Mirrorball

By aboutagustv

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Durante os dois anos em que Cecilia vive na Inglaterra, sua interação com seu vizinho tatuado que vive com um... More

Cast e Avisos
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By aboutagustv

Parte de mim ainda encontra dificuldade em se desvincular daquela Cecilia que fazia de tudo pela aprovação dos pais, muitas vezes aquele sentimento estranho de que estou fazendo alguma coisa errada invade meu peito e me causa certa angústia. Por anos fui proibida de pintar o cabelo de cores chamativas, furos no corpo? Somente se forem brincos na orelha, pois é delicado e uma mulher “delicada” não usa piercing. Tatuagem? Nem pensar! Pintar as unhas, crucial para não parecer “desleixada”, mas nunca de cores fortes para não ser “vulgar”. Vestidos e saias sempre serão prioridades no seu guarda-roupa, porém não muito curtos, pois de novo tem que ter cuidado para não parecer “vulgar”, a maquiagem também é aceitável desde que não seja exagerada, o correto é parecer natural.

É tão sufocante viver uma vida de repreensão, sempre empurrando minhas vontades para longe, somente para agradar e não ter que passar por todo aquele discurso de “estou decepcionada com você”, toda vez que alguma coisa fugia do controle dos meus pais. Olhava as meninas da minha escola usando o que gostavam, fazendo piercings, pintando os cabelos de cores vibrantes, no auge da sua adolescência em momentos que são de fato de descobertas, me perguntava quem eu era no meio disso, quais daquelas coisas eu sentia vontade de fazer. Secretamente eu sentia vontade de tanto, vontade de ser a Cecilia e poder me expressar da minha maneira, porém na maioria das vezes nem eu mesma sabia quem realmente era, ficava difícil de me desvincular da máscara, muito provavelmente por medo, medo da rejeição e do julgamento.

Livre, essa é a palavra correta para descrever a sensação que estou sentindo ao sair do salão com o cabelo batendo nos ombros, ondulados rebeldes ao natural, como eu sempre quis deixá-los. Não consegui segurar uma risada que veio do fundo da minha garganta quando no espelho observei as roupas que usava, tão diferentes dos vestidos floridos, o delineador marcado, as unhas em um tom vibrante de azul, finalmente fazendo as coisas do jeito que gosto sem me importar em chegar em casa e ficar semanas de castigo por isso.

– Meu deus quem é essa deusa aqui? – Jimin diz assim que boto meus pés dentro do bar me arrancando uma risada. Ele sabia que eu estava indo cortar o cabelo hoje e fez questão de me mandar mensagem de cinco em cinco minutos pedindo foto do corte.

– Gostou? – Pergunto dando uma voltinha.

– Gostar? Eu amei Ceci, ficou linda – Sorrio aberto realmente contente com sua resposta, cortar o cabelo é algo que eu queria muito fazer, porém no fundo ainda tinha aquela leve insegurança do corte não ter ficado bom.

– Minha mãe vai matar muito provavelmente – Coloco o crachá com meu nome na minha blusa e passo por debaixo da portinha de acesso ao bar.

– Olha pelo lado bom, o corte de cabelo vai ser o menor dos seus problemas quando sua mãe descobrir que você tá namorando a personificação da palavra pecado em carne e osso. Eu consigo até visualizar ela desmaiando depois de dar uma boa olhada nele e ele baforar fumaça na cara dela – Solto uma risada sincera, ele tinha a mais pura razão, minha mãe iria enlouquecer se viesse Jungkook pessoalmente.

– Para de ser idiota e vamos trabalhar – Deixo uma palmada no seu bumbum e pego os pedidos recém saídos da impressora, dando início ao nosso turno.



Meu intervalo finalmente chega, estou exausta com a cabeça começando a doer quando deixo meu crachá em cima do balcão, não sairia com ele para correr o risco de ser chamada por algum cliente e ter que adiar meu intervalo em alguns minutos.



– Cecilia – Meu corpo vira rapidamente em direção a voz rouca. Jungkook está parado atrás de mim, com as costas apoiadas na parede, o cabelo liso caindo sobre os olhos castanhos.

– Que susto, de onde você saiu? – Pergunto o empurrando mais para o lado, saindo assim do foco das pessoas.

– Precisamos conversar – Seu tom é sério, mas as palavras saem suavemente de seus lábios, sem urgência alguma, levando-me a acreditar que o assunto não era nada ruim ou urgente. Suavizo minha postura, soltando um longo suspiro.

– Aqui não, lá fora – O bar estava cheio, barulhento, a iluminação incômoda aos olhos, talvez fosse somente minha irritação e a falta de paciência que estava sentindo hoje.

Jungkook me segue para fora do bar, os olhos curiosos de Jimin se movem em minha direção, eu murmuro um breve já volto para ele antes de sair pela porta.

– O que tem para me dizer – Cruzo meus braços e espero por uma resposta sua, a memória do acontecimento de dias atrás ainda está fresca na minha cabeça, consequentemente continuo chateada.

Jeon abre e fecha a boca diversas vezes, porém nenhuma palavra sequer saí de lá. Com rosto calmo e o olhar sem emoção alguma, era difícil saber o que ele sente, ou o que se passa em sua mente.

– Que droga – Ele murmura olhando por cima do meu ombro, tento me virar para trás, mas Jungkook segura meus ombros firmemente, me mantendo imobilizada. A cor some de seu rosto, os olhos ficam arregalados em espanto, acabo ficando no mínimo muito assustada, não era nada comum essa expressão partindo dele – Não surta, mas eu preciso te beijar agora – Jeon olha no fundos meus olhos, por um segundo esqueço o movimento simples e involuntário de como se faz para converter oxigênio em dióxido de carbono.

Ainda segurando meus ombros ele se aproxima, molha os lábios com a língua chamando minha atenção para o objeto prateado pendurado em sua boca, não recuou ao seu toque e tão pouco me movo também, a sensação era de que meu corpo estava paralisado, ainda processando bem lentamente sua fala.

Quando seu rosto está próximo o suficiente para que eu consiga sentir sua respiração batendo contra minha bochecha, fecho meus olhos e nervosamente espero o choque de nossos lábios, até que finalmente sua boca encontra a minha em um movimento suave. Jungkook coloca as mãos sobre meu rosto pressionando ainda mais nossas bocas, quando volto a conseguir raciocinar, levo uma de minhas mãos a sua nuca e espalmo a outra em seu peito, uma estranha excitação percorre meu corpo com a sensação de seus lábios abrindo os meus. Fico mais maleável ao seu toque, então ele toma liberdade para tirar uma de suas mãos do meu rosto, a levando até minha cintura grudando ainda mais nossos corpos um no outro. O beijo que antes era apenas um toque suave se fortifica quando ele pede passagem com a língua, eu cedo com a mente ficando turva o fato de que esse beijo era apenas pura atuação começando a se perder em algum lugar dentro de mim. Jungkook aperta minha cintura, me fazendo agarrar meus dedos em sua blusa, sua mão desliza para minha nuca e o polegar faz um leve carinho na minha bochecha, me deixando desconcertada.

A falta de ar começa a se fazer presente, então aos poucos ele desgruda sua boca da minha deixando leves selinhos sobre a mesma antes de se afastar, ainda mantendo as mãos presas em mim.

A primeira coisa que vejo quando abro os olhos é o olhar de Jeon preso ao meu, tão perto que posso notar suas pupilas dilatadas. Ele morde o piercing na boca parecendo pensar, enquanto isso tento acalmar minha respiração, focar minha atenção novamente no mundo ao nosso redor.

De canto de olho noto alguém alto atravessar a rua. Minha atenção cai sobre o homem andando perigosamente devagar até o outro lado. Ele acende um cigarro olhando fixamente na nossa direção, um arrepio percorre minha espinha quase que instintivamente, algo grita para mim que aquele homem não era coisa boa.

– Boa noite, menino de ouro – Sua voz sai grave e rouca. Ele não precisa gritar para ser ouvido, a rua vazia e silenciosa, possibilita que sua fala chegue até nós dois de forma clara.

O nervosismo de Jungkook é aparente, nunca o vi tão ansioso antes, qualquer que seja sua relação com esse homem, desconfio que não seja nada boa. Ele claramente tem ciência do efeito que causa em Jeon, parece sadicamente se divertir com isso.

Jungkook o responde balançando a cabeça em um breve acenar. Ele pega minha mão, seus dedos estão gelados fazendo contraste com os meus que estão quentes, sua palma firma bem na minha nos puxando para dentro do bar.

Minha cabeça gira, não consigo raciocinar tudo aconteceu tão rápido, ainda estava extasiada sem saber direito o que sentir.

– Quem era lá fora? – Pergunto parando em um canto afastado, evitando as pessoas ali presentes.

– É complicado Cecilia – Ele responde desviando.

– Complicado como? Eu vi como você ficou Jungkook – Solto nossas mãos em um movimento suave, coloco meus braços apoiados em minha cintura e espero algo, alguma resposta da sua parte, mas como esperado ela não vem, sou somente eu olhando-o em expectativa recebendo seu silêncio em troca.

– Tudo bem, não é como se eu esperasse mais mesmo – A lembrança dele me chamando de intrometida me atinge novamente. Solto os braços ao lado do corpo, desvio meu olhar e giro meus calcanhares, pronta para deixá-lo sozinho.

– Cecilia – Ele me chama baixo. Por um instante, paro e penso, em meio a um dilema me encontro hesitante em responder seu chamado.

– Estou ouvindo – Me dou por vencida, virando meu corpo em sua direção novamente.

– Não gosto de falar sobre ele, mas não é alguém com quem você deva se preocupar – Jeon parece desconfortável com o assunto e por mais que esteja curiosa, decido não insistir nas perguntas sobre, nunca foi meu objetivo ultrapassar os limites, tocar em algum assunto delicado para ele.

– Eu também queria dizer que sinto muito pelo jeito que falei com você aquele dia – Ele solta coçando a nuca

– Tudo bem, já passou. Só não podemos fazer disso algo recorrente Jungkook, não sou saco de pancadas ou alguém que vá aceitar desaforos – Sou séria no que digo. Apesar de não ser uma pessoa que costuma carregar mágoas, não significa que vá aceitar ser tratada de qualquer jeito, que depois é só elaborar um pedido de desculpas e vai ficar tudo bem.





Meu horário de intervalo acaba, volto a ajudar Jimin no bar, deixando Jungkook sentado em uma das baquetas me esperando para irmos juntos para casa.





Quando finalmente chego em casa, me sinto exausta. Tiro minhas roupas as deixando em cima da máquina para bater com o resto amanhã de manhã, volto para o quarto vestindo meu pijama no meio do caminho mesmo. Deito minha cabeça no travesseiro e tento processar tudo o que aconteceu no dia de hoje, a ficha parecia ainda não ter caído para mim.

























O campus praticamente vazio estava silencioso, já se passava das dez da noite de uma sexta-feira, era de se esperar que não tivesse mais quase nenhum estudante por aqui. Assim que boto meus pés para fora da porta automática meu corpo se arrepia por inteiro com a corrente de ar frio que passa por mim, só então noto que esqueci meu casaco dentro da sala, murmuro um palavrão qualquer e abraço meu corpo para me proteger do frio, não teria como voltar para buscá-lo agora. Começo a andar apressada até a estação de metrô, o tempo parecia estar virando e a qualquer momento iria começar a chover, quando sinto um pequeno pingo de chuva cair sobre meus ombros xingo baixinho pela segunda vez na noite.

Diferente do campus da faculdade o metrô encontra-se completamente lotado, pessoas se empurrando, conversas paralelas em alto e bom som, esse definitivamente não era um bom horário para pegar o transporte, o pior de tudo era ter que gasto uma folga enfiada dentro de uma universidade.

Suspiro uma única vez levando o fone Bluetooth até minha orelha, me desligando assim completamente do caos que acontecia ao meu redor.

Sem guarda-chuva e sem casaco eu subo as escadas do metrô, coloco a bolsa em cima da cabeça em uma falha tentativa de me proteger da chuva que caia grosseiramente. Por mais longos, rápidos que meus passos fossem, o percurso da estação de metrô até o meu prédio parecia ter dobrado de tamanho, para ajudar não consigo achar minhas chaves em lugar algum, então quando vejo o letreiro vermelho neon e as luzes do estúdio de tatuagem ambas ainda acesas não penso duas vezes antes de atravessar a rua, praticamente obrigando meus pés a me levarem até lá, era melhor que ficar presa para fora de casa pegando chuva até achar as minhas chaves.

Abro a porta e o sininho ecoa por todo o local ao mesmo tempo que o cheiro familiar de canela invade minhas narinas. De fundo era possível ouvir "November Rain" tocando baixinho.

–Jungkook? – Chamo deixando minha bolsa no balcão, mas não obtenho resposta. Poucos segundos depois vejo uma cabeleira negra atravessar a porta, seus olhos caem sobre mim, me analisando de cima a baixo e então um “V” se forma entre suas sobrancelhas antes que ele fale.

– Onde você estava a essa hora? Tá encharcada Cecilia – Jungkook mantém as sobrancelhas franzidas e prende o piercing do lábio inferior entre os dentes.

– Faculdade, sai tarde hoje e acho que perdi minhas chaves – Respondo desviando meu olhar do seu, estava o observando por tempo demais.



– Só você para ficar enfiada em uma faculdade até quase meia noite de uma sexta-feira – Um pequeno sorriso de canto aparece em seus lábios e eu me pego presa em sua ação. Poucas são as vezes em que Jungkook deixa suas emoções transparecer em pequenos detalhes, se você quer saber o que ele sente tem que pegar essas pequenas coisas no ar, tirando sua confiança e presunção habitual, essas eram emoções fáceis de serem observadas em si, apareciam a todo momento.

– Vai me deixar tímido me olhando desse jeito a noite toda Cecilia – E a presunção volta a tomar conta do seu rosto.

– Tava pensando longe, não se ache tanto idiota – Sinto minhas bochechas ficarem vermelhas e pela terceira vez na noite me xingo mentalmente.

– Sempre tão fácil de se provocar – Reviro meus olhos ignorando a sensação estranha que suas palavras causam em meu estômago –Vem, vamos trocar essa blusa molhada. Apesar de eu ter gostado bastante do sutiã de gatinhos, se continuar assim vai acabar ficando resfriada – Olho para baixo com os olhos arregalados, vejo que de fato minha blusa branca se encontra transparente, deixando meu sutiã cinza com gatinhos cor de rosa completamente visível através do pano branco.

– Para de olhar idiota – Chio entre dentes estapeando seu braço quando vejo seu olhar cair sobre meu colo novamente. Que vergonha.

Sigo jungkook pelo Estúdio igual uma sombra até que ele para em frente a uma porta, a abre e um pequeno espaço com armários embutidos fora a fora nas paredes invade minha visão, o local era um depósito com várias coisas, pequeno e incrivelmente útil.

Jungkook dá um passo ficando dentro do local, como cabia uma única pessoa ali, fico apenas observando suas costas enquanto ele parece buscar algo nas prateleiras. Percorro meus olhos sobre seus braços tatuados, consigo ver a pontinha de uma tatuagem em seu pescoço aparecendo por cima da gola da camiseta, me pergunto até onde suas tatuagens vão e se ele possui mais tattoos em partes do seu corpo que não estão à mostra.

– Aqui, pode vestir – Ele me entrega uma camiseta preta, mantenho uma das mãos cobrindo meus seios enquanto pego a camiseta dobrada com a outra. – Pode se trocar ali – Jeon aponta para uma porta que deduzo ser o banheiro.

– Obrigada – Agradeço e ando rapidamente até o local, ainda sentindo uma enorme vontade de enfiar minha cabeça em um buraco e sumir da face da terra.

Abro a porta com cuidado acendendo a luz, assim como o restante do estúdio o banheiro também cheirava a canela, Jeon parece gostar desse aroma.

Me certifico de trancar a porta antes de tirar minha blusa e colocá-la em cima da tampa do vaso, sinto meu rosto esquentar quando olho meu sutiã vergonhosamente infantil, certamente escolhi um ótimo dia para usá-lo. Solto uma leve rajada de ar pelas narinas abrindo a blusa dobrada de forma impecável, a peça preta e lisa era o triplo do meu tamanho, fazendo com que eu tenha certeza que a oversize pertencia a Jungkook, muito provavelmente ficava bem folgada nele também. Se  quisesse poderia usá-la como um vestido. Passo a blusa pela cabeça, enfio meus braços dentro das mangas de maneira desajeitada, observando meu corpo inteiro no grande espelho preso a porta, “Que horror”, penso analisando a imagem na minha frente, o rímel borrado, meus cabelos ondulados com os fios levemente frisados e molhados, a blusa tão grande que ia até a metade das minhas coxas, os tênis sujos pela chuva e o jeans folgado não causavam a melhor das combinações, parecia que eu tinha acabado de sair de uma batalha cansativa e perdida.

Saio do banheiro carregando minha blusa molhada comigo, porém quando fecho a porta noto que jungkook havia deixado uma bolsa plástica no trinco para colocar a peça encharcada dentro e assim eu faço, mesmo que não fosse adiantar de muita coisa já que minha bolsa se encontrava completamente molhada também.

Não acho Jungkook em lugar algum do estúdio, acabo aproveitando o momento para procurar as chaves do apartamento na bolsa. Verifico cada milímetro dela a procura da bendita chave e não consigo localizá-la, chego a verificar os bolsos da minha calça e até no chão do estúdio dou uma olhada. Entro em completo desespero quando não as encontro, o pensamento de que provavelmente as derrubei no caminho para cá se torna cada vez mais real. Onde eu iria arrumar um chaveiro disponível a uma hora dessas?

–Cecilia? – Ouço Jungkook chamar, me tirando dos meus mais profundos devaneios.

– Aqui – Levanto meu corpo do chão em um rápido solavanco, no meio do processo acabo batendo minha cabeça no mármore do balcão. Murmuro algo sem sentido pousando a mão no local dolorido.

– Que cacete Cecilia – Jungkook vem em minha direção, deixando as sacolas em cima do maldito balcão – Tira a mão, deixa eu ver se machucou – Ele abaixa meus braços que ficam descansando ao lado do meu corpo e volta sua destra para cima, afastando os fios castanhos do meu cabelo com seus dedos, Jungkook passeia com eles por todo o local a procura de algum machucado, seu toque faz com que eu volte a sentir aquela sensação estranha no estômago, afinal estamos próximos, muito próximos, o suficiente para que eu torça que ele não note o jeito que meu coração bate descompensado dentro do peito em completo nervosismo.

– Você não tem jeito mesmo, vai ficar um belo galo aí desastrada – Ele murmura franzido a boca em uma linha reta

– Eu sei, tá doendo droga – Desvio meu olhar para parede evitando seus olhos. Quando volto a encarar seu rosto, Jungkook ainda me observava, novamente mordendo a droga da argolinha em sua boca, maldita mania.

– Trouxe comida, conseguiu achar as suas chaves?– Dessa vez quem quebra o contato visual é ele apontando para as sacolas que trouxe consigo.

– Não, estava procurando elas antes do incidente – Comento com uma chateação palpável na voz, minha cabeça ainda doía, tinha sido uma porrada e tanto.

– Pode ficar comigo hoje se quiser, de manhã chamamos um chaveiro – Jungkook da de ombros como se fosse a coisa mais natural do mundo.

– Não precisa, posso dormir na casa do Jimin e amanhã dou um jeito de chamar um chaveiro de manhã – Nego gesticulando com as mãos em completo nervosismo.

– Somos literalmente vizinhos Cecilia, é muito mais prático do que atravessar a cidade duas vezes não acha?– Ele se aproxima e eu sutilmente dou um passo para trás. Penso um pouco nas opções que tinha, de fato era mais prático dormir em seu apartamento, foi um dia cansativo demais para ter que atravessar a cidade toda duas vezes. Também tem o fato de que todos pensam que temos um relacionamento sério, seria no mínimo muito estranho recorrer a outra pessoa quando Jungkook mora no apartamento em frente ao meu.

– Tudo bem – Suspiro me dando por vencida.

– Ótimo, tem comida chinesa no balcão. Tenho um último cliente para atender agora, consegue aguentar mais um pouco? Se quiser te dou a chave e você pode subir primeiro – Ele tem os olhos presos na tela do celular enquanto digita algo rapidamente.

– Posso esperar – Sorrio fechado pegando as sacolas que ele estende na minha direção, me sentando no sofá.



O cliente não demora muito para chegar e nos cumprimentamos com um breve acenar de cabeça.



Até então não havia notado que estava com tanta fome, o fato me atinge somente quando o cheirinho de comida fresca invade minhas narinas, o dia foi tão corrido que simplesmente havia esquecido de me alimentar, tenho que melhorar esse quesito se quero me manter saudável, viver de Coca zero e Snickers não será algo bom a longo prazo.

Como a comida sem pressa alguma, é bom poder fazer uma refeição sem me procurar com o tempo, me sentar de cabeça vazia concentrada em nada além da comida à minha frente.



Acabo pegando no sono em algum momento e acordo sentindo um leve cutucar, uma voz me chama de longe, conforme vou abrindo meus olhos a imagem distorcida de Jungkook vai criando forma diante de mim.

– Vamos Cecilia – Jeon segura meu braço e me ajuda a levantar, meu corpo inteiro protesta a ação. Estava deitada completamente amassada naquele sofá, não tem uma única parte do meu corpo que não esteja doendo.



É um milagre conseguirmos chegar em seu apartamento no estado de sono em que eu estava, confesso que em alguns momentos senti vontade de pedir para parar, de bom grado dormiria no chão mesmo, desde que pudesse fechar meus olhos e desfrutar de um descanso merecido.

– Pode ficar com a cama, eu durmo no sofá – Jungkook pronúncia assim que tranca a porta de entrada

– Não. Eu fico com o sofá, sem problema algum – Me apresso em dizer, é justo que eu fique na sala, quem foi desatenta e perdeu a chave do apartamento fui eu.

– Cecilia, eu realmente não me importo em dormir no sofá. Vou ficar mais confortável se você dormir no quarto – Analiso bem seu rosto antes de concordar com ele, estava no mínimo cansada demais para entrar em uma discussão agora.

Jungkook me conduz até seu quarto, murmura um boa noite antes de sair e me deixar sozinha no cômodo. O espaço era grande e bem organizado, na janela cortinas escuras, em cima dos móveis sofisticados poucas decorações, já havia notado que ele não costuma colocar muitas coisas espalhadas pela casa, mal parece que alguém de fato mora aqui.

Quando estou pronta, me deito em sua cama e um som de satisfação deixa meus lábios, o colchão era incrivelmente macio e convidativo, já posso me imaginar tendo uma noite de sono incrível sobre o mesmo. Ajusto o travesseiro o deixando em uma altura confortável para mim. Fecho os olhos e por incrível que pareça o sono demora a vir, minha mente está completamente focada em repassar os momentos vividos ontem em um looping, é difícil me concentrar em dormir sabendo que Jeon está deitado a poucos metros de mim, no mesmo apartamento que eu.



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