Estou batendo com toda a minha força no saco de pancadas, amarrei o meu cabelo em um rabo de cavalo alto e continuo descontando a minha raiva.
— Kate? Você está bem? – Jake perguntou chegando mais perto de mim, mas eu o ignorei.
— Kate? – Comecei a bater mais forte, que ele começou a balançar e eu comecei a ficar com mais raiva já que os meus socos estão indo para o vazio.
— Katherine Diaz! – Parei e encarei o rosto do Jake seriamente.
— O que está acontecendo com você?! – Tirei as minhas luvas de boxe e tomei alguns goles de água.
— Eu apenas estou com raiva, não é nada de mais – Mesmo sem olhar para o Jake, consigo sentir o olhar dele sobre mim.
— É o Matt, ele está estranho… Muito estranho. – Olhei para Jake que me examinava com o olhar enquanto tirava as luvas de suas mãos.
— Tente conversar com ele, mas da maneira certa. – Jake andou em minha direção e se sentou ao meu lado.
— Mas eu conversei! Ele me chamou de Katherine! Ninguém me chama de Katherine, vocês me chamam apenas de Kate – Me levantei e pela janela observei Matt que estava correndo pelo gramado.
— Mas de qual maneira vocês conversaram? Eu sou seu amigo Kate e você é uma pessoa um pouco difícil de conversar e entender. – O encarei e revirei os olhos.
— Pode revirar os olhos, mas é porque eu te amo que eu tenho que falar a verdade para você. Tente conversar com mais calma, vai dar certo – Ele se levantou e parou em minha frente.
— Mas isso não quer dizer que é para você ter ele como preferido novamente. – Ri, olhei o rosto do Jake e o abracei, ele envolveu os braços nas minhas costas e me abraçou fortemente.
— Ele pode ser o seu melhor amigo, mas eu sou seu irmão. Podemos não carregar o mesmo Dna ou linhagem de sangue, mas você é minha irmã e esta é a única verdade. – O abracei de novo e quando nós nos afastamos nós dois sorrimos juntos.
— Você é o meu irmão, nem o tanto de estrelas no céu, são capazes de demonstrar o amor e carinho que sinto por você e pela nossa amizade.– Segurei as mãos do Jake enquanto falava, ele me encarava e prestava atenção em cada palavra que saia da minha boca.
— Agora vamos voltar a treinar? Mais tarde eu resolvo o meu problema com o Matt – Me virei e nós dois voltamos para o local onde estávamos.
— Vamos agora, eu e você – Com o dedo indicador, Jake apontou para mim e para ele.
— Tem certeza? Você vai perder. – Sorri, por alguns segundos eu olhei de volta para a janela e observei o Matt enquanto ele me observava.
Em questão de segundos eu fui derrubada no chão.
— Assim não vale Jake! – Voltei a minha atenção para nós dois e comecei a tentar me levantar.
Eu treinei com o Jake por mais alguns minutos, saí de onde eu estava para ir atrás do Matt.
— Você está procurando quem? – Me assustei com uma voz feminina atrás de mim.
— Matt, você viu ele? – Me virei e perguntei enquanto encarava Eleonor.
— Ele saiu, faz alguns minutos – Matt saiu de novo?
— Obrigada – Agradeci e Eleonor sorriu, ela caminhou para fora da casa e sumiu das minhas vistas.
Andei até a casa e entrei, o silêncio tomou conta do lugar. Eu não faço a mínima ideia de onde estão os outros, avistei a porta do escritório de Dante aberta e ele me encarou quando me viu.
— Pode entrar, querida – Ele voltou a atenção para o notebook que está em cima da mesa, entrei e observei tudo ao meu redor.
As prateleiras cheias de pastas e livros, um sofá grande do outro lado e do lado do sofá, uma pequena mesa com bebidas.
— Eu queria conversar com você, Kate – Ele apontou para a cadeira que está na minha frente e eu me sentei.
— Pode falar – Respondi enquanto me ajudava para ficar confortável.
— O banco te mandou alguma coisa? Recebi um e-mail dizendo sobre uma grande quantia de dinheiro que deixaram na sua conta – Arqueei a sobrancelha.
— Não estou sabendo de nada, que tipo de quantia é essa? – Cruzei as minhas pernas enquanto eu encarava o meu pai.
— Eles não me deixaram saber, apenas a dona da conta – Balancei a minha cabeça em concordância.
Não falamos sobre coisas interessantes, nosso último assunto foi sobre Hades. De acordo com o meu pai, Hades saiu da cidade e que pelo visto ele demoraria para voltar, pedi a ele para que eu voltasse para casa, mas ele não deixou.
Conversamos sobre a pessoa que está mentindo e que está no nosso grupo, Dante disse que falta pouco para descobrir as informações, pedi a ele para que me contasse e que eu poderia ajudar… mas ele me colocou fora do caso.
— Peter? – Chamei pelo nome ao ver todos sentados na sala conversando.
— Estou aqui – Ele levantou a mão e avistei ele sentado ao lado de Eleonor.
— Eu te contei sobre um cachorro? – Sorri e ele me olhou confuso.
— Conheci uma garotinha muito fofa, ela tem um cachorro chamado Peter – Ri e todos ao meu redor riram.
Me sentei ao lado de Jessie e um silêncio ficou sobre nós, todos eles tinham feito uma pequena pausa.
— Estão prontos para ganhar dos outros grupos sábado? – Eleonor perguntou sorrindo.
— Nós iremos ganhar! – Jaxon pela primeira vez sorriu, a noite do cassino é basicamente o dia que o Jaxon mais se diverte.
— E se não ganharmos? – Olive perguntou.
— Nós iremos ganhar Olive, eu não irei deixar o nosso grupo perder… Vamos acabar com eles! – Um sorriso se abriu em meus lábios e automaticamente todos sorriram.
(...)
— Podem me deixar aqui – Observei o carro dos capangas do meu pai pararem a alguns metros de onde eu estou vivendo.
Desci do carro e observei atentamente eles indo embora, eu esperei o Matt, esperei ele chegar, mas ele não chegou. Ao invés do caminho de casa eu entrei no pequeno mercado que tem aqui, a atendente me encarou e desviou o olhar, essas pessoas daqui não são muito amigáveis.
Enquanto eu olhava para os pacotes de biscoitos que estão na prateleira eu me assustei quando senti uma pequena cutucada na minha coxa.
— Penélope? – Abri um pequeno sorriso e a pequena garotinha sorriu de volta.
— Kate! – Ela falou o meu nome com empolgação.
— O que você está fazendo aqui sozinha? Onde estão os seus pais? – Olhei para os lados e não avistei nenhum adulto.
— Eu fugi de casa – Olhei para a pequena bolsa que ela segurava nas costas e me abaixei para ficar do tamanho dela.
— Você fugiu de casa? Você está louca? – Os olhinhos dela se desviaram do meu.
— Porque você fez isso? – Peguei na mão dela e a levei para fora do estabelecimento.
— Meus pais não me amam Kate, eles não me dão atenção – Ela dizia enquanto eu a ajudei a sentar no banco que ficava do outro lado do mercado.
— Eles te amam sim, porque acha que eles não gostam de você? – Me sentei ao lado dela.
— Eles me disseram hoje que eu sou uma aberração – Olhei para o chão, não consegui olhar para o rosto de Penélope.
— Você não é uma aberração – Falei enquanto sentia os olhos dela sobre o meu rosto, olhei para ela e abri uma linha nos meus lábios.
— Então, porque eles disseram isso? – Ela me encarava atentamente prestando atenção em cada palavra que eu dizia.
— Às vezes eles estavam apenas com muita raiva e acabam dizendo coisas que não são verdadeiras, mas não se preocupe… Você está longe de ser uma aberração – Ela piscou os olhinhos e então eu olhei para o pequeno rostinho dela que me encarava.
— Os meus amigos da minha escola me disseram que os meus papais não gostam de mim, que eles preferem o trabalho do que passar um tempo comigo – Apoiei a minha mão sobre o ombro dela e a abracei.
— Não ligam para eles, eles têm inveja de você – Enquanto eu abraçava a Penélope ela me abraçou de volta.
— Mas você não pode fugir, você é criança e pensa bem…. – Dei uma pequena pausa e me ajoelhei na frente dela. — Se você não voltar mais para a sua casa, você não vai mais ver o Peter. – Ela inclinou a cabeça e se levantou.
— Eu não quero ficar longe do Peter. – Ela respondeu e coçou os olhos enquanto fez um beicinho para chorar.
— Então vamos voltar para sua casa, eu te levo. – Estiquei a minha mão e Penélope agarrou, comecei a andar para o lado que ela dizia enquanto me guiava.
Não sei o que me deu na cabeça em seguir uma criança de cinco anos, mas fiquei feliz ao ver o pai da Penélope do lado de fora da casa.
— Agora você vai ir querida, nunca mais fuja de casa! – Me abaixei para ficar do tamanho dela e arregalei os meus olhos quando senti os braços de Penélope no meu pescoço me abraçando fortemente.
— Obrigada Kate – Ela abriu um sorriso para mim e atravessou a rua.
Me escorei na árvore em minha frente e observei a Penélope sendo abraçada fortemente pelo pai, quando os dois foram até a porta para entrar na casa a Penélope olhou para trás e acenou com as suas pequenas mãozinhas enquanto sorria.
Me virei para ir embora, mas sem querer eu esbarrei em alguém.
— Me desculpa, o seu celular quebrou?– Ajudei e perguntei o homem a pegar o celular e algumas sacolas que estavam caídas no chão.
— Tudo bem, não se preocupe… ele não quebrou nada. – O homem que aparenta ter entre quarenta e quarenta e cinco anos respondeu enquanto analisava o celular.
— Eu tenho a impressão que nós já nos conhecemos – Ele analisou o meu rosto.
— Não me lembro de você, bom eu tenho que ir. – Fingi um sorriso e comecei a andar.
Senti os olhares dele sobre mim até eu virar a esquina, abri o papel que eu tinha pego enquanto ajudava ele a recolher as coisas caídas no chão, pelo jeito ele é mais um fã meu. Uma foto minha saindo do carro do meu pai no dia que eu cheguei na cidade, isso é estranho, mas eu não posso negar…… Eu saí muito bonita nessa foto!
Voltando para minha casa eu passei no mercado e comprei uma garrafa de vinho.
Peguei o papel e encarei a foto, Hades? Ele descobriu onde eu moro? Olhei para o meu celular que acendeu a tela, uma mensagem dizendo "Oii Kate, é o Dylan". Sorri e olhei pela minha janela, ele está sentado em uma poltrona mexendo no celular, a sua expressão é de como ele estivesse mandando uma mensagem arriscada.
Chat on
Dylan: Oii Kate, é o Dylan.
Eu: Oii Dylan, como conseguiu o meu número?
Dylan: Peguei esses dias com a nossa vizinha.
Eu: Tudo bem, poderia ter me pedido antes.
Dylan: Kate, você está me espiando pela janela?
Chat off
Olhei para a janela da casa dele e sorri envergonhada, não por estar espionando e sim de pijama.
Não conversamos muito, Dylan me convidou para sair em um encontro amanhã e eu aceitei. Pensei várias e várias vezes em mandar mensagem para o meu pai sobre o cara da foto e que eu tenho 99% de certeza que foi um cara mandado pelo Hades que ele descobriu onde eu moro, mas ele vai dizer que é bobagem…Aliás Hades não é o único que quer me matar.