O dia tinha começado normal para a maioria das pessoas.
Mas para um grupo seleto, algumas coisas estavam pra mudar. Mudar para pior.
Kiyomi decidiu que não iria ao colégio naquele dia, e isso não passou despercebido por algumas pessoas em específico.
Naquele dia ela colocou uma série, pegou um pote de pipoca e escolheu fugir de tudo, pelo menos por algumas horas.
Mas no colégio de Yokohama, uma pessoa estava nervosa, pois havia passado a noite em claro ouvindo lamentos de dor.
– Precisamos conversar – Ele disse a irmã mais nova que semicerrou os olhos, mas por fim suspirou e caminhou com ele até um local mais distante – Falou com Kiyomi hoje?
– Ela disse que estava com cólica, que não viria hoje – Senju explicou ainda confusa, Sanzu não costumava falar da melhor amiga da irmã.
– Eu... Passei pela casa dela ontem, sem querer, estava caminhando a tarde e ouvi algo... Achei que alguém precisava de ajuda mas o que eu ouvi... – Pela primeira vez em anos, Senju via uma expressão de confusão no rosto do irmão.
– Do que está falando?! O que houve com a minha amiga?!
– Ela estava chorando, Senju – Ele olhou com pânico nos olhos – Você me disse que Kiyomi nunca chorava.
– Ela estava... O que? – A platinada sussurrou.
– Chorando. Estava esperneando e gritando como se estivessem rasgando seu peito, toda a vizinhança ouviu... Eu fiquei lá a madrugada toda, ela só parou de chorar quando o sol nasceu.
– Eu não acredito em você – Disse firme.
– Por que eu mentiria?! – Ele olhou pra ela com raiva – É a sua amiga! Não minha! Estou apenas te dizendo pra que fique de olho nela, ela não está bem.
Ele se levantou e saiu andando com passos pesados.
Senju ficou olhando o irmão se afastar enquanto tentava raciocinar o que havia acontecido.
Conhecia a garota havia anos, e nem mesmo quando se mudou, ou quando havia sido abandonada, a garota nunca havia derramado uma lágrima sequer.
Então que diabos teria acontecido para quebrar a garota mais forte que Senju conhecia?
– Na verdade eu não terminei! – Sanzu voltou enraivecido e apontou com a mão para o grupo de vermelho da Tenjiku – É tudo mentira, precisa afastá-la do Haitani.
– O que? Como assim? – Perguntou completamente confusa.
– É uma aposta, Senju! Ran apostou que conseguiria fazer Kiyomi se apaixonar e chorar por ele!
– Não... Não pode ser, ela disse que ele está sendo verdadeiro!
– Nesse momento ele está, o feitiço está virando contra o feiticeiro, mas ainda existe uma aposta, ele vai fazê-la chorar de propósito no baile pra ganhar, e depois vai tentar reconquistá-la, ele a quer, mesmo que tenha que destruí-la pra tê-la.
– Sanzu... Isso vai destruir ela... Eu não posso contar...
– A amiga é sua, eu no lugar dela gostaria de saber.
*****
Horas haviam se passado e Senju mal tinha se mexido. As pessoas passavam pelo pátio e a observavam sentada no gramado, pensando no que fazer.
Ela havia perdido as aulas, agora as pessoas já estavam indo embora, e ela continuava ali.
Sabendo que quebraria o coração de sua amiga, como ela podia sequer pensar em contar? Mas também, ele se quebraria de qualquer maneira... O Haitani estava gostando dela, isso é verdade, mas ela tinha o direito se saber que era uma aposta.
Não estavam apostando seu primeiro beijo ou sua virgindade, mas algo que lhe doía muito mais. Apostaram seu coração.
A platinada se levantou e saiu andando, correndo, em direção a casa da amiga. Ela podia odia-la depois, mas Kiyomi tinha o direito de saber.
Ela correu pelas ruas e quando finalmente chegou a casa da amiga, bateu incessante na porta.
– Já vai! – Ouviu ela gritar lá de dentro.
– Meu Deus, Kiyomi! – A platinada lhe abraçou ao ver seu rosto.
Estava marcado de lágrimas, vermelho, e inchado, era uma visão que nunca sequer tinha imaginado. A albina sempre tinha sido tão forte, tão incrível, tão absurdamente empoderada e dona de si, quem poderia imaginar que algo a havia afetado tanto que ela passara uma noite em claro chorando?
– Desculpe, eu devia estar aqui – A menor sussurrou no abraço.
– Você não tinha como saber...
– Vamos entrar, você vai ficar doente aqui fora!
– Senju eu não sei se quero companhia agora, só quero ficar quietinha no meu canto e entender o que estou sentindo...
– Por favor me diga que não está sentindo nada! – A platinada se exaltou.
– O que? Pelo Haitani? Bom...
– Não! Kiyomi! Me escuta! É tudo mentira!
O semblante da albina derrepente se fechou.
– O... Que..?