𝑴𝒂𝒈𝒈𝒊𝒆 𝑲𝒂𝒏𝒆
Você me quebrou
Cap:003
Flashback...
Estamos no módulo dos Blake jogando cartas, Bellamy, Aurora, eu e a Octávia.
— Hm... Eu tenho um A de copas. — Bellamy diz fazendo mistério. Aurora e eu trocamos olhares expressivos.
— Mentira! — Digo e ele ergue uma sobrancelha em minha direção com um sorriso. Aquele sorriso ladineo que mostra suas covinhas, ao mesmo tempo que a sacanagem brilha no seu olhar.
— Vai arriscar?
— Você está mentindo, Blake! — Digo e quando ele vai mostrar as cartas, batem na porta pra fazer a inspeção que normalmente é surpresa. Sim, não se pode trancar o módulo.
— Só um segundo. — Aurora ergue a voz enquanto Bellamy e eu erguemos a mesa com cuidado pra não arrastar.
— Levanta a tampa... — Disse Bellamy e eu faço oque ele diz. Octavia se deita ali e nós nos sentamos outra vez. Eu pego as cartas da Octavia e deixo em baixo da pilha de baralho.
Normalmente a guarda não avisa que vai fazer a inspeção, eles apenas entram, mas graças ao caso da Aurora com o chefe da guarda, eles esperam ela abrir. Bellamy odeia isso, mas ambos se sacrificam para manter a menina segura.
E assim quando tudo está pronto, Aurora abre a porta para eles entrarem. Olham em volta e saem em seguida, dessa vez com a Aurora junto a eles. Bellamy e eu ajudamos a Octavia sair novamente, eu sorrio ao ver que ele não tem o A de copas.
— Viu? Eu sei muito bem quando você mente! — Digo e ele sorri cínico olhando nos meus olhos.
— E eu amo isso em você...
— Só isso que ama em mim?
— Eu amo tudo em você. — Ele ri segurando a ponta do meu queixo intercalando seu olhar entre meus olhos e minhas feições. — Eu amo você, Maggie Kane!
Arregalo os olhos e a Octávia apenas sorri abertamente olhando de mim pro seu irmão.
— Eu também amo você. — Repito baixo e ele mostra o A de copas que estava dentro da manga do seu uniforme.
— Mas eu nunca minto pra você...
Abro meus olhos mas não me levanto. Estou deitada na cama e vejo o Murphy do outro lado da cela jogando uma bolinha vermelha pro teto e pegando de volta. Eu o chamo pelo sobrenome porquê tem muitos John's aqui na arca. Mas ele sabe que quando o chamo pelo nome eu tô falando sério.
- Seu café da manhã tá bem ali. - Disse ele e eu me sento respirando fundo. Esfrego meus olhos e arrumo meus cabelos com meus dedos - Deixei minha pasta de amendoim pra você e peguei a sua gelatina.
- Você sempre pega minhas gelatinas. - Me levanto indo até a bandeja. - Você é muito abusado...
- Você não gosta de gelatinas e adora pasta de amendoim, nós dois saímos ganhando.
- E dês de quando você sabe o que eu gosto, ou não, John Murphy? - Pergunto me sentando na cama com a minha bandeja e ele me olha com uma sobrancelha arqueada.
- Claro. Eu esqueci que não conheço a garota que eu namorei por dois anos. Desculpe.
- Murphy eu...
A porta de correr se abre fazendo o som pesado e estridente, fecho meus olhos com força sabendo que é minha hora de morrer. Murphy sabendo disso se levanta no mesmo segundo derrubando minha bandeja no chão ao agarrar meu pulso e me puxar pra me colocar atrás dele.
- Já tá na hora do banho? - Ele pergunta irônico deixando que eu agarre sua camisa.
Meus olhos fixam nas botas do guarda, e eu tento me preparar para a descarga de medo, a
inundação de pânico desesperado.
Dois anos presa aqui. Os primeiros dez meses passei dividindo a cela com um garoto bacana chamado Miller, ele foi preso por ter roubado ração, mas foi transferido pra cela comunitária por bom comportamento. Uma cela com mais de quatro presos.
Passei um mês e meio sozinha até que o Murphy chegou. Ele demorou a dizer que foi preso por tentar matar o Shumway por ter flutuado o pai dele. O pai do John era um bom homem, a esposa dele não era.
Eu fui confinada por roubo, agressão ao comandante Shumway, e ao próprio Bellamy Blake. Eu teria sido flutuada se meu pai não tivesse implorado ao Jaha a me deixar presa.
O guarda limpou a garganta enquanto transferia o peso de um pé ao outro:
- Prisioneiro 419, afaste-se dela.
- Por que você não me afasta?
- Murphy, tá tudo bem... - Digo saindo de trás dele e olho pro guarda. Respiro fundo sentindo o John atrás de mim com aquele jeito protetor. - E então? Ao que devemos a honra?
- Prisioneira 319, por favor, aproxime-se.
Ele é mais novo do que eu tinha esperado, e seu uniforme fica folgado em seu corpo magro, entregando seu status de recruta recente. Alguns meses de rações militares não foram suficientes para fazer sumir o fantasma da subnutrição que assombrava as pobres naves externas da Colônia, Walden e Arcadia.
Respiro fundo e me coloco na sua frente.
- Estique seus braços - disse ele, tirando um par de algemas do bolso de seu uniforme azul e preto.
- Pra quê algemas? - Murphy tenta novamente me puxar pra trás, mas um segundo guarda o prende de cara pra parede. - Me solta seu desgraçado!!
- John, cala a droga da boca. - Digo estendendo as mãos. Sou presa. Ele me olha de um jeito diferente ao ver que o chamei pelo nome.
- Estão muito apertadas? - perguntou, seu tom brusco abrandado por uma nota de piedade que me fez querer soca-lo no meio do nariz.
Balanço a cabeça em negação. Ele prosseguiu:
- Apenas sente-se na cama. O Dr. está a caminho.
- Vão fazer isso aqui? - pergunto com a voz rouca, as palavras arranhando minha garganta. - Que baixaria...
- Não podem fazer isso! Cadê o Kane?! - Murphy se debate e eu respiro fundo engolindo seco. - Chama seu pai, Maggie, eles não podem te matar assim!
Se um médico estava vindo, significa que estão mesmo decididos a me tirar da perpetua e me colocar pra execução. Isso não deveria ser uma surpresa pra mim.
Ainda assim, era difícil acreditar que eles realmente fariam isso em um cela. Com alguém assistindo. As celas estão tão cheias de delinquentes pra não poderem transferi-lo?
- Preciso que você se sente.
Dou alguns passos curtos e sento rigidamente na borda da cama estreita. Murphy é jogado na cama dele e o mesmo agora me olha ofegante.
- Maggie...
- Tá tudo bem - Minha voz embarga. - Vai ser rápido. Ele vai usar uma seringa que irá paralisar meus músculos até que meu coração pare de bater. Não vai doer. Depois disso, meu corpo será lançado no espaço. Não vou sofrer.
- Não entendeu que não quero ver você morrer de nenhuma forma?! - Ele se inclina em minha direção completamente sério. Jogo meus cabelos de lado me inclinando também.
- Fico feliz por não estar sozinha...
Um vulto apareceu na porta, e um homem alto e esbelto entrou na cela. Embora o cabelo grisalho na altura dos ombros cobrisse parcialmente o broche no colarinho de seu jaleco.
O consultor-chefe de medicina do Conselho.
- Olá, Maggie. - disse ele de forma agradável, como se a estivesse cumprimentando no
refeitório e não numa cela de detenção. - Olá John Murphy. - ele só o ignora. - Como você está Kane?
- Melhor do que estarei em alguns minutos, imagino. - Digo secamente brincando com as algemas em meus pulsos.
Embora eu saiba que a maioria das pessoas que me conhecem, estão acostumadas com meu jeito frio de ser, ele junta as sobrancelhas e se vira para o guarda.
- Você pode tirar as algemas e nos dar um momento, por favor?
O guarda se moveu de forma desconfortável:
- Não devo deixá-la desacompanhada. - Ele me olha e da uma rápida olhada nervosa pro John que sorri jocoso.
- Você pode esperar do lado de fora da porta - falou o Dr. Lahiri, com uma paciência
exagerada. - Ela é uma garota desarmada de dezenove anos e ele é só um rapaz de dezessete. Acho que serei capaz de manter tudo sob controle.
Adoro quando as pessoas me subestimam. Principalmente quando não sabem do meu histórico de raiva reprimida e psicopatia patológica.
O guarda evita meu olhar, ele sabe que deveria ficar sob quaisquer circunstâncias, mesmo assim retira minha algemas. Ele assentiu rapidamente para o Dr. Lahiri enquanto saía da cela.
- Você quis dizer que sou uma garota desarmada de vinte anos - digo, forçando o que acho ser um sorriso. - Ou você está se transformando num daqueles cientistas malucos que nunca sabem em que ano estamos?
- Você ainda não tem vinte anos anos, Maggie - falou o Dr. Lahiri, da forma calma e lenta que ele normalmente reservava a pacientes acordando de uma cirurgia.
- Qual é Patrick... - Olho dele pro John que só observa a cena. - Disseram que não iam me matar.
- Houve uma mudança de planos. Isso é tudo que fui autorizado a lhe dizer.
John se limita a cuspir uma risada desdenhosa.
- Então você tem autorização para me executar, mas não para falar comigo?
O Dr. Lahiri fechou os olhos, como se as palavras ditas por mim tivessem se transformado em algo visível. Algo grotesco.
- Não estou aqui para matá-la, Maggie - disse ele, calmamente sem me responder. Ele abriu os olhos e então apontou para o banco no pé da cama. - Posso? - Quando não respondo, o Dr. Lahiri seguiu adiante e se sentou para ficar de frente para mim: - Posso ver seu braço, por favor?
Sinto meu peito se contrair, ao ponto de eu esquecer como se respira por alguns segundos. Ele está mentindo. Isso é cruel e perverso.
Estico o braço na direção dele. O Dr. Lahiri colocou a mão no bolso de seu jaleco e tirou
um pano que tinha cheiro de antisséptico.
Minha pele se arrepia quando ele o esfrega na parte interna de meu braço.
- O que você vai fazer?! - Murphy se levanta e assim que ele faz isso o Lahiri saca uma arma e atira nele. Arregalo os olhos no mesmo segundo.
- JOHN?!
- Ele está bem! Só está dormindo.
Ele está deitando de cara no chão. Seus cabelos caem sobre seu rosto, mas posso ver seus olhos fechados e semblante sereno.
- Não se preocupe. Isso não vai doer.
Me lembrei da expressão de angústia que o Jaha e meu pai haviam me dado quando os guardas me levavam pra fora das câmaras do Conselho, assim que decidiram que ficaria presa perpetuamente, enquanto eu me debatia aos gritos para tentar me soltar, porque eu sabia o meu destino.
Embora a raiva que tinha ameaçado me
consumir durante o julgamento tivesse acabado a muito tempo, pensar neles enviou uma nova onda de calor por meu corpo, como uma estrela agonizante emitindo um último raio de luz antes de se apagar e se transformar em nada.
Ele segura mais firme. Está na hora.
Respirou fundo ao sentir uma picada na face interna do pulso.
- Pronto. Você está preparada.
Meus olhos se abrem rapidamente. Olho para baixo e vejo um bracelete de metal
preso em meu braço ao mesmo tempo que o Dtr limpa o líquido escuro do meu sangue. Passo o dedo sobre o bracelete, e engulo seco ao sentir o que parecia ser uma dúzia de pequenas agulhas pressionando por dentro da minha pele.
- O que é isso?
- Apenas relaxe - respondeu ele com uma indiferença irritante. - É um transmissor vital. Ele vai acompanhar sua respiração e a composição de seu sangue, mesmo ele sendo diferente, recolhendo todo tipo de informação relevante.
- Informação relevante para quem seu infeliz? - pergunto, embora já possa sentir o tipo de resposta na massa crescente de terror em meu estômago.
- Tivemos alguns progressos empolgantes - falou o Dr. Lahiri, soando como uma imitação
vazia do Chanceler Jaha, fazendo um de seus discursos do Dia da Lembrança. - Você deveria estar muito orgulhosa. É tudo por causa de seu pai.
- Ótimo, manda ele ir se flutuar.
- Não estrague isso, Maggie. Você tem uma chance de fazer a coisa certa, de compensar pelo crime escandaloso que cometeu.
Eu só vejo o momento que meu punho vai em direção ao seu rosto, seguido de um som oco quando a cabeça do homem bateu na parede. Sem esperar subo em cima dele e começo a acertar socos seguidos ignorando seus gritos. Quando ele vira pra mim, eu viro seu rosto de volta pra chão com meu punho.
Seis segundos depois, o guarda entra com mais dois e me prendem no chão bem ao lado do John inconsciente, torcendo meu braço para trás das minhas costas. Meus fios longos e castanhos escuros caem sobre meu rosto, eu tento soprar pra fora do meu rosto.
- O senhor está bem? - perguntou ele.
O Dr. Lahiri se senta lentamente, esfregando seu maxilar com seu nariz ensanguentado enquanto me encara com uma mistura de raiva e prazer:
- Pelo menos sabemos que você será capaz de se garantir entre os outros delinquentes quando chegar lá.
- Chegar aonde? - praticamente grito, tentando me soltar das mãos do guarda.
- Estamos esvaziando o centro de detenção hoje. Uma centena de criminosos sortudos vai ter a chance de fazer história. - Os cantos de sua boca se contorcem num sorriso maldoso. - Você vai para a Terra sua vadiazinha raivosa...
Meus olhos se arregalam e eu sinto uma picada aguda no meu pescoço fazendo meus batimentos diminuírem até eu apagar completamente.
Estou indo pra terra?
Ao abrir meus olhos, vejo que estou presa novamente, com roupas diferentes e meus longos cabelos castanhos caindo sobre meu rosto enquanto sou arrastada pelas grades, grades que só tem na sala de máquinas.
- Oque...? - Tento olhar em volta e parar meus pés no chão, mas os guardas continuam me arrastando. - Murphy?
Não o vejo em lugar algum, mas vejo a Clarke desacordada com as mesmas roupas que eu. Muitos outros jovens estão sendo levados também, todos com as mesmas roupas, mas os que tão na frente, consigo ver seus nomes bordados atrás.
- Esperem!
Essa voz retumbante faz os guardas pararem e eu olho em volta ainda um pouco tonta. O homem para na minha frente com um semblante sério.
- Pai... O que ta acontecendo?
- Vocês receberam uma segunda chance - Disse ele não muito convencido de suas palavras. -, mas não será na arca querida. Vocês serão enviados para a terra.
- O que? Pai... Por favor não faz isso!
Acho que pior doque morrer sendo congelada no espaço, seria morrer cozinhada pela radiação da terra. É cruel. Doentio.
- Não temos escolha. - Ele segura meu rosto com as duas mãos tirando alguns fios longos do meu rosto. - Você é forte. A primeira da turma todos os anos. Você vai saber se virar lá em baixo se for habitável. Você e os cem adolescentes que estão indo com você.
- Por favor pai, eu não quero morrer...
Ele olha meus olhos querendo se encher, mas não muda de idéia. Ele continua firme.
- Eu te amo Maggie. A gente vai se reencontrar, eu tenho certeza.
Ele sai da minha frente e os guardas voltam a me levar em direção ao módulo. Eles foram desativados quando fizeram a união, mas agora vão ativar para nos mandar pra terra.
Morrer no espaço. Morrer na terra.
Nenhuma das opções são as que eu queria. Eu não quero morrer! Eu... Vejo Octávia caminhando ao meu lado. Não trocamos uma única palavra, só me limito a retribuir seu olhar. Entro no módulo e quando eu sou presa pelo cinto de proteção o guarda tira minhas algemas. Não vejo Octávia, não vejo Clarke.
- Monarca?
Olho pra minha direita e vejo Finn Collins, o namoradinho da Raven. O babaca que vivia me zoando. O autor do apelido que passou por toda arca.
- Murphy... Você também?
- É. Esvaziaram todas as celas. - Disse ele olhando minhas mão com os nós dos meus dedos estourados e com sangue preso. Um sorriso orgulhoso surge nos seus lábios. - Não acredito que perdi você metendo a porrada naquele bostinha.
- Mas não adiantou de nada. - Olho em volta e todos se assustam quando escutam disparos de arma. Olho em volta quando as portas se fecham e as luzes apagam por alguns segundos e ascendem outra vez.
A nave balança indicando que foi lançada. Sinto um calafrio percorrer meu corpo, deixando uma sensação estranha de frio, mas a mão do Murphy segura a minha com certa força. Retribuo seu gesto.
John Murphy foi minha sanidade por muito tempo. Temos algo, mesmo que não tenhamos mais nada... Temos segredos profundos um do outro. E por mais que agente tentei ou seja obrigado a se afastar, a gente sempre dá um jeito de nos ver de novo. Nada acontece, além da companhia um do outro. Um vício.
- Oque foi isso? - Clarke pergunta e eu tento olhar pra trás e eu olho em volta, vejo ela sentada de frente pro Wells. Eles estão nas cadeiras as nossas costas.
- Isso -Disse Wells. -, foi a atmosfera!
Estamos mesmo indo pra terra e o Bellamy não está aqui. Não.
"Atenção prisioneiros da arca."
Olhamos uma das telas da nave e o Jaha respira fundo. É uma gravação, sei disso porque ele não estava com essa roupa quando passei por ele ao entrar no módulo, ignorando completamente sua existência.
"Vão ter uma segunda chance! E como seu chanceller, eu espero que vejam tudo isso como uma segunda chance não só para vocês, mas pra todos nós!"
Engulo seco olhando em volta mais uma vez.
- Ele só pode estar de sacanagem. - Murmuro com raiva. Raiva do Jaha. Do meu pai. Do Bellamy. De mim mesma.
- Seu pai é um escroto, Wells! - Murphy grita solta a minha mão e todos dão uma risadinha incluindo a mim.
- Quer saber...? - Abro meu cinto e começo a flutuar e o fecho mais uma vez de olhos arregalados. - Uoouu. Má idéia. Má idéia.
- Parece divertido. - Disse alguém se soltando sem medo. Na gravidade zero.
Volto a olhar pra tela onde Jaha continua falando e falando. Eu só escuto algumas palavras do chanceler. Monte Wheather alguma coisa. Comida. Ele basicamente está falando sozinho.
- Você é a traidora que ficou um ano na solitária? - O Collins perguntou olhando a Clarke enquanto faz manobras na gravidade zero. E eu mordo meu lábio inferior.
Não é da minha conta. Não é da minha conta...
- E você o imbecil que gastou um mês de oxigênio em uma viagem ilegal. - Retruco e eu reviro os olhos quando tudo começa a tremer um pouco mais. - As notícias correm quando não se tem nada pra fazer naquela gaiola.
- Mas em minha defesa, foi muito legal! Você tá bem monarca? Como se sente ao não ter sido privilegiada?
O encaro impaciente.
- Não viu que tem mais essa de monarcas aqui? - Disse Jasper Jordan. - Ninguém foi privilegiado cara. Se liga, o jaha Júnior e a princesinha também tão aqui.
Os paraquedas do módulo abrem e todos que se soltaram se esborracham, mas estão vivos, eu aperto os olhos com força agarrando meu cinto de segurança.
Tento não gritar igual o coral de gritos desesperados, mas é praticamente impossível não o fazer! Quando atingimos o solo, meu corpo vai pra frente jogando meus cabelos no meu rosto. Tusso seco quando tudo fica em silêncio, tiro meus cabelos do meu rosto e olho em volta um pouco tonta. Meu corpo dói pelo impacto da queda.
- Quer ajuda aí, baby? - Murphy pergunta já de pé olhando pra mim. Apenas nego e ele sai andando com os outros.
- Pra onde vamos agora? - Perguntou alguém.
- A porta fica no andar inferior. - Disse Clarke. - Vamos pra lá.
Chega minha vez de descer a escotilha e eu fico no meio da escada já que não tem mais espaço ali. As pessoas resmungam pelo aperto.
- O que tá rolando? - Pergunto confusa. O pessoal não responde só um coral de reclamações, mas eu ouço alguém dizer que não é pra abrir a porta.
- Se lá fora for tóxico, estamos todos mortos... - Clarke grita com alguém e eu franzo as sobrancelhas cerrando os olhos. Eu o reconheceria em qualquer lugar.
- Bellamy? - Octavia o chama enquanto desce uma das quatro escadas e ele se vira lentamente. Meu coração dispara em meu peito enquanto sinto um turbilhão de coisas.
Ele está diferente...
- Quem é essa garota? - Perguntou Monty.
Na arca todos nós conhecíamos uns aos outros. Sempre nos esbarravamos, estudávamos juntos e um rosto desconhecido é motivo pra surpresa. Octávia nunca foi vista por ninguém até aquele dia.
Eu respiro fundo quando eles se abraçam me fazendo sorrir internamente e soltar o ar que eu nem notei ter prendido.
- Meu Deus. - Disse ele segurando o rosto dela com os olhos brilhando. - Como você cresceu...
- Bellamy. - Chamo dando mais uns passos a frente desviando da pessoas que resmungam, com meus olhos querendo encher e ele me olha nos olhos trocando o peso das pernas várias vezes. Passa sua mão no rosto de forma exasperada. Meus olhos se enchem.
- Maggie...
Sua mão agarra meus cabelos com firmeza, porém sem força, seus olhos se movem de modo triangular e eu sorrio ignorando os cem delinquentes que nós assistem. Seus lábios grudam os meus de forma dura e firme. Sua língua abre meus lábios invadindo minha boca, eu permito fincando meus dedos nos seus cabelos que estão mais cumpridos e bem penteados para trás.
Ele para o beijo caloroso somente pra me abraçar com força o bastante pra estralar alguns ossos e eu fecho os olhos o apertando contra mim enquanto dou risada.
- Eu senti tanto sua falta... Tanto. - Disse ele contra o meu pescoço e eu sorrio abertamente. - Me perdoa por aquilo, Mags.
- Eu também senti! Achei que nunca mais veria você de novo... - Digo e ele faz eu encostar minha cabeça no seu peito, só pra beijar meus cabelos.
- Está usando um uniforme da guarda? - Perguntou a Blake mais nova.
- Emprestado. Eu precisava pra entrar no módulo - Ele sorri bagunçando os cabelos dela. -, alguém precisa cuidar de você aqui em baixo.
Seus olhos finalmente me encontram. Eu o encaro. Mas sua consciência pesada não o deixa me encarar por tempo de mais.
- Cadê sua pulseira,? - Pergunto fazendo ele me olhar de uma vez.
- Eu posso? - Octávia olha pra mim. - Não vejo meu irmão a um ano...
- E eu não vi nada além da prisão por um ano e meio, se não mais. Quem ganha bonitinha?! - Digo cara a cara com ela e o Bellamy nos afasta com seus braços fortes.
- Já chega Maggie!
Os olhos da garota são puro desafio em mim. Temos a mesma altura agora.
Octávia me desgosta por causa do Murphy. Bellamy sabendo que eu não podia me encrencar mais vezes, assumiu a culpa por algo que não fez. Por me amar. E também odiou o Murphy com muito mais vontade que antes.
- Ninguém aqui tem irmão! - Berrou Murphy em algum lugar daqui.
- Ela é a Octávia Blake, a garota que se escondeu sob o piso. - Disse alguém e eu franzo as sobrancelhas. Começa um burburinho e eu empurro uma garota para trás ao vê-la com desdém pra cima da Blake mais nova.
- Escuta aqui - Digo me aproximando dela enfiando meu indicador na ponta do seu nariz. - Só eu posso mexer com ela, entendeu?
Ela estapeia minha mão e leva um murro certeiro no nariz que logo começa a jorrar sangue.
- PAREM! PAREM. - Bellamy me puxa de volta para os seus braços com uma Octávia tentando ficar séria enquanto olha pra mim, mas seu que ela quer sorri enquanto chacoalho minha mão que já estava machucada. O pessoal tenta ajudar a garota parar o sangramento enquanto outros apenas riem da cena. - Vamos fazer que vejam vocês duas de outro jeito.
- Tipo o que? - Octávia pergunta se virando para ele e eu me afasto pra olha-lo melhor.
- As primeiras pessoas que pisaram na terra depois de cem anos.
Trocamos olhares cúmplices. Um braço passa por cima dos meus ombros, me tirando dos meus pensamentos e o Murphy beija o alto da minha cabeça. Bellamy e ele estão trocando olhares mortais como sempre faziam quando se trombavam na arca, mas não me importo. Não estamos mais na arca.
Bellamy puxa a alavanca com muita raiva e eu respiro fundo sendo obrigada a colocar a mão na frente do meu rosto por causa da forte luz. E no fundo eu esperei aquela sensação da minha pele queimando, o sangue sendo cuspido pelos meus pulmões. Mas não aconteceu.