Mari está nos últimos preparativos e finalmente vai embarcar.
Super responsável e dedicada, ela tenta deixar o máximo de situações organizadas para que a mãe não fique desamparada sem ela.
E, vai se despedir de uma amiga doidinha e muito especial que já a ajudou muito e apoiou com a paixão pela dança.
Espero que vocês apreciem as participações especiais nesse capítulo.
MARINA
Os dez dias para a viagem passaram rápido, entre ajustar as orientações para Gisele que iria me substituir; definir os cuidados sobre minha mãe e conversar com minha tia,que insistiu sobre eu procurar meu genitor.
Não vou atrás dele, não consegui localizá-lo quando a doença de mamãe se agravou. Não que ele fosse ser muito útil, mas pelo menos nos ajudaria com a quantia que ele roubou da minha mãe.
— Você não deveria se referir a seu pai dessa forma, Marina — tia Meire tem algum tipo de crença que devo respeito e obediência aquele homem.
— E o como chama o que ele fez com minha mãe? Ela investiu o trabalho de toda a vida em minha educação e naquela casa. Não conheço outro nome, titia.
Marquei para encontrar minha amiga Bia no estúdio dela e a encontrei aos gritos com um rapaz bonito.
—Mari, que bom que você veio. Meu réu primário sendo salvo mais uma vez — ela gritou ao me ver e virando para o rapaz — Você tem muita sorte nessa cara safada e nesse corpo gostoso, Pedra de tropeço.
O moço saiu dando risada e dizendo que não queria mais problemas para a vida dele, mas tinha que ter achado a doida.
— Doida foi a genitora que pôs esse embuste no mundo. O que tem de gostoso tem de cretino.
— O que tá acontecendo, Bia? — fiquei assustada e curiosa.
Não que a Bia fosse um exemplo de sensatez o tempo todo. Acho que ninguém na família dela é. Tirando a Mila, mas é a caçulinha e acho que ainda não alcançou a maturidade das doideiras delas.
Mas admiro muito a união entre elas, principalmente da Bia e as primas com a avó.
— Esse traste tá tentando tomar o meu prédio e me seduziu.
Ela mesma gargalha e acabo rindo junto.
Tenho que concordar com o desconhecido, minha amiga é meio doidinha e vou sentir falta dela.
Ela me puxa para um abraço e fala:
— Vou sentir sua falta, Pitelzinho. A Carol tá lá com o Corogato, você tá indo para as arábias, vai acabar encontrando um Aladim com uma lâmpada maravilhosa. E eu aqui com o embuste arremedo de tentação.
Bia me explica que o rapaz é parente do antigo dono do prédio de quem a família dela comprou o imóvel para montar o estúdio de dança, porém tem algum problema com os documentos usados na transação. O marido da prima dela está cuidando disso enquanto ela está num embate particular contra os próprios sentimentos.
Saímos para um barzinho, pouco depois Carol chega. Fico emocionada que tiraram um tempinho para se despedir de mim, mesmo a prima da minha amiga de quem só fiquei próxima enquanto dava aulas no estúdio. Ela atende uma turma de dança moderna para crianças, uma vez me pediu para ajudá-la com uma coreografia sensual para fazer uma surpresa para o namorado.
Bia pede uns drinks coloridos. Não tenho o costume de beber, mas vou abrir uma exceção:
— Para comemorar o início de novos ciclos e brindar tudo de bom que está por vir — Bia fala cheia da energia que ela sempre tem.
Minha amiga parece mais leve e não sei se ignora ou não percebeu mesmo o rapaz de mais cedo sentado em outra mesa, observando a gente. Inclusive, fez uma cara bem feia quando o garçom trouxe um bilhetinho de um grupo de rapazes de outra mesa.
Carol diz que não está tomando álcool e Bia começa a gritar que sabia.
— Vamos brindar, Pitelzinho. Mais um motivo para brindar — ela fala cheia de enigmas piscando para a prima e me divirto com as meninas.
— Tenho que ir mesmo, Bia— falo pela quinta ou sexta vez — vou acabar perdendo o voo.
— Eu te levo para o aeroporto. Fica tranquila. — Bia já está altinha e não quero que ela dirija assim.
— Você bebeu, Beatriz. Melhor não dirigir — Carol tenta por juízo na cabeça da prima.
— Eu vou chamar um carro de aplicativo, Bia.
— Vocês querem me deixar sozinha — ela fala alto com a voz chorosa e o rapaz que continua nos observando se aproxima chamando o garçom.
— Vem comigo, Beatriz — ele fala com a voz suave e acredito que não queira brigar.
Parece até cuidadoso com a minha amiga, a prima dela o encara com a sobrancelha levantada.
— Seu noivo chegou — ele aponta o carro do outro lado da rua para Carol — Não vou deixar ela sozinha.
— Nem eu vou deixá-la sozinha com você — Carol responde ríspida com o moço e só acompanho a interação.
— Ele é um gato né! Todo trabalhado na canalhice e na seducência. — Definitivamente Bia está bêbada.
— Vou levar o furacãozinho aqui para casa da sua avó. A moça aqui pode comprovar.
— Eu estou aqui, levemente alcoolizada, mas não estou inconsciente e você não vai me levar mais a lugar nenhum.
O rapaz tenta ajudar Bia a levantar, mas minha amiga bate na mão dele, como se estivesse espantando um inseto incômodo. Porém, quando fica de pé, na altura dos olhos do rapaz, ela o agarra e os dois se beijam como se não houvesse mais ninguém no mundo.
Encaro Carol, que suspira, balança a cabeça e levanta.
— Definitivamente, não dá para entender a Bia. — E virando para mim, abraçando minha cintura — Boa viagem, Mari. Se precisar de qualquer coisa liga pra mim ou pra Bia. Qualquer coisa mesmo.
Carol encara a prima ainda agarrada ao homem com quem ela estava discutindo mais cedo e sai em direção ao carro onde o noivo a aguarda com a porta aberta e um garotinho ruivo observa tudo pela janela do banco de trás.
Bia finalmente se afasta do rapaz, mas ele não permite que ela fique longe por muito tempo, mantendo-a presa em seu abraço, enquanto fala algo no ouvido dela.
— Bia, eu já vou. Não posso me atrasar.
— O Guilherme vai levar você no aeroporto. O Mala disse que vai me levar em casa e não quer ouvir os desaforos da Dona Iolanda. Uma injustiça com minha pobre e inocente vozinha.
O rapaz nega com a cabeça e tenho certeza que Bia está provocando ele. A avó dela é uma versão apurada da minha amiga, conhecida como a matriarca do Caos.
Beatriz e Guilherme cumprem o que prometeram, me acompanham até em casa, onde pego minhas malas e me despeço de minha mãe, ainda fazendo mil recomendações à Olga. Deixei meu telefone, o número internacional do hotel, todas as minhas redes sociais.
— Vá tranquila, Marina. Qualquer coisa eu venho pessoalmente dar uma conferida na sua mãe todo dia — Bia me conforta e sei que ela realmente virá.
Minha amiga pode ser meio doidinha e desbocada, mas ela é leal até o último fio de cabelo.
O casal me leva até o aeroporto trocando farpas, mas sei que é a forma que eles lidam com a atração que sentem. Fico imaginando se um dia encontrarei alguém que mexa comigo dessa forma. Talvez quando eu voltar desse intercâmbio me permita mais.
Agradeço ao acompanhante de minha amiga e a abraço forte antes de entrar no aeroporto. Finalmente, percebo o tamanho do passo que estou dando e sinto o coração disparar e o rosto ficar gelado e úmido com as lágrimas que escorrem.
Embarco no voo que vai me levar até o Egito e de lá farei uma conexão para Qudara, a capital de Almasir. Numa das poltronas a frente da minha estão algumas garotas do grupo de dança de Vivian.
— Mari, o que você está fazendo aqui — me cumprimentam no maior entusiasmo, animadas com a viagem para o berço da dança que tanto amamos — Vivian não avisou que você iria, a gente marcava para vir juntas.
— Fui selecionada no intercâmbio dos funcionários da Zahra, estou indo para o resort de Samahira.
As meninas comemoram comigo e festejam que irão participar da equipe de entretenimento de um dos cruzeiros que partirá do porto de Qudara e navegará pelo mar Mediterrâneo.
O voo tem algumas poltronas vagas e acabo me acomodando com as meninas para que o tempo da viagem não pareça tão torturante. Vinte horas sozinha pode ser enlouquecedor, ainda mais com toda a ansiedade pela mudança em tantos aspectos de minha vida.
Não é a minha primeira viagem para fora do país, mas antes eram poucas semanas e quase sempre eu ia em grupos como esse das dançarinas da escola de Vivian.
— Por que você não vai para o cruzeiro? — uma das garotas que não lembro o nome pergunta.
— A Mari trabalha nos resorts da família Zahrani. Sabia que eles governam a ilha, tipo um principado — Lívia, que é assistente de Vivian, quem comenta e eu não sabia que eles eram tão poderosos.
— Sabia que a família da CEO do grupo tem muita influência e era ligada às decisões políticas, mas não sabia que eram tão poderosos — respondo tentando lembrar uma informação que deixei passar.
— Sim, houve uma mudança, algo como sucessão, um dos filhos da toda poderosa vai virar o novo rei — outra garota com quem já viajamos, Zenaide, é quem lembra da informação.
— Sim, recebemos esse memorando, algo sobre a família Al Zahrani ascender ao cargo político e alguns procedimentos seriam revistos. Mas já faz tempo, não mudou muita coisa.
— No Brasil, não. Mas tome cuidado, Mari. O novo sheik não é muito popular entre os mais tradicionalistas, ele é filho ou sobrinho da Fatma. Não deixam que os estrangeiros saibam muito sobre as questões internas. A Vivian que tem os contatos e passou uma série de recomendações.
— Ela me mandou umas mensagens, mas achei que fosse exagero — respondo começando a me preocupar.
— Você sabe como ela é, mas parece que o contato dela avisou sobre algumas mudanças. Não em Samahira, que é praticamente propriedade particular da família, mas na capital é bom se ter algum cuidado.
Acredito que essa informação me deixou mais relaxada, eu iria para o lado mais cosmopolita de Almasir, e embora a capital exalasse modernidade e tecnologia, as tradições e costumes eram mais arraigados por lá.