Only for a moment | Hyunho

By Aelsen

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Em uma manhã comum, o olhar de Minho se cruza com o de um estranho cativante no vagão do metrô e, naquele bre... More

Capítulo Único

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By Aelsen

Esse texto foi uma experiência nova para mim e, ao mesmo tempo, um desafio pessoal. Caso decida ler, tenha em mente que se trata de uma narração extremamente descritiva. Não temos ficha de personagens e tudo acontece do ponto de vista do Minho, que narra a história em primeira pessoa.

Fic baseada na música "Only for a moment" do Eric Nam e escrita enquanto ela tocava repetidamente no fone de ouvido.

•••••

Todo dia, exatamente às cinco da manhã, meu despertador toca e minha rotina recomeça. É como se minha vida fosse guiada por um roteiro pré-estabelecido. Eu estico o braço direito até a mesinha de cabeceira na lateral esquerda da minha cama, procurando pelo aparelho barulhento. Quando enfim o encontro, desconecto o carregador do celular e finalmente silencio o som irritante.

Demoro cerca de cinco minutos para processar as ações que devo realizar a seguir: levantar, ir até o banheiro do quarto e então fazer minha higiene matinal. Ao sair do box, caminho lentamente em direção ao guarda-roupa e pego a roupa que escolhi na noite anterior, uma calça jeans lavagem escura, uma camisa preta e um tênis da mesma cor.

Já vestido, saio do quarto e vou até a cozinha do apartamento que divido com Jisung, um amigo que conheci no primeiro semestre da faculdade quase dois anos atrás. Mesmo que ele ainda não tenha aparecido, sei que assim que sentir o cheiro do café recém passado, ele virá até a cozinha com um sorriso no rosto, pedindo para que eu faça para ele uma porção do que quer que eu resolva preparar para o café da manhã.

Não entendo por qual motivo ele insiste nisso todos os dias. Temos um acordo implícito: eu cuido do café da manhã, e ele, da lavagem da louça. Essa é nossa rotina desde a primeira semana morando juntos, assim como foi ontem e será amanhã.

Enquanto comemos, o moreno me conta sobre o sonho estranho que teve comigo e com alguns colegas durante a noite. Nele, fazíamos parte de um grupo de cantores famosos que haviam acabado de lançar um álbum quebrador de recordes e que logo iriam embarcar mais uma turnê mundial. Sorrimos ao lembrar que nenhum de nós consegue tirar notas altas quando vamos ao karaokê.

Gosto de ouvi-lo contar sobre seus sonhos tanto quanto ele gosta de falar sobre eles. Eles são sempre surreais, e me impressiono ao ouvir Jisung descrevê-los com tantos detalhes, principalmente por ser uma experiência que nunca vivenciei. Eu deito na cama para dormir, fecho os olhos e, quando menos espero, o celular desperta para que tudo recomece outra vez.

Não lembro de já ter sonhado um dia sequer em todos os meus vinte e três anos de existência.

Assim que terminamos, levo meu prato até a pia e volto para o meu quarto. De frente para o espelho do banheiro, encaro os fios ruivos desbotados e penso que talvez seja hora de mudar a cor ou o corte do meu cabelo. É pensando nos infinitos cortes e nas inúmeras cores que já usei que escovo os dentes para poder sair de casa. Quando termino, passo meu perfume favorito e coloco meus colares, anéis e troco o brinco de argolinha dourada para uma prateada, seguindo a cor do resto dos acessórios.

Sempre organizo minha mochila na noite anterior para otimizar o tempo. A única coisa que deixo para a manhã seguinte é a garrafinha de água, que fica gelando enquanto eu durmo. Não gosto da água da faculdade, tem um gosto esquisito. No instante em que fecho o zíper da mochila, ouço a porta de Jisung abrir e sei que já é hora de sair de casa.

Levamos quinze minutos andando do nosso condomínio até a estação de metrô mais próxima. Na plataforma, em poucos minutos a voz robótica nos instrui para entrar no vagão. Assim que sentamos, Jisung colocou seu fone de ouvido e puxou o kindle de dentro da bolsa. Segundo o moreno, aquele era o único tempo que tinha para ler seus livros de fantasia.

Infelizmente, ler no metrô me causa enjoos, então apenas coloco o fone e uso a música de plano de fundo para criar histórias imaginárias sobre as pessoas ao meu redor. A mulher loira à esquerda, de cabelo curto, aparece apenas nas quartas e sextas, acredito que ela trabalha em uma loja de cosméticos, dado o excesso de maquiagem. A garota de blusa roxa, sempre vinha acompanhada pelo garoto de blusa verde à direita, agora finge não conhecê-lo, instigando minha curiosidade sobre o motivo por trás do término do namoro. A senhorinha de touca à direita, que desce uma parada antes de nós todos os dias, esteve ausente por três semanas, o que me fez especular sobre sua possível morte.

Duas paradas depois, Seungmin e Felix entram no nosso vagão. Eles apenas nos cumprimentam com a cabeça antes de voltarem para seu mundinho. Os dois começaram a namorar dois meses atrás e, desde então, se tornaram ainda mais grudentos.

Passando os olhos pelo ambiente, encontro um garoto que nunca vi antes. Ele está encarando o celular com um bico nos lábios, refletindo sua frustração. Seus fios pretos captam a luz conforme ele sacode a cabeça, inconformado com algo que leu. Lentamente, ele fecha os olhos, respira fundo e guarda o celular no bolso.

Conforme o metrô avança pelos túneis, sacudindo suavemente nossos corpos, não consigo desviar meu olhar do garoto desconhecido, perdido em seus próprios pensamentos. E então, como se sentisse que eu o estava observando, ele me encara de volta. Ali, com os olhos castanhos presos aos meus, o tempo congela e o mundo ao nosso redor muda.
Me sinto um expectador ao nos observar de longe, sentados à beira de uma piscina em uma festa qualquer. Os fios dele estão loiros, os meus castanhos, sorrisos estampam nossos rostos, e parecemos extremamente confortáveis na presença um do outro. Quando os olhos dele viram na minha direção, a cena muda outra vez, e agora observo da porta de uma loja nossa interação. Nessa visão, ele parece mais novo do outro lado do caixa, sorri largamente para mim, mesmo que eu não retribua a expressão. Novamente, assim que seu outro eu parece olhar para onde estou parado, a cena se desmancha e desta vez, eu o vejo de cabelo curto, roupas desgrenhadas e rosto inchado de choro, enquanto uma policial abre a porta de uma cela para ele.

Nos vejo juntos em diferentes cenários: caminhando por um parque à noite, deitados na grama enquanto trocamos segredos ao luar, eu me ajoelhando para pedir sua mão em casamento, ele chorando enquanto segura meu corpo já sem vida em seu colo, nós dois em uma cafeteria rodeada por gatos. São visões fugazes, mas cada uma delas aflora em mim uma sensação de familiaridade.

Desperto da intensa sequência de visões com o zunido irritante do metrô ecoando em meus ouvidos. O ruído, um misto de metal e vibrações causado pelo vagão deslizando pelo trilho, que sempre se torna mais alto naquele ponto específico, me deixa ciente de que logo estarei no meu ponto. Enquanto observo as luzes que sinalizam a aproximação da estação, a consciência do mundo ao meu redor se intensifica. Nunca pensei muito sobre outras vidas; no entanto, as cenas ecoavam em minha mente de maneira tão vívida que me faziam questionar se aqueles momentos já aconteceram. Conforme o metrô continua seu curso, percebo que a conexão com o garoto desconhecido ultrapassou a barreira de um momento fugaz. Seu olhar, agora desviado do meu, retorna ao celular, e a atmosfera mágica criada pelas visões se dissipa, e o mundo real volta a se impor.

Tudo continua exatamente como antes: Jisung, sentado ao meu lado, ainda lê seu livro. Seungmin e Felix ainda sorriem enquanto seguram a mão um do outro. A garota de roxo ainda tenta a todo custo evitar olhar na direção do garoto de verde, e a senhorinha ainda não largou sua revistinha de caça-palavras. Olho para o relógio do meu pulso e noto que vinte minutos se passaram. Tomar nota disso faz minhas mãos tremerem levemente e uma sensação de inquietação se instalar por todo meu corpo. Envolto naquelas cenas, não havia percebido que tanto tempo tinha passado.

Solto um suspiro profundo e escondo as mãos trêmulas por baixo da mochila que está no meu colo. Volto meu olhar para a janela do metrô, contemplando as luzes que piscam à medida que avançamos pelos túneis subterrâneos em uma tentativa de acalmar a mente que vagueia pelas imagens que, ao invés de se esvaírem, ganham ainda mais detalhes. A curiosidade se junta à inquietação e toma conta de mim.

Travo uma luta comigo mesmo. Devo ir até ele? Devo esquecer tudo que aconteceu? É loucura achar que compartilhamos aquele momento? Minha imaginação fértil foi longe demais? Entretanto, antes que eu consiga responder todas as perguntas ou que eu junte coragem o suficiente para me aproximar do garoto, o metrô para na minha estação, e Jisung pede que eu me apresse.

Olho para o moreno do outro lado do vagão mais uma vez, e ao ver que ele também está prestes a descer, sou tomado pela urgência súbita de não deixá-lo escapar no meio da multidão. Determinado a segui-lo e descobrir ao menos como ele se chama, dou um passo em sua direção. Entretanto, sou cortado pelo fluxo dos passageiros, e quando percebo, não o vejo mais em lugar algum.
Meu coração bate mais rápido à medida que tento localizar o garoto entre a multidão. Avanço pelos corredores da estação, ignorando os olhares curiosos e a voz de Jisung chamando por mim. Paro pouco antes da saída e, sem pensar, começo a girar sobre meus próprios passos, meu olhar vasculhando freneticamente cada rosto na multidão em movimento. Sinto o mundo ao meu redor se tornar um borrão, enquanto me concentro em encontrar aqueles olhos castanhos entre tantos desconhecidos. Cada girar é uma tentativa desesperada de decifrar o que aconteceu naquele vagão.

E então, quando o vejo outra vez, o tempo volta a congelar, e diversas cenas tomam conta da minha mente conforme nossas íris se reencontram.

Diferente da primeira vez, agora não sou um espectador assistindo à distância e sim o personagem principal delas. Agora as mãos que tocam as dele são as minhas, o abraço para o qual ele corre é o meu. Consigo até mesmo sentir o calor e o sabor de seus lábios rosados.

Quando os vislumbres se dispersam, estamos de volta na estação. Estou há menos de dois metros dele, e assim como não notei o tempo passar no vagão, também não percebi que nós dois havíamos caminhado e nos encontrado no meio do caminho.
Poucos passos depois estamos frente a frente, e a urgência de uma única pergunta que pode mudar o curso do meu cotidiano previsível corrói meu peito:

— Já nos conhecemos antes?

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