10 de dezembro de 2019
Lake City, Seattle, Washington
Finalmente a bagunça da mudança estava toda organizada. A pequena reforma da casa já havia sido totalmente concluída e Andrômeda já havia posto cada item em seu devido lugar nos cômodos. Agora se permitia descansar e de fato aproveitar suas férias.
O inverno mais intenso também havia chegado, a cada dia passado, a neve caía mais forte e o clima era mais frio, O que a fez também consertar a lareira da casa, e deixar ligada para aquecer naturalmente o ambiente enquanto tomava um banho após uma longa corrida.
Com o cabelo lavado, a pele esfoliada, vestindo um conjunto confortável de roupa de baixo e o robe preto por cima, Andrômeda desceu as escadas ao ouvir a buzina do entregador. Havia cedido aos seus breves desejos e pediu uma pizza, sem coragem para cozinhar algo. Com a carteira em mãos, ela seguiu até a porta, recebendo o entregador na varanda.
— Andy Lynch?
— Isso.
Com um sorriso gentil, Andy recebeu a caixa e o jovem assinalou o pedido como entregue. Com o pagamento e a gorjeta, Andy esperou até que ele saísse de vista com a moto e retornou para casa, levando a pizza para a cozinha e deixando longe o suficiente da borda da bancada. Dante tinha fama de puxar comida algumas vezes.
Andy retornou para o andar de cima, sentindo as pernas ainda um pouco doloridas do que estavam antes, fazendo uma nota mental para comprar um tênis novo. Ela tirou o robe apenas para passar o hidratante no corpo, o corpo tomando o aroma de frutas silvestres e perfumando o ar. No closet, Andy buscou por um dos pijamas confortáveis de algodão. O short creme e a blusa pequena fazendo o pouco trabalho de aquecer seu corpo, sem precisar de muito com o calor da lareira sendo suficiente para deixar a casa morna.
Com o cabelo finalizado com pouco creme, Andy retirou o excesso de água com a toalha, levando de volta para o banheiro. Ao voltar para o quarto, levou o celular consigo, murmurando alguma música que não conseguia lembrar a letra enquanto era seguida pelos cães até a cozinha, e Vito, o gato, miando, querendo um pouco da comida também.
Andy seguiu até a caixa de pizza, sentindo o cheiro estranhamente bom, por mais que não parecesse nem um pouco com o cheiro de pepperoni. Por querer aproveitar mais o momento e o descanso, Andy abriu uma garrafa de vinho, servindo na taça. E se encostou no balcão da cozinha, puxando a caixa de pizza para perto, finalmente abrindo para tirar um pedaço.
— Mas que...
Brócolis.
Não era pepperoni. Era uma pizza de queijo e brócolis picado. Mentalmente, Andy se perguntava como alguém poderia ter a coragem de comer uma coisa como aquela. Enquanto também se perguntava que idiota não checava o próprio pedido ao recebê-lo. Pensava em mandar uma mensagem para a pizzaria, avisando sobre o erro. Assim como pensava em pedir por uma troca.
E havia encarado aquela atrocidade por tempo suficiente para ouvir o toque da campainha. A mulher desceu o olhar para as próprias roupas, apenas tendo a certeza de que não estava mostrando nada demais, ou que a camiseta não estava transparente na região dos seios, e caminhou até lá. Pensava que poderia ser o entregador, pronto para se desculpar pelo ocorrido e devolver a pizza que ela pediu e levar aquele crime contra a gastronomia embora da sua casa.
Mas tudo o que viu ao abrir a porta foi Jeffrey com outra caixa de pizza em mãos, a olhando do pé a cabeça de forma atenta demais. Quase surpreso.
— Acredito que isso seja seu — Ele diz, a entregando a caixa, a qual ela abriu apenas para checar, finalmente vendo o pepperoni que tanto queria.
— Sim. Me entregaram a pizza errada, e... Hm... O que você está fazendo com a minha pizza?
— Eu pedi uma. Devem ter confundido nossos endereços na entrega — Ele explicou, com seu jeito tranquilo como sempre tinha.
— Você pediu aquela coisa horrível? — Andy disparou, os olhos se arregalando em surpresa.
— Está ruim?
— É de brócolis, com certeza deve estar — Ela retrucou, notando como o olhar dele se torna mais sério.
— Não sei como consegue manter esse corpinho sem comer uma verdura, menina.
— Olha, eu até como, mas na pizza é brincadeira, Jeff! — Ela se expressa, fazendo o homem dar uma risada fraca contra o vento frio. — Entra, vou buscar aquela coisa.
Rindo outra vez, ele a segue para dentro da casa. Andy deixou a pizza na mesa de centro, seguindo para a cozinha e pegando a outra caixa. Retornando para a sala de estar, o observando ali enquanto ele olhava ao redor, analisando algo, não se importando com os cães cheirando sua calça incansavelmente. E tomou seu tempo para analisá-lo também.
Sabia que ele não tinha visita. Que estava sozinho em casa, como sempre. Ainda não era dia dos seus filhos visitarem outra vez e ele certamente jantaria sozinho. Aquilo a fez sentir certa pena. E ela não pensou duas vezes quando deixou a caixa dele na mesa de centro também, percebendo como ele a olhava com curiosidade.
— Senta aí. Vamos jantar juntos — Ela disse, sem sequer se importar em fazer um pedido coerente.
— O quê? — Jeffrey piscou, levemente atônito com a decisão tão repentina.
Mas certamente não estava incomodado. Não com o convite.
Já com o pijama...
— Você está sozinho, eu também, não é nada demais. Você já está aqui mesmo.
— Essa é uma forma estranha de chamar alguém para jantar com você, mas eu vou aceitar.
Os dois riram juntos quando ele se sentou, e Andy voltou na cozinha para pegar uma taça a mais e a sua, que já estava cheia. Dispondo a taça vazia na frente de Jeffrey, ela se sentou no sofá ao lado do homem, pegando uma das fatias da pizza de pepperoni e dando uma grande mordida. Com um gemido baixo de satisfação, ela apreciou a comida.
Até abrir os olhos e ver Jeffrey olhando para ela, esperando por algo enquanto segurava a fatia da pizza de brócolis na direção dela.
— O que? — Ela perguntou, engolindo o pedaço de antes com um gole do vinho.
— Prova.
— Não.
— Só uma mordida.
— Jeffrey! Não.
— Vai, Andy! Não está envenenado, olha — Pediu, e pegou a primeira mordida da pizza, mastigando e engolindo.
A mulher o olhou de olhos semicerrados, tentando ver alguma reação dele que entregasse que a pizza não estava gostosa. Mas a reação não veio. Jeffrey parecia gostar do que estava comendo. Andy grunhiu alto antes de se curvar na direção dele. Encarando o homem nos olhos enquanto mordia uma fatia da pizza, ela pôde ver como Jeffrey engoliu em seco e desviou o olhar por milésimos de segundo.
Sabia que o havia atingido, e limpou o canto da boca com o indicador, escondendo o sorrisinho satisfeito enquanto mastigava a pizza. Sequer havia focado muito no sabor, mas mascarou isso com um olhar gentil.
— Não é tão ruim assim — Revelou, dando de ombros como se não fosse nada demais.
— Viu só? Não pode mais reclamar — Ele retrucou, mordendo mais um pedaço da pizza.
— Você não vai esquecer disso, não é?
— Pode apostar que não, lindinha.
Ela riu baixo com o apelido, continuando a comer a fatia da sua própria pizza. O silêncio era confortável enquanto os dois se permitiam se satisfazer com a janta, o vinho dando um toque ainda mais gostoso na comida, e a lareira os permitindo se sentirem mais confortáveis ali. O cômodo sendo preenchido por um calor além daquela pequena tensão entre os dois.
E assim que começaram a se sentir cheios, passaram a apenas dividir o vinho, e iniciar uma conversa, com algo que havia tirado a curiosidade de Andy.
— Posso perguntar algo pessoal? — Ela questionou, o olhando com certa cautela. Não queria ser invasiva sobre o tópico.
— Qualquer coisa — Jeffrey moveu os ombros devagar, não incomodado com aquilo.
— Você não se incomoda em viver aqui? — Ela perguntou, notando como o homem tombou levemente a cabeça. — Digo... Um pouco mais distante da cidade. Mais isolado.
— Não... No início me incomodei um pouco, achava que não ia me acostumar nunca, mas a fazenda e o trabalho acabaram se tornando parte da minha rotina, e... Eu me acostumei.
A explicação dele a fez assentir devagar, compreendendo um pouco da sensação que ela estava sentindo agora.
— Isso está te preocupando? — Jeffrey perguntou, fechando a caixa de pizza, voltando a olhar para ela.
— Um pouco. Eu sempre achei que ia gostar de morar assim, isolada de tudo, sabe?! Agora... É estranho.
— Talvez você ainda esteja se acostumando. Tem que dar um tempo para isso, sequer faz quinze dias que você chegou.
A resposta dele a fez pensar. E ele estava certo. Por dentro, ela imaginou que iria se sentir em casa com pouco tempo, mesmo sabendo a dificuldade que seria para aquilo acontecer. Saber que estava sendo compreendida por alguém que já passou pela mesma situação era mais reconfortante.
— Você tem razão... Acho que ficar longe da família também conta muito. Nunca me imaginei assim, sem meu irmão por perto, sem meus pais...
— Entendo. É difícil não ter sempre os meus filhos também — Ele partilhou, falando abertamente sobre o tópico, sem receio.
Só assim Andy ousou perguntar mais.
— A dinâmica de guarda compartilhada funciona bem? — Ela questionou, forçando a garganta levemente. Não queria parecer uma intrusa naquele assunto.
Jeffrey entendeu, e não se incomodava em nada falar sobre isso. Se curvando um pouco para a frente, ele continuou encarando Andy.
— No início é bem confuso, e se torna uma rotina tranquila com o tempo. Bom, digo isso porque eu e a minha ex terminamos em termos amigáveis, é claro. Cada caso é um caso — Ele sorriu brevemente ao explicar, tendo um sorriso leve de volta.
Até gostava de falar sobre isso com alguém de fora, alguém que não fosse um amigo tão próximo e que não ficaria dando conselhos indesejados a ele. O homem também tinha necessidade de apenas ser ouvido.
Sabia que conseguia aquilo com Andrômeda.
— Para mim, funciona bem. As crianças vêm e vão quando querem, ou quando é necessário. Foi algo decidido entre mim e ela, pacificamente. As crianças gostam, o Gus respeita nossa decisão... A George ainda não entende nada disso.
— O Augustus é bastante inteligente.
— É sim. Me conforta que o ensinei bem. Com sorte, a George segue o mesmo caminho.
— Já está seguindo. Ela é adorável — Andy comentou, com um sorriso genuíno no rosto ao mencionar a pequena. Jeffrey sorriu.
Não era sempre que outras mulheres eram tão abertas com um pai solteiro como ele. Mas ela era mesmo diferente em várias formas.
— Você não se sente sozinho as vezes? — A mulher o perguntou, o fazendo usar o restante do vinho para limpar a garganta.
— Um pouco — Foi sincero, respirando fundo por um momento. — É uma casa grande, isolada, e a minha mente... Bom, eu diria que é grande e isolada também.
— Mesmo?
— É. Por mais que eu negue, ninguém é o mesmo depois de dois divórcios, sabe Andy? — Ele comentou, a fazendo assentir devagar.
Quando ela cruzou as pernas, o corpo de lado para ele, Jeffrey deixou o próprio olhar se perder nas pernas dela. E forçou a garganta quando percebeu que estava encarando demais. O coração começando a acelerar dentro do peito.
O vinho não estava ajudando.
— E você continua solteiro? — Andy perguntou, levando a taça aos lábios. E sorriu fraco. — Desculpa a pergunta tão... indiscreta. Eu fiquei curiosa.
— Não precisa se desculpar, meu bem. Eu disse que pode perguntar o que quiser — Ele afirmou outra vez, passando as palmas das mãos nas coxas, subindo o tecido da calça grossa. — Sim, continuo solteiro.
— Não está mentindo?
— Não.
— Não tem nenhuma ficante?
— Não.
— Um crush? — Ela perguntou, rindo fraco quando o homem tombou a cabeça, a olhando com um sorriso preso nos lábios. — Jeffrey...
— Andy... — Ele provocou, fazendo a mulher semicerrar os olhos. — Está interessada, por acaso?
— Só porque eu disse que sairia com você?
— Sim. Exatamente.
O jeito mais direto do homem a fez encará-lo. Perdida na sensação que ele estava causando. Tão repentina e tão... Satisfatória. Andy sabia que estava no limite em fazer um convite que não deveria, e Jeffrey sentia que aceitaria qualquer proposta que ela o fizesse.
E só o pensamento foi suficiente para fazê-lo forçar a garganta, olhando para o lado rapidamente.
E se distraindo ao ver o gato cinza o observando ao lado da mesa, como se questionasse algo.
— Mais um morador? — Ele perguntou, mudando o assunto completamente. Até mesmo seu tom de voz.
— Ele é tímido, não gosta muito de visitas. Esse é o Vito — Ela explicou, e Jeffrey esticou a mão, mas o gato sequer se moveu.
— Vito, tipo...
— Don Vito Corleone, sim.
— Uau, Andy. Um criminoso? — Ele provocou, a fazendo sorrir.
— Ele tem uma carinha de malvado — Andy brincou, rindo baixo.
Jeffrey sorriu junto, e, deixando o calor do momento passar, se levantou com calma.
— Bom, acho que o Don Vito veio me dizer que está na minha hora.
— Já? — Andy ponderou, internamente sem querer deixá-lo ir após o curto momento há pouco tempo.
— Já sim, tenho trabalho amanhã cedo, quem está de férias é você — Ele retrucou com humor.
— Tudo bem, tudo bem.
Ele pegou a caixa de pizza, passando pelo gato e pelos sofás. Andy passou na frente, os cachos balançando conforme ela andava até a porta da casa. E o olhar dele preso nas coxas expostas dela. E mais acima, mas ergueu o olhar rapidamente quando ela se virou. E sorriu ao perceber que ele estava olhando.
— Boa noite, vizinha. Obrigada pelo convite.
— Foi um prazer, vizinho — Desejou, se apoiando na ponta dos pés para dar um sutil e rápido beijo na bochecha dele. — Boa noite!
Sorrindo estranhamente bobo, Jeffrey desceu as escadas da casa e seguiu o caminho para a casa dele. Os pensamentos ainda tomados pela mulher, e por como ela parecia ser tão à frente para ele. Com ele. Como se as palavras dela sobre ter interesse nele realmente fossem verdadeiras.
E isso certamente o fez pensar por toda a noite, lhe tirando o sono daquela vez.
____________
#OIE!!
Demorei mais do que eu devia, mas voltei
As migalhas do nosso casal estão aumentando a cada capítulo, e o próximo é ainda melhor, hehe
🤍
Postado dia 13.04.24
Não revisado.