(Josh)
Houve uma breve despedida do domingo quando voltamos para o Rio pela manhã. Jaspen tentou uma aproximação de Any, mas eu o impedi. Ele apenas riu, como se dissesse que isso não adiantaria nada.
Mesmo que eu quisesse, não poderia impedir que os dois se encontrassem, querendo ou não, Victória sempre seria o elo entre eles. Ontem quando nos entregamos com desespero no chuveiro, estava claro que o medo estava pairando sobre nossas cabeças.
O choque de Any ao descobrir que não havíamos usado camisinha, foi o indício que tudo ainda não estava totalmente cem por cento entre nós dois. Tentei disfarçar meu desapontamento, que estava tudo bem em não querer um filho com ela, quando na verdade, eu estava louco para que isso acontecesse.
Mas quando isso acontecesse, eu queria que nós dois compartilhássemos da mesma felicidade. Que a história fosse diferente. Então, controlando minhas inseguranças, eu esperaria pelo tempo que fosse preciso.
Deixei as duas dormindo quando saí de casa na segunda. Nosso domingo foi curtido em nosso apartamento, com sessões de cinema e amassos no sofá quando Victória dormia.
Cheguei ao escritório e havia um verdadeiro alvoroço. Sofya estava ajudando outra garota do mesmo departamento a carregar algumas caixas.
Eu- Bom dia Soso, o que está acontecendo aqui?
Sofya- Oi Josh, apenas fui informada que mudaríamos de andar.
Eu- Você disse "mudaríamos"?
Sofya- Sim. Já empacotei todas as suas coisas, mas como sei que você não gosta que mexam nas suas coisas, achei melhor fazer tudo sozinha.
Eu- Por que estamos nos mudando? Por que não fui informado e para que andar iremos?
Sofya- Calma, uma pergunta de cada vez. Parece que o andar inteiro vai passar por uma reforma. Todos receberam um e-mail, você não leu?
Eu- Estive um pouco ocupado nesse fim de semana. (falei sem entrar em muitos detalhes)
Sofya- Posso imaginar. Tirou esses dias para curtir a família. Infelizmente meu fim de semana não foi como planejei.
Senti sua voz soar diferente, parecia triste, o que era muito raro isso acontecer com Sofya.
Eu- O que aconteceu?
Sofya- Nada. Apenas problemas no meu paraíso. (disse dando de ombros)
Eu- Mas nada que uma boa conversa não possa resolver, não é mesmo?
Sofya- Acho que dessa vez não vai rolar.
Eu- Foi assim tão sério?
Sofya- Pode apostar que sim.
Eu- Quer falar sobre isso?
Sofya- Não mesmo. Você é meu chefe, não pegaria legal ficar desabafando minhas tristezas, além do mais, tive o fim de semana para chorar e detonar dois potes de sorvetes.
Eu- Você sabe que não a trato só como minha assistente.
Sofya- Eu sei.
Eu- Que tal almoçar comigo hoje?
Sofya- Dessa vez até que eu aceitaria, mas vou aproveitar meu horário de almoço para ir ao banco.
Eu- Isso não seria uma desculpa para não almoçar comigo, seria?
Sofya- Não mesmo, até porque você pagaria.
Rimos juntos.
Eu- Bem, já que mudamos de andar, pode me mostrar onde fica minha sala?
[...]
Antes do almoço, tudo já estava organizado. Passamos a ocupar o vigésimo andar. Minha sala era bem maior do que a primeira, com janelas bem maiores e com uma visão mais bela da cidade.
Já havia feito uma conferência por vídeo com a matriz do Japão, colocando todos a par do meu projeto. O senhor Hong, que era o responsável pela publicidade, ficou muito feliz com os resultados do projeto e deixou bem claro que ansiava por minha volta.
O convite até que veio bem a calhar, mas agora eu não estava sozinho. Havia Any e Victória. Não acreditava que ela deixaria tudo para trás para me acompanhar. Então para não parecer falta de educação da minha parte, pedi um tempo para pensar.
Estava terminando de enviar o relatório mensal quando Mia entrou em minha sala.
Vestia um vestido vermelho justo ao corpo, sandálias pretas, cabelos soltos e uma maquiagem extravagante, como se tivesse acabado de sair de um ensaio fotográfico.
Eu- Como você...
Mia- Uau! Essa sala é bem maior do que a anterior. Com um pouco de decoração moderna ficará linda. Olha essa vista. (disse Mia me ignorando completamente e indo em direção às janelas)
Eu- Mia, você não pode invadir a minha sala assim.
Mia- Não invadi sua sala. Sua secretária é que não estava no seu posto.
Eu- Então se sentiu no direito de entrar sem ser avisada? Eu poderia estar em uma reunião.
Mia- Eu só queria que seu mau humor não fosse direcionado a mim. Any não está conseguindo te manter ocupado? Vocês ainda não fizeram sexo?
Eu- Minha vida particular com Any é apenas do nosso interesse. (falei cortando o assunto)
Mia- Então eu estou certa, ainda não rolou sexo. Isso é tão frustrante, não é?
Eu- Eu e Any estamos nos entendendo perfeitamente bem. Nossa química é perfeita.
Mia- Mas você sabe que se quiser se aventurar, relembrar os velhos tempos... Não vou me importar em fazer isso. (Mia ficou atrás de mim e sussurrou no meu ouvido)
Eu- Você sabe que isso não vai acontecer. (falei me levantando da cadeira)
Mia- "Não" é uma palavra muito forte. Nunca se sabe o dia de amanhã. Sou paciente.
Meu telefone tocou, evitando que eu lhe respondesse.
Eu- Soso, onde você estava? (perguntei segurando minha raiva)
Sofya- Precisei ir ao banheiro. O que aconteceu?
Eu não iria repreendê-la na frente de Mia.
Eu- Não importa. Alguma ligação importante?
Sofya- Na verdade tem uma visita, duas...
Eu- Duas?
Eu não imaginava quem pudesse me fazer uma visita no meu trabalho.
Sofya- Any está aqui com Victória, e nossa, como ela é linda. Posso mandá-la entrar?
Eu- Espera, você está me dizendo que Any está aí na recepção?
Sofya- Sim, foi o que eu acabei de falar.
Eu- Merda...
Sofya- O que houve?
Eu- Mia está aqui.
Sofya- Merda... (Sofya repetiu minha palavra) O que eu faço?
Eu- Mande-a entrar. Não há mais o que fazer.
Mia- Any veio fazer uma surpresa e é ela que vai ser surpreendida. (ouvi Mia falar enquanto seguia para o sofá)
Eu- Any é uma pessoa madura, consegue entender nossa amizade.
Mia- Consegue mesmo? Então ela não liga para os nossos almoços?
A porta da sala foi aberta e Any passou por ela empurrando o carinho de Victória.
Any- Ganhou uma sala maior? (seu sorriso era contagiante)
Mia- Foi a mesma coisa que falei.
Só então Any percebeu a presença de Mia e sua fisionomia logo mudou.
Any- Mia?
Mia- Dia de visitas surpresas, não é mesmo?
Eu- Meu amor, que visita maravilhosa. (falei tentando aliviar o clima que começava a se formar)
Any- Fui levar Victória ao pediatra.
Eu- Deveria ter me avisado. Adoraria ter acompanhado vocês.
Dei um beijo suave em seus lábios e depois me abaixei para falar com Victória.
Eu- Ei minha garota, o que você me conta sobre sua consulta?
Victória sorriu ao me ver e ergueu os braços para que eu a pegasse.
Mia- Nossa, como ela cresceu desde a última vez que a vi. Posso segurá-la um pouco?
Senti Any segurando a vontade de tomar Victória dos meus braços e ir embora, mas soube se manter firme.
Mia segurou Victória sem jeito e olhou para nós dois.
Mia- Ela tem os traços dos pais, isso não é discutível. Mas a boca é toda sua Any.
Any- Obrigada. (Any agradeceu contragosto)
Mia- E então, vamos todos almoçar juntos? (ela perguntou olhando agora para Victória)
Any- Almoçar juntos? Achei que você estava só de passagem. (Any não conseguiu se manter indiferente)
Mia- Fazemos isso de vez em quando.
Any- Eu não sabia que vocês se viam com frequência. (Any me encarou, pedindo uma explicação)
Mia- Duas ou três vezes por semana. Você não contou a ela? (Mia perguntou agora me encarando)
Mia tinha acabado de criar um clima horrível entre eu e Any, isso eu tinha certeza.
Mia- Você não vai ficar chateada, vai? Até porque eu e Josh somos amigos.
Any- Claro. Nós vivemos juntos, mas não nos metemos nas amizades um do outro.
Mia- O casal precisa manter sua independência para dar certo. Era o que meus pais sempre me diziam.
Houve um breve silêncio até Victória se mostrar inquieta.
Mia- Acho que ela precisa trocar a fralda. (disse Mia fazendo uma careta entregando Victória para Any) Vamos almoçar? Estou louca para comer aquela salada maravilhosa que comemos da última vez, lembra Josh?
Eu- Não me recordo no momento.
Mia- Foi naquele dia em que recebeu aquela ligação estranha...
Any- Preciso trocar a fralda de Valentina. Tem um banheiro que eu possa usar? (perguntou Any colocando ela no carrinho)
Eu- Eu te mostro. Mia, você pode ir na frente para reservar a mesa?
Mia- Claro, sem problema. Mas não demorem.
Saímos da sala juntos, enquanto Mia seguiu para o elevador.
Eu- Aqui não temos um fraldário. (falei para iniciar uma conversa)
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Autora da obra oficial: autorarearaujo