– Naquela tarde, depois de cavalgar pelos Cairngorms, chegaram a uma enorme muralha que ficava ao lado de uma aldeia.
Os Highlanders gritaram-lhes boas-vindas quando os viram de cima. Mew e Bright eram bem-vindos nas terras de Gregory McPherson.
Lá eles se sentiram quase em casa. Alguns guerreiros permaneceram na aldeia, junto a Anthony e à carroça, enquanto os restantes seguiram para a muralha.
– Que São Fergus troveja! - gritou um homem maduro, de cabelos grisalhos e aparência selvagem, saindo pelo grande arco da fortificação seguido por vários homens.
– McPherson! - Mew riu ao ouvir isso. Você faria a gentileza de saciar a sede desses pobres viajantes?
— Por São Ninian, McPherson! Sua água da vida é tão excelente que todos viemos cumprimentá-lo.
Quem brincou foi o jovem Glenny yong, um guerreiro loiro de incríveis olhos azuis, que sorriu ao ver Mew , enquanto Falcão o recebeu com um gesto hostil.
Só o que estava faltando! – Bright apontou, desviando o olhar.
Traga cerveja e água da vida e prepare vários quartos!- McPherson ordenou para seus servos, que partiram rapidamente.
Que alegria ter você aqui! -Olhando com curiosidade para os ômegas que o observavam de seus cavalos, ele ressaltou: - Então é verdade? Você se casou?
Gulf, ofendido pelo modo como Mew sorria para uma morena de seios grandes, ouviu-o dizer:
– Sim, McPherson, esses são os nossos ômegas.
A raiva de Gulf crescia a cada minuto. Cansado de esperar que alguém o ajudasse a descer do cavalo, ele pulou no chão.
– Você poderia fornecer água e sabão para nossos ômegas ? Por causa da aparência deles, eles precisam disso – Mew zombou, olhando para Gulf com desprezo.
Gulf, chateado com aquele comentário, ouviu em silêncio as risadas de todos que olhavam para ele.
Estou convencido pelos rostos cansados deles - Glenny interveio, aproximando-se deles – Eles precisam de muito mais coisas.
Ao ouvi-lo, Mew e Bright desafiaram-no com seus olhares.
Mas Glenny, ignorando-os, continuou a seu dispor.
Tentaremos dar-lhe privacidade – prometeu o chefe do clã interrompendo Glenny.
Naquele momento, um grupo de mulheres apareceu na porta. Pelos sorrisos que trocaram com Bright e Mew , Gulf e Win perceberam que os conheciam.
– Mary! Acompanhe os jovens lordes aos aposentos superiores – ordenou McPherson, se aproximando de Gulf e Win disse:
– Já que ninguém está nos apresentando, eu mesmo farei isso. – Eu sou o Lorde Gregory McPherson.
– Lorde McPherson, agradecemos por nos receber em sua casa. – Nossos nomes são Gulf e Win Philips.
O que você disse?! Mew rosnou, aproximando-se dele, fazendo todos olharem para ele.
– Você dirá que é Gulf McRae, meu ômega.
– E você, Win McKenna – Bright grunhiu. Não se esqueça!
Envergonhados por se sentirem no centro de risadas, balançavam a cabeça sem conseguir articular uma palavra, trocando olhares significativos com as mulheres que zombavam deles.
Desculpas, Lorde McPherson – Gulf conseguiu dizer, cerrando os punhos contra o corpo. Nossa união é muito recente, por isso errei.
- Cuidado com esses erros, jovens senhores – riu Gregory McPherson, se afastando deles.
Lembre-se de que vocês agora são propriedade de seus lordes e de seu clã.
Meu nome é Glenny Yong, o jovem loiro se apresentou galantemente. — beijando a mão deles, ele provocou com um sorriso incrível:
— E estarei aqui para o que os jovens precisarem. - Então ele baixou a voz para indicar: — Não pense que sou como seus maridos brutos.
Eles não precisarão de nada de você, Glenny – Mew enfatizou, desconfortável por ter o guerreiro tão perto. – Fique longe deles.
– Calma, Mew ! – O jovem sorriu após piscar para Gulf que, surpreso, nem se mexeu. — Eu só estava sendo gentil com seus ômegas.
– Mary! – Bright chamou piscando para uma mulher, enquanto Win observava e permanecia em silêncio. – Por que eles a tratavam assim?
Mostre claramente seus quartos aos nossos ômegas. – Eles são tão confusos – Bright zombou, indignando-os e continuou: Que podem acabar se metendo em outros quartos.
A risada foi repetida novamente. Aquelas mulheres estavam se divertindo, enquanto Zee, surpreso com tudo aquilo, permanecia em silêncio e observava seu irmão e Bright. – com um olhares ele se comunicou com Myles, Mael e Ewen. – Eles também olharam para seus lordes confusos. Por que eles estavam sendo tratados assim?
– Mild ficará conosco – Zee indicou, atraindo o olhar dos ômegas. Não se preocupem. Nós cuidaremos dele enquanto vocês descansam – disse ele, sorrindo gentilmente para Gulf e ambos agradeceram.
Timidamente, uma jovem loira de olhos claros e sorriso amigável se aproximou deles.
O nome dela era Mary e ela não era mais velha que Gulf. — Sem maldade, indicou:
– Venham comigo, Senhores.
Sem olhar para ninguém, os dois seguiram a garota até o interior da fortaleza. Silenciosos e tensos, atravessaram uma enorme sala mal decorada com quatro tapeçarias. Depois de passar por um arco redondo, subiram umas escadas estreitas e curvas até chegarem a um corredor iluminado por tochas, onde havia várias portas.
Estes serão seus quartos. Desejam que eu traga comida para você?
– Não, obrigada, Mary – Gulf sorriu tristemente.
De qualquer forma – concordou a criada, vou mandar trazer duas banheiras e água quente para vocês tomarem banho.
Depois de dizer isso, ela saiu, deixando-os sozinhos. Gulf rapidamente pegou a mão do irmão e, abrindo um dos arcos, eles entraram e Win abraçou o irmão e começou a chorar.
– Oh, Deus! Que grande humilhação – Gulf, incrédulo com o que havia acontecido, respirava com dificuldade para não chorar, até que uma batida na porta os trouxe de volta à realidade. – Era Mary.
Senhores, com licença – ela murmurou ao ver os olhos avermelhados de ambos. Eu sei que você não queria nada, mas eu trouxe uma cerveja e alguns bolos de aveia. – Será bom comecem antes que subam a água quente.
– Obrigada pela sua gentileza – disse Gulf. Você poderia pedir a um dos homens para carregar nossa bagagem?
– Claro. Eu pedirei agora mesmo.
Quando ficaram sozinhos novamente, Win disse:
Por que nos trataram assim na frente de todo mundo?
– Eu não sei – Gulf sussurrou, confuso. Mas não vou permitir que nos humilhem novamente.
Você viu como aquelas mulheres olhavam para eles? Eles pareciam se conhecer.
O Falcão – Gulf disse com ódio, sempre teve a reputação de ser um mulherengo, e lamento dizer-lhe que o seu marido também tem. – Tenho certeza que eles rolavam com aquelas putas toda vez que passavam por aqui.
Você acha que eles vão fazer isso de novo?
– Não sei – respondeu Gulf, olhando pela janela, de onde podia ver a aldeia e as pessoas que passavam por ela – Mas sinceramente não me importo.
Pouco depois, alguns criados chegaram com baldes de água quente e encheram as banheiras. Win relutou em se separar, mas Gulf, que precisava de um tempo sozinho, convenceu o irmão a aproveitar o banho quente.
Quando estava sozinho, ao olhar pela janela, pensou em Mew . Em seus olhos duros e em sua má atitude. Onde estava o homem atencioso e amoroso que ele pensava ter visto nele?
De repente a porta se abriu, Mew estava diante dele, olhando para ele com uma frieza que o fez estremecer.
– Você ainda não tomou banho? – O alfa perguntou, fechando o arco e encostando o corpo contra a porta.
– Eu farei isso agora – Gulf respondeu com indiferença.
Um banho lhe cairia bem ? – disse ele, cruzando os braços e observando-o. – Seu cabelo estava emaranhado e seus olhos estavam inchados. — Ele teria chorado? Você poderia remover toda essa sujeira da estrada e parecer um ômega bonito e decente. — Embora, pensando bem, eu acredito que...
Nunca permitiria que ninguém me humilhasse e não vou permitir isso a você - afirmou, cerrando os punhos enquanto caminhava em sua direção.
– Me permite o que ? - O alfa perguntou, sorrindo com desdém, mesmo que seu coração estivesse batendo loucamente.
Que você me trata com o desprezo com que me tratou na frente de todos – Gulf rosnou, olhando para ele com uma fúria que o chocou, embora não demonstrasse.
Seu ômega era desleal, mentiroso, e ele pagaria por isso. O que meu irmão e eu fizemos para receber esse tratamento?
– Santa Ninina! Quanto eu desejo – Mew pensou antes de responder.
Acaso eu ! – disse o alfa abrindo os braços teatralmente – Eu, Lorde Mew McRae, tenho que lhe dar algum tipo de explicação das minhas ações? – O alfa rosnou, tentando intimidá-lo com seu tamanho imenso.
Querido ômega, não esqueça que tenho o direito de fazer o que quiser, quando quiser e como quiser. Assim como tenho o poder de desprezar o que me desagrada, me aborrece ou me engana.
– Te odeio! Na minha vida me senti tão humilhado – Gulf gritou, sem se importar com quem o ouvisse.
Incapaz de controlar suas ações, Mew agarrou sua nuca com sua mão enorme e calejada, puxando em sua direção e beijou selvagemente – Impiedosamente.
Sentindo-se usado , Gulf pisou em seu pé com tanta força que ele se soltou e separou os lábios.
– Eu não sou como uma daquelas putas que você está acostumado! Não me toque.
Vou tocar em você quando quiser, feiticeiro! - Mew exclamou, agarrando-o novamente. Mas o alfa o soltou quando sentiu o ômega morder o lábio com raiva. – Você é meu ômega por um ano e um dia!
– Para minha desgraça ! Gulf gritou, olhando para o alfa com frieza – Um ano e um dia e nada mais ! – afirmou, respirando com dificuldade enquanto o observava o alfa tocar nos lábios quando via o sangue, sorriu maldosamente para ele.
– Pelo menos eu sei o que posso esperar das prostitutas – Mew cuspiu para ele sem tocá-lo. Eu esperava muito de você, mas você me decepcionou como ninguém jamais me permitiu.
Achei que iria cuidar de você e respeitá-lo como pensei que faria, mas a cada momento que passa percebo meu erro.
Achei que você fosse especial, mas você é como a grande maioria das prostitutas que conheço, pior ainda, se me lembro do sangue Sassenach que corre em suas veias.
Ao dizer isso e ver a dor nos olhos do ômega, Mew odiou-se por suas palavras duras. – Ele não deveria ter dito isso. – Mas o dano foi feito.
– Eu te odeio! Gulf gritou, tentando não chorar. Eu gostaria de não ter conhecido você, porque isso me daria certeza de que nunca teria me casado com você.
– Saber? O alfa gritou com raiva enquanto caminhava em direção ao arco e abriu.
Pela primeira vez, nós dois concordamos em algo. Depois de dizer isso, ele saiu do quarto batendo a porta com força.
Desesperado, encontrando-se sozinho naquele quarto estranho, Gulf soltou sua raiva e começou a chorar e gritar, xingando de tal forma que até o próprio Santos ficou assustado.
Win , alarmado com os gritos do irmão, correu para o lado dele para abraçá-lo, assustado ao vê-la assim. Ele o confortou e o abraçou até que Gulf se acalmasse.
– Sinto muito por tudo o que está acontecendo – disse Win , enxugando suas lágrimas com carinho.
Oh, Win! Foi horrível – sussurrou – me tratou como …como…
Win o beijou com carinho e disse:
– Escuta , Gulf, preciso te contar uma coisa. Bright esteve comigo.
O que aconteceu? Gulf perguntou, parando de chorar. Está bem? Ele fez alguma coisa com você?
Discuti com ele, mas já sei o que está acontecendo com eles. Eles sabem a verdade sobre Anthony. E o que é pior, eles sabem que inventamos aquela história absurda sobre os bandidos e não contamos a verdade.
Ao ouvir isso, Gulf entendeu tudo e se lembrou do dia em que Mew pediu para ele nunca mentir para ele.
– O quê? Gulf sussurrou, sentado no chão frio. Desde quando? E por que Anthony não nos contou?
Eles sabem disso desde o dia que Anthony chegou – disse Win, esclarecendo aquela terrível confusão. Eles ordenaram que ele ficasse quieto em troca de ajudá-lo a recuperar sua esposa. Juro que, quando Bright me contou, pensei em procurar Anthony e lhe dar uma lição.
Mas quando pensei sobre isso, senti que teria feito o mesmo para salvar você , Mild, Bright.
Eles consideraram este segredo uma grande falta de lealdade para com eles e para com seu clã – concordou Gulf.
Agora entendo por que ele me disse que esperava mais de mim e que eu o havia decepcionado.
O que não entendo é porque Mew está agindo assim – protestou Win – Bright estava furioso comigo, mas conseguimos conversar e esclarecer as coisas.
Win ! Gulf sussurrou, preciso ficar sozinho, minha cabeça dói demais. Você poderia me deixar sozinho enquanto tomo banho?
Ficará bem?
Com um sorriso ele assegurou-lhe: – Sim, não se preocupe.
– Tudo bem! – Win concordou, olhando para ele com tristeza. Vou deixar você sozinho um pouco, mas venho buscá-lo antes de descer para o salão.
Finalmente sozinho! Gulf pensou, fechando os olhos, enquanto se despia ele mergulhava na banheira.
Como ele não percebeu que aquela mentira estúpida era o que estava deixando Mew louco? – Eu deveria saber.
Mas, por mais que pensasse nisso, não havia solução – Assim como ele não desculpou sua falta de lealdade, Gulf não o perdoaria pelas coisas terríveis que o alfa disse, como o tratou e como o machucou.
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