O sol estava quase se pondo quando cruzei os portões da faculdade. Eu poderia descrever o céu naquele instante como uma pintura emotiva.
Pinceladas de um laranja tão vivo quanto sorrisos espontâneos, juntamente do amarelo vivo que representava o sol ardente. Fazia tanto calor que eu podia sentir gotículas de suor acumulando-se na curva de meu antebraço.
O fim de tarde parecia quase digno de um conto de fadas. Grandes árvores cercando a propriedade, além da cantoria suave dos pássaros que por ali passavam.
Suspirei, meio cansada, enquanto caminhava para fora daquele lugar. Havia gostado da dinâmica da faculdade, porém era inegável o quão puxados eram os trabalhos requeridos.
Àquela altura todos os alunos iam embora para suas casas, chegando a ser uma multidão confusa e barulhenta. O som de bicicletas correndo pelas ruas, carros buzinando e alunos conversando e rindo ressoava pelo local, fazendo com que o meu anseio de chegar em casa só aumentasse cada vez mais.
Fiquei pensando a tarde toda no que Liya havia comentado. No tal Baile de Máscaras.
Quando saímos da sala para ir ao refeitório eu só conseguia ouvir vários alunos comentando sobre o evento, empolgados com preparativos, convites e festejos.
Aparentemente, o baile aconteceria dali dois dias. Bem na quarta feira, às 23 horas.
Eu não entendi a princípio como funcionava, mas numa conversa com Liya descobri que o baile em si não era organizado pela faculdade, mas sim por um grupo de indivíduos da própria cidade.
Ou seja, qualquer pessoa podia comparecer. Eles não iriam barrar ou algo do tipo.
Isso me preocupou de imediato, mesmo sabendo que não iria a esse baile de qualquer forma. Liya passou todas as horas do dia tentando me convencer de que essa seria uma ótima oportunidade para conhecer pessoas novas.
Mas eu neguei. Não tinha desejo algum por festas, ainda mais depois de perder meu pai e viver aflita pensando no assassinato dele.
Além do mais, eu não tinha acompanhante nem nada. Estava tudo muito em cima da hora, e não queria me preocupar com outras coisas além do importante.
Ir ao baile estava fora de questão.
As ruas de Oakland estavam abarrotadas de neve por todo canto. O clima ali esfriou ainda mais dentre os últimos três dias, e eu estremeci ao sentir o vento gelado beijar minha pele agasalhada.
Eu estava quase chegando no hotel em que Julie havia nos hospedado, quando parei subitamente em frente a uma construção alta e que ocupava pelo menos um quarteirão inteiro.
Minha batidas cardíacas aceleraram um pouco, saindo de ritmo quando ergui o rosto e vislumbrei o lugar.
Divino era uma palavra que fazia pouco jus ao prédio que eu encarava naquele momento.
Com o que deviam ser quatro andares, a construção era toda feita de mármore branco. Um lance de escadas na frente levava até duas grandes portas - também brancas.
Estátuas cor creme estavam expostas um pouco mais ao lado. Mas não era qualquer estátua. Eram representações de pessoaspatinando, fazendo manobras que eu tão bem conhecia.
Senti um aperto em meu peito ao ver isso, a nostalgia e a saudade agarrando minha mão. Abri a boca, meio surpresa, meio sem reação.
Mesmo atrás dos portões que cercavam a propriedade, pude ver que aquele lugar já havia fechado há um bom tempo.
Era uma academia de patinação artística. No gelo.
Engoli em seco, ignorando como apenas ver isso bastou para me desnortear.
Respirei fundo outra vez, e então me afastei da academia aos poucos. O ar foi voltando para meus pulmões, mas foi difícil ignorar também o vazio que se instalou ali dentro.
Infelizmente, a patinação teria que ficar em terceiro plano. Primeiro, eu tinha que descobrir quem matou meu pai. E então eu faria a justiça acontecer.
Se jogar na cama foi a primeira coisa que fiz quando cheguei no quarto. Estava cansada, entretanto não demorou muito para meus olhos se abrirem de novo e eu resmungar.
Meu celular estava vibrando dentro de algum lugar de minha bolsa.
Puxei ele de lá, me ajeitando em uma posição confortável em minha cama.
Alguém estava ligando para mim.
E era de um número desconhecido.
Confusa, e sem saber o que fazer, atendi a chamada.
Antes mesmo que pudesse falar alguma coisa, um som alto de música invadiu meus ouvidos, e logo em seguida uma respiração pesada.
Grave e calculada, a voz do anônimo ressoou, fazendo com que eu congelasse.
- Não saia de sua casa agora. Não saia daí por nada, Aurora.
- O que? Como assim? - perguntei, preocupada no mesmo instante - O que está acontecendo?
- Apenas... Apenas não saia - A voz dele murmurou, e logo deduzi que ele estava em algum lugar agitado.
- Você está me preocupando. Diga logo de uma vez o que está acontecendo, droga.
- Acho que o assassino pode estar em Oakland. - Suspira - Ou algo perto disso.
Tentei puxar o ar, mas ele de repente parou de funcionar. Eu só conseguia ouvir meu próprio coração batendo, forte e insistente. O medo voltando a me atormentar.
- Eu consegui reunir informações. Parece que em Oakland tem uma celebração. Um baile de máscaras. - Mais ruído - Ele vai estar lá.
- Como tem certeza disso? Onde você está agora? - perguntei, me sentando ereta. Me esforçava para fazer meus pulmões continuarem a funcionar.
- O baile - Pausa. - O assassino é quem fez o baile. Mas é mais do que parece. Esse baile... - Mais ruídos, dessa vez ainda mais fortes. - Aurora, eles podem fazer o... - A ligação cai, de forma inesperada e conflitante. Um silêncio ensurdecedor se instala, pairando sobre o cômodo assim como a paranóia.
Um barulho de pássaros cantando alto me despertou do choque momentâneo.
Me aproximei de minha janela, sem entender ainda o que estava acontecendo.
A noite lá fora era coberta de neve e névoa, como de costume.
Mas uma coisa não estava ali, como de costume.
Estremeci quando vi um homem encapuzado falando com alguém no celular, e então simplesmente entrar na rua à esquerda.
A rua que dava para o cemitério.
Oiie amores, o que estão achando da leitura até agora?
Nos próximos capítulos vai acontecer o baile, estão ansiosos para conhecer seis loiros?
Me perdoem a demora pra atualizar, tô em semana de prova, então tá uma correria. Mas provavelmente sai capítulo novo sábado ou domingo.