Our Seasons

By bluevenning

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|| Plágio é crime, não aceito adaptações ou traduções || Dan decide ir embora depois de ter seus sentimentos... More

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By bluevenning

Apesar de todas as circunstâncias em que poderia estar, Dan acreditou que a vida sempre o surpreenderia de uma maneira injusta. Tentou pesquisar e entender como algo assim poderia acontecer, como alguém poderia se esquecer de tudo? Nem mesmo era uma opção não ir ao hospital. Dan nunca daria as costas a ninguém, ainda era uma pessoa gentil por mais que odiasse isso. Não foi fácil tomar coragem para concluir o que sentiria em uma situação assim, parado no corredor por simplesmente medo. Questionou a razão do medo. "Ele não se lembra mesmo de nada?" pensava, inquieto ao endireitar a postura, os passos parando ao ver a porta se abrir. Era uma surpresa, mas não se tratava da visita de um parente ou parceiro antigo. Dan relaxou os ombros, sorrindo fracamente para Namwook.

O treinador, no entanto, balançou a cabeça negativamente ao ser alvo do olhar esperançoso do fisioterapeuta. Não, não havia sequer um mínimo avanço mesmo com treinadores e colegas o visitando e tentando mostrar fotos de campeonato, de tudo. Nada ajudava. O treinador se aproximou, ajeitando as sacolas que tinha em mãos, guiando o caminho por aquela conversa ser um pouco complicada demais para ser feita em um mero corredor. Dan suspirou, sabendo que a situação era realmente grave, a esperança era que Jaekyung se recordasse ao menos de Namwook, que sempre foi o mais próximo de uma imagem paterna.

— Ele não se lembrou de você? — Dan questionava no caminho.

— Não, ele ainda foi rude quando tentei mostrar fotos das conquistas dele. E de você?

Dan negou. De certa maneira, pensava em como desejou esquecer tudo, e era uma brincadeira de péssimo gosto do destino que fosse logo ele quem esqueceu de tudo. Sequer imaginava como era a sensação de acordar e não reconhecer nem o próprio nome, e tentava imaginar o que ele sentia quando o viu naquele quarto de hospital, o que pensava quando via as visitas ou as enfermeiras tentando explicar sobre as consequências do acidente.

— Preciso agradecer por ter vindo, sei que não é agradável para você. — Namwook andou pelo corredor, virando alguns longos corredores até o refeitório do hospital, se acomodando a uma das mesas. Repousou a sacola sobre a mesa, o silêncio pairando por alguns instantes, não era o tipo de conversa que pensou que teria. Apoiou as mãos sobre a mesa, observando a imagem cansada de Dan. Não que Dan não quisesse estar ali, mas não existia muita escolha. — Como você está? Eu soube que anda trabalhando bastante, foi uma pena quando saiu do Team Black. Eu poderia ter te indicado para outro atleta.

Dan sorriu, agradecendo à gentileza do treinador. Mas foi uma escolha pessoal cortar contato com a equipe, apenas Yoongu insistindo por conta da própria teimosia.

— Eu tenho alguns trabalhos, minha avó melhorou um pouco, então ando economizando... Essas coisas são caras, mas vou tentar me mudar para um lugar bom, para ela. — Dan riu, era claro que precisaria trabalhar mais. Encarou a sacola, a abrindo e vislumbrando as fotos das grandes vitórias. O cinturão de campeonato, as revistas com a foto de Jaekyung na capa como uma imagem impiedosa de um vencedor nato. O fato de Namwook não ter um sorriso aberto naquele instante só deixava clara a situação. — Ele sempre tinha o mesmo sorriso arrogante quando ganhava. Hm, isso tudo é estranho para ele agora.

— Ele sempre foi como uma criança mal educada e rude, o temperamento parece algo incurável. Quando tentei me apresentar, ele virou a cara e disse "Quem deixou esse velho entrar aqui?". Francamente, eu o bateria se não soubesse do acidente. — Namwook resmungou, se acomodando na cadeira. — Ele foi rude com você?

— Hm... Eu não tenho certeza. — Deveria ser fácil, Jaekyung sempre foi agressivo, rude. Mas acontecia que não, ele não tinha sido assim. Quando se recordava, Dan acabava estranhamente acanhado com a lembrança de Jaekyung tocando seu rosto e perguntando quem havia o batido. — Ele está confuso, é como uma criança confusa e irritada agora.

— Ah, eu entendo.

Dan devolveu as fotos para a sacola, soltando um suspiro pesado.

— Ele não se reconhece?

Namwook negou.

— Para ele, essa pessoa nas fotos é um completo estranho. Claro, ele continua resmungando, odiando ser ajudado, sendo o babaca de sempre. Mas fica argumentando que não lembra de nada, e para piorar a situação, hm... — O treinador ajeitou os óculos, voltando a repousar os antebraços na mesa redonda — As enfermeiras, os médicos, eles dizem que toda paciência é necessária e que estresse demais pode afetar o estado dele. Tenho conseguido impedir que seja exposta a situação para a mídia, mas não sei até quando será possível.

— Eu não sei como que ele vai recuperar a memória. Gostaria de ajudar, mas é que... Mesmo a enfermeira dizendo que esse Jaekyung mal se recorda da pessoa que costumava ser, eu me lembro. — Dan queria poder apenas seguir em frente. Mas não conseguia, não quando alguém precisava de ajuda. Mesmo que aquele rosto, a voz, que tudo o assustasse imensamente. — A enfermeira fica me ligando, dizendo que eu deveria vir. Não me parecia errado quando entrei naquele quarto e me apresentei como alguém que trabalhava para ele e agora...

— Agora você é praticamente a única coisa que ele conhece? — Namwook suspirou, sabendo que era pedir demais. Sempre havia sentido que haviam sido injustos em não serem mais firmes quando o lutador destratava o Kim, e era a maior prova de que o Dan era mesmo uma boa pessoa. Qualquer um poderia guardar rancor de Jaekyung, e ele estava ainda ali. — Acreditamos que seria melhor ele passar um tempo na casa onde cresceu. É longe da cidade, ao menos até que se recuperar das lesões físicas. E estar lá poderia o fazer se lembrar de quem é, quem sabe?

"A casa da família dele, imagino que deve ser gigante" Dan pensava.

— A casa da família Joo. Hm... Escutei que eles vão demorar para voltar. — Dan tentou, e muito, não julgar, mas os parentes de Jaekyung pareciam não encarar a seriedade da situação. As íris castanhas fitaram o treinador, sentia o nervosismo com o que estava querendo pedir. Dan encarou as próprias mãos, sabendo que era complicado, costumava ser um fisioterapeuta, faria sentido cuidar do estado de um atleta em tais condições, mas não dessa maneira. — Eu mal consigo olhar nos olhos dele, Jaekyung ainda é aquele que... Aquele homem que me tratava tão mal. Podemos ser sinceros, ele tratava até um inseto com mais respeito. Como eu poderia ajudar?

— Eu sei que isso seja até demais para você. Mas é que... Não temos outras opções. Ele afasta todo mundo, enfermeiras, médicos. No fundo, tudo o assusta ou o irrita. — Aquilo era uma surpresa, foram dias e mais dias, as coisas deveriam estar melhores. Porém, as tentativas de o fazer se lembrar acabavam piorando, eram informações demais. A frustração aumentava e ele provavelmente já não queria mais ver fotos ou escutar nomes. Namwook ainda o olhava como um filho e doía ver como Jaekyung se fechava como se já concluísse um "Eu não me lembro dessa merda, porque está me mostrando isso?". O treinador olhou Dan, com cautela. — Acho que, como ele não se lembra, tudo parece uma mentira. E tudo é um fator de estresse, por isso seria melhor que ele passasse um tempo na casa da família, ao menos eles chegarem.

— Eu tenho um trabalho...

— Eu sinto muito por estar te pedindo isso. Eu me apresentei, assim como Yosep, e todos os outros. Mas... Ele só pergunta de você. Querendo ou não, você é uma presença em que ele confia. Olha, seria como ser o fisioterapeuta dele de novo, e seria apenas até os parentes dele chegarem de viagem. — Pedia, a voz calma enquanto gesticulava — Você seria pago. Eu juro, no primeiro momento em que ele te deixar desconfortável, você não precisa continuar. Pode me ligar e eu mando outra pessoa cuidar dele.

— Ele pergunta de mim?

Namwook assentiu. Aquilo pareceu jogo sujo, e nem era por causa do dinheiro, Dan sequer entendia por que sua presença inspirava alguma confiança em Jaekyung. Por dias conseguiu escapar de todo mínimo pensamento sobre ser a única coisa em que o lutador conhecia, e aceitar cuidar dele por um tempo foi uma decisão difícil. Conheceu um Jaekyung e esse parecia mais desafiador.

Era um Jaekyung novo, confuso.

Dan se convencia que ao menos teria algum dinheiro e poderia morar em um lugar bom com a avó, uma pequena casa simples onde ela poderia passar o restante do tratamento. Odiava pensar também que era ainda grato a Jaekyung, afinal, foi graças a ele que ela recebeu o tratamento que Dan jamais conseguiria pagar sozinho. Ainda restava algum dinheiro, e tudo era usado para ela, talvez ganhar um pouco mais não fosse uma ideia ruim.

Foi com esse pensamento que adentrou os corredores até a porta do quarto, escutava a reclamação de mais uma enfermeira. Mordeu o lábio inferior, a mente repassando todo momento que se recordava de Jaekyung, toda a dor e humilhação. Ainda deveria ser grato? Abaixou a cabeça, seriam alguns meses, no máximo, que risco correria? Já estava enterrando tudo o que sentia e continuaria colocando esforços nisso. Não era como se pudesse o amar depois de tudo o que já havia escutado dele. Tivera de respirar profundamente mais uma vez antes de girar a maçaneta, espiando dentro do quarto. As sobrancelhas se erguendo ao avistar o quão ridículo era pensar que Jaekyung ainda carregava a imagem imponente e a aparência injustamente bonita mesmo com os cabelos mais curtos e a cabeça enfaixada, a expressão fechada ao encarar a visão da janela. A cabeça erguida e as feições tão marcantes de um homem que seria admirado mesmo em uma multidão.

Dan pensou como isso não mudava quem ele era. Corou suavemente, se mantendo parcialmente escondido atrás da porta.

— Você é surda? Eu quero...! — Jaekyung virou o rosto, olhando surpreso a imagem de Kim Dan, que mais parecia uma pequena presença encolhida no vão da porta, os olhos castanhos delicados o olhando como se tivesse medo. Jaekyung não disse nada por alguns instantes. — Onde que você estava, porra?! Faz três dias. — O moreno o olhou impiedosamente, a crítica nas íris escuras. Dan não se moveu, como que cuidaria de alguém que nunca aceitava um conselho médico? A mão apertava a maçaneta, ponderando se deveria apenas ir embora, tendo de erguer o olhar ao ver Jaekyung tentar se sentar apesar do braço imobilizado e da perna engessada, o causando um resmungo de dor. — Se não vai entrar, vou te arrastar até aqui.

— Ei, seu idiota! Pare com isso! — Dan entrou, ainda mais frustrado por ter de apressar os passos e apoiar as mãos em seus ombros, o obrigando a se deitar. — Não faça isso, eu... Eu estou aqui, não estou? — Afastou as mãos como se o toque fosse errado. E parado ao lado da cama, encarava como Jaekyung mal conseguia relaxar. Agora era o lutador que não o olhava, como uma criança emburrada. Dan o olhou, não com pena, mas como se aquele fosse um enigma difícil de ser lidado. Tivera de colocar na cabeça que ele era só um homem confuso, sentou-se na beirada da cama causando um leve ranger. Era o mesmo corpo, o mesmo rosto. Mas Jaekyung jamais faria essas coisas, deixar claro que sim, estava esperando por si ao longo de tantos dias.

"Ele parece uma criança irritada" pensava, bufando baixo.

— Senhor Joo. Você... Precisa ser grato, as pessoas estão tentando te ajudar. — Riu, incrédulo, o lutador ainda parecia ingrato e não era como educar uma criança, acontecia que Jaekyung ainda era um homem adulto e teimoso. Dan sentiu a mão novamente segurar o pulso, aparentemente, era uma mania desde que ele acordou. — Eu não estou indo embora, é só que... Seria bom que não gritasse com as enfermeiras. — Dan tivera de desviar o olhar, Jaekyung estava ainda o segurando e olhando tão profundamente. — Apenas diga "Obrigado" de vez em quando.

— Seria menos desagradável se não ficassem me empurrando fotos.

— Ah... — Dan suspirou, não era um entendedor no assunto, mas imaginou o quanto que poderia ser difícil saber sobre a vida de alguém com quem ele não se identificava. Era o mesmo que ver a vida de um estranho. Abaixou o olhar, vendo a mão apertando o pulso como um pedido natural que não se afastasse. — Aquele que veio antes era o treinador Park Namwook... Ele é como uma imagem paterna para você. Sei que se conheceram há muitos anos.

— Ele me treinava?

— Sim, você era o capitão da equipe. As pessoas idolatravam você.

— E você? — Jaekyung olhava, atento, sem soltar o pulso.

— Eu só era um fisioterapeuta. — Dan forçou o pulso, mas era impossível soltar. Ignorou como o toque era quente, forte. Piscou algumas vezes, o toque ainda assim não se tornava doloroso. — O treinador Park conversou comigo e achou melhor que você se recuperasse em um lugar menos estressante. — Tentou ainda afastar o braço, mas o lutador ainda o segurava. "Droga, pare com isso" pensava, Jaekyung normalmente nunca tocaria tanto.

Ergueu o olhar, e toda aquela irritação de dissipava ao notar o olhar dele, tão distante. Agarrando a si como a única coisa que conhecia.

— Vai me largar em algum lugar, com um bando de enfermeiras?

— Não, eu... Vou cuidar de você. — Dan se surpreendeu ao ver enfim Jaekyung o soltar, o rosto do moreno se virando e o olhando diretamente.

— Sério? — O lutador era complexo, Dan teve a maior prova ao ver o quanto ele precisava de ajuda, mas recusava a aproximação de qualquer um. Suspirou, os dedos passando nas mechas castanhas ao pensar se Jaekyung era assim quando mais jovem, alguém que tinha de ser direto quando queria da presença de alguém. Recolheu o braço para perto do corpo temendo ser agarrado de novo, sendo alvo das íris escuras. Aquele olhar, como se Dan fosse a única coisa no mundo. "E se toda a história sobre ser um lutador famoso apenas o assuste?" foi uma suposição óbvia, talvez temesse pessoas que poderiam se aproveitar de seu dinheiro e influência. Ou Dan estaria pensando até demais, vendo que os medos eram mais simples.

Eram fotos e fatos demais, e Dan era um nome e uma voz gentil.

Jaekyung ainda o olhava, sem dizer muito e o Kim odiava aquilo, por nunca saber o que ele pensava. "O que ele pensa quando olha para mim?". Aquele olhar era indecifrável, estava feliz por tê-lo como cuidador? Apreensivo por não saber onde iriam?

Jaekyung endireitou a postura.

— Como eu te conheci? — O moreno manteve um olhar profundo sobre o menor, Dan fugiu de seu olhar, ainda por não saber como dizer aquilo. — Como trabalhava para mim?

— Fisioterapia. Eu cuidava de você. — Abaixou o olhar, massageando o pulso. Era só por um tempo, convencia-se de que nada de ruim poderia acontecer e que em breve os Joo viriam e estaria livre. — Nós vamos ficar um tempo na casa da sua família, é afastado e calmo. — Avisou, embora ainda o incomodasse viver novamente sob o mesmo teto com Jaekyung. Apoiou as mãos na cama, prestes a se levantar.

— Obrigado.

Aquelas palavras pareciam estranhas na voz profunda de Jaekyung, tanto que Dan o olhou com surpresa. Ele havia mesmo agradecido? O lutador era a pessoa mais ingrata que já amou e estava ali, agindo como se fosse fácil? Pressionou os lábios, tendo de reprimir uma risada doce ao ver que ele era sim capaz de ser diferente, ou apenas queria tanto sua presença que colocaria o orgulho de lado, mesmo que apenas por alguns instantes. Deixou escapar uma risada, o fazendo ser alvo do olhar intenso das íris escuras. Dan retomou a postura de antes, olhando as flores e os presentes no quarto. Existiam pessoas torcendo por sua melhora, e por alguma razão, a única pessoa em que confiava era nele.

"Seria melhor eu pensar em uma história melhor? Não, mentir é errado". Dan sabia, no fundo, que contar quem ele era seria o mesmo que listar a quantidade de abuso que ele havia feito contra a única pessoa que ele confiava agora.

— Minha risada é estranha? — Tomou coragem a perguntar, permanecendo de pé ao lado da cama, as mãos unidas junto ao corpo. Jaekyung tinha agora aquela dolorosa sinceridade, ainda que fosse ingrato e indiferente, era direto talvez por não ter muito com o que se importar. Era a chance de descobrir se a risada o incomodava. Os olhares se encontraram, por longos segundos, com ele o encarando como se a pergunta é que fosse tão estranha. — Eu não gosto de mentiras. Pode falar se achar minha risada feia ou...

— Você fecha os olhos um pouco quando ri. O som da sua risada é...

"Irritante?" Dan pensou, engolindo em seco.

— É alguma coisa. — Jaekyung respondeu, vagamente. Aquilo poderia ser bom ou ruim, mas Dan se deu por satisfeito, achando que a verdade poderia ser pior. Não deveria fazer perguntas assim, era como se aproveitar da situação. O antigo Jaekyung nem teria respondido. Sem saber, o olhar do lutador estava novamente sobre si, como se o rosto delicado sempre roubasse sua atenção, intrigado pela delicadeza de Dan. — O que fez nesses três dias? Espero que tenha sido algo sério para não vir.

— Eu trabalho, bem, pego uns trabalhos de meio período. Tem dias que trabalho em um restaurante, outros que vou para uma loja de conveniência.

— Pensei que trabalhava para mim. Eu te demiti?

Dan se recusou a concluir que era a forma dele de tentar desvendar como se conheceram, era só uma curiosidade tola e fazia sentido, afinal, não havia explicado se trabalhou para ele há anos atrás ou naquele mesmo ano.

— Nós não nos entendíamos mais, você não me queria mais por perto e... — Era certo explicar, mas instintivamente Dan fechou os punhos, era algo que ainda doía. Expôs todos os sentimentos que guardava em um presente que ele jogou na parede, mostrando que tudo aquilo era uma perda de tempo. Jogou no lixo o que eram aqueles sentimentos e todo o valor que Dan achava que poderia ter. Suspirou fraco, quase como se aquilo fosse uma humilhação. — Você não suportava minha presença, então, fui embora. Mesmo assim, eu sempre viria mesmo que você tivesse um arranhão na testa. — Era a maneira mais simples de expor aquilo.

Jaekyung não o queria mais, não depois de expor sentimentos e mostrar que esperava que o tempo juntos significasse alguma coisa. Um pequeno orgulho nasceu por não ter chorado ao dizer aquelas palavras, as que tornavam aquilo tão real.

— Você não gostava nem um pouco de mim. — Dan afirmou.

— Foi eu que te bati?

Dan tocou o hematoma do rosto, rindo fraco.

— Não. — Riu —Você nunca me bateu.

— Essa risada, ela sim é estranha.

— Ah... Desculpa.

Dan também a achava estranha aquela risada que dava para preencher o silêncio ou para mascarar uma nova dor. Ainda assim, era verdade. Dan viria sempre, mesmo com um acidente de carro ou um arranhão no joelho, sempre viria para Jaekyung como se a dor fosse o que os conectava. Não sabia ainda o que aquele tempo juntos significaria, mas pelo que conhecia de Jaekyung, não significaria nada.

"Isso é ridículo" Dan pensou ao ver a casa dos Joo, acreditando que mesmo sem querer, se sentia mais pobre. A casa de campo era afastada o bastante pare pedir uma folga prolongada do trabalho e ter de avisar no apartamento compartilhado que ficaria fora. Mas encarar as amplas janelas com vista para o lago, a sala elegante em móveis de madeira escura e a lareira, tudo não parecia nada mais que um refúgio da vida da cidade.

Encostou os dedos no vidro, a visão das altas árvores e das paisagens naturais quase tinham um efeito terapêutico, tentou imaginar como teria sido fazer reuniões em família ali. Virou o corpo, o sorriso tímido com a imagem do moreno na sala, o corpo repousado a uma das poltronas macias, o olhar impiedoso sobre as fotos penduradas nas paredes. Dan se aproximava quase com uma cautela desesperadora, mas quanto mais o observava, via que nada daquilo estava ajudando.

Jaekyung não sabia quem eram aquelas pessoas, e não era acalentador as fotos de um Jaekyung mais jovem, mas sempre sério, nunca com um sorriso no rosto.

— Hm, chega por hoje. — Dan se aproximava com o mesmo sorriso, gesticulando com a mão — Está esfriando, quer uma bebida quente? Eu posso fazer alguma coisa. Um chocolate quente? Eu amava isso quando era menor. — Recuou um passo ao ver a atenção do lutador, provavelmente estava cansado para ter qualquer tipo de conversa.

Dan olhou bem o imobilizador de braço e a perna engessada, talvez "desconfortável" fosse o estado em que se encontrava. O silêncio se manteve, com Dan verificando o curativo.

— Talvez seja bom tomar um banho e aí posso trocar os curativos. — Aquela frase soava imensamente constrangedora, pois ainda era difícil para Jaekyung se mover com as muletas e era necessária a ajuda de Dan para tudo. Suspirou, pensando como nenhum parceiro sexual poderia ter chegado nesse ponto, ou nenhum deles permaneceria tempo o bastante para isso. Os olhos castanhos novamente reprimiam qualquer tipo de pena ao ajudar Jaekyung a voltar para a cadeira de rodas.

— Isso é uma merda, quando vão tirar essa porra de gesso?

— Senhor Joo... Será logo. Um pouco mais de paciência. — Dan deu a volta, empurrando a cadeira, os passos calmos até o banheiro do primeiro andar. — Eu vou preparar o seu banho. Por que não continua de onde começamos? Diga o que sabe. — A voz de Dan era doce e tinha paciência mesmo que aquela rotina não parecesse que melhoraria. Sentou-se na beirada da banheira ampla, abrindo a torneira e verificando os armários atrás dos sais de banho, optando por uma mistura que soasse mais agradável. — Senhor, por favor? — Pediu, voltando a se sentar na beirada da banheira, o moreno ainda tinha uma expressão fechada e irritada.

Dan franziu o cenho.

— Você disse que tentaria. Vamos, lá. Seu nome é?

— Meu nome é Joo Jaekyung. Eu era o campeão de... Começa com M?

— MMA, Senhor. Está indo muito bem. Vamos, sei que consegue. — Dan olhou a água, despejando um pouco dos sais e movendo os dedos na água, sorrindo suavemente com a espuma perfumada. Fechou a embalagem dos sais, repousando na bancada da pia. — Seus treinadores são o Namwook e o Yosep. Apesar de você detestar admitir, Choi Heesung é um bom amigo e... Hm, o esporte é a coisa que você mais amava. — Ao ver que a água estava boa, levantou-se, sabendo que toda a rotina era devastadora de cansativa para Jaekyung.

Ele detestava aquilo, precisando de ajuda o tempo todo. Dan murmurou "Só um minuto, senhor", e inclinou-se para abrir a camisa, sendo inevitável olhar os músculos, as tatuagens. As mãos delicadamente o livraram das roupas e ignorou o pensamento do quão íntimo era algo assim, o ajudar com as calças, com a boxer preta. Não imaginaria nunca outro parceiro ao lado de Jaekyung em seu momento mais frágil. Enfim, o corpo muscular era guiado para a água morna.

— Cuidado com a perna. — Dan segurou cuidadosamente a perna engessada, a mantendo elevada na beirada da banheira. — Se algo te incomodar, fale. — A voz de Dan era baixa, tímida. O corpo delicado se inclinando para ensaboar as costas do lutador, os dedos tocando os músculos, a pele macia. — Não reconheceu ninguém das fotos, Senhor? — Dan ensaboava agora os ombros, o pescoço, notando que Jaekyung fechou os olhos, relaxado.

Claro, ele não queria continuar os exercícios e seria pior o pressionar quando um estresse um pouco maior poderia piorar seu estado. Dan segurou o queixo, delicadamente.

— Incline a cabeça para trás. — Pediu, passando a água aos cabelos mais curtos, pensando consigo mesmo o quanto que era injusto que ele fosse tão bonito até mesmo assim, o lutador inclinou a cabeça para trás, sentindo a delicadeza em que a água era passava por seus cabelos, o Kim tinha cuidado ao passar o sabão e a água morna ao pescoço, ao rosto, até que os olhos se abriram em um resmungo quando os dedos passaram perto da orelha.

— Minhas orelhas sempre foram feias assim?

— Não são feias, Senhor. — Dan comentava, piscando algumas vezes ao ver que tinha de se inclinar um pouco mais para passar o sabão e a água ao abdômen, os dedos passando lentamente ali. O silêncio se manteve, com os pensamentos longe. Nunca foram assim, Jaekyung nunca faria o mesmo por si, pagar contas era uma coisa, mas jamais cuidaria de si caso tivesse uma perna quebrada. A atenção voltava para a realidade ao corar com o toque no lóbulo da orelha.

— A sua é bonita, pelo menos.

Dan evitou o olhar, por sentir que aquelas íris escuras o encaravam fixamente. Era o que ele fazia, encarava como se fosse intrigante cada movimento, cada gesto e Dan não queria passar por isso. O que deixava tudo um pouco constrangedor quando foi Joo que se inclinou para frente, o rosto inclinando-se, tentando encontrar o olhar do menor. Aquilo era intimidador, Dan corado, querendo terminar aquele maldito banho e o olhar descendo, mesmo com a água com a espuma perfumada, era visível a ereção de Jaekyung. Era como se o corpo ainda reagisse da mesma maneira.

— Se eu te odeio tanto, por que fico excitado com você me tocando assim? — A pergunta foi um sussurro baixo e levemente rouco, capaz de causar um arrepio em Dan. Não estava ali para isso, para serem o que eram antes, embora ainda não tivesse contado tudo. Não falou sobre o "Jinx". Dan ainda evitou olhar, mas o rosto de Jaekyung agora passava nos cabelos castanhos, sentindo o perfume leve. — Por que esse perfume me faz pensar coisas que quero fazer? — A mão guiou a de Dan para dentro da água. De qualquer maneira, não tinha como explicar. Jaekyung nunca explicou o que via de atrativo em si, apenas afirmava o que queria. Dan suspirou, achando que talvez aquilo fosse um pouco demais, porém, deixá-lo ali naquela situação era algo que não tinha se preparado.

Apenas aceitou o caminho em que as coisas seguiam, a mão estimulando a ereção, os dedos passando na extensão sentindo as pulsações ao toque. Era só o que tinha de fazer, certo? Dar alívio. Então, pressionou um pouco os toques, sem o olhar, e aumentou a intensidade até que sentisse o corpo se tencionar, gozando em sua mão. Ainda não entendia o que ele pensava, apenas que Jaekyung não levava a sério as poucas coisas que dissera sobre a relação que tinham.

"Você não me queria por perto", mas se sentia excitado com o toque ou aproximação do perfume. "Eu costumava trabalhar para você", mas nunca haviam muitas perguntas sobre isso. E mesmo quando o ajudou a se secar e a se vestir, o olhar sempre estava encarando Dan, fixamente.

O quarto do primeiro andar havia duas camas de casal, Dan não sabia a razão, mas imaginou que talvez fosse um para hóspedes. Apesar do que aconteceu há momentos atrás, a melhor escolha foi manter silêncio enquanto ajeitava os travesseiros e os cobertores. Jaekyung se acomodou na cama, olhando o pijama de Dan que não era nada além de uma calça de moletom e uma camisa de mangas compridas. A pouca luz trazia um ar mais reconfortante, mais quente do que sentiam do lado externo, que esfriava cada vez mais.

— Aquilo foi errado, Senhor. Não vai se repetir. — Dan precisava colocar um limite antes que fosse tarde demais, mesmo o conhecendo o bastante para saber que Jaekyung nunca aceitava nada além do que ele queria, era como conversar com uma parede. — Já que não está com fome, descanse. Hm... Eu tenho que trocar o curativo. — Apressou-se para pegar a caixa de primeiros socorros, se sentando na cama para trocar o curativo da cabeça, olhando a cicatriz, passando uma pomada para evitar dor ou um inchaço, voltando a colocar a bandagem lentamente, com um cuidado cheio de delicadeza. Abaixou o olhar com o toque no pulso. — O-o que foi?

Os olhares se encontraram mais uma vez, com o toque de Jaekyung deslizando pelo braço.

— Tem medo de mim?

— Um pouco. — Respondeu, encolhendo sutilmente os ombros. — Senhor, eu...

— Quando me mostram fotos, dizem que eu era incrível. Então, por que quando você me olha, é como um animal fugindo de mim?

— Você não costumava ser gentil, e... Hm, descontava sua raiva em mim. — Naquele ponto, Dan não sabia se a verdade era boa. Sabia que não era como se Jaekyung pudesse se tornar um bom homem, talvez sua essência fosse ruim. — Você já fez coisas boas por mim, e o senhor tinha até um evento de caridade. Mas é que houveram coisas que me machucaram, e isso talvez sempre faça eu ter medo de respirar perto de você. — O toque afastou com o toque do celular de Dan, pegou o aparelho na escrivaninha e atendeu. A música era alta na ligação, não precisou de muito para perceber o quão bêbado Jihae estava. "Ei, Dan-Dan, quando vai voltar? Andei pensando em você". Não era hora para isso, e muito menos era hora para escutar o tatuador perguntar o que Dan estava vestindo naquele momento.

Os olhos castanhos se voltaram para o lutador, que não parecia nada contente ao perceber que Dan estava falando com outro homem.

— Hm, Jihae, eu avisei que ficaria um tempo fora... Nos falamos de manhã, ok? — Finalizou a ligação, colocando o aparelho de volta na escrivaninha.

— Amanhã de manhã eu quero dar uma volta. O médico disse que ar fresco seria bom para mim.

— Que horas?

— Cinco.

Dan o olhou sem reação. Faziam dois, três dias que estavam naquela casa, claro que ele sabia que acordava às seis.

— Isso é por eu dizer ao telefone que ligaria de manhã?

— É. — Jaekyung não teve nenhuma vergonha de admitir, não queria Dan falando com outro homem e se para isso tivesse de acordar cedo e o fazer empurrar aquela cadeira de rodas por horas pela propriedade, que assim fosse. Não apenas não tinha o menor constrangimento de falar aquilo, como manteve o olhar fixo no menor, admirando as feições delicadas. — Eu não sinto que eu te odiaria. Por acaso, eu já disse isso diretamente? — Ele só queria entender.

Dentro daquela mente confusa, não fazia sentido. Como odiaria aquele rosto que sempre roubava sua atenção? Como odiaria alguém que aceitou cuidar de si, mesmo admitindo o quão ruim era a relação que costumavam ter? E Dan não teve palavras, não, Jaekyung nunca dissera diretamente "eu te odeio". Mas precisava? Todas as ações dele mostravam o quanto que era substituível.

A falta de uma resposta pareceu intrigar ainda mais Jaekyung.

— E o que pensa que está fazendo toda manhã?

— O que quer dizer?

— Você faz o café da manhã e fica de pé ao lado da mesa como se nem pudéssemos comer juntos.

Dan encolheu sutilmente os ombros, não que fosse uma regra, só acontecia de sempre ser assim. Não comiam juntos, Jaekyung aproveitava das refeições e Dan continuava perto da mesa, o olhando na espera de algum comentário. As conversas sempre curtas e sobre trabalho, embora percebesse agora, o lutador tinha certo talento para saber quando queria dizer algo. Jaekyung o olhava e perguntava o que queria falar, como se lesse seus pensamentos ou fosse previsível demais.

— Se dormirmos na mesma cama, não vou fazer nada. Se não percebeu, estou uma perna engessada e um braço imobilizado. — Foi direto, olhando a outra cama. — Aquele é o lado mais frio do quarto, você está tremendo há dias.

O pior era saber que aquela não era uma desculpa qualquer, Dan literalmente estava morrendo de frio porque o aquecedor não era tão forte naquela parte do quarto e a casa, apesar de bonita, era bastante antiga. Timidamente se ajeitou ali, com cuidado para que não incomodasse o lutador. "O sono dele é leve", e assim pensou que qualquer movimento poderia o acordar. Dan se dispôs a olhar o teto, a casa era silenciosa o bastante para pensar em como teria sido crescer ali, um Jaekyung tendo dificuldades para dormir e escutando aquele silêncio todo. Será que escutava os pais brigando? O coração acelerou com o pensamento de que Jaekyung nesse estado era quem não pensava antes de falar, falando que deveriam fazer as refeições juntos, dormirem na mesma cama. Era imprevisível.

— Quem ligou foi o seu namorado?

— Não. Jihae é meu colega de quarto, moro em um apartamento compartilhado com outras pessoas. Ele é um tatuador e...

— Eu não me importo com o que ele faz.

"Mas você que perguntou, idiota" Dan pensou, voltando a encarar o teto.

— Então, não são namorados?

— Não.

— Você tem algum namorado?

— Não. — Dan franziu o cenho, Jaekyung nunca mostrou tanto interesse assim. — Eu não vou te tocar de novo como aconteceu hoje. — Foi a última coisa que Dan dissera antes de fechar os olhos, tentou ignorar todo o interesse e como Jaekyung parecia obcecado por si, por cada detalhe mínimo. Por dias, observava Dan fixamente, os gestos delicados, a forma como falava. Tudo talvez em uma tentativa de entender o que aconteceu e por qual motivo o odiaria, sendo que o lutador sabia de alguma maneira que essas coisas jamais se encaixavam.

O corpo reagia diferente quando era tocado por Dan, apenas por ele. Não sentia isso quando outra pessoa o tocava. Por um tempo, observou o rosto adormecido antes de se aproximar e sentir o perfume delicado, pensando de novo e de novo em como que aquele perfume leve poderia fazer sua mente sempre ir longe. Era instintivo, a mão queria tocar debaixo daquela camisa, queria sentir a pele macia, cada curva. E olhando aquele rosto delicado e indefeso, preso em um sono pesado, arqueou a sobrancelha.

Jaekyung não entendia.

Gostava de olhar aqueles lábios rosados, os cabelos castanhos. O que não gostava? Aquele hematoma no rosto. Observou com atenção o tom arroxeado, pensando em quem teria imaculado aquele rosto. Os dedos afastavam alguns fios castanhos que insistiam em cair ao rosto de Dan, o rosto que Jaekyung sentia que poderia olhar por horas.

— Por que eu fico irritado com esse hematoma? — Questionou, mais para si mesmo, em um tom baixo, o olhar indo até os lábios rosados de Dan. Era estranho pensar nisso, em como outro homem o deixava assim, querendo o toque de suas mãos, querendo descobrir a maciez de seus lábios. Era confuso e intrigante, ao mesmo tempo.

"Dan". Até o nome era curioso, pequeno e inquietante.


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