• Nicholas Martinez
Empurro a porta da loja de casamento assim que entrego o resto do dinheiro que peguei para comprar a roupa de hoje, com o terno embrulhado pendurado em um pequeno cabide, em minha mão direita, carregando ele atrás das costas. Com a mão esquerda ajeito minha gravata que está mal arrumada, já que experimentei o terno há alguns minutos.
Novamente, passo por um batalhão de pessoas nas ruas de Los Angeles, demorei mais que o esperado para ajeitar as coisas de hoje, antes de sair do prédio vi que o relógio marcava 13:24, passei da hora do meu almoço. Continuo com os óculos escuros em meu rosto, tentando disfarçar meu rosto apenas com isso e um corte de cabelo novo.
O bom é que esse batalhão consegue me esconder, uma coisa a menos para me preocupar. Estou seguindo o caminho de um restaurante que decorei pelo GPS do celular, talvez não esteja cheio, já que passa do meio dia, geralmente as pessoas de Los Angeles são muito monótonas no dia a dia, e é por isso que não me vejo morando aqui.
Contando que o departamento da S.W.A.T. é aqui. Estou tentando ignorar esse fato desde que soube que tínhamos que viajar para cá, mas está difícil. Minha ansiedade está á mil só de pensar nessas coisas, e pensar que eu estava dormindo na mesma casa onde o assassino de meu pai também estava. Sinceramente estou surpreso comigo mesmo, surpreso porque consegui vencer a vontade de mata-lo também.
Isso incrivelmente é um progresso, pelo menos é oque eu espero. Depois de algumas passadas largas, vejo o restaurante na esquina seguinte e pelo oque eu vejo não está tão cheio. A calçada chega ao fim e paro como as outras pessoas no final, esperando o semáforo abrir, olho para o semáforo na próxima calçada, torcendo para que ele fique verde logo.
Depois de alguns segundos, o sinal ganha a cor esperada. Eu e mais algumas pessoas que esperavam nas calçadas atravessamos, em seguida paro ao lado da vitrine do restaurante quando dou os primeiros passos. Vejo algumas mesas vazias, apenas duas sendo ocupadas por provavelmente dois casais. Parece que estou com sorte hoje.
Com o terno ainda em mãos, troco ele de mão e coloco ele envolta de meu braço esquerdo, dou mais quatro passos largos e chego na porta, com a logotipo do restaurante estampado na cor marrom escuro, segura sua maçaneta dourada e empurro para dentro do prédio.
O piso brilhando ganha mais destaque graças ao sol que entra pela porta comigo, o balcão é largo e da cor verde escuro, com três funcionários uniformizados atrás dos computadores, o balcão tem uma vitrine que me permite ver alguns doces e pães. As paredes também são da cor verde, dois lustres desligados decoram o teto. Parece que me enganei quando pensei que era um restaurante, mas de qualquer forma eu não estava com fome de comida mesmo.
Olho para o esquerdo e vejo a mesa também verde escura circular vazia, na frente da vitrine, acompanhada de três cadeiras. Escolho a mesa de trás, que com o tanto de pessoa que passam dificultam que me vejam através do vidro. Sigo em sua direção apressado, quando chego, puxo a cadeira de madeira para trás e me sento, depois de horas andando por essas ruas.
Suspiro aliviado e coloco o terno nas costas da cadeira em meu lado, e vejo um pequeno cardápio em cima da mesa, também com as listras de uma xícara de café branca, com certeza isso é uma cafeteria, por isso está vazia essas horas. Retiro o cardápio de cima da mesa e seguro em minhas mãos, abrindo-o.
Vejo várias opções boas, mas caras, oque não é um problema, já que ainda tenho quinhentos reais comigo. Os óculos atrapalham um pouco minha leitura, mas mesmo assim não retiro, apesar de ser tentador. Desvio meu olhar para a vidraça ao meu lado, observando a rua e os prédios, checando se há algo suspeito.
Mas alguém me chama atenção, uma silhueta vestida com um sobretudo preto, com as mangas erguidas até o cotovelo passa em minha frente e para alguns segundos depois. Ela mantém seus braços cruzados e observa a cafeteria através da mesma vidraça, como eu estava minutos atrás. A mulher usa um óculos escuros também, sua pele clara combina com o tom preto da roupa, assim como a cor de suas botas que chegam um pouco menos de sua panturrilha e seus cabelos ruivos estão jogados em seus ombros.
Desvio meu olhar novamente para o cardápio antes que ela me perceba, mas volto atenção para ela rapidamente. Cabelos ruivos. Arregalo os olhos quando percebo que está em alguns centímetros de distância é Maya, mais uma vez, desvio a atenção dela para o papel em minhas mãos, rezando para que ela não tenha me visto.
Franzo o nariz para o óculos subir um pouco mais, olho através dele o reflexo dela, seu corpo se vira para minha direção de um jeito acelerado e quase solto um palavrão baixo por isso. Maya fica alguns segundos em pé e em seguida se dirige até a porta do local onde estou.
Me levanto as pressas e agarro o plástico do terno, jogando ele na cadeira onde eu estava e empurro exageradamente ela para frente. Olho para o lado e vejo a placa de metal indicando o banheiro acima, de duas portas de metais, depois de duas mesas da minha, dividas por uma parede fina. Acelero o passo e empurro a porta do banheiro masculino antes que ela possa entrar no mesmo prédio.
A pia larga está vazia, assim como as cabines, suspiro aliviado por isso e vou até a torneira final da pia, pressiono ela para baixo e coloco as mãos abaixo da água, um gesto sem sentido. Ouço o barulho da porta se abrindo novamente e olho para o lado as pressas, vejo a figura de Maya parada na frente da porta se fechando.
Paro de esfregar as mãos e ela cruza os braços, a água acaba de escorrer e em seguida olho para o espelho em minha frente, passo a mão esquerda em meus cabelos arrumados para dar uma leve disfarçada.
- Oi Maya. - Digo, evitando seu rosto e retirando os óculos com a mão esquerda.
- O que caralhos você está fazendo aqui? - Ele responde, se aproximando de mim.
- Aconteceram algumas coisas no Rio. - Vejo que ela está com uma maquiagem levemente detalhada quando ela retira os olhos, talvez para ver oque está em sua frente agora, como se fosse em um encontro.
- Não é possível. Onde está Camilla? Ela veio com você? - Ela enruga as sobrancelhas, com um tom sério de voz.
- Maya, se acalme primeiro. Nós dois viemos já faz cinco dias, mas não nos vemos desde então.
- Cinco dias? - Ela repete desacreditada e me olha de cima a baixo. - Achei que estivesse morto Nicholas, por Deus, você nem deu sinal de vida.
- Eu estou bem, estou vivo e cheio de afazeres, pode sair daqui por favor e falar baixo? - Pergunto, tentando me livrar dela, por enquanto.
- Você é um desgraçado mesmo. - Ela cruza os braços novamente. - Quase me mata de preocupação e ainda faz o favor de fugir de mim.
- Maya, é sério, posso me explicar lá fora e conversamos como pessoas civilizadas? - Pergunto com um tom sério.
- Não, não podemos. - Ela responde no mesmo tom. - Tenho um compromisso importante aqui e você não pode sair até acabar.
- De tantos lugares por aqui, por que escolheu justamente esse Maya?
- Não fui eu, se tivesse me respondido dias atrás saberia que estou prestes a me encontrar com Rodrigo.
- Com Rodrigo? - Pergunto com a sombrancelha enrugada.
- É, e é por isso que você não vai sair daqui até eu acabar.
- Porra. - Digo baixo, colocando as mãos na pia, desvio o olhar dela para baixo e em seguida para ela de novo. - Tem algum fone com você?
Ela suspira impaciente e coloca a mão no bolso esquerdo de seu sobretudo, e retira de lá dois fones pretos, pequeno o suficiente para que se disfarce. Solto a pia e pego um deles, em seguida me olho no espelho, para encaixar o fone em minha orelha.
- Escuta, ele é um agente da S.W.A.T. e obviamente ele vai perceber se tiver algo de errado, não faça nada que chame atenção e cala a boca, deixa que eu cuido dele. - Maya diz, colocando o fone na orelha direita, onde é coberta por seu cabelo.
- Saia daqui antes que ele te veja no banheiro masculino. - Olho para ela, apontando com a cabeça para as portas metálicas. - E mais tarde nos resolvemos.
Maya leva seu indicador até sua boca e faz o gesto de silêncio, reviro os olhos e em seguida ela começa a andar em direção das portas que entrou de uma forma exagerada. Espero um pouco mais até que ela se sente na mesa e me aproximo da porta, espiando pelo vidro circular médio, então me lembro que deixei o terno embrulhado na mesa da frente.
Suspiro e fico um pouco fora de vista da vidraça, vejo Maya sentar de costas para mim em um das cadeiras verdes, fingindo normalidade com o cardápio aberto e o celular atrás, parecendo esconder o telemóvel, em seguida coloca o cotovelo ao lado para provavelmente tampar a vidraça ao seu lado e sua mão para em sua têmpora depois de arrumar seu cabelo para o lado do fone. Parece que falei sobre minha sorte cedo demais.
Desconfio sobre o motivo de um agente escolher uma cafeteria como um lugar para tratar assuntos importantes, se bem que eles tem uma vida fora do departamento, mas para alguém importante, até que escolheu um lugar bem simples. Suspiro e cruzo os braços, encostando as costas na parede do lado da porta.
- Para um agente ele é bem enrolado. - Digo especificamente para Maya, depois de alguns minutos se passarem.
- Achei que eu tivesse sido clara em relação ao cala a boca. - Ela responde quando eu termino a frase.
Reviro os olhos com a resposta seca dela. Minha vontade de ir embora é enorme mas não posso fazer isso, já que estou sendo procurado pela polícia das cidades grandes. Isso só me faz ficar mais frustrado, já que em vez da S.W.A.T. me perseguir, deveriam ser úteis pelo menos por uma vez e fazer o serviço correto.
Me viro para o lado e vejo uma figura aparecendo pela porta através da janela, um homem que usa um suéter preto e uma calça jeans escura segue em direção a mesa que eu estava, e se sentando ao lado da cadeira da qual deixei o terno que comprei à alguns minutos. Com certeza não é homem que estamos esperando, pelo falto de suas roupas serem básicas e ter ignorado a existência de Maya.
Espero que esse encontro seja útil para mim, se não estarei perdendo minutos preciosos. Continuo a mesma posição para ver oque está acontecendo e em seguida vejo um homem usando uma camisa social preta e uma calça social da mesma cor, seu cabelo está perfeitamente arrumado para o lado em um pequeno topete, ele segura oque parece ser um sobretudo em seu braço esquerdo, com o mesmo ele segura e continua olhando para o celular.
Achei levemente chamativo. O homem com cavanhaque segue caminho para a mesa de Maya, que abaixa o celular antes do cardápio quando percebe sua presença, assim como ele guarda o celular. Os dois se cumprimentam com um leve aperto de mão, e ele se senta em sua frente, deixando o sobretudo na costas da cadeira ao lado.
- Então Senhorita Maya, sobre o que é esse encontro? Desculpe ser direto, mas não posso ficar muito tempo. - Sua voz levemente rouca soa através do fone.
- Agradeço sua presença senhor Rodrigo. Bem, a algumas semanas soube do falecimento de Lorenzo, e dias antes ele me pediu para que eu viesse em seu lugar para resolver alguns assuntos sobre Adrian Sanchez, por isso vim representá-lo nesse caso hoje.
- Entendo. - Ele suspira e coloca as mãos juntas na mesa. - Lorenzo não era muito de falar, por isso não tenho muitas informações sobre Adrian, tem algo para nos ajudar?
Depois de suas palavras serem ditas, o homem na mesa da frente se levanta depois de abaixar o cardápio, vindo em minha direção. Quase o xingo por isso mas ignoro minha vontade e me afasto da porta, coloco os óculos novamente e paro em frente da pia, pressionando a torneira para que a água ajude em meu disfarce. Mesmo o homem entrando pela porta, continuo ouvindo a voz de Maya.
- Infelizmente não sei muito sobre isso. No dia que Lorenzo faleceu, íamos nos encontrar horas depois em sua empresa, mas o incidente impediu que eu soubesse mais coisas. Por enquanto, oque eu sei é que Adrian planejava um ataque terrorista no Rio de Janeiro, mas ainda não sei o motivo do qual ele desistiu, Lorenzo soube disso através de algumas mensagens, das quais você ajudou a descobrir.
- Certo. - Ele diz e eu me distancio da torneira, sigo o caminho para uma das cabines vazias e com a porta fechada, abrindo com cuidado para não fazer barulho. - A notícia que saiu sobre ele é bastante perturbadora, provavelmente Adrian descobriu alguém de meu pessoal infiltrado em seus aparelhos eletrônicos e mandou alguém para mata-lo. Apesar da S.W.A.T. oferecer muitas tecnologias avançadas, Adrian também parece ter acesso a elas também, e isso dificulta muito nosso trabalho, as informações que você passou agora não vai nos ajudar tão cedo. - Reviro os olhos com a resposta de Rodrigo.
- Sim, eu entendo. Por isso estou aqui, posso oferecer muitas coisas que provavelmente irão ajudar vocês nesse assunto, tenho muita experiência em tecnologia desde cedo. Alguns dias atrás hackeei o sistema de celular de Adrian, e descobri que ele possuí dois reféns em um local que não consigo identificar, no Rio de Janeiro, eu os conheço a alguns anos, mas não consigo resgata-los sozinhos.
- Está oferecendo uma ajuda em troca de ajuda, eu entendo isso, mas não posso te ajudar tão cedo. Mesmo eu sendo um dos melhores de muitas equipes, infelizmente não tenho tanto poder no departamento, preciso que o diretor aprove sua proposta, e para isso preciso dos documentos dos reféns. Contando oque você sabe para o diretor, possivelmente ele irá enviar uma tropa para o Brasil quando descobrirmos o paradeiro deles.
- Posso encontra-lo em breve? - Ouço a voz de Maya com o som da porta da cabine sendo aberta e alguns passos, em seguida da água.
Quando a água para de cair e escuto o barulho da porta de metal sendo arrastada, abro a cabine as pressas e começo a andar apressado para a mesma porta que eu estava, prestando atenção em cada fala dos dois.
- Veremos isso em alguns dias, algumas equipes foram enviadas para tratarmos de um assunto importante em outro país, por isso não vai ser fácil convencer o diretor. Vou manter contato com você através desse número. - Vejo pela pequena janela ele entregando um pequeno papel para Maya. - Para perguntar algo sobre oque descobrir das informações que vou te passar em algumas horas.
- Certo, obrigada pelo seu tempo. - Ela responde, pegando o papel de sua mão e abaixando sua cabeça, provavelmente checando o número.
- Agradeço pelas informações. Podemos confiar em você para o serviço? Saiba que a S.W.A.T. não tem o costume de fazer isso, mas nesse caso será preciso já que não temos muitas pessoas disponíveis.
- Cegamente, senhor Rodrigo. - Ela responde, parecendo estar sorrindo, pelo som tom.
- Vou resolver algumas coisas com o diretor. - Ele responde, se levantando da mesa, pegando o sobretudo. - Em breve vamos marcar outro encontro, vou te passar o endereço quando estiver tudo certo.
- Tudo bem. - Ela responde, fazendo uma concordância com a cabeça.
Apenas quando a conversa termina que dou conta que eu estava observando eles esses tempo através da janela, da qual o homem segue caminho segurando o celular que acaba de tirar do bolso. Me afasto as pressas da janela e dou passos silenciosos até uma das portas fechadas.
Entro em seguida, fechando a porta na mesma velocidade e cuidado que me afastei da porta. Ouço o som de metal da porta sendo aberta e controlo minha respiração que foi desorientada pelo susto, logo os passos dele se voltam para minha direção e começo a me preocupar, mas me alívio quando percebo que a água da torneira começa a cair na pia.
Retiro minhas mãos da porta e dou poucos passos silenciosos para trás, na tentativa de esconder os sapatos sociais de um agente da S.W.A.T., em seguida começo a rezar para que ele não tenha percebido minha presença aqui, e que não tenha percebido o fone que eu e Maya dividimos durante o dialeto deles.
Alguns minutos depois a torneira para de ser pressionada, e apenas o silêncio fica, ele não sai e muito menos ouso me mexer. Não escuto nenhum passo ou algum barulho relacionado a qualquer movimento, nessas horas deveria haver alguém para interromper esse momento que vou me lembrar pelos próximos dois dias, e para minha sorte, isso acontece.
- Senhor, você é o dono daquele terno que está na mesa quatro? - Uma voz masculina parecendo com uma pessoa com menos de trinta e sete anos pergunta, quase me fazendo dizer um palavrão.
- Não, entrei apenas com meu casaco.
- Certo. - O funcionário responde, e parece ir embora, para confirmar, me aproximo da pequena fresta que há no canto da porta e vejo Rodrigo olhando atentamente para ele.
- Com licença. - Ele diz para o funcionário, que parece parar. - Posso ver as câmeras de segurança? - Meus olhos se arregalam com sua pergunta.
- Senhor, as imagens das câmeras não são mostradas para os clientes, apenas funcionários.
- É claro. - Rodrigo responde, retirando do seu bolso oque parece ser uma carteira, em seguida a-abre e mostra o distintivo para o outro homem quando estica seu braço. - Estou procurando uma pessoa. - Ele começa a andar na direção da porta, saindo de minha vista. - Por ordens oficias, tenho o direito de observar as câmeras caso o suspeito tenha sido visto no mesmo local.
Um silêncio breve se faz, que é quebrado pelo suspiro do funcionário, o som que se faz em seguida é o da porta sendo aberta novamente e alguns passos. Espero alguns minutos para ter a certeza de que estou sozinho novamente, mas ainda permaneço dentro da cabine, sem saber como vou sair daqui agora.
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• Camilla Perez
Minutos antes
- Acha que eles precisam da minha ajuda? - Pergunto com os braços cruzados para a mulher de cabelos loiros perfeitamente arrumado ao meu lado esquerdo, que veste uma calça jeans preta, assim como sua blusa de gola alta e suas botas, apesar de estar um pouco calor hoje. Observamos a cafeteria do outro lado da rua.
- Não acho que seja necessário. - Ela responde na mesma posição que eu estou. - Você chamaria muita atenção, principalmente com esse seu rostinho.
- É, tem razão. - Suspiro. - Não acredito que estão perseguindo um homem.
- Não acredito que concordei com isso. Ele parece ser um desastre, do jeito que você disse parecia um homem bem mais sério.
- Engraçado, não é? Eu me dei como desaparecida por apenas cinco dias e olha como ele está.
- Sugiro que você apareça logo, acho que vocês dois já ficaram distantes demais, isso pode piorar a situação.
- Vou pensar sobre. - Desvio o olhar para meu lado direito, olhando algumas pessoas que passam em minha frente, que nem ligam para minha presença "perigosa".
- Muito bem. - Ela se afasta da parede do prédio onde estamos. - Vamos para meu carro, - Ela aponta com a cabeça para a Audi preta em nossa frente. - Preciso ver como meu apartamento está em suas mãos.
Faço uma concordância com a cabeça e seguimos alguns passos até o carro, Cassid sai da calçada e eu destravo a maçaneta, abrindo um pouco. Ajeito meu óculos escuros um pouco para o meio de meu nariz, vendo o reflexo de Maya através da vitrine escura, que estava com Rodrigo a alguns minutos atrás.
Ergo os óculos novamente quando escuto a batida da porta esquerda, da qual Cassid acaba de fechar. Em seguida abro um pouco mais a porta e me inclino para baixo, entrando do no carro. Assim que fecho a porta, Cassid gira a chave de ignição e o som do motor soa um pouco alto, parecido com o som do motor do carro de Diana.
Abaixo o quebra-sol quando o carro começa a andar pelas ruas de Los Angeles, ajeito meu cabelo que não está bagunçado, já que não havia vento, em seguida observo minha maquiagem, certificando que meu batom não está borrado.
- Como está indo o Atlas? - Ela pergunta, sem me olhar.
- Está indo bem. - Respondo, passando minha unhas com o tom de vermelho em volta do lábio inferior.
- Não devemos fazer isso mais vezes, é estranho. - Seu tom de voz sai irônico.
- O que? - Pergunto.
- Conversar como pessoas normais. - Sua resposta me faz tirar a atenção do pequeno espelho, em seguida o-fecho. - O sinal de celular de Adrian está cada vez mais fraco e difícil de investigar, não acho que será possível continuar com isso por mais um dia.
- Entendo. Preciso fazer alguma coisa a respeito, a cidade é grande e apenas eu e Martinez não daremos conta de acha-lo sozinho.
- Rodrigo pode conseguir ajuda da S.W.A.T., já que ele se importa mais com o trabalho do que sua vida pessoal. - Cassid coloca seu cotovelo na porta e seus dedos em suas têmporas.
A relação entre Cassid e Rodrigo não foi uma das melhores. Quando eu a-conheci, os dois estavam em juntos em um campo livre, apenas com algumas pessoas, eu estava trabalhando para Adrian, e como sempre fazendo o seu trabalho sujo. Um dos inimigos dele estava fugindo com uma moto roubada, eu estava perseguindo ele com um dos carros de luxo de Adrian.
Quando eu estava alcançando, o homem invadiu o terreno que era para ser o local de casamento deles, a moto ultrapassou os convidados assim como algumas balas que eu havia atirado, pela pontaria que eu tenho não acertei em ninguém menos que o motorista da moto. O carro estava em alta velocidade e por isso segui a moto que ficou desorientada até algumas árvores, para saber se ele havia realmente morrido.
Depois disso, não desacelerei o carro até desaparecer da visão da polícia, mas Cassid, como a pessoa rancorosa e esperta do jeito que é, não me deixou sair ilesa dessa. Apesar do local onde eu estava ser escondido, ela me achou e por algum motivo, não faz nada além de conversar. Ela me fez prometer que nunca mais apareceria em Los Angeles e ela deixaria eu livre.
Anos depois, comecei a ser procurada por uma equipe da S.W.A.T., Rodrigo não havia me deixado em paz depois que atrapalhei seu casamento com Cassid, mas como ela é uma das melhores do F.B.I., fez com que eu sumisse do mapa. Além do casamento acontecer, eles não sabiam do trabalho um do outro, e é claro que isso não daria certo. Dois anos depois, soube do divórcio, mas não entrei em contato com ela, até uma semana atrás.
- Eu sempre soube que isso não iria durar Cassie, vocês dois não sabiam do trabalho um do outro e isso só dificultava, até porque a S.W.A.T. e o F.B.I. não trabalham juntos.
- De qualquer forma, a única coisa boa nisso tudo foi conseguir te livrar daquele maldito. - Ela responde, virando uma das esquinas próximas do apartamento afastado da civilização.
Cassid continua sendo as melhores do departamento, agora ela treina novos agentes em campo. Seu trabalho é bem puxado e mesmo assim conseguiu que apenas eu morasse em seu apartamento, agora ela está hospedada em algum hotel, mas sempre de olho em qualquer passo de Adrian ou algo do tipo.
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• Nicholas Martinez
- Maya, agradeço as informações. - Ouço a voz de Rodrigo se despedindo dela.
- O mesmo, senhor Rodrigo. - Ela responde.
Ainda estou na cabine, sem saber se ele está na frente da porta da cafeteria ou não. Estou escorado com os braços cruzados na parede da cabine, e parece que lá se vai horas de um dia importante. Espero o diálogo dos dois acabaram para que eu possa sair e terminar oque eu comecei hoje.
Não sei oque aconteceu com as câmeras de segurança, até porque não consigo ouvi-lo. A única coisa que eu espero é que ele não tenha levado meu terno, se bem que ele não pode leva-lo, mesmo sendo um agente, não pode ficar dizendo isso pelos quatro ventos e não pode fazer tudo oque quer.
Solto um suspiro longo e decido não esperar mais, me afasto da cabine e puxo a maçaneta, saindo em seguida. Coloco a mão esquerda no bolso da calça e com a direita coloco os óculos escuros novamente, caminho até a porta e observo Maya sentada na mesa onde estava. Ajeito meu terno e empurro a porta.
Sigo em direção até minha mesa, ignorando a presença de Maya e agradecendo pelo terno estar do mesmo jeito que deixei. Vejo também o meu pedido sobre a mesa, mas em vez de me sentar, retiro do bolso de trás a carteira e o dinheiro que havia reservado para a comida, deixando ao lado do pedido. Coloco o terno embrulhado em meu braço e sigo em direção a porta.
Maya provavelmente não irá me seguir agora, até porque pelo meu gesto de deixar o terno na cadeira deve ter atiçado o espírito de agente em Rodrigo. Provavelmente não deve ter ido em bora, e sim ficar observando de longe na rua ao lado os passos de Maya e talvez os meus.
Não estou preocupado com isso, até porque minhas habilidades podem impedir que ele venha atrás de mim, e não seria nada comportado para um agente vir atrás de "suspeitos" sem ao menos um mandado ou permissão do diretor. Atravesso a porta aberta que fecha em seguida, começo a me misturar com as pessoas que andam para e para cá nas calçadas na esquerda.
Meu próximo paradeiro é o hotel, e infelizmente me lembro da mulher que veio bater em minha porta hoje cedo, agora tenho quatro horas para me arrumar e tentar identificar se ela não é alguém que esteja contratado para me perseguir. Sinceramente já estou cansado de desconfiar de tudo e todos, mas tenho essa mania desde que meu pai morreu em meus braços.
Agora, como se já não bastasse ele morrer em meus braços, vi o vídeo da exata hora de sua morte e quem o assassinou, e mesmo assim não consegui fazer nada, mesmo tendo jurado por Deus que quando eu o-encontrasse, iria fazer 10 vezes pior. A vontade e a idéia passou pela minha cabeça várias vezes, mas por algum motivo poupei Rafael.
Procuro não pensar muito nessa história, até porque olhar para o passado não vai fazer meu futuro, e preciso pensar muito bem no que farei hoje a noite.
- Não pode ficar fugindo de mim Martinez, sabe disso. - Maya diz, quando me alcança.
- Como se eu quisesse isso.
- Nem você acredita nisso, não tente se enganar atoa.
- Tudo bem. O que vai fazer agora? Me prender no seu quarto como da última vez?
- Pergunta errada. O que você vai fazer agora?
- Estou indo até meu hotel, caso queria me acompanhar. - Respondo.
- Já que insiste. - Ela diz, oque me faz soltar um sorriso pequeno distraído.
- Seu humor nunca muda não é? Mesmo quando está a ponto de dar a maior bronca em mim.
- Estou aliviando sua barra. Até porque eu provavelmente sei o motivo pelo qual estão aqui.
- Beleza. - Digo em tom de reclamação. - Que bom que você me encontrou, preciso de alguns favores seus.
- E quando é que não precisa? - Ela diz no mesmo tom.
- Isso vai levar um tempo, preciso de atualizar de algumas coisas, e é claro, vai precisar de um vestido novo.
- Martinez, da última vez que participamos de uma festa não acabou bem, não sei se estou confortável com essa idéia.
- Desde que eu conheci Perez nada acaba bem, Maya. - Paramos no final da calçada, atrás de algumas pessoas, por isso me afasto um pouco ao lado delas, evitando que elas nos escute. - Mas agora que estamos envolvidos nisso, temos que ajudar.
- Engraçado. - Ela diz e eu olho para o lado de meu ombro, onde encontro sua face voltada para as pessoas quase em nosso lado. - Nunca vi você se importar com mulher nenhuma, você é do tipo come e some.
- Minha vida sexual não tem haver isso, Maya. E é claro que eu não sou mais desse tipo. - Respondo baixo, trocando o terno de mão e jogando ele para trás de meu ombro.
- Se você diz. - Ela dá de ombros. - Falando nisso, notícias dela?
- Não, e prefiro que continue assim, ela não pode se envolver no que eu tenho que fazer hoje.
- Espero que não me envolva na suas brigas com mulheres, se não vou ter que ajudá-las.
- Podemos ir em silêncio até o hotel? - Pergunto. - Estou tentando pensar em uma coisa importante.
- Por mim tudo bem. - Ela da de ombros novamente.
Por fim não nos falamos mais. Atravessamos a rua e passamos o trajeto inteiro sem trocar mais alguma palavra, graças a Deus. Quando chegamos na rua do hotel, Maya parece se segurar para não falar os palavrões possíveis para mim, por perceber que o hotel que estou é ao lado do seu.
Quando entramos, a presença de Maya parece atrair olhares, principalmente dos homens, mas não se sente nem um pouco desconfortável com isso. Não posso culpa-los por isso, Maya sempre manteve seus cabelos ruivos arrumados, sua maquiagem básica também realça sua beleza. Desde crianças, ela sempre teve interesse em moda e maquiagem, como sua mãe ensinou para ela, e algumas vezes para mim.
Desvio meu olhar para baixo quando chegamos na recepção, enquanto Maya explica a situação, sou atingido por uma onda de nostalgia por lembrar dessas coisas.
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Barcelona, Espanha.
13 anos atrás.
- Maya, você é burra? - Pergunto quando ela acaba de borrar o projeto de maquiagem em seus olhos.
- Quieto Nick, você é menino e meninos não entendem nada de maquiagem. - Ela responde, se olhando no espelho da penteadeira branca de sua mãe, que agora está com vários tons diferentes de maquiagem e produtos espelhados.
- Pelo visto você também é um. - Respondo, revirando os olhos.
- Pode ficar quieto? Tenho que prestar atenção aqui. - Ela diz, piscando os olhos depois de afastar seu dedo da pálpebra.
Reviro os olhos novamente. Balanço minhas pernas tentando não bater no banco de cimento enorme que estou, minhas mãos estão no pequeno e fino colchão marrom. Atrás de mim possui uma janela também enorme, onde o banco se encaixa na abertura. Olho para trás e vejo a grama perfeitamente cortada lá de baixo, vejo um carro preto chegando de longe, provavelmente o carro da mãe dela. Infelizmente está prestes a chover e não podemos brincar no quintal gigante da casa de Maya.
Por isso estamos no quarto da Eleonor, Maya está tentando se produzir para tentar impressiona-la, mas com certeza ela vai é morrer de susto. Olho de volta para a penteadeira, onde ela está quase entrando dentro do espelho para se ver, já que o puf vermelho escuro que está em cima é pequeno. Seu vestido azul escuro está cobrindo seus joelhos que está um pouco colorido.
Desvio o olhar para o chão de tábuas pequenas de madeira, que está colorido pela maquiagem que Maya derrubou minutos atrás. Meu olhos seguem a direção reta que o chão faz, até a cama arrumada com uma coberta bege, os travesseiros com as fronhas brancas estão na frente da cabeceira de madeira também beje. As paredes estão cobertas pela cor branca e por alguns pequenos símbolos que parecem espadas das cartas de baralho do meu pai, também bege.
O lustre que está bem acima de tudo está desligado, até porque nós não sabemos ligar, mal conseguimos alcançar o interruptor, por isso está um pouco escuro aqui. Solto um suspiro e coloco minhas pernas esticadas no colchão e encosto as costas nas almofadas. Espero a Eleonor chegar, para ver a bagunça que Maya fez, mas parece que vai demorar um pouco, já que ela está conversando com o pai de Maya lá embaixo, os dois apontam as mãos para a porta da casa, mas nenhum dos dois parece querer entrar.
- Está acabando? - Pergunto, ainda olhando para baixo.
- Sim, e animada.
- Por que? Para ver o susto da Elle? - Pergunto novamente, agora olhando para ela.
- Finalmente vou fazer oito anos, e está quase chegando o dia da festa.
Retiro as pernas de cima do banco e saio de cima do colchão, indo em direção da penteadeira.
- Eu sou dois anos mais velho que você, então eu posso dizer que essa maquiagem está horrível.
- Faça melhor. - Ela responde, passando o dedo esverdeado na pálpebra esquerda, seus cabelos ruivos estão um pouco armado, mas é porque ela desmanchou o coque para se sentir mais bonita.
- Tá. - Abro a tampa de uma paleta colorida e em seguida esfrego meu dedo indicador na cor azul. - Fecha o olho, então.
- Não Nick, você vai estragar tudo.
- Não vou não, já vi minha mãe fazer isso várias vezes. - Arranjo uma desculpa esfarrapada. - Fecha logo, Maya.
- Já disse que não. - Ela sai do banco e vai para trás dele.
- Fecha. - Digo mais uma vez, apontando o dedo para seu olho.
Um sorriso se abre em meu rosto quando ela tenta fugir correndo pelo quarto, ela corre até a cama e em seguida sobe em cima dela, ficando de pé e se escorando na cabeceira da cama. Corro atrás dela parando na frente da cama, enquanto ela tenta se desviar da minha direção. Nós dois rimos juntos enquanto tentamos fazer um pega-pega.
Maya e eu desviamos a atenção para o barulho que vem da porta, ainda sorrindo, que aumenta quando percebo que Eleonor entra no quarto, vestido com um sobretudo preto assim como suas botas, uma calça jeans escura e uma camisa branca. Seus cabelos ruivos estão soltos e levemente ondulado. Como Eleonor trabalha em um dos escritórios, está sempre bem arrumada.
Quando ela percebe que estamos no quarto, fecha a porta e abre um sorriso para Maya que desce de cima da cama e corre em sua direção e para em sua frente.
- Olha mãe, como você me ensinou. - Ela diz mostrando a maquiagem com o dedo indicador.
- Está linda, Maya. - Ela diz com um sorriso no rosto e passando a mão nos cabelos ruivos bagunçados. Sua voz não é nem um pouco grossa, e sim um pouco fina. Tipo uma daquelas vozes que te acalmam.
- Mentir é coisa feia, Senhora Elle. - Digo sorrindo, se aproximando dela.
- Oi Nick. - Ela sorri como eu. - Não precisa me chamar de senhora. - Ela desvia o olhar de mim e olha por cima, provavelmente vendo a bagunça que sua filha fez. - Pelo visto vocês se divertiram muito enquanto eu estive fora.
- Sim, mas o Nick é um estraga prazeres e disse que minha maquiagem está horrível. - Ela segura a mão de sua mãe e puxa até a penteadeira.
Sigo elas até o espelho e paramos na frente dele, vejo meus cabelos e minha franja bagunçada como o cabelo de Maya, meus olhos azuis estão quase invisível perto de meu cabelo, então afasto eles de minha testa. Vejo Eleonor sorrindo e em seguida com suas duas mãos bagunça meu cabelo e o de Maya - mais do que já estão - Sorrimos com o ato.
- É, deixa eu dar uma ajuda pra você. - Ela diz, e em seguida se senta no banco na frente da penteadeira.
Maya para na frente dela e em seguida fecha os olhos, Eleonor passa seu polegar nele e retira um pouco da cor azul toda espalhadas na sombrancelha dela e quase em volta de seu olho. Eu e ela rimos baixo para não estragar a brincadeira de Maya.
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- Vamos? - Ouço a voz dela me chamando, parecendo que já estava me chamando muitas vezes, já que dessa vez empurra meu braço com o seu.
Faço uma concordância com a cabeça e aponto para o elevador. Começamos a andar lado a lado até as portas metálicas, que não se abre de imediato quando Maya aperta o botão. Suspiro tentando afastar as memórias de anos atrás, sem fazer com que ela perceba.
Coloca a mão no bolso e ainda segurando o terno, olho para acima das portas, que sinaliza os números vermelhos. Tento achar alguma forma de explicar tudo para Maya, já que estou aqui porque Adrian provavelmente sabe dela, e isso atrapalhou totalmente o meu plano e de Camilla.