Ei, obrigada por todos que leem essa história. Espero que gostem desse capítulo, VOTEM E COMENTEM! Isso me ajuda a continuar escrevendo.
Boa leitura.
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Quando Luiza acordou naquela manhã de quarta-feira, seu pai já tinha saído para trabalhar no escritório de advocacia. Ele era contador, os números sempre foram a sua linguagem favorita e por isso, no começo da carreira da filha, Alberto tornou-se estatístico de um time mineiro que Luiza participou na base. Teve que aprender as regras do esporte, além de estudar a matemática de desempenho de cada pequena atleta enquanto ainda trabalhava para sustentar as filhas. Na primeira peneira no Minas Tênis Clube que Luiza fez, o homem tinha uma planilha organizada com todas as porcentagens de aproveitamento separadas por fundamentos e aquilo impressionou a comissão técnica. Luiza passou na primeira oportunidade e Alberto abandonou a breve carreira de estatístico, já que o clube alviceleste tinha uma gama de profissionais que cuidariam da carreira de sua filha.
Passados quase seis meses da lesão, Alberto começava a retomar a rotina que tinha, mas Luiza sabia que o homem pararia a própria vida novamente para cuidar dela se fosse preciso. A ponteira suspirou, demorando mais um pouco na cama.
Era uma quarta de outubro e a temporada começaria em algumas horas, mas não para ela.
Depois de tomar um café da manhã rápido, Luiza saiu apressada de casa. Pediu um carro por aplicativo até o consultório da doutora Paula, sua psicóloga. Ela não sentia que tinham avançado muito, mas evitava faltar as consultas e aprendeu a suportar o ambiente. Paula era paciente como uma boa profissional e, mesmo com as poucas palavras da atleta, conseguia decifrar Luiza sessão por sessão, como se montasse um quebra-cabeça de muitas peças com a história dela. Descobriu que a perda da mãe deixara um vazio na vida da atleta que Luiza não se deu conta, pois acreditava que tinha preenchido com o vôlei. Uma quase desconhecida parecia saber mais sobre ela do que a própria e isso era assustador.
Não demorou para chegar na rua da Bahia de mototáxi. O motorista tinha uma direção ofensiva demais para as ruas tranquilas de Belo Horizonte, mas Luiza estava com pressa e preferiu não pedir que desacelerasse. Entregou o capacete, sorriu em agradecimento antes de atravessar a rua para a outra calçada. Assim que a viu se aproximar, Bianca ajustou a alça da mochila no ombro e subiu no ônibus parado em frente ao Minas Tênis Clube. Elas partiriam para o primeiro jogo da temporada pelo Campeonato Mineiro Walewska Oliveira de Vôlei contra o Mackenzie Companhia do Terno, o time mineiro vizinho de alguns quarteirões.
— Já queimaram a bandeira branca?- Kisy perguntou, seguindo os olhares de Luiza que procuravam Bianca pelas janelas do ônibus.
— Uai, não teve bandeira branca nenhuma.- desconversou sobre a tentativa de trégua entre elas, dando de ombros. Não queria admitir, mas ser ignorava por Bianca era incômodo, causava uma sensação de estranheza procurar os olhos azuis e não encontrar.— A gente foi tomar um sorvete e ela ficou brava com alguma coisa que eu falei.
Kisy arqueou uma das sobrancelhas. Era esperta e conhecia Luiza há anos, por isso sabia do potencial da amiga de provocar danos quando estava vulnerável.
— Tenta pegar leve com a menina, Lu. Eu sei que não deve estar sendo fácil pra você, mas a temporada vai começar e precisamos dela por enquanto.
A ponteira inclinou a cabeça para o lado, observando o rosto de uma de suas melhores amigas e ponderou mentalmente o conselho.
— Eu 'tô tranquila, Kisy.- ela mentiu, cruzando os braços abaixo dos seios. O uniforme da comissão técnica estava maior em seu corpo por ter sido emprestado por um dos membros, já que Luiza não tinha confirmado se iria ao jogo e decidiu de última hora. Ela suspirou antes de continuar.— Nem queria me aproximar dela.
— Ela se importa.- a oposta disse pensativa, fitando a entrada do ônibus, sem olhar Luiza.— Não sei o porquê, nem como ela continua tentando depois de só ganhar esporro e toco seu.
Não era preciso ouvir todas as conversas ou estar na presença das duas ponteiras para compreender a relação delas. Luiza era impulsiva, voraz, tão tempestuosa quanto uma chuva torrencial de verão. Já Bianca tinha uma serenidade de espírito, uma bonança no jeito que encarava a vida. Para qualquer um que olhasse de fora veria que eram perfeitamente opostas.
— Talvez eu tenha pegado pesado com ela.- confessou num murmuro e Kisy só escutou porque estava ao seu lado.
— Provocaçãozinha ou pesado mesmo?- a oposta assistia a comissão técnica carregar o ônibus com todos os equipamentos de aquecimento e fisioterapia. Não queria pressionar Luiza a contar o que não se sentia confortável ainda, por isso evitava olhá-la, mesmo estando curiosa para saber de tudo.
— Pesado de verdade.- respondeu, baixinho, envergonhada.
Na quinta, Luiza achou que Bianca tinha exagerado em ficar chateada pelo o que ela falou. Na sexta, tentou se aproximar depois do treino, mas a carioca já tinha ido embora. No sábado, elas trocaram olhares intensos na fisioterapia, mas nenhuma das duas disse nada. No domingo, não se viram e Martins percebeu que tinha errado. Segunda e terça, Bianca ignorou Luiza e seus olhos cor de âmbar.
— Assim não tem como te defender, irmã.- lamentou Kisy, oferecendo seu olhar generoso e um afago no ombro da mais baixa.— Ela já entrou, vai lá e tenta conversar de boa, igual gente.
As palavras de Kisy suavizaram o clima pesado e Luiza empurrou o seu ombro, respondendo a provocação da mais velha. A paulista era sua confidente de anos, juntas passaram por problemas profissionais e pessoais, como quando a oposta sofreu ataques racistas em suas redes sociais e a ponteira ficou com o seu celular e encaminhou todos os comentários para os advogados do clube ou quando Luiza teve um ataque de pânico no dia do aniversário da morte de sua mãe e Kisy passou a noite fazendo cafuné no seu cabelo. Junto com Rebeca e Júlia, as quatro eram o suporte uma da outra, o lugar seguro para descansar quando o mundo era cruel demais.
Inconscientemente, Luiza demorou a entrar no ônibus, esperou todas as outras jogadoras se acomodarem nas poltronas, com exceção de Macris e Gattaz, que haviam sido as últimas a chegarem na rua da Bahia. Forjou uma desculpa qualquer para justificar a vagareza e não admitir que estava nervosa, que temia a reação de Bianca depois de dias sem trocarem uma única palavra. Cruzou um olhar com Kisy enquanto caminhava até as últimas fileiras do veículo e leu os lábios da oposta silabando "vai logo" quando passou por ela.
— Posso sentar aqui?
A pergunta saiu baixa e rápida demais, escancarando a vergonha que sentia de tê-la feita. Bianca tremeu em surpresa e espanto quando seus olhos pousaram em Luiza, não sabia se ela iria ao jogo, menos ainda que pediria para sentar ao seu lado.
— Por que?- devolveu, ajeitando a postura ao descolar os ombros do encosto do banco.
— Quero conversar.- falou, depois de alguns segundos em silêncio.
A tensão era tangível entre elas. Ter as orbes azuis queimando o rosto alvo era meio intimidante - e até ameaçador -, parecia que estava sendo decifrada, despida. Luiza cruzou os braços na altura dos seios, apoiando o peso do corpo em uma das pernas, buscando uma posição menos desconfortável para estar.
— Não sei se quero papo contigo, não.- ela desviou o olhar, passando a encarar o estofado do assento da frente.
Bianca tinha mágoa na voz, muito diferente das outras vezes que Luiza também tinha falado ou feito o que não deveria e ela continuava sendo gentil com a mais nova. Era diferente dessa vez.
— Vim em paz.- tentou de novo, lançando os braços para o ar, desfazendo a postura impassível e atraindo a atenção da carioca novamente.— 'Cê vai entrar em quadra daqui a pouco, não pode entrar brigada comigo.
— Por que?- Bianca perguntou apenas para saber onde ela chegaria com aquela conversa.
— Porque não, uai.- o argumento sem justificativa racional fez a outra ponteira rir pelo nariz, incrédula. Luiza abaixou os ombros e olhou para o teto do ônibus, tão irritada com as palavras que estavam presas na sua mente e não desciam para os lábios que se sentia aflita.— O time tem que estar unido.
— Não importa, né?- Bianca abriu um sorriso de lado, mas não era o mesmo sorriso que Luiza gostava de ver quando aparecia. Não que não fosse bonito, entretanto carregava vislumbres de deboche e tristeza.— A minha família pode me ajudar na repercussão negativa depois do jogo se eu jogar mal.
— Bianca...- e mais uma vez ela tentou, sendo interrompida em seguida.
— Me deixa sozinha, Luiza.- o pedido foi feito olhando nos olhos dela, nas íris cor de mel que a intrigavam desde o primeiro dia que chegou ao clube mineiro. Ela não cederia mais uma vez, não era justo que aceitasse ser atacada rotineiramente pela mais nova e continuasse fingindo que não machucava.— Preciso me concentrar pro jogo.
[...]
Amarelo e preto. Gritos na arquibancada. Bolas flutuando. Câmeras. Hino Nacional. Olhos cor de mel.
Bianca sentiu o peito comprimir e o ar faltar quando observou os torcedores que começavam a lotar o ginásio do Mackenzie. Normalmente, controlava a ansiedade com alguma música que gostava e com exercícios de respiração, mas nada parecia acalmar o seu corpo. Celulares fotografavam e filmavam seus movimentos a cada momento enquanto aquecia, era notório a mobilização das pessoas pelo melhor ângulo da neta do Bernardinho e nova promessa do Minas Tênis Clube.
— O Mackenzie Companhia do Terno recebe, pela primeira rodada do Campeonato Mineiro Walewska Oliveira temporada 2024, o time do Gerdau Minas.- o narrador in loco anunciou para os presentes.
Os gritos intensificam e o nervosismo de Bianca também. Ela limpou o suor das mãos no pano do short-saia, depois esfregou os manguitos brancos que cobriam os braços parcialmente nas laterais dos quadris em um dos seus rituais nos jogos. Um apito soou indicando o fim do aquecimento e as atletas saíram de quadra. As jogadoras do Minas fizeram uma roda enquanto a arbitragem era nomeada, trocaram um abraço coletivo antes do narrador começar a apresentar as escalações dos dois times, iniciando pelo visitante.
— [...] Kisy, Bianca Rezende...
A capitã Carol Gattaz deu um empurrãozinho no ombro de Bianca, trazendo-a para a realidade. A carioca puxou todo o ar que seus pulmões poderiam armazenar até inflarem o suficiente para ser incômodo e soltou consciente, com lentidão. Quando levantou a cabeça para entrar em quadra, no seu campo de visão a alguns metros de distância, seus olhos encontraram os olhos de Luiza por um instante.
— Bom jogo.- silabou para que a ponteira lesse os seus lábios, em seguida abriu o sorriso mais bonito que Bianca já tinha visto.
O primeiro apito reverberou, dando início à temporada.
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COMO ESTAMOS?
Odeiam menos a Luiza? ((sou coração molinho com ela, qualquer coisa já tô "tá tudo bem, vida, você não quis errar. o ser humano é falho mesmo"
Apostas de quem vai vencer o Campeonato Mineiro Walewska Oliveira? (não aceitaremos palpites do time de Uberlândia
Não ia postar hoje, mas a lista da VNL me deixou animada. O que acharam dos nomes?
SE O MINAS FOR CAMPEÃO DA SUPERLIGA DOMINGO, FAÇO UMA MINIMARATONA COM UNS 2 CAPÍTULOS DE UMA VEZ!!!!!
Até logo.