- Entenda, Senhor Pascal.
Aquela voz severa era a única coisa que Rafael conseguia ouvir.
- Semelhante atrai semelhante.
Na sala completamente branca, completamente diferente daqueles presido sujo e cheio de ratos. Lá tudo descascava, tinha rachaduras e parecia estar prestes a cair. Fedia a urina e fumaça de cigarro. Era cinza e preto, molhado e imundo. Não havia sol, não havia saída! E o tilintar constante de algemas nas grades deixava qualquer um louco.
Ali não. O ar-condicionado era frio demais e o cheiro típico do consultório de um dentista incomodava.
E aquela voz, ah, a voz fria e irreverente, era tudo o que Rafael queria ouvir.
- Deixe-me explicar em um dialeto que entenda.
Lamber os grosso lábios por conta do frio não escondia seu menosprezo pelo paciente Doutor Vega.
- Um fodido da cabeça, apenas ficará com alguém igualmente fodido da cabeça.
Quando Rafael enfim escutou o ponteiro do relógio fazer tic, foi quando teve a certeza que não queria ouvir mais nada além da voz de Atika Vega.
- Eu posso te foder até que fique louco Doutor.
Atika ganhou Rafael com o desviar de olhar e a quase risada descrente, já que um sorriso esnobe iluminou o rosto moreno, a risada ficou como um som de petulância.
- Bravo Senhor Pascal, sua ficha será a mais suja que terei o desprazer de preencher.
- Me da uma chance Doutor. Só quero uma. Posso te chupar, morder, amarrar o caralho a quatro que mandar eu fazer.
Atika girou o anel dourado pelo seu dedo, apoiando o cotovelo na poltrona de couro preto enquanto cruzava as pernas.
- Deveria adicionar ninfomania a sua extensa ficha? Senhor Pascal, está dificultando a coisas.
- Se isso é ter tu de quatro naquela mesa, pode colocar a porra que quiser.
Em um suspiro impaciente o Doutor apertou a mandíbula. - Entende que irei continuar dizendo não.
- Não ligo, só vai aumentar meu tesão.
- São sequelas de um garoto mimado que nunca ouviu um não. - Cortou Atika com o nariz enrugado. - Não pela vida, não pelos pais, mas pelo falso ideal de poder. Você não tem direito na vida de outra pessoa.
- Tenho no que é meu.
- Pessoas não são posses.
- Mas você vai ser.
Um silêncio tomou o local.
- Tu vai ser meu Atika, pode demorar o caralho que for, o quanto essa boca possa dizer não. Tu é meu desde quando colocou essas botas nessa porra de inferno. - Rafael passou a mão por sua barba bem feita, esboçando um sorriso de canto. - E se tá aqui, vai mamar o diabo.