tempo até você ver que que ainda me ama. -A ponta de seu indicador contornou os meus lábios. — E se você não admitir isso, as coisas não ficaram boas Rosé, você tem que pensar direito, escolher certo.
— Suzy eu te escolhi, eu escolhi você. -Talvez se eu partisse para o lado emocional ela cedesse um pouco. — Você que destruiu a nossa relação, não é justo você me fazer sofrer ainda mais.
— Todo relacionamento tem problema, nós só precisávamos de tempo.
— E você acha que me sequestrando e me mantendo presa eu vou jurar amor por você?.
— Ah você vai. -Ela disse sorrindo de canto. — Se quiser ver a luz do dia de novo você vai acabar jurando até mais.
Eu nunca tinha sentido tanto medo de um rosto, ou um olhar, até encarar Suzy contra a luz baixa.
Ela saiu do quarto de novo me deixando sozinha, senti meu corpo começar a doer pela posição que eu estava, deitada no chão tentando manter minha respiração regulada, eu tinha que pensar em um jeito de sair dali, não fazia ideia de onde estávamos mas não devia ser tão longe de onde eu morava, se eu tivesse noção de tempo eu conseguiria saber, mas eu não fazia ideia se tinham se passado dias ou horas.
Meu coração apertou ao imaginar como Jennie e Lisa estavam, junto da minha família, aquela altura elas já deveriam estar me procurando.
Quando lembrei de Lisa encarei os meus dedos juntos pela fita, notando que minha aliança não estava mais lá, meu elo de amor e fidelidade com Lisa.
Será que eu ainda a veria de novo?, será que poderia ver minha família ou Jennie novamente?.
Comecei a pensar em até que ponto Suzy era capaz de ir, mas parei ao ficar com mais medo ainda.
Eu esperei até que não tivesse mais barulhodo outro lado, não sabia o que Suzy estava fazendo ou onde ela estava, me levantei com dificuldade sentindo meu estômago praticamente sair pela boca.
Comecei a me perguntar quantas horas eu estava sem comer, andei até a porta abrindo a mesma como consegui.
A primeira coisa que eu vi foi a cozinha, tão pequena que me admirei caber um fogão nela.
Suzy não estava em canto algum do meu campo de visão, então continuei andando, parei em frente a uma porta, sem acreditar que ela estava aberta quando toquei a maçaneta.
— Vai passear amor. -Meu coração disparou novamente ao ouvir a voz de Suzy atrás de mim.
Ela não parecia nenhum pouco preocupada em me ver perto da porta, o que me deixou confusa.
— Suzy me deixa ir embora. -Implorei observando ela se aproximar lentamente.
Agora que conseguia ver seu rosto com mais clareza notei o quanto ele estava acabado, olhos fundos, olheiras, manchas avermelhadas, não havia nenhum sinal do rosto que eu já tinha conhecido alguma vez.
— Eu ia te mostrar a casa antes. -Ela caminhou até uma gaveta pegando uma tesoura de dentro.
— O que você vai fazer. -Perguntei com um fio de voz.
Não consegui mover nenhum músculo do meu corpo enquanto Suzy se aproximava com a tesoura na mão, ela pegou minhas mãos estendendo no ar e cortando a fita.
Fiz uma breve massagem em meu pulso, notando o quanto ele estava vermelho.
— Me desculpa. -Ela disse com o olhar extremamente culpado. — Não devia ter amarrado tão forte.
— Onde a gente está?. -Suzy deixou escapar um sorriso, andando até a porta e a abrindo na minha frente.
Andei para o lado de fora e a única coisa que eu vi foram cercas e mato, estava tudo muito escuro, não consegui ouvir nada parecido com civilização.
— Não se preocupa ninguém vai encontrar a gente aqui.
Comecei a sentir vontade de chorar de novo, um nó se formou em minha garganta.
— Porque você está fazendo isso. -Perguntei sentindo o choro escapar.
— Isso o que?, pegando o que é meu de volta?.
Me virei para Suzy sentindo vontade de voar em seu pescoço, e foi o que eu fiz me atirando contra o seu corpo que bateu no chão com força, fechei os meus dedos em volta do seu pescoço, mas congelei quando Suzy tirou uma arma de dentro da cintura, apontando em minha direção, engoli em seco. Ela desceu o cano até a minha garganta sorrindo diabolicamente pra mim.
— Você vai me matar. -Perguntei me levantando ainda sobre a sua mira.
— Eu nunca faria isso, você está empenhada em me fazer como vilã aqui não é?, eu já não deixei claro que eu te amo?.
— O que você vai fazer?, me manter aqui presa pra sempre?, acha mesmo que não estão me procurando agora?, a polícia deve estar atrás de você também.
— Eu não sou burra eu sei que eles estão atrás de mim, mas já dei um jeito em tudo, queimei todas as provas deixei seu celular enterrado perto da academia, não vão conseguir te rastrear, e se fizerem isso já estaremos longe daqui.
— Como assim longe?. -Perguntei confusa.
— Você está perguntado demais, vamos entrar vem.
Suzy me puxou pela mão, e quando passávamos pela porta ela colocou a arma na cintura de novo, trancando a porta com dois cadeados, escondendo a chave no meio do seu sutiã.
— Eu não acredito que isso está acontecendo comigo. -Eu estava falando comigo mesma, ainda tentando raciocinar toda aquela situação.
— A culpa é sua. -Ela disse cheia de ódio na voz. — Você fez questão de esfregar na minha cara naquela delegacia que estava com Lisa, de mãos dadas com ela.
— Fazer tudo isso não vai mudar o fato de Lisa ser a mulher da minha vida, a mulher que eu amo que faz meu coração disparar, isso você nunca vai ter Suzy e sequestro nenhum vai mudar.
— Você é muito corajosa, de falar dela assim na minha frente.
Suzy se aproximou apontando novamente a arma para minha cabeça, me forçando a me virar, ela andou comigo até o quarto em que eu estava antes.
Ligando a luz do mesmo, só ali eu consegui ver o cômodo com clareza, não tinha móveis, cama ou guarda-roupa, era só um quarto vazio.
— Você vai me deixar aqui?. -Suzy andou até outra porta ali dentro, percebi que era um banheiro.
— Enquanto você não aprender a segurar sua língua. -Ela disse voltando a ficar na minha frente, agora revelando uma algema.
— O que você está fazendo?.
Ela fechou a algema em uma das minhas mãos, depois puxou o meu braço sem delicadeza alguma, me fazendo abaixar ao lado de uma barra de ferro, fechou a outra parte da algema ali.
— Vou resolver algumas coisas pela manhã, você não parece estar com vontade de comer já que rejeitou o meu jantar, mantenha-se viva se conseguir até eu voltar.
— Onde você vai?.
— Não interessa.
Suzy saiu do quarto e dessa vez trancou a porta dele, eu fiquei sozinha jogada no chão, no escuro, percebendo que nem o banheiro eu conseguiria usar algemada ali.
Eu realmente não queria pensar naquilo, mas quais eram as chances de eu sair viva daquele cativeiro?, quantos dias eu aguentaria vivendo daquela forma?, meu emocional não estava 100% antes imagina agora.
Como eu pensaria em um jeito de fugir, estava fraca sem comida ou água e Suzy não parecia mais disposta a me dar isso depois do que eu disse a ela.
Aquela situação não parecia ter saída alguma, e um único pensamento começou a me rondar, eu iria morrer.