Dezessete dias para amar você

By page_lilly

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As coisas não começaram bem para Madeleine e Alex, quando ela o golpeou na cabeça com uma garrafa de vidro ap... More

•informações•
•dedicatória•
PRÓLOGO
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By page_lilly

Madeleine Morgan

Acordei com um zumbido no ouvido e bem ao fundo, conseguia ouvir alguém chorar.

De repente, senti aquele cheiro de novo e vi flores brancas espalhadas pela capela, meu estômago doía e minha boca tinha gosto de cobre.

E eu queria gritar, mas não conseguia.

Subitamente, abri os olhos estudando todos os lados da sala.

Não estava na capela, não estava, não estava.

Faziam-se anos que esse pesadelo não me atormentava. Desde que tinha ficado enterrado em uma cova profunda no fundo da minha cabeça.

Mas ver as paredes perturbadoramente brancas do quarto de hospital não fez com que eu me sentisse melhor.

Minha cabeça começou a latejar como se um martelo a tivesse atingido.

Perturbada e desnorteada, apertei as mãos em ambos os ouvidos e só percebi que Amaya estava ali e que falava comigo quando apareceu em meu campo de visão, borrada, pelo pouco que meus olhos estavam abertos.

Estava com a mesma roupa de ontem e o cheiro forte de álcool me deixava mais nauseada.

Vi quando ela correu até a batente da porta antes de voltar para perto de mim e segurar a mão que eu mal sentia.

Seus olhos estavam inchados e levemente marejados.

- Como você tá, Maddy? Consegue me ouvir bem?

Franzi o cenho com meu corpo e minha mente ainda me machucando.

- Quem me trouxe até aqui?

Sua expressão ficou ainda mais alarmada - Você não se lembra de nada?

Sacudi a cabeça o pouco que consegui.

Tentando acalmar mais ela mesma do que a mim, respondeu lentamente - Maddy, você desmaiou ontem na festa.

Percebi que queria estar em coma a anos quando um tiro de consciência atingiu minha mente.

Fios dourados ocuparam toda minha lembrança.

Não o garoto bonito do corredor, o qual se apresentou como Kelvin.
Não a demissão.
Não o desmaio.
Nem as provas de admissão com as quais eu vinha me torturado nas últimas semanas.

Mas, ele.
Ele, o sangue, e Nichole.

Uma mulher adentrou a sala e deduzi que fosse a enfermeira, por mais que não tenha me preocupado o suficiente a ponto de olhar para ela.

Quando ambas se aproximaram de mim e começaram a falar simultaneamente, queria mandar calarem a boca e não me senti mal por esse pensamento como vinha me sentindo por todos os que tinha, uma culpa constante.

- Senhorita Morgan?

Quero trocar essa roupa, o cheiro vai me matar.

- Senhorita Morgan?

Fiz o esforço de virar a cabeça quando respondi - Sim?

- Vou checar seus batimentos, ok? Enquanto isso preciso que você me conte como se sente.

Assenti com a cabeça mais que o necessário.

- Estou bem - afirmei, mesmo antes dela tocar em mim.

Ela apertava em alguns lugares me pedindo o que eu sentia, mas ou doía muito ou não sentia absolutamente nada.

- Acho que ela precisa de uma água - May direcionou-se à mulher, que não demorou a sair do quarto.

Quando sozinhas, finalmente pude perguntar tudo que me assombrava.

- Quem me trouxe até aqui? Quem dormiu aqui comigo? Alguém me viu desmaiar? Seus pais sabem? Como e onde está a Nichole? Que horas são?

May respirou fundo, os resquícios das lágrimas que lhe assombravam os olhos já iam sumindo - Maddy, calma. Você precisa descansar.

- Eu vou poder descansar depois de saber de todas essas coisas, Amaya - apertei meu agarre em sua mão.

Ela puxou a poltrona para ainda mais perto da cama mas não deixou de me segurar. Com a mão livre colocou uma mecha solta do cabelo amarrado atrás da orelha.

- Vamos do começo, ninguém, ninguém - deu ênfase na palavra - viu você desmaiando, fora Nichole. Ela me ligou apavorada e eu corri até lá. Chamamos um táxi e o motorista nos ajudou a colocar você dentro do carro e nos trouxe até aqui - consegui inalar uma lufada de ar bem grande conforme as explicações começavam a serem feitas - Ligamos para Lucy, ela veio e levou Nichole para casa e depois me levou. Não falei nada para os meus pais quando cheguei, como se tivesse voltado da festa normalmente. Depois, Lucy dormiu aqui, foi tomar um banho hoje de manhã e agora eu vim ficar com você.

Fiz menção de abrir a boca para questionar sobre minhas duas perguntas não respondidas, mas Amaya me repreendeu com um olhar antes de continuar.

- Nichole está bem, Maddy. Ficou assustada mas está bem. Você deveria se preocupar com você mesma agora. E por fim, já são quase duas da tarde.

Arregalei os olhos na última parte.

- Então, está tudo bem? - questionou como se deseja-se muito que eu concordasse

Não,
estou desempregada,
- provavelmente - não passei nas provas de admissão,
sou uma péssima irmã mais velha,
um estorvo
e sou uma agressora,
sou horrível.

Mas deduzi que Amaya não soubesse disso, já que não falou nada sobre.

Então, dei outro suspiro de alívio mesmo com a culpa pesando em cima das minhas costas.

Queria descobrir quem ele era.
Queria me desculpar.
Queria dizer que jamais me perdoaria pelo que tinha feito.
Queria saber como ele estava.

Mas sequer tinha uma visão clara de seu rosto, lembrava com precisão apenas da voz.

- Estou preocupada com você - admitiu - foi por conta da demissão, não é? Que bebeu tanto e desmaiou...

Em partes, ela estava certa. Bebi porque tudo que tenho me sentido ultimamente é imprestável.

Mas desmaiei depois que me dei conta do que tinha feito com o garoto loiro.

Fiquei mais alguns segundos em um silêncio que percebi estar deixando Amaya tensa, por mais que ela soubesse esconder muito bem o que sentia o tempo todo, como se pudesse pisar em cima de quem quisesse e fosse indiferente a tudo.

- Sinto muito, May. Acabei com a sua noite - falei, culpada e decepcionada, porque, errar era tudo que eu vinha fazendo a um tempo.

- Ei! Nem pensei numa coisa dessas! Eu não devia ter te arrastado para lá, sabia que pra você a demissão era muito recente e insisti mesmo assim. Agora só quero que você fique bem, Maddy.

Tentei oferecer a ela um sorriso tranquilizador - Eu tô bem. Se você quer saber, já estou até achando essa situação engraçada - Disse me esforçando para ser o mais bem humorada o possível, por mais que ainda sentisse o sangue na boca e o seu braço apoiado no meu estômago conforme ele soluçava, mesmo assim, continuei - Não era um último ano memorável que queríamos?

Ela deu uma risadinha - Com certeza, mas acho que uma memória só desse tipo já foi o suficiente.

Os risos também ajudaram a me lembrar como tudo doía. Devo ter sido pisoteada por lutadores de sumô enquanto estava desacordada.

Séculos depois de sair do quarto, a enfermeira voltou com a água. Fez menção de colocá-la num copo mas impedi que o fizesse quando disse que não me importava de beber na garrafinha.

Abri o lacre do plástico, e tentei me sentar para beber.

Caralho.

Amaya percebeu minha dificuldade e se aproximou para me ajudar, assim, consegui me ajeitar melhor, reclamando do desconforto.

As costas e os pés eram os que mais latejavam.

Imagino que a dor lombar tenha sido causada por conta do tombo.

Já no pé, acho que Kelvin pisou em cima ao me segurar.

Ergui a cabeça para verificar o estado e me assustei.

A ponta inchada estava toda enfaixada.

Fiquei preocupada com a forma como estava destruída tendo em vista que foi apenas um desmaio, meu corpo estava todo doente.

Tomei vários goles seguidos, lavando a garganta.

Estava cansada o suficiente para sentir preguiça de me amargurar por ter perdido o emprego. Mais cansada ainda para pensar nas provas de admissão que ocorrem ao mesmo tempo da minha saída da lanchonete, uma das minhas piores semanas em muito tempo.

A chance de eu ter sido aceita em alguma faculdade era tão insignificante que chegava a ser ridícula.

Deveria sutar por isso. Chorar e me jogar no chão, sair gritando pelos corredores do hospital para aliviar minha frustração.

Mas ao invés disso, bebi o restante da água.

Recordei todo o esforço que May vinha fazendo para me manter bem e como venho sendo ingrata e vítimista ao desconsiderar sua ideia o tempo todo para me autodepressiar com um emprego que já havia perdido e que não teria de volta.

- Aliás, May - Capturei a atenção dela, que agora amarrava o tênis - Eu adoraria tentar a vaga para babá, desculpa ter afastado o assunto todas as vezes em que você estava tentando ajudar.

Ela sorriu contente, como se disse "não esquenta com isso".

- Vou dar um jeito. Suzanna que vai estar perdendo se não contratar uma babá como você.

Não conheço muito dos Benard fora o que Amaya me contou e uma coisa ou outra que aparecem nos tabloides, o mesmo que todo o resto de NY sabe. Um casal, dois filhos. Alexander, por quem ela finge não ser apaixonada, e o caçulinha Noah. E impérios, muitos impérios. Sei que a família de May (Carter) e a de "Alex" (Benard) tem uma conexão antiga e seus pais são amigos, então os dois meio que cresceram juntos, segundo ela.

- Suzanna vai gostar de você. Quem sabe você não faça amizade até com o Alexander.

Dei um riso debochado - Dispenso, mas 'brigada. Falou com o príncipe encantado pelo menos?

Uma risadinha nasal saiu dela - Príncipe? Tá mais para Cinderela, desaparecendo as doze badaladas pra fazer sei lá o que.

Dei a ela um olhar sugestivo do que ele estaria fazendo depois das "doze badaladas", então rimos, dissipando um pouco o ar pesado que me cobria, mesmo que nem por um segundo sequer, eu tivesse deixado de me sentir horrível e ficar repassando a forma como tudo aconteceu com o loiro.

Talvez May soubesse quem ele é, mas em hipótese alguma eu contaria a ela sobre o que tinha acontecido. Não por falta de confiança em seu caráter, mais porque é o tipo de coisa qual quanto menos souberem melhor.

Espero não ter traumatizado Nichole.

Esperava mais ainda que ela não tivesse contado para Lucy.

- Ela ficou muito puta comigo?

- Quem? A Lucy? - sentada na poltrona, ela arrumava uma mochila que nem vi de onde tinha saído. Me respondia sem tirar os olhos dela - A Lucy puta? A Lucy puta com você? Em que universo?

Minha boca se curvou em um sorriso fraco. Provavelmente foi ela quem passou a noite em claro comigo no hospital.

E, meu Deus, eu devo ter empatado o encontro dela!

- Ela tava preocupada, ficou com medo que você tivesse tido um coma alcoólico...Todos nós ficamos - me olhou feio - Mas aí o doutor disse que você acordaria logo e só precisava descansar, daí ela se acalmou, quase deu risada enquanto Nichole e eu estávamos apavoradas. Posou com você aqui e foi para casa tomar um banho hoje de manhã, como eu já tinha te dito.

Lucy era para mim melhor do que eu merecia que ela fosse.

Analisei Amaya de cima abaixo notando pela primeira vez ao dia seu uniforme de vôlei, ela sempre jogava nos sábados.

Não é justo uma pessoa ser perfeita do modo como Amaya Carter é.

Bonita, carismática, educada, boa em esportes, uma excelente aluna...

Sem dúvida alguma uma das garotas mais desejadas do nosso colégio.

E eu nunca seria metade de tudo que ela é, porque Amaya, jamais acordaria em uma cama de hospital depois de uma festa.

Jamais se vitimizaria tanto como faço.

Quando percebeu meu silêncio, levantou os olhos para se encontrarem com os meus com um sorriso pequeno nos lábios - O que foi?

Uma batidinha soou na porta, capturando nossa atenção, pra minha sorte.

Uma figura com olhos verdes esmeralda e cabelos ruivos como chamas veio disparada na minha direção.

Ela suspirou e envolveu os braços ao redor do meu corpo - Graças a Deus você tá bem.

Retribui o abraço.

Segurou meu rosto com ambas as mãos e o virou para ver de todos os ângulos. Depois analisou os braços e as pernas até parar no pé.

- Meu Deus.

Suspirei - Oi Lucy - sorri em linha reta.

Ela não retribuiu o sorriso - Maddy, quando eu disse pra você aproveitar a vida porque só se é jovem uma vez, eu não quis dizer para você beber que nem um velho de bodega e quase ter um coma alcoólico!

Me senti culpada. Lucy confia muito em mim, ao ponto de me deixar ir para onde eu quiser com quem eu quiser.

Porque me conhece.

Porque sabe como eu sou.

- Como você tá? - seus olhos borbulhavam em preocupação.

- Minhas costas doem. E acho que a minha cabeça pode explodir.

- O que você tomou para a dor?

Dei de ombros - Nada.

- Nada? - ela levantou as sobrancelhas desacreditada - Nada? - silabou. E então saiu do quarto, marchando.

Lucy tem seu jeitinho especial de resolver as coisas.

Na base da conversa é claro.

May riu - Tomara que ela não mate a enfermeira por não ter te dado remédio.

Sorri - Ela não vai...né?

May piscou - Vou ter que ir, meu treino começa daqui a pouco. Tem certeza que está bem?

Eu assenti - absoluta - Pior, nunca me senti pior.

Ela se aproximou e me abraçou - Você pode conversar comigo, Maddy. Não está sozinha, não precisa beber quando estiver se sentindo péssima.

Apertei mais meu braços ao redor do pescoço dela, que me segurava com cuidado - Brigada' May...

- O que você acha de assistir um jogo de futebol americano no sábado que vem? Os meninos da minha academia de esportes vão jogar contra os Titãs... e nós duas estamos precisando de uma programação mais leve.

Sorri - Acho que é disso que eu preciso.

Quase na porta do quarto, ela virou-se para mim.

- Qualquer coisa sabe que pode me ligar, e - deu um sorrisinho - vou falar com a Suzanna.

Retribui fazendo um coraçãozinho com as mãos para ela.

May deixou o quarto, levando consigo a mochila e deixando para trás uma Madeleine Morgan afogada em pensamentos.

Passei os próximos longos minutos revirando o Instagram na busca pelo loiro da festa.

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