Dove narrando
Abri meus olhos e avistei Sofia, ela dormia tranquilamente, sua respiração era calma e suas pernas estavam entrelaçadas as minhas.
Parecia até uma tela pintada, a pele iluminada pela fraca luz do meu abajur a fazia parecer um anjo.
Fui até o banheiro e tomei um banho rápido, escovei os dentes e amarrei meu cabelo.
Ainda era cedo, eu sempre era a primeira a acordar, voltei para o quarto e Sofia estava sentada na cama coçando os olhos. Nossos olhos se encontraram por um instante e senti meu rosto corar, corar muito.
Ainda havia em mim as sensações da noite passada, seu toque, seu cheiro, me questiono se ela queria ter ido além... eu queria.
— Bom dia. — Falei timidamente. — Dormiu bem?
— Bom dia, na verdade eu demorei para pegar no nosso... — Um sorriso travesso se formou em seus lábios. — Eu fiquei feliz Dove, me senti especial, apesar de não saber o que vai acontecer agora. — Confessou e levantou, veio até mim e me deu um abraço, acariciei suas costas e subi meus dedos até a fina alça do pijama.
— Você é tão linda. — Comentei ainda com os dedos passeando em sua pele. — Você é especial Sofia... eu poderia ficar te olhando pra sempre. — Sussurrei e me afastei delicadamente dela.
— Eu... eu tenho que escovar os dentes pra poder te encher de beijos. — Riu indo até a porta.
— Ei, espera, por quê a pressa? — A provoquei.
Ela acenou com a cabeça e foi até o banheiro, alguns minutos depois Sofia já estava se despindo ali, na minha frente...
Não olhe, não olhe... mas, não, vai ser rapidinho...
Meus olhos pousaram em seu corpo rapidamente e minhas bochechas pegaram fogo.
— Uau...
— O que? — Sofia riu terminando de vestir sua blusa. — Não me diga que achou engraçado minha calcinha de bichinhos. — Ela corou e um riso nervoso escapou de seus lábios.
— N-Não, não é isso, é que, você é linda é só isso... — Droga, o que tô fazendo.
Sem falarmos mais nada fomos até o andar de baixo da casa, não havia ninguém ainda, a mesa do café nem havia sido colocada.
— Você quer comer o que? — Perguntei abrindo a geladeira.
— Na verdade eu acho melhor eu ir pra casa, não sei se seria bom sua mãe me ver aqui tão cedo. — Sofia andou até ficar ao meu lado. — Eu amei dormir aqui, acordar ao seu lado, mas eu sei que ainda não está pronta pra falar com ela, não precisa ter pressa, ok? — Ela segurou minha mão e me beijou rapidamente, em seguida foi rumo a sala.
(...)
Já fazia alguns minutos que a Carson havia ido embora, Miguel apareceu na cozinha com uma cara de poucos amigos, olhou em volta e assim que concluiu que eu estava sozinha começou a despejar seu veneno.
— Você vai mesmo arriscar tudo por aquela garota? — Seu tom era calmo e repleto de deboche. — Quanto tempo acha que isso vai durar? — Com as mãos na cintura ele bufou. — Se abrir mão da sua carreira vai se arrepender, principalmente quando se der conta de que a Sofia não vale a pena.
Chega, não vou mais ouvir as asneiras dele calada.
— Quem é você pra falar sobre valer a pena? Você ficou com a minha irmã, depois com a minha mãe, você realmente gostou de alguma delas? — Meu tom ficou alterado. — Se continuar se metendo na minha vida, eu vou falar hoje lá na gravadora que eu estou namorando uma garota. — O encarei com os olhos repletos de raiva. — E aí aqueles velhos babacas vão quebrar o contrato e todo mundo sai perdendo!
— Você não faria isso, você não é maluca!
— Quer pagar pra ver?
— O que tá acontecendo? — A voz da minha mãe nos pegou de surpresa, seu olhar curioso parecia ter preenchido a tensão do ambiente.
— Eu tenho aula, mas o Miguel vai lhe explicar. — Peguei minha mochila e fui para a escola a passos rápidos e pesados.
(...)
Que merda, meu dia tinha começado muito bem, mas foi só ver o Miguel... como pude demorar tanto pra perceber que ele é um babaca?
Pior que isso... ele é um manipulador, me questiono o que realmente aconteceu entre ele e a Claire...
— Amiga? — Anne me tirou dos pensamentos que insistiam em me perturbar. — Tá quase saindo fumaça da sua cabeça hahaha!
— Ai Anne. — Me encostei na fria parede do corredor que ficava em frente a nossa sala de aula. — Tenho que te contar uma coisa.
— Pela sua cara... brigou com a Sofia? Você disse que as coisas não andavam muito bem.
— Não, muito pelo contrário, estamos muito bem, mas o Miguel, passou de todos os limites, demitiram ela.
— O que? Não acredito, você disse que estavam sabotando mas achei que isso fosse parar uma hora.
— Agora você deve imaginar como vai ficar o clima lá, ter que fingir que estou feliz com tudo isso. — Suspirei frustrada.
— Vai ser mó barra, e como ela reagiu? Eu ficaria bem mal no lugar dela.
— Tentou disfarçar, mas aposto que ficou triste, porém eu acho que animei ela depois... — Lembrei da noite passada e minhas bochechas coraram e claro que Anne percebeu.
— Eita, o que houve? Esse sorrisinho... vai conta tudo!!!
— Err... — Antes que eu pudesse começar a falar o sinal tocou e eu agradeci mentalmente. — Depois eu falo, temos que ir!
A aula foi boa, me ajudou a esquecer um pouco de tudo que aconteceu, entre uma matéria e outra, Anne me cutucava para saber os detalhes da noite passada.
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Miguel narrando
— Dove estava estranha, vocês brigaram? — Bonnie perguntou apreensiva, mas não seria difícil fazê-la ficar do meu lado.
— Ah meu amor, eu não queria te preocupar sabe, mas a sua filha está em uma fase difícil. — Falei com a voz suave. — Pensando até em desistir da carreira, seria uma pena, justo agora que as contas estão sendo pagas e os empréstimos quitados.
— Mas ela sempre quis a fama, cantar, ser reconhecida, você sabe o que aconteceu?
— Acho que é influência da Sofia, a garota foi demitida, Dove está se sentindo culpada, já que elas são amigas. — Bonnie apenas me ouviu e andou de um lado para o outro. — Você está bem?
— Só umas coisas que eu estou pensando, Miguel... você acha que existe a possibilidade da Dove gostar da Sofia?
Ela também havia percebido, o que não era muito difícil, afinal a leve obsessão que Dove sempre teve pela garota não era algo muito normal.
Sempre fugir quando falavam sobre garotos, assistir aquele bendito filme de Natal uma centena de vezes.
Bonnie pode até ter se afastado das filhas com o tempo, mas ainda assim as conhecia, e sempre soube de tudo, apenas prefere fechar os olhos para a grande maioria das situações.
— Oh querida, eu acho que ela está confusa, a Sofia deve estar sendo uma má influência, se você não agir agora, a sua filha vai cometer o maior erro da vida dela. Perder uma oportunidade dessas por um capricho juvenil.
— Você tem razão, ela ainda é muito jovem pra saber o que realmente quer, obrigada por sempre me ajudar. — Ela me abraçou e eu fiz carinho em seu rosto.
É isso que gosto na Bonnie, ela me escuta, é fácil de envolver, Claire não, era explosiva, cheia de vontades... nunca teria dado certo mesmo.
Não pense nela, não pense, você vai ser rico e conquistar tudo que quiser, com Bonnie, Claire é um erro, sempre foi.
— Eu vou ir trabalhar, mas vou tentar falar com a Dove, irei te ajudar ok? — Falei me despedindo e indo para os estúdios de gravação.
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Nicholas narrando
Fazia alguns dias que eu não via a Sofia, desde que voltei tudo anda de certa forma estranho, não somos mais os mesmos, esfriou, e o fato dela já estar com alguém com certeza prejudica ainda mais nossa situação.
Eu sei que falei que ser amigo dela me bastava, mas toda vez que vejo seu sorriso é como se meu coração corresse uma maratona.
Dona dos olhos mais doces e da voz mais linda que já pude conhecer, Sofia... Sofia... como fui capaz de te perder?
(...)
Meus pais me contaram sobre a demissão dela, imagino que nesse exato momento ela deve estar bancando a durona mas que está sofrendo. Talvez eu devesse fazer uma visita...
É isso, vou aproveitar e fazer um bolo para levar, sempre gostamos de cozinhar juntos, desde criança, quem sabe um pouco de chocolate a deixe animada.
Fiz a massa do bolo rapidamente, era de chocolate, coloquei assar e fui até meu quarto, troquei de roupa e peguei meu celular.
Quando finalmente terminei o bolo avisei minha mãe que iria sair, ela não perguntou onde eu ia ir, mas provavelmente já sabia, ou melhor, já imaginava.
Fui até a porta e assim que a cruzei avistei minha querida vizinha sentada na grama tomando um banho de sol, seu cabelo brilhava e seus olhos estavam fechados.
Senti a euforia tomar conta do meu corpo e fui até seu portão.
— Foi aqui que pediram um bolo de chocolate? — Falei indo até ela, que abriu os olhos rapidamente e sorriu.
— Nicholas!
— Oi, eu vim fazer uma visita... soube que uma certa moça não está muito bem. — Sentei ao lado dela que apenas me olhou, com um olhar indecifrável por sinal. — Atrapalho?
— Não, muito pelo contrário. — Sua voz estava baixa, talvez até um pouco embargada. — Fez bolo pra mim? — Um breve sorriso surgiu em seus lábios que estavam tão rosados, pareciam ser tão doces...
Não pense nisso...
— Fiz, achei que fosse te animar um pouquinho. Minha mãe contou que você saiu do programa, como você está?
— Me sinto perdida, sem a gravadora, sem o programa, eu disse para os meus pais que estava tudo bem mas... eu não sei o que fazer, Nick. — Lágrimas desceram pelos seus olhos, quase por instinto levei meu polegar até sua bochecha. — Parece que perdi a vontade disso tudo.
— Ei, cadê a garota que sempre correu atrás do que queria? Você é talentosa, não precisa deles, vai conquistar tudo por merecimento, sem precisar trapacear.
— Será?
— Eu tenho certeza, e eu vou te ajudar, nunca mais vou te deixar, Sofia. — A puxei para um abraço que de início foi frio, mas logo ela pousou a cabeça em meu ombro e foi como se os velhos tempos tivessem voltado, como se eu nunca tivesse ido embora, como se ainda fosse só nós dois. — Se quiser falar sobre isso, sou todo ouvidos. — Sussurrei ajeitando seu cabelo, enquanto ela saía do meu abraço lentamente.
— Acho que prefiro provar esse bolo, tá com uma cara ótima. — Enxugou as lágrimas.
— Hummm...
— O que foi?
Levantei da grama e peguei meu celular, fui até minhas músicas e coloquei "Flor de Tangerina" para tocar.
— Poderá provar o bolo se me conceder a honra de uma dança, reconhece essa música? — Estendi a mão para ela que riu.
— Não acredito, dançamos essa na festa junina da quinta série. — Com uma expressão mais descontraída Sofia levantou e pegou minha mão. — Vou lhe dar a honra de dançar comigo.
A música tocava enquanto nossos pés iam de um lado para o outro, iluminados pelos finos raios de sol que conseguiam se infiltrar nas copas das árvores do jardim.
— Viu, eu ainda consigo! — Falei enquanto ela dava um giro.
— Consegue o que?
— Te fazer sorrir. — Provoquei e ela virou os olhos. — Não adianta virar os olhos não viu.
— Ah Nick, cala a boca! — Sofia riu e me deu um tapa no braço. — Agora quero bolo!
Voltamos a sentar no chão e cortamos o bolo, conversamos até o sol se pôr, tentei ao máximo evitar falar da pessoa que ela gosta, quando voltei para casa senti meu coração mais leve, e confesso que uma certa determinação...
Vou te reconquistar Sofia... eu sei que vou...
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Até o próximo 🦋 (Nick tá querendo a Sofi de volta, Dove vai gostar nada disso).