─ Minha filha... está viva? ─ Ela não parecia duvidar que eu falava a verdade, mas era como se a possibilidade de ver a filha a deixasse mais bamba. ─ Então era uma menina.
─ Ela cresceu nesse mundo, sem saber da origem e nem dos próprios poderes. Ainda não ficou claro como ela ficou sabendo sobre você e sobre magia, mas eu não estou me importando com esse passado.
─ Então ela sabe que foi você quem a jogou no portal. ─ Ela considerou os fatos por um momento, ainda parada no lugar. ─ O coração dela foi corrompido?
─ Você quer que eu arranque para tirarmos a dúvida? ─ Sorrio para ela, que me olhou como se eu estivesse fazendo isso no momento. ─ Eu não sei, mas acho que não. Ela já fez bastante besteira, mas não acho que tenha chegado ao extremo.
─ Se ela veio se vingar de você, por que acha que eu te ajudaria a impedi-la?
─ Eu não acho que vá me ajudar, Mal, mas eu acredito que podemos colocar uma pedra no passado para tentar mudar as coisas entre nós no presente. Só... pense sobre isso. Eu sou a única irmã que você tem, somos a última parte da família uma da outra.
─ Não se esqueça de Aurora. Ela tem o trono que te pertence.
─ Eu não me importo com Aurora, ela não significa nada para mim. E eu nunca quis trono ou reino nenhum, Mal. Você estava obcecada com isso até decidir engravidar e roubar meus poderes.
─ E eu suponho que os queira de volta.
─ Se fosse tão simples pegar, você não teria só pego uma pequena parcela.
─ Foi o suficiente para reaver meus poderes. Se eu pegasse mais, você seria enfraquecida, e a julgar pelo seu crescimento precoce, só te tornaria um peso para carregar.
─ Você esperava que eu me fortalecesse para pegar o resto dos meus poderes para então me descartar?
─ Os anos passaram e você ainda não entendeu, não é? ─ Ela suspirou e avistou o livro de capa vermelha sobre a mesa, do qual pegou, lendo as próprias anotações que fez sobre mim; meu crescimento, meu poder, habilidades, temperamento, até a forma como me comunicava com ela e Mulan. ─ Você é diferente de mim. Nossa mãe queria te ter, e teria te criado longe de tudo se não fosse Stefan. Idiota demais para aceitar que só serviu como semente para procriar e nada mais. Mas nossa mãe já temia por isso, então me deixou essa herança, caso ela fosse morta. ─ Quando me olhou, havia aquela intensidade dentro, um misto de informações. ─ Eu sabia que teria que cuidar de você se te pegasse do reino de Stefan, mas sabemos quão bem isso aconteceu.
─ Você me manteve viva, longe de você.
─ Não adiantou muito tentar não te influenciar, não é mesmo? Achei que Mulan iria te inspirar, mas foi somente outra decepção.
─ Inspirar para ser o quê? Ela era uma guerreira sem poder nenhum. Você me deixou com ela e me fez deixar de aprender magia.
─ Mulan só tinha uma função, e falhou quando te deu as costas.
─ Ela tentou me colocar contra você, mas na verdade só me fez entender o que você queria de mim.
─ Ela deveria te colocar contra mim, mas também deveria te levar para longe quando isso acontecesse. ─ Para isso senti um enjoo subir até a garganta, ameaçando colocar para fora tudo o que comi no almoço. ─ Mas então o erro foi meu, acreditar que ela seria capaz de manter você longe das trevas. Eu deveria ter apagado suas memórias antes.
─ Era o que você faria com a sua filha? ─ Busquei questionar. ─ Ela não iria crescer rápido como eu, você teria um bebê normal para cuidar o dia inteiro. O que faria, então? Iria terceirizar os cuidados?
─ Você estaria lá, não é? Você teria o coração puro para ela se espelhar.
─ Ela não é um bebê agora, e definitivamente não está buscando algo bom para se espelhar. O que pretende fazer? Porque apagar as memórias dela não vai funcionar, estamos vendo que não dura a vida inteira e nem previne de ceder às trevas. ─ Levantei devagar, pois me sentia com tontura de repente; o que estava acontecendo? ─ Se quer ajudar sua filha, terá que mudar.
─ Mudar? Que tipo de mudança?
─ Não estou dizendo para você se tornar boa e que tudo ficará bem. Mas se realmente quer a sua filha longe do caminho que você seguiu, terá que você mesma garantir que isso aconteça.
─ O que acontecerá se ela ceder às trevas?
─ Você lembra onde passou os últimos anos, sabe quem deu fim na sua vida, então entende melhor do que eu o que acontece com vilões. É o que você quer para ela?
─ É por isso que você trouxe outras pessoas? Se eu me negar, voltarei a ser morta?
─ Eu não te trouxe de volta para te matar. ─ Fechei meus olhos por um instante, dessa vez sentindo o embrulho no estômago crescer.
─ O que foi? Você está pálida. Não está doente, está? Você nunca ficou. ─ Suas mãos estavam me segurando no instante seguinte.
─ Eu acho que vou...
Meu corpo se inclinou e eu senti o líquido subir minha garganta, escapando pela boca e direto para o chão. Confesso que não me senti aliviada depois que tudo saiu, só me senti trêmula e envergonhada. Malévola conjurou um lenço e usou para limpar minha boca, fazendo-me sentar. Red também apareceu do meu lado, ignorando qualquer sinal de perigo por estar perto de Malévola. Ela colocou um copo com água em minhas mãos, sentando-se no braço da poltrona e usando a proximidade para arrumar meus cabelos.
─ Eu te disse. Não sozinha. ─ Ela me assegurou, fazendo-me sentir melhor por a ter ali comigo.
─ E por que essa mulher tem o seu poder? ─ Malévola questionou, seus olhos demonstrando desconfiança ao mirar Red. ─ Você roubou?
─ Eu não preciso roubar nada. ─ Red falou na defensiva, então segurei sua mão para a acalmar.
─ Eu dei meu poder para ela. ─ Justifiquei.
─ Útil para uma guarda-costas. ─ Mal comentou, mais por provocação do que outra coisa, o que fez Red se tensionar, pronta para atacar.
─ Não faça isso. ─ O pedido era para ambas. ─ Eu sei que meu poder fica mais intenso quando estou com as emoções mexidas, mas também ficam imprevisíveis. A última coisa que você quer, Mal, é testar meu controle, ou minha paciência.
─ Não estou testando nada. Só não estou entendendo por qual motivo você se aliou com Regina e a mulher que me matou. ─ Seus olhos vagaram para a entrada da casa, mas não se moveu. ─ Por que essa mulher recebeu seus poderes?
─ Ela é mãe do filho que estou esperando.
─ Você está grávida? ─ Seus olhos novamente me fitaram como se me enxergasse pela primeira vez. ─ Você está esperando um filho e me trouxe de volta, sabendo da visão sobre sua morte? Depois que deixei claro o que faria contigo?
─ Mal, eu fiz várias coisas ruins no outro mundo e nesse também, mas quando adotei uma filha, eu tentei ser diferente, escolher coisas diferentes para ser o melhor para ela. E no fim, eu vi que fazendo isso, também conseguia coisas boas para mim.
─ Então é o seu segundo filho... ─ Ela estava pensando, talvez a mesma coisa que eu pensei antes, ao saber da visão de Rumple, anos atrás. ─ Você deveria estar morta, mas está aqui.
─ Ainda posso morrer, só não por causa de uma visão. Acho que o que realmente quero saber, Mal, é se podemos agir juntas para impedir que sua filha faça as mesmas escolhas erradas que fizemos e aprenda do jeito mais difícil do que precisa para ser feliz.
─ Você quer ajudar minha filha?
─ Eu não quero machucá-la, mas farei isso se ela ameaçar as pessoas que me importo de novo.
─ Você realmente acha que posso mudar?
─ Você não seria a primeira vilã a deixar de seguir pelas trevas. Não será fácil, mas você não precisa tentar sozinha.
─ E o que acontece se eu falhar?
─ Nós tentamos de novo, Mal. Não espero que consiga tudo de uma vez, eu só preciso que tente e que persista.
─ Sam... Eu sei que realmente acredita nisso, mas eu não posso te prometer nada. Não agora, e não antes de ver minha filha.
─ Tudo bem, eu posso fazer isso acontecer. ─ Pareceu ser a deixa para a rainha se aproximar com a Salvadora.
─ Não se incomode se tomarmos uma precaução antes. ─ Regina moveu a mão, fazendo a pulseira se encaixar no pulso de Mal.
─ Por isso você trouxe reforços. ─ Ela manteve os olhos em mim, mas eu não soube dizer se estava aborrecida ou se entendia. ─ Para fazer o que não tem coragem.
─ Ela tem reforço para não errar no próprio julgamento. E vamos aos fatos, qualquer pessoa que te ver caminhando na rua vai criar um alarde desnecessário, e eu decido o que acontece na minha cidade.
─ Como me deixar trancafiada por todos aqueles anos? ─ Havia rancor dessa vez, mas acho que todos esperavam por isso.
─ Você guardou a maldição, sabia os efeitos que teria.
─ Eu tentei te impedir de lançar a maldição, e foi isso que recebi em troca da nossa amizade.
─ Será que podemos deixar as brigas e a visita até a prisão para amanhã? ─ Red falou. ─ Sam ainda não está bem, se não perceberam.
─ Eu percebi que vou ter que jogar meu tapete fora. ─ Ela me lançou um olhar leve, apesar da reclamação. ─ Você deveria marcar uma consulta. Não é porque não foi feito da maneira convencional, que deva pular essa etapa e deixar de se cuidar.
─ Eu farei isso. ─ Afirmei. ─ Só não tive realmente tempo para processar os fatos. E como estamos sem teto nesse momento, você pode deixar Mal passar a noite aqui enquanto Red e eu buscamos um canto para dormir?
─ Na verdade, Úrsula e Cruela deixaram a casa em que estavam morando abandonada. ─ Emma pontuou. ─ Se quiserem, é de vocês. Fica perto da praia, acho que elas queriam uma distância enquanto tramavam o grande ato.
─ Elas também estão aqui? ─ Malévola questionou.
─ Estavam, mas fugiram de você. ─ Aleguei. ─ Depois que deixaram sua filha num orfanato, a última coisa que queriam, era lidar com a fúria de mãe e filha.
─ Aquelas traidoras...
─ Vocês se importam de a manter aqui? ─ Red buscou manter o foco, provavelmente preocupada com a saúde do nosso bebê.
─ De qualquer jeito nenhuma de vocês pode lançar um feitiço de sangue para selar a porta, então é mais seguro que fique aqui. ─ A rainha falava, então trocou um olhar com Mal, que estava contrariada com o fato de que seria uma prisioneira naquela noite.
─ Não se preocupe, Mal, de manhã eu te busco para te levar até Lilith, sua filha. ─ Assegurei. ─ Tente descansar e pensar nos próximos passos, e lembre que podíamos ter tentado matar uma a outra, mas não fizemos isso. Se tudo o que me disse sobre me manter longe das trevas era real, prove isso e não tente nada estúpido.
─ Você espera que eu me deite e durma na casa da pessoa que me prendeu por décadas? ─ Ela estava frustrada.
─ Não se preocupe, Regina só fará algo se você fizer. E você está perfeitamente segura no território da Salvadora.
Segui para fora ao lado de Red, mas logo fomos paradas por Emma, que nos seguiu até lá. Estendeu uma chave para nós, que a loba pegou enquanto eu analisava a loira.
─ É da casa. O único problema é que elas não eram fãs de pagarem as contas, então a luz e a água foram cortadas há alguns dias.
─ Tudo bem, acho que posso dar um jeito nisso. ─ Considerei por alguns instantes enquanto digitava no celular. ─ Conheço um funcionário na prefeitura.
─ O que pretende fazer? ─ Red me olhou, mas logo mirou a tela do meu aparelho, curiosa.
─ Pronto, transferi o dinheiro das contas, ele vai acionar os contatos para religar. Pode pedir para Regina oferecer um aumento para ele, por gentileza? ─ Olhei para Emma com um sorriso de lado. ─ É o funcionário do mês por tanta dedicação.
─ Eu a deixarei saber. ─ Ela se mexeu no lugar, preparando-se para falar o que realmente a levou a vir atrás de nós. ─ E aliás, queria agradecer por mais cedo. Você não precisava inventar a história para a minha mãe, mas eu agradeço que tenha feito. Nós pretendemos falar com eles, mas...
─ Não no meio da confusão. ─ Red quem deduziu o restante.
─ Eu não inventei a história toda, ou inventei? ─ Considerei por um momento. ─ Não estamos quites sobre a sua explosão naquele dia?
─ Sim, estamos. Acho que nunca realmente me desculpei.
─ Você não precisa. Não mudará nada, está no passado para mim. Só... tente não matar minha irmã de novo. Ela vai aderir ao grupo de reabilitação dos vilões nem tão anônimos assim, só precisa de tempo.
─ É bom que tenha fé na mudança dela. Talvez seja do que ela precise para dar o primeiro passo.
─ É o que veremos.
─ Nos encontramos de manhã na delegacia então. ─ Red finalizou a conversa de maneira suave, segurando minha mão em seguida.
Emma nos desejou boa noite e nós caminhamos pela calçada. Usei o celular para fazer o pedido do nosso jantar num restaurante, então só passamos lá no caminho para retirar e levar para a casa que passaríamos a noite. Eu não esperava muito do lugar por se tratar de Úrsula e Cruela, mas era uma casa decente, com uma boa vista da praia e a poucos metros dela, espaçosa e que poderia ter um bom potencial, se organizado de outra maneira. Ainda havia muito lixo espalhado pelos cômodos, além da sujeira nos móveis e na louça, com o terrível ar de mofo encrustado nas paredes. Red não me deixou arrumar nada, mandou que eu fosse tomar um banho demorado enquanto ela treinava a magia que recebeu para organizar tudo.
─ É só imaginar o que você quer que aconteça, então deixar seu poder tornar isso realidade. ─ Instrui. ─ Lembre que toda mágica tem um preço, e você se sentirá terrivelmente cansada pela falta de prática. Então não tente limpar tudo numa noite só.
Quando subi no andar superior, também encontrei tudo revirado, como se um grupo de saqueadores tivesse passado por ali. Arrumei somente o necessário antes de encontrar o banheiro, contente por ver uma banheira ali. Deixei que fosse enchendo enquanto enviava mensagem para Jackie a fim de a alertar sobre a volta de Malévola, mandei outra para Zelena, mas somente para pedir que redobrasse o cuidado com a garota.
Confesso que a água quente só fazia efeito se eu aumentasse mais a sua temperatura, afinal, minha pele se tornou resistente a qualquer tipo de calor, sem distinção. Ainda assim, era relaxante ficar sob a água, como se o líquido fosse capaz de dissolver minhas tensões e os nós sobre os ombros. A melhor parte foi quando Red se juntou a mim e começou a fazer massagem, eu poderia facilmente dormir diante daquele contato, tão atencioso da parte dela.
Nós encontramos roupas que pareciam limpas o bastante para vestir, então descemos para comer. Essa parte foi mais complicada, já que eu ainda me sentia enjoada, mas Red manejou de me fazer comer uma porção, acho que nenhuma de nós queria que eu acabasse enfraquecendo.
Quando conseguimos arrumar um dos quartos para que ficasse bom o bastante para podermos dormir, ficamos um tempo rolando na cama em busca de sono, até Red se encaixar nas minhas costas e sua mão deslizar para ficar sobre o meu coração. Somente assim eu me senti segura e confortável o bastante para fechar os olhos e deixar que o sono viesse.
─ Acorda, raio de sol. ─ Red me chamou pela manhã, oferecendo beijos no meu rosto, até que a puxei para um abraço e escondi o rosto no seu pescoço, fazendo-a rir. ─ Ei, não queria te levantar cedo, ainda mais depois da noite de pesadelos que teve, mas Emma já me enviou mensagem, então temos que ir em breve.
─ Eu não quero ir, elas não podem fazer isso sozinhas?
─ Você quer Emma resolvendo um problema que te envolve?
─ Não, mas também queria ficar na cama contigo. ─ Beijei sua pele, recebendo seu carinho entre meus cabelos.
─ Eu também não iria querer ver a cara da minha irmã logo cedo depois de tantos anos.
─ Hm... Você nunca me disse o que achou de como as coisas se desenrolaram ontem, ou se acha que tomei a decisão certa.
─ Eu não gosto da ideia de Malévola na cidade, ainda mais com Aurora no mesmo lugar. ─ Afastei o rosto para a olhar, deixando que continuasse. ─ Ainda assim, ela é a sua irmã, e Lilith sua sobrinha. Não acho que vão virar a família feliz, mas espero que não tentem te machucar de novo.
─ Então tudo bem olhar para a cara das duas logo cedo?
─ Eu não te deixaria sozinha por nada. ─ Para isso sorrio, contente. ─ Você só... pareceu tão diferente falando com ela ontem.
─ De que forma?
─ Com medo, Sam, e eu nunca te vi com medo. Sua voz mudou, você parecia hesitar. ─ Ela segurou meu rosto, mantendo meus olhos nos seus. ─ Mesmo agora, eu posso sentir que está com receio.
─ Ela prometeu me matar se a visse de novo, Red, claro que estava com medo de que ela fizesse isso sem hesitar.
─ Não é só isso, é? Você já sabia da visão de Gold sobre a sua morte, mesmo que não soubesse os termos, mas você não ficou com medo.
─ É diferente agora... Quando Gold falou da visão, eu não tinha nada a perder. Jackie estava feliz com a família biológica, Regina estava no rumo de se acertar com Emma, e você... ah, você tinha opções melhores. Se eu morresse, não estava correndo o risco de perder alguma coisa, alguém, mas agora eu posso perder tudo. E eu não paro de pensar que se agir por impulsividade, colocarei você em risco, ou a cidade.
─ É muita coisa para se preocupar, ou para carregar a responsabilidade sozinha. ─ Ela respirou fundo, mantendo aqueles olhos em mim, com intensidade. ─ Nossa felicidade pode parecer algo frágil, mas é por isso que lutamos com mais força, para proteger o que temos. O que amamos. E você não faz isso sozinha.
─ Você acha infantil eu não querer enfrentar elas?
─ Não, porque elas representam perigo, então é prudente que você tenha medo. ─ Sua testa apoiou na minha e ela fez uma pausa maior, nós duas respirando o mesmo ar. ─ Você só não precisa hesitar para agir e se impor, não deixe nenhuma delas entrar dentro da sua cabeça e dizer o que você deve ou não fazer.
─ Tudo bem, eu vou tentar.
Ela não pareceu contente, mas se ia dizer algo, foi interrompida com o som do toque do próprio celular. Eu me afastei para usar o banheiro e deixei que ela atendesse, infelizmente tendo mais uma crise de vômito que me deixou ainda mais enjoada para tomar o café da manhã que Red tinha preparado. Deixei que ela comesse enquanto a esperava do lado de fora, incapaz até mesmo de sentir o cheiro.
─ Oi, mãe! ─ Para a minha surpresa, Jackie vinha andando na calçada ao lado de Zelena e Robin, que segurava a mão do filho mais novo.
─ Ei, querida. ─ Logo me levantei para a abraçar, verificando se estava tudo bem com ela antes de olhar para os demais. ─ Bom dia. Não estava esperando visitas tão cedo. Como sabiam que eu estava aqui?
─ Jackie não parava de perguntar quando poderia ver como você estava, então só tive o trabalho de perguntar para Regina onde você passou a noite. ─ Zelena justificou. ─ Aproveitamos e encontramos um lugar para tomar o café.
─ Sinal de que devemos apressar as obras para reabrir o Granny's, não quero começar a perder clientes.
─ Se precisar de ajuda nessa parte, estou à disposição. ─ Robin se candidatou, num sorriso amigável.
─ Acho que precisaremos de toda a ajuda disponível.
─ Então, você está mesmo bem? ─ Jackie questionou. ─ Eu duvidei que você diria por mensagem se Malévola tentou te matar.
─ E eu disse que se fosse o caso, você não teria condições de pegar o celular para mandar mensagem, avisando que está bem. ─ Zelena falou em seguida, recebendo um olhar mal-humorado da filha.
─ Ela tem razão, de certa forma. ─ Admito. ─ Malévola só vai me dar uma resposta depois que conversar com Lilith. As duas estão com o bracelete de conter os poderes, mas ainda são perigosas, então tentem tomar cuidado.
─ Olá para todos, bom dia Jackie. ─ Red saía da casa, não tão simpática e receptiva como costumava ser, mas ninguém pareceu notar; ela parou do meu lado e me entregou uma xícara de chá. ─ Bebe, é bom para os enjoos.
─ Você tem tido enjoos? ─ Zelena ergueu a sobrancelha para mim, acabei suspirando, pois ocultar dela também seria ocultar de Jackie sobre a gravidez. ─ Eu tenho ótimas receitas, se quiser. ─ Ela passou a mão na barriga, sinalizando a própria gravidez.
─ Você está doente? ─ Jackie questionou. ─ Ou...? ─ Seus olhos vagaram entre Red e eu, cheios de expectativas.
─ Parece que vou botar um ovo antes do seu parto, Zelena. ─ Digo com um humor mais leve, o que fez a bruxa arregalar os olhos. ─ É, meio que estou grávida.
─ Você vai botar um ovo? ─ Jackie estava animada, mas também confusa. ─ Então você também é um dragão! ─ Presumiu. ─ Você vai se transformar para eu ver?
─ Calma, mocinha. Não é tão simples assim. Faz décadas que não faço isso e eu não posso me atrasar para encontrar Regina na delegacia. Mas prometo que quando acontecer, eu te deixarei saber, tudo bem?
─ Ai de você se esquecer de mim.
─ Jamais, meu amor. ─ Beijei sua bochecha e sorrio para ela. ─ Agora eu tenho que ir. Mais tarde eu te ligo, okay?
─ Tá bom, mas eu te trouxe uma coisa. Soube que perdeu suas coisas, então para prevenir que você se perca pela cidade e entre na casa de desconhecidos perigosos de novo, encontrei um dos seus mapas na minha mala. ─ Ela desdobrou o papel de dentro do bolso e me entregou. ─ É mais completo dos que você tinha em Nova York.
─ Espera, mas esse mapa é... ─ Minha boca abriu, surpresa; não era um mapa comum, era mágico, e possuía detalhes minuciosos da região em que estávamos, como nome dos moradores vizinhos, idades, parentescos com outros moradores da cidade e até trabalhos. ─ Não acredito que encontrou esse mapa! Achei que tivesse perdido.
─ Você conhece esse mapa? ─ Red questionou, olhando o papel.
─ Claro que sim, eu quem fiz. ─ Sorrio, animada com o reencontro, pois parecia outra vida. ─ Achei que só fosse funcionar em Nova York.
─ Você produz mapas. ─ Red estava associando os fatos. ─ Então as anotações que fazia nos outros...
─ Eu estava coletando informações para produzir um igual a esse, mas eles acabavam se perdendo quando eu entrava em chamas, então eu tinha que começar de novo. E Lily destruiu tudo, então teria que voltar do início. Mas esse aqui é à prova de basicamente tudo.
─ Você fazia iguais a esse da Floresta Encantada? ─ Jackie estava curiosa com o fato.
─ Eu tinha um para cada reino, pelo menos até Malévola descobrir que eu saía escondido do castelo quando ela não estava, e então me prender a Mulan para não ir longe demais.
─ É uma habilidade incrível, mãe. ─ Jackie envolveu minha cintura e eu a abracei de volta, contente que ela estava de volta a ser carinhosa comigo. ─ Estou feliz que vou ter mais um irmão.
─ Família grande, não é? ─ Sorrio, dando mais um beijo na sua bochecha.
─ Eu vou poder ver o ovo? ─ Ela tinha a expectativa de uma criança.
─ Claro, amor. Eu te aviso quando acontecer. E obrigada pelo presente, será muito útil.
Zelena e Robin também me parabenizaram pela gravidez, pelo menos ninguém questionou como isso aconteceu e só aceitaram a chegada de mais um bebê na cidade. Red ainda me fez beber o chá a caminho da delegacia enquanto explorava meu mapa, parecendo entretida nas funcionalidades. Era mais moderno do que os antigos que eu fazia na Floresta Encantada, funcionava como se fosse um mapa por sistema de satélite num celular, mas contendo informações da cidade e das pessoas.
Quando chegamos na delegacia, Regina e Emma já estavam lá, enquanto Malévola estava dentro da cela de Lilith, ambas conversando baixo. Eu não sabia o que tirar de conclusão daquilo, então somente me aproximei delas, atraindo a atenção e a quietude.
─ Quem diria que a nossa primeira reunião de família seria numa prisão. ─ Comentei, então encarei Lilith. ─ Eu traria café, mas você meio que destruiu o melhor lugar para obter um.
─ Não ache que ganhou, eu ainda tenho o coração de Robin, então a maldição ainda será lançada. ─ Ela rebateu, cheia de raiva, e se levantou da cama.
─ Engraçado você citar Robin, porque cruzei com ele e a família no caminho para cá, e ele estava ótimo, com o próprio coração no peito. Então suas alternativas acabaram. ─ Sorrio para a dúvida que vagou nos seus olhos, ainda que tenha durado pouco, foi o suficiente para me assegurar de que o coração poderia ser encontrado. ─ Eu fiz o que você tanto queria, sua mãe está aqui. Deu tempo de estreitarem os laços?
─ Você devia tê-la matado. ─ Ela se dirigiu a Mal, que olhou entre nós com uma indecisão gritante. ─ Você escreveu naquele livro que faria isso, assim que botasse os olhos nela, mas agora está aqui porque hesitou e ela te enganou, de novo.
─ Ela não me enganou. ─ Mal falou na defensiva. ─ Não dessa vez.
─ Não? E como me explica você estar aqui com os seus poderes contidos nesse bracelete?
─ É, Mal, como você explica? ─ Incentivei, pois queria saber se ela tinha tomado alguma decisão.
─ Ela disse que você estava presa, eu tinha que ser cautelosa para saber a melhor forma de te ajudar. ─ Ela falou com a filha, então a segurou pelos ombros. ─ O que você esperava que eu fizesse? Matar minha irmã depois de ter ficado presa por todos esses anos e então morta?
─ Não comece com essa conversa de que somos uma família.
─ Nós somos uma família. A única que temos. Qual o sentido de tentar nos matar entre nós? Se não percebeu, já temos pessoas demais que não se importariam de ver a todas nós mortas.
─ E o que você quer? Se tornar como um deles? Desistiu de defender o que é seu por direito?
─ Tudo o que eu queria era saber como você estava, após todos esses anos em que fui privada de te ver crescer e te criar perto de mim. Eu precisava saber que tipo de mulher você se tornou.
─ E vamos ser sinceras, Lilith, você não é uma assassina. ─ Pontuei, também enfrentando a raiva nos seus olhos ao adentrar a cela. ─ Tudo bem me odiar, mas você não planejou me matar, não é? Você espera que sua mãe faça isso por você, e eu não sei se ela fará, mas digamos que faça, então o que acontece com vocês? Acredite em mim, sempre haverá alguém para te impedir, mas nem todos vão querer te ajudar. A nenhuma das duas.
─ Acha que me falando isso fará com que eu te perdoe pelo que fez?
─ Eu não espero perdão de nenhuma de vocês. Só quero que vejam que vocês não terão uma vida decente se continuarem desse jeito, acreditem em mim, já conheci dezenas de "heróis" dispostos a tudo para protegerem o que acreditam e amam.
─ Você só está com medo de nos unirmos para te fazer pagar pelo que fez. E sabe de uma coisa? ─ Ela segurou meu pescoço com as mãos, de repente revelando uma pequena faca, que ela pressionou na minha barriga. ─ Eu não preciso da ajuda de ninguém para te fazer pagar.
─ Oh, a primeira coisa que ela diz, é sobre a minha gravidez, então vocês se unem para tentar tirar isso de mim?
─ Não foi essa a intenção. ─ Mal se colocou do nosso lado, os olhos vagando ao redor, talvez tentando pensar em algo. ─ Lilith, larga essa faca. Se esfaquear um bebê que ainda nem nasceu, você fará a mesma coisa que ela fez, só que pior.
─ Eu não me importo. ─ Lilith falou entredentes. ─ Eu só quero que ela sofra como me fez sofrer por tudo que deixei de viver.
─ Você acha que a sua vida teria sido melhor lá? ─ Questionei. ─ Garota, você não aprendeu nada? Pessoas como nós não tinham chance lá, olha o que meu pai fez comigo só por eu ser filha de um dragão. Mas você tem uma chance aqui, vocês duas.
─ Você só está com medo, no momento que eu recuar, é você quem me atacará.
─ Se eu quisesse isso, não teria trazido Mal de volta, eu teria te colocado sob a maldição do sono e te deixado apodrecer o resto dos seus dias.
─ Está me ameaçando?
─ Estou tentando te oferecer uma segunda chance, Lilith, porque não quero que os erros que cometi te façam se aprofundar nas trevas. Não ache que é o único caminho que tem só porque sua família é péssima em lidar com os problemas.
─ Ainda assim somos uma família. ─ Mal reforçou, então segurou na lâmina da faca que ainda era pressionada no meu ventre. ─ Eu sempre quis alguém que acreditasse que eu pudesse mudar, então deixe eu ser essa pessoa para você, Lilith. Eu quero tentar ser a sua mãe.
─ Você deveria aproveitar agora, porque Mal é péssima com crianças, e você sabe que é verdade. ─ Sorrio para o olhar sério que a loira me lançou.
─ Eu poderei deixar a prisão? ─ Foi o que Lilith questionou.
─ Não sou a xerife da cidade, mas por sorte ela está aberta a negociação. ─ Inclinei a cabeça, pois as três mulheres ainda estavam ali, preparadas para agir por qualquer movimento que Lily fizesse.
─ Se afaste de Sam, vocês duas, então podemos conversar. ─ Emma comandou num tom mais firme.
Foi quando Lilith se afastou que eu percebi que Emma quem a estava mantendo parada no lugar, sua mão abaixando quando saí de dentro da cela. Fiquei me perguntando se Lily teria estocado a faca no meu ventre se não estivesse sendo controlada pela xerife. Red me abraçou em silêncio por um instante, aspirando o cheiro no meu pescoço e então olhando nos meus olhos.
─ Existe um feitiço que te faça ficar o mais longe possível dessa mulher? ─ Ela perguntou baixo, fazendo-me sorrir, pois ela sabia que não havia nenhum. ─ Você nem tentou se defender, Sam, não me deixa preocupada assim.
─ Ainda assim você confiou em mim e não interferiu. ─ Selei seus lábios, demonstrando minha apreciação.
─ Não faça isso de novo.
─ Pelo menos não vomitei, seu chá ajudou.
─ Sam. ─ Malévola parou ao nosso lado, então nos viramos para a olhar, encarando a sua seriedade numa mistura de cansaço. ─ Que bom que não se feriu.
─ O que estava pensando quando colocou uma faca na mão dela? ─ Red perguntou com raiva.
─ Não foi para ferir vocês, nem colocar o bebê em risco, mas você mesma me disse que a cidade seria perigosa para ela. ─ Seus olhos buscaram o entendimento nos meus, mas somente fiquei calada, deixando que finalizasse. ─ Eu não queria que ficasse desprotegida se alguém tentasse algo contra ela.
─ Ninguém vai tentar nada, Mal. Acredite ou não, aqui é o lugar mais seguro, porque ninguém iria questionar a autoridade da xerife. ─ Pontuei num suspiro impaciente. ─ Nunca mais faça isso. Você não sabe do que ela é capaz se continuar buscando vingança.
─ Digamos que eu não busque, o que esperam que eu faça? ─ Lilith se colocou na conversa, mais afastada de nós. ─ Banque a família feliz com vocês?
─ Credo, não. ─ Sou a primeira a achar a ideia ridícula.
─ Se ajudar a reconstruir o Granny's, eu posso considerar a ideia de deixar que volte a morar na sua casa. ─ Emma falou, olhando para ela diretamente. ─ Você continuaria presa aqui, mas nessa altura, seria para manter o sistema condicional contigo.
─ Então o quê? Eu trabalho e volto de espontânea vontade para a minha cela? ─ Lilith claramente não gostou da ideia.
─ Você precisa pagar pelo que fez. ─ Regina alegou. ─ E para ser honesta, eu não confio que você não tentará machucar alguém no processo. Então enxergue como uma forma de conquistar a confiança das pessoas que você tentou destruir a vida.
─ Não digam que estou inclusa na parte da reconstrução. ─ Mal de repente estava preocupada com trabalho braçal.
─ Você não estava nem viva. ─ Lilith pareceu provocá-la. ─ Mas você pode ficar na minha casa, já que vou ficar de aluguel aqui.
─ Eu virei todos os dias então, para saber se estão te tratando bem.
─ Eu vou te levar até a casa dela, se não há mais nada para tratarmos aqui. ─ Falei para Mal, mas também me dirigindo às demais.
─ Claro. Vai ser ótimo ser escoltada. ─ Ela tinha ironia na voz, mas não fez maior protesto.
─ Eu te encontro no Granny's. ─ Digo para Red, que me olhou com uma sobrancelha erguida. ─ Não se preocupe, serei rápida.
─ Não farei nada, se é o que está pensando. ─ Mal pontuou, então seguiu para o lado de fora da delegacia, de repente com pressa.
Red não tentou insistir, mas pediu que a mantivesse informada se algo saísse do meu controle. Emma e Regina deixaram claro seu alívio por se livrarem de Mal na casa da prefeita, mas também sua preocupação, pois ficaria à solta. O que podíamos fazer, afinal? Não podíamos condená-la pelos crimes da Floresta Encantada, caso contrário a própria ranha estaria em prisão perpétua – senão condenada à morte. Eu só esperava que tudo aquilo não fosse encenação de mãe e filha para me fincarem uma lâmina nas costas mais tarde, pois tudo o que vi até então, foi que Lilith não estava completamente convencida a desistir do seu plano de vingança. Talvez, considerei, com o tempo, o trabalho forçado e a convivência com Mal a fizesse se acalmar o suficiente para pensar em coisas mais saudáveis para a própria vida, pelo menos, foi mais ou menos assim que fui reabilitada naquela cidade.
O caminho até a casa de Lilith foi em silêncio. Malévola teve noção em primeira mão dos olhares assustados e do julgamento do pessoal da cidade, dos cochichos e até das recriminações diretas. Da nossa família, felizmente não era Mal a ter o temperamento explosivo, como Lilith e eu, então ela ignorou os comentários e seguiu com a cabeça erguida, como se a estivessem elogiando.
─ Não é o seu castelo, mas já é um começo. ─ Comentei ao abrir a porta da casa, entrando primeiro para ir ligando as luzes. ─ Vai levar um tempo para você se adaptar às coisas novas que não tínhamos lá na Floresta, mas você aprende rápido.
─ Muita coisa mudou, realmente. Mas ficar sozinha é um velho hábito, pelo visto. Não vou nem perder meu tempo em te convidar a ficar.
─ Nós duas morando juntas? ─ Acabei rindo da ideia. ─ Você já pagou sua cota de me aturar, não precisamos mais fazer isso.
─ Talvez.
─ Olhe, talvez seja melhor não sair nos primeiros dias, espere a poeira baixar. Se precisar de dinheiro, me diz, não tente roubar ou ameaçar as pessoas, ou vai dividir cela com a sua filha.
─ É engraçado você tentando cuidar de mim agora, Samantha. ─ Ela sorriu quando a olhei, parecia mais leve, mas cansada. ─ Não se preocupe, você sabe melhor do que ninguém que sei me cuidar.
─ Quando tinha seus poderes, sim. Ficar sem eles te obriga a ser mais criativa para lidar com as pessoas.
─ Julgando que você já tenha passado por isso, isso explica você não ter envelhecido nos últimos anos?
─ Não. Esse mundo não tem magia, Mal, somente essa cidade, por causa do Sombrio, que trouxe magia para cá, mas fora desse lugar? Não há nada, somente fragmentos. ─ Fui até a cozinha, abrindo a porta da despensa. ─ Você tem bastante comida. Vou voltar mais tarde e te trazer um celular. É basicamente um item essencial que vai te ajudar a encontrar todo tipo de resposta que precisar, especialmente ensinamentos de como usa cada coisa.
─ Não acredito que ainda usa mapas. ─ Ela pegou o mapa do bolso, abrindo-o e ficando surpresa com o que encontrou. ─ Isso está diferente dos mapas comuns. O que você fez?
─ Eu encantei, é claro. Fiz na outra cidade, mas se adaptou aqui, tem informações que fui coletando dessa cidade no tempo que estou aqui, e olha que nem faz tanto tempo, mas esse lugar não é tão grande.
─ Lembro o quanto era irritante que você me pedia mapa de todo lugar que eu ia. Agora eu entendo o motivo.
─ Eu posso te fazer um mais simples. Não sei se confio em você com um mapa com todas essas informações das pessoas dentro.
─ Quem diria que você se tornaria uma protetora das outras pessoas, mas eu devia imaginar, quando te vi entrando para o bando de Snow White. ─ Ela dobrou o mapa e me entregou, sorrindo para a minha expressão. ─ Não achou que eu não ficaria de olho em você, não é mesmo?
─ Você podia ver no mundo para o qual fui?
─ Não. Quando te vi entrando naquele portal, achei que tivesse morrido ou que nunca mais te encontraria.
─ Você não tentou me impedir. ─ Pontuei, ela não negou. ─ Pelo tempo que passou com a sua filha agora pouco, não escutou nenhuma informação sobre onde ou com quem ela deixou o coração que roubou, não é mesmo?
─ Você estava mentindo para a convencer a desistir da vingança. ─ Mal balançou a cabeça de forma negativa, mas não parecia me julgar necessariamente. ─ Muito perspicaz da sua parte. Eu me pergunto quando se tornou tão boa com mentiras.
─ Você aprende coisas quando é necessário sobreviver. ─ Respiro fundo e me concentro na minha transformação de dragão, deixando que viesse a superfície somente nos meus ouvidos, que afundaram em minha pele e trouxeram algumas escamas nas laterais do meu rosto, indicando uma sensibilidade maior para ouvir. ─ Tenho certeza de que aquela garota escondeu por aqui, faça silêncio.
Mal fez uma careta com o que viu, mas também demonstrou surpresa, provavelmente não sabia que eu podia usar partes da transformação se me concentrasse o bastante. Mantive o foco dentro das paredes da casa, primeiro ouvindo meu coração e o de Mal, então o som da rede elétrica. Avancei para próximo das escadas, escutando cada passo que dei, quando ouvi mais um ritmo de pulsação. Sorrio e sigo nessa direção, subindo os degraus até o quarto de Lilith. Afastei a cama dela, de onde o pulsar era mais alto. Estranhei não haver nada ali, não visível, mas então tateei a parede, buscando sentir um resquício de magia, igual eu costumava fazer para esconder as coisas em Nova York. Felizmente encontrei uma falha no esconderijo dela, e usei isso para afastar o quadrado oco na parede, onde encontrei finalmente o coração, fazendo-me sorrir e por fim dissipar as orelhas.
─ Está fazendo bom uso das suas habilidades. ─ Mal comentou. ─ Você consertou a sua transformação de dragão ou ainda é um bebê?
─ Eu estive sem lembranças, Mal, nem sabia que podia me transformar até dois dias atrás, então não tive tempo para saber como isso está hoje em dia. ─ Caminhei em direção à porta, descendo as escadas com a intenção de devolver logo para Robin. ─ Mas logo devo descobrir.
─ Já pensou onde vai botar o ovo? ─ Ela me seguiu. ─ Você precisa mantê-lo bastante aquecido. E seguro.
─ Eu sei, Mal, não sepreocupe. ─ Parei para olhá-la quando estava a caminho da saída. ─ Eu tedeixarei saber onde estou ficando assim que eu souber que estou fixa num lugar.Até lá fique aqui e eu voltarei em breve. Não bote fogo na casa!
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Olá pessoal. Sei que não ando com uma constância nas publicações dos capítulos, mas também não ando numa boa fase :)
Essa fanfic era uma história pronta, dividida em duas partes, mas eu fui botar meu dedo nela e acabei reescrevendo, porque eu odiei a segunda parte :)
Então estou finalizando os últimos capítulos, ainda tenho alguns prontos, mas estou usando o sistema quinzenal de publicação para não deixar vocês no hiatus por muito mais tempo enquanto finalizo.
Espero que estejam gostando, vocês são muito quietos e eu fico às cegas sem saber as impressões de vocês da história, então fico com a impressão de que ninguém está lendo.
Enfim, até o próximo capítulo!