Secrets Among Us - Jikook

By jikook170_3

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O problema de realizar sonhos é que, por um breve momento, temos um vislumbre de como a vida poderia ser. More

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Nove
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Onze
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Vinte e Sete
Vinte e Oito
Vinte e Nove
Trinta

Treze

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By jikook170_3

JIMIN 

Nossa, que coisa maravilhosa!

Dentre todas as coisas que eu esperava ouvir de Joo-hun nesta ligação, essa estava bem no fim da lista, espremida entre “estamos passando todo o controle criativo da banda para vocês, rapazes” e “decidi me tornar o quinto integrante da Saturday”.

Na cadeira ao meu lado, o rosto de JungKook se ilumina.

Suspeito que ele não tenha uma gota de desconfiança no corpo inteiro.

— Sério? — pergunta ele.

É claro!

Na tela, Joo-hun se recosta na cadeira, e seu rosto largo se expande ainda mais em um sorriso.

Um sorriso perigoso.

O sorriso de quem está vendo o oponente fazer uma jogada fatal no xadrez.

De alguém observando o inimigo assinar o próprio atestado de óbito.

Ou – ou – só estou sendo paranoico por ter crescido numa casa cheia de sorrisos perigosos, e agora é impossível confiar que uma figura de autoridade esteja genuinamente feliz por mim quando, pessoalmente, sinto que estou fazendo algo contra a vontade dela.

Ou uma, ou outra.

Erin está empoleirada na beirada da cama, deixando os dois assentos da mesa pra gente.

Ela levanta os polegares, e o sorriso dela com certeza não parece perigoso.

Talvez eu deva relaxar.

O amor jovial é uma coisa linda, rapazes — continua Joo-hun, dando uma de poeta romântico agora. — Entretanto, sei que não preciso lembrar da importância de vocês manterem uma relação de trabalho profissional, haja o que houver.

Queria que a gente não tivesse usado a palavra “apaixonados”.

A situação toda está intensa demais.

Mas assinto com firmeza, jogando a vergonha para lá.

— Com certeza. A banda vem em primeiro lugar, para nós dois.

Fico muito feliz de ouvir isso. — Lá está o sorriso de novo.

Cruzo os braços sem nem me dar conta, como uma autodefesa do meu corpo.

JungKook ajusta a postura e coloca as mãos nos joelhos.

— Hum, só gostaria de dizer que ainda não estou pronto para… tem muita gente que não sabe. Tipo, meus pais. Podemos contar só pra quem precisa saber por enquanto?

Pela primeira vez, Joo-hun parece sincero.

JungKook, mas é claro. Eu jamais cruzaria um limite desses. Sua vida pessoal pertence só a você.

JungKook parece derreter por dentro e me dá um sorriso aliviado.

Tento retribuir, mas meus lábios estão travados demais.

Então, Joo-hun continua:

Na verdade, acho que você deve respeitar seu tempo. Não é o tipo de coisa que gostaríamos de divulgar neste exato momento mesmo.

— Não? — pergunto, tentando manter a voz leve.

A questão é que tudo isso parece meio que um déjà-vu.

Desde os jornalistas que com certeza sabem que sou gay mas nunca perguntam porque foram instruídos a não perguntar, passando pelas “fontes internas” que estão sempre “vazando” histórias sobre as minhas últimas namoradas, até as dezenas de artigos caricatos que fazem com a gente, nos encorajando a falar sobre a mulher ideal para cada um de nós.

Não precisa ser um gênio para ler as entrelinhas.

Em público, somos héteros.

Em particular, cada um cuida da própria vida.

JungKook deve ter noção disso.

Ele já me viu enfrentando esse tipo de coisa.

Mas talvez eu tenha desviado muito bem dos golpes, porque ele não parece notar nenhum sinal de alerta.

Muito pelo contrário, fica empolgado.

Mas até aí, é um direito dele.

Eu, particularmente, nunca quis manter minha sexualidade em segredo; para o JungKook, porém, é tudo novo e confuso, e talvez discrição seja exatamente o que ele quer.

Então, será que vai ser o fim do mundo se Joo-hun quiser abafar tudo por enquanto?

Se JungKook precisa disso, quem sou eu para criar caso?

Ainda assim, só para deixar tudo claro…

— Concordo — digo com uma falsa animação. — Sem pressa. Mas quando você diz “neste exato momento”…?

Só estou pensando na Rússia — responde Joo-hun. — Levando em conta a situação política lá, nossa prioridade é manter vocês em segurança. Temos o dever de cuidar da banda. E não sei dizer o que poderia acontecer se isso vazasse antes dessa parada na turnê…

— Entendi — diz JungKook. — Eles podem querer cancelar o show.

É possível — anuncia Joo-hun. — Eles têm leis antipropaganda, especialmente em relação a menores de idade, ou seja, a maior parte do público de vocês. Mas mesmo que conseguíssemos contornar isso, viajar para lá durante uma chuva de notícias sobre um relacionamento na banda… Bom, algumas pessoas podem ser contra a nossa presença lá, e isso nos colocaria numa situação perigosa.

“Nossa” presença, ele diz.

Como se fosse estar lá com a gente.

Essa foi boa.

JungKook arregala os olhos.

— Que merda.

Exatamente. Porém, no grande esquema das coisas, a próxima parada está a segundos de distância. Assim que acabar, podemos conversar melhor sobre os próximos passos. Combinado?

JungKook assente com entusiasmo.

Eu hesito, depois balanço a cabeça uma única vez.

Meu pai costumava me contar uma história de ninar sobre um biscoito de gengibre que precisava atravessar um rio.

Uma raposa se oferece para levá-lo nadando.

Mas devora o biscoito vivo.

E ele, ainda consciente, fica gritando pelos seus membros perdidos.

“Um quarto de mim já foi. Metade de mim já foi. Três quartos de mim já foram. Eu me fui todinho.”

Quando Erin nos libera do seu quarto, encontramos Jin e V perambulando do lado de fora.

Com o dedo nos lábios, pedindo silêncio, Jin leva todo mundo para seu quarto.

Nos jogamos na cama, e JungKook deita de costas com as pernas para o lado e tem um sorriso tranquilo no rosto.

— Deu tudo certo! — diz ele. — Joo-hun levou numa boa.

V arqueia as sobrancelhas, e Jin olha para mim em busca de respostas.

Dou de ombros e abro um sorriso amarelo.

Há uma certeza severa no olhar dele.

Se tem alguém aqui que conhece Joo-hun de verdade, esse alguém é o Jin.

Quem é criado por uma raposa sabe que não é uma boa ideia pegar carona com outra.

Eu deveria saber também.

Jin não é o único que cresceu numa toca de raposas.

— Isso é… ótimo — diz Jin.

— Sim! — JungKook joga a cabeça para trás para olhar para mim e estende a mão.

Eu a aperto.

Talvez forte demais.

V pula da cama e vai até a janela olhar a multidão.

— Bom — comenta ele. — Dane-se. Se o Joo-hun decidiu agir feito um ser humano pela primeira vez, vou aceitar, acho.

— Exatamente — responde JungKook.

— Então, quando vocês vão contar para todo mundo? — pergunta Jin.

— Ainda não foi decidido — respondo, curto e grosso.

— Provavelmente depois da turnê.

Jin ergue o queixo devagar enquanto saca tudo e abre um sorriso amargo.

Dou de ombros.

Eu sei.

Vamos anunciar quando Joo-hun decidir que podemos anunciar.

Não quando estivermos prontos.

— Então, encontros secretos? — pergunta V, virando de costas para a janela e se apoiando contra a vidraça. — Que babado!

— Por enquanto, sim — comenta JungKook. — Vamos um passo de cada vez. Quem sabe o que pode acontecer?

— Certo — diz Jin com delicadeza. — Só… tomem cuidado, tá bom? Se vocês terminarem e as coisas ficarem esquisitas, pode dar muito errado.

— Você afirma isso com base no quê, Jin? — zomba V, perambulando pelo quarto. — Não é como se nós tivéssemos qualquer exemplo do JungKook e do Jimin virando inimigos mortais um segundo depois de as coisas ficarem esquisitas entre os dois.

— Não tem como a gente terminar — argumento. — Porque não estamos num relacionamento. Somos apenas duas pessoas que existem e se relacionam.

JungKook baixa a cabeça para esconder a risada.

V arregala os olhos inocentes.

— Ah, foi mal, vocês estavam num relacionamento na vez anterior, quando a “briguinha” se tornou uma hashtag?

— Já entendemos — intervém JungKook, sentando na cama. — Prometo. Não vamos ficar esquisitos de novo. Podem cobrar.

— Vamos mesmo — diz Jin, sem nem uma pontada de brincadeira no tom de voz.

— Só não fiquem fofinhos demais, tá? — pede V, virando lentamente no meio do quarto como se estivesse apresentando um solo de dança pra gente. — Não gosto quando não sou o centro do universo, então não magoem meus sentimentos.

— Fica tranquilo — comenta JungKook. — Você sempre vai ser o centro do universo do Jin.

Jin revira os olhos e V não parece surpreso.

— Eba! Tá, mas falando sério agora. Nada de encontros sem mim, tá? Quero acesso liberado a todos os encontros.

— Cuidado com o que você deseja — alerto. — Algumas coisas funcionam melhor a dois.

JungKook foca toda a sua atenção no teto e se afasta de mim na cama, com o rosto vermelho como ketchup.

V pisca, olha para JungKook e para mim, depois finge estar engasgando.

— Chega. Isso já é demais. Jin, não é com eles que você precisa se preocupar. As coisas estão ficando esquisitas é pro meu lado.

Dou de ombros.

— Bom, quem puxou assunto sobre os nossos encontros foi você, agora vai ter que ouvir!

— Mantenha a classificação livre, pelo menos — resmunga V. — Meu Deus.

— De que tipo de encontro você achou que poderia participar, então? — Jin ri. — Não é como se eles pudessem ir para o brunch numa cafeteria local, no momento.

Tento manter a expressão neutra, mas parece que não consegui, porque V saca imediatamente.

— O que vocês estão escondendo? — pergunta ele, segurando a cabeceira da cama.

Olho para JungKook, perdido.

Acho que esse é o tipo de coisa que eu não deveria contar por ele.

Só eu sabia sobre os canais, afinal.

Por sorte, ele não fica desconfortável.

Na verdade, até abre um sorriso maquiavélico.

— Talvez a gente tenha escapado durante uma noite em Amsterdã.

— O quê? — grita V. — Como?

— É sério? — pergunta Jin ao mesmo tempo. — Vocês poderiam ter sido flagrados.

Olho nos olhos de JungKook e trocamos um sorriso.

O dele é suave e cheio de afeto.

— Jimin teve a ideia de usarmos a escada de incêndio — diz ele. — Ninguém viu a gente, fica tranquilo.

Jin está perplexo, mas V cai na gargalhada.

— Puta merda. Parece que estou vendo um lado completamente diferente de vocês dois.

— Acho que você ficou mais chocado com a gente fugindo do hotel do que se pegando em segredo — comento.

V cruza os braços.

— Bom, vocês também nunca me convidaram para escapar.

— Creio eu — diz Jin — que eles também nunca tenham te pedido para participar da pegação, né?

— Infelizmente você nunca vai saber a resposta para essa pergunta — diz V, todo sério. — Não sou do tipo que sai contando vantagem.

JungKook olha para mim e ergue a sobrancelha, questionando.

Faço que não com a cabeça, segurando a risada.

— E, só para deixar claro, JungKook não pediu pra ficar comigo, por assim dizer — começo, mas V tapa os ouvidos e começa a cantar seu verso de “Guilty” alto o bastante para me abafar.

🎵

Devo admitir que colocar a escapada do hotel na cabeça do V não foi a melhor das ideias.

Não acredito que ele nunca tenha pensado nisso antes, considerando que o encontramos literalmente usando a escada de incêndio na semana passada.

Mas acho que sair por cinco minutos para encontrar um traficante é diferente de escapar de noite para dar uma volta.

Ainda assim, já se passaram dias desde que contamos sobre a nossa escapadinha, e até onde sei, ele ainda não tentou nada parecido.

Ou, se tentou, não foi flagrado.

Na verdade, V tem ficado bem pianinho desde que arrumou problemas com a coreografia em Colônia.

Não tenho ideia se Joo-hun ficou sabendo, ou se a bronca da Erin foi o bastante para colocar V na linha, mas ele não tem soltado um pio que seja.

É por isso que fico realmente surpreso quando ele envia uma mensagem no grupo avisando de “alguns amigos” que estão no quarto dele esta noite.

O celular do JungKook vibra ao mesmo tempo que o meu, e ele puxa o cobertor até o queixo e se afunda numa montanha de travesseiros.

— Não quero ir, só quero ficar aqui vendo filme. — De repente, ele ergue a cabeça. — A não ser que você queira. A gente súper pode ir se você quiser. Sou facinho facinho.

— Não, também prefiro ficar — digo, colocando o celular na mesa de cabeceira e me aninhando ao lado dele para me esquentar.

A noite de Berlim está especialmente fria, e embora os quartos tenham controle de temperatura, o barulho constante da chuva na janela é o bastante para me deixar sonolento e dengoso.

Me sinto mal pelo grupo de fãs reunidos na frente do hotel na esperança de nos ver.

Espero que eles tenham cobertores.

E guarda-chuvas.

— Não estou ouvindo barulho de música — comenta JungKook. — Talvez sejam só alguns amigos mesmo.

— Ah, sim, deve ser — digo, passando os dedos pelo ombro dele, em direção à clavícula. Ele se arrepia e cerra os olhos enquanto me observa. — Aposto que só chamou um ou dois colegas e tá todo mundo jogando Banco Imobiliário.

Ele engole em seco, toca meus dedos e joga a cabeça para trás.

Vê-lo desse jeito, sem camisa e esguio, acende algo dentro de mim.

Não vou mentir, ele é a coisa mais linda que já vi na vida.

Estou prestes a me esticar para beijar seus lábios, ou pescoço, ou todo e qualquer lugar que ele permitir, quando ele aperta minha mão com força e me afasta para levantar.

De repente, parece preocupado.

— Será que o V está bem?

Solto uma risada breve.

— Ah, sim, aposto que ele está se divertindo.

Mas, em vez de rir comigo, JungKook franze as sobrancelhas e franze a boca.

Levanto um pouco.

— Espera, o que você está pensando?

— Sei lá. Ele… se drogou algumas vezes recentemente, e se está recebendo amigos… Não, não, eu devo estar exagerando, só isso.

A questão é que, de nós três, JungKook sempre foi o menos preocupado com o bem-estar do V.

Então, se até ele acha que há algo de errado rolando, acho melhor eu também prestar atenção.

— Acha melhor irmos dar uma olhada? — pergunto.

Ele me olha de soslaio.

— Tudo bem por você?

Saio da cama revirando os olhos.

Pego a camiseta dele no chão e jogo em sua direção.

— Um dia você vai fazer alguma coisa sem pedir permissão para todo mundo e eu vou desmaiar de surpresa.

— Sou tão chato assim? — pergunta ele, vestindo a camiseta.

Vou até seu lado da cama e estendo a mão para ajudá-lo a levantar.

— O mais chato do mundo. Mas fica tranquilo, você continua sendo o melhor mesmo assim.

🎵

Jin já está no quarto de V quando chegamos lá.

Como JungKook imaginou, há apenas uns cinco visitantes desta vez.

Nada como em Paris.

Mas, ao contrário daquela noite, não reconheço ninguém, e todos parecem estar ligados no 220.

As conversas parecem ter sido aceleradas para o dobro da velocidade e um atropela o outro para falar.

Independente de quem esteja de pé na janela ou de joelhos na cama, braços e pernas tremem, as posturas são esquisitas e os olhos estão quase pulando de tão arregalados.

V, que estava conversando com Jin na porta do banheiro, vem até nós quando entramos.

Gotas de suor cintilam em sua testa, e o cabelo balança com mechas encharcadas.

— Vocês vieram — grita ele, jogando os braços ao nosso redor e fazendo nossas cabeças baterem. — Pensei que iam furar só para ficarem sozinhos hoje à noite.

Esfrego a cabeça enquanto JungKook segura V para mantê-lo firme.

— V, você não contou para ninguém daqui sobre… aquilo, né? — sussurra ele.

V cerra os olhos e faz beicinho.

— Aquilo é segredo — diz ele. — Não sou idiota. Nem um lixo humano.

A voz dele fica um pouco mais ríspida na última frase, e me pergunto por um segundo se ele ficou ofendido com a suspeita do JungKook.

Mas nem dá tempo de perguntar, porque ele já sai para conversar com uma garota pequena, de cabelos longos, escuros e cacheados.

Jin se aproxima da gente na porta.

— Acho que vou pra cama daqui a pouco — diz ele, com a voz pesada.

Sei exatamente como ele se sente.

Dois garotos com roupas de grife da cabeça aos pés vêm em nossa direção.

Estão cobertos de marcas e siglas, só para o caso de alguém não ter notado que são, de fato, muito ricos – ironicamente, é esse tipo de roupa que deixa claro que eles ficaram ricos há no máximo cinco minutos.

O mais alto estende a mão para nos cumprimentar e se apresenta como Elias, como se estivéssemos em uma maldita reunião de negócios.

— Que bom ver vocês três — diz ele, num tom amigável, como se fôssemos amigos de infância, mas tenho certeza de que nunca nos vimos antes.

Aposto que ele vai passar um ano inteiro contando para quem quiser ouvir sobre a vez que conheceu os caras da Saturday e mudou nossa vida para sempre usando apenas o poder do carisma e da sabedoria ou qualquer merda dessas.

Só Deus sabe como ele conheceu o V.

Como qualquer uma dessas pessoas conheceu o V.

Elias estende um saquinho transparente com o que só pode ser cocaína, tão casual como se estivesse oferecendo um cigarro.

— Querem? — pergunta ele, animado.

Nós três nos entreolhamos.

— Ah, não, mas valeu pela gentileza.

— Temos um dia cheio amanhã.

— Isso é extremamente ilegal.

Todos se viram para Jin, e os caras hesitam com expressões impossíveis de decifrar.

Balanço a mão para eles na esperança de desfazer a tensão.

— Mas vocês dois, fiquem à vontade — digo com um sorriso forçado, e eles desaparecem banheiro adentro, fechando a porta com força.

Acho que, inicialmente, eles pretendiam usar a mesa de madeira atrás da gente.

Mas se em algum momento eu tivesse vontade de cheirar uma carreira de cocaína, jamais faria sob os olhos julgadores do Jin, então não culpo os dois convidados.

V saltita de volta de mãos dadas com a garota bonita de cabelos longos.

— A gente vai para o terraço — diz ele.

— Para o terraço? — pergunta JungKook. — Está congelando lá fora.

— Sem problema. Só vamos dar oi para os fãs.

— Do terraço? — repito.

— Aham. Lina quer cumprimentá-los. — Ele imita o aceno da rainha da Inglaterra, cerrando os lábios, e a garota, Lina, presumo eu, solta uma gargalhada alta demais. — E nossa janela não tem vista para a multidão, Jimin, meu amorzinho.

— Nós também vamos — afirma JungKook, me olhando com seriedade. — Também queremos dar oi para os fãs.

— Sem ofensa, Kookinho, mas não preciso de ninguém segurando vela. — V belisca a bochecha do Jin e depois a minha. — Nem duas velas. Nem três. A gente volta rapidinho, peguem uma bebida e se divirtam, pelo amor de Deus. Não é como se a gente pudesse fazer isso todo dia, porra!

Antes que possamos protestar, V sai com Lina.

Nós três permanecemos juntos, incertos, vendo V ir embora.

Dou uma olhada em JungKook.

Ele está mordendo o lábio com muita força.

— Eles não vão para o terraço, vão? — pergunto.

JungKook balança a cabeça lentamente.

Jin parece confuso, até a ficha cair.

— Ah, não.

Quando saímos do quarto, V e Lina não estão mais no corredor.

— Vamos chamar Seung Min e Pauline — diz Jin.

JungKook olha para ele, assustado.

— Mas aí vai dar muita merda pra ele!

— Hum, melhor do que eles se acidentarem porque estão doidões.

Eles viram para mim ao mesmo tempo.

Aff.

A decisão é minha.

— Vamos lá — digo, sem perder tempo. — Se conseguirmos alcançar os dois agora, ninguém precisa saber. A gente aciona a equipe se for necessário.

Em pânico, levamos mais tempo do que o esperado para encontrarmos a escada de incêndio.

Na minha opinião, deveriam reavaliar a sinalização de uma porta de emergência, mas deixa pra lá.

Poderíamos tentar o elevador, mas perderíamos ainda mais tempo tendo que procurar o fim da escada lá embaixo.

Sem falar que, se usarmos o elevador, teríamos que passar pelo grupo de fãs na entrada principal, e também pelos guardas de Berlim no saguão.

— Não é melhor procurarmos no terraço antes? — pergunta Jin.

Nós paramos.

Até que faz sentido olhar lá antes de sairmos noite afora.

Mas se nós três subirmos, e V estiver de fato saindo do hotel, já era.

— Não dá tempo — digo. — JungKook, fica ligando para o V. Vê se algum de vocês consegue falar com ele. Se ele estiver mesmo no terraço, não vai te ignorar por muito tempo.

Descemos correndo de escada, o que não é uma tarefa fácil, já que estamos no quadragésimo primeiro andar.

Ainda bem que nosso treino de academia é bem pesado.

JungKook espia pela porta do térreo antes de sairmos.

Por sorte, dá num estacionamento.

Cercado o bastante para não sermos vistos pela multidão acampada na frente do hotel, mas aberto o bastante para avistarmos uma saída para a rua.

O ar gelado nos atinge na cara, o vento soprando com força o bastante para nos calar, acertando gotas de chuva pesadas em cada pedacinho de pele que não está coberto.

Estou com um suéter de caxemira de gola alta – bom para uma festa no hotel, péssimo para as circunstâncias atuais.

Queria ter tido tempo de pegar um casaco.

Corremos pela calçada, próximos à fileira de prédios de luxo e meu coração para toda vez que um carro passa.

E se formos reconhecidos?

O que pode acontecer?

— V! — JungKook chama, olhando desesperado pelas ruas.

As únicas pessoas próximas são um casal mais velho debaixo de um guarda-chuva, e eles nem sequer olham na nossa direção.

— Não grita o nome dele — sussurro.

Com a quantidade de fãs acampada no hotel, ser ouvido é mais uma questão de quando do que se.

E V não é um nome muito comum.

JungKook assente e diminui a velocidade até parar e dar meia-volta.

— Taehyung! — grita ele para o céu. — Taehyung!

— Ainda assim chama muita atenção — murmura Jin.

JungKook olha para baixo, carrancudo.

— Como vou chamar a atenção do V sem chamar atenção?

Voltamos a andar e Jin balança a cabeça.

— Vou ligar para o Seung Min — diz ele.

— Espera — implora JungKook. — Por favor, Jin. A gente pode…

— Eles podem se machucar, JungKook!

— Deixa eu tentar ligar para ele só mais uma vez?

Viramos a esquina e chegamos numa avenida movimentada.

A segurança relativa do beco anterior se perde quando um mar de luzes alaranjadas da rua e faróis nos atinge.

Procuro pelos arredores, analisando as fileiras uniformes de árvores, portas de restaurantes lotados e prédios antigos decorados com colunas gigantes bege.

Então seguro JungKook pelo ombro com empolgação.

Separando duas ruas de mão dupla, há uma faixa de pedestre larga com bancos e arbustos alinhados, e caminhando no meio da faixa estão V e Lina.

Voltamos a correr.

Eles estão de costas para nós, então não percebem que estamos nos aproximando até chegarmos.

Quando enfim nos nota, V não parece particularmente feliz em ter companhia.

— Não posso ter nem cinco minutos de paz? — grita, soltando a mão da Lina. Ela parece magoada conforme ele vai aumentando ainda mais o tom de voz. — Nem cinco minutos?

Diminuímos o ritmo até pararmos e ele dá alguns passos para trás.

Seus olhos estão inquietos e sem foco, a respiração, pesada.

Jin tinha razão.

Não deveríamos sair sozinhos por uma série de motivos, mas V, em particular, não deveria mesmo estar aqui agora.

Uma movimentação nos arredores me diz que já atraímos olhares curiosos.

Ignoro por enquanto.

O tempo se arrasta, sendo medido apenas pelos itens na minha lista de coisas a fazer.

Tarefa número um: tentar acalmar V.

— Você convidou um monte de gente para o seu quarto — lembro, com a voz controlada. — Tá todo mundo sentindo sua falta.

Ele olha para mim, depois para JungKook e para Jin, e firma os pés no chão.

— Passo todos os dias, o dia inteiro com vocês três — diz ele, afobado. — Ninguém mais além de vocês. Não tenho permissão para me divertir com alguns amigos de vez em quando? Não posso mais?

— É claro que pode — responde JungKook. — É isso que estamos dizendo. Seus amigos estão lá no quarto, te esperando.

— Eles não são meus amigos. A Lina é. Eu e ela queremos conhecer Berlim. Sabe, levando em conta que viajei por mais de dez mil quilômetros e não vi porra nenhuma da Europa.

— Nós sabemos — digo, dando um passo à frente. V dá mais um passo para trás. Seus joelhos estão levemente flexionados, como se ele estivesse se preparando para correr. — É uma merda. Uma merda completa. Talvez a gente possa pedir uma reunião com a Erin para ver se…

— Vocês dois — grita V, me interrompendo. — Já saíram. Estão curtindo juntos. E eu não posso fazer o mesmo? Por que vocês são especiais?

— V, tem gente olhando — intervém Jin.

E ele está certo.

Várias pessoas na rua já pararam para olhar, além dos que estão bebendo nas mesas dos cafés.

Alguns celulares já estão apontados para nós.

V abre os braços.

— Deixa olhar, Jin! Você sempre preocupadinho com a porra da opinião dos outros. Relaxa, por favor, não é o seu que está na reta!

— Ele está preocupado com a gente, não consigo mesmo — interrompo com a voz firme. — Você está fazendo todo mundo passar vergonha agora.

— Ah, agora eu sou uma vergonha, Lina — berra V. — Sou o único da banda que não age feito um maldito robô, e sou uma vergonha! Ai, o Joo-hun disse que tenho que fazer as pessoas quererem trepar comigo, então eu arranco a roupa. Joo-hun disse que não posso escrever minhas músicas, então vou escrever as músicas dele. Joo-hun disse que não posso contar nosso segredo para ninguém…

— V — grita JungKook. 

— Puta que pariu, JungKook! — V ruge. — acabei de te dizer que não vou contar pra ninguém. Por que vocês pensam que sou um idiota?

Umas vinte pessoas nos cercam agora.

E, ao fim da rua, algumas se aproximam correndo.

Ao que parece, muitas são garotas adolescentes.

Merda.

Chegarão aqui em menos de um minuto.

Fofoca se espalha rápido.

— Jin — digo, num sussurro. — Acho melhor ligar para o Seung Min agora.

— Você acha? — chia ele.

JungKook avista a multidão se aproximando.

— V, temos que ir — diz ele.

Estão chamando nossos nomes.

Gritando, na verdade.

Cada vez mais perto e mais alto.

Os curiosos viram para as garotas e ligam os pontos.

Mais celulares aparecem, um depois do outro.

As luzes brilham tanto que preciso fechar os olhos.

JungKook dá um passo à frente com os braços esticados, e isso é a gota d’água para V.

Com um som sufocante que nem parece humano, V agarra Lina pelo braço e começa a correr para a rua.

O tempo se arrasta ainda mais.

Faróis piscam à distância.

Longe o bastante para que V e Lina consigam atravessar as duas vias.

Mas por pouco.

Então JungKook resolve correr para buscar o V.

Os faróis estão perto demais para que ele consiga.

Não decido me mover.

Mas me movo mesmo assim.

Agarro JungKook num abraço e o puxo para a faixa de pedestres.

Os faróis piscam, buzinas tocam, e nossos nomes são gritados.

Gritam por V.

Acho que estou gritando também.

Eu e JungKook tropeçamos juntos, mas consigo recuperar o equilíbrio.

Finalmente, o tempo volta ao normal.

— Meu Deus, JungKook! — estou gritando, ainda agarrado com ele. — Olha o que você está fazendo!

V conseguiu chegar ao outro lado da rua.

Ele hesita ao perceber que os fãs estão cercando os dois lados da avenida.

Lina olha para as câmeras ao redor como um coelho procurando uma rota de fuga que não existe.

Lembro da época que ver muitos fotógrafos também me assustava.

Agora só me preocupo se estiveram gravando a, hum… briga acalorada entre o grupo, no meio da noite, com um de nós claramente drogado e cada vez mais próximo de difamar nossa assessoria.

Isso seria uma quebra de contrato que nos levaria à falência num piscar de olhos.

Um dos faróis estaciona do outro lado da rua, perto de V.

Meu coração acelera e solto JungKook.

Será que é um fã?

Ou alguém que conhece V e sabe quanto dinheiro pode descolar se enfiá-lo dentro do carro?

Não seria muito difícil, no estado em que ele se encontra.

Mas o motorista sai e quase desmaio de alívio.

É Seung Min.

— Nossa, que rápido — digo para o Jin.

Jin balança a cabeça.

— Não consegui falar com ele. Agora está explicado o motivo.

Por sorte, V não arruma confusão com Seung Min.

Seja porque sabe que Seung Min é mais forte, ou por ter se dado conta de que quer ir embora desta rua lotada, não dá para saber.

JungKook toca meu braço e eu vejo que Pauline estacionou outro carro, com o pisca-alerta ligado sobre a faixa.

Não precisamos ser chamados – embarcamos no banco de trás o mais rápido possível e batemos a porta contra o som crescente de pessoas nos chamando.

Meu coração está entalado na garganta e busco pela mão do JungKook no momento em que ficamos em segurança.

Ele me segura como se sua vida dependesse disso, tremendo tanto quanto eu.

— Não foi muito difícil encontrar vocês — Pauline está dizendo para Jin quando minha mente começa a processar palavras novamente. — As fotos estão todas no Twitter. Uma tosse de vocês vai parar na internet, por que acharam que conseguiriam sair sem a gente? Se quisessem pegar um ar, era só pedir, a gente podia ter dado uma volta pela região. Nem precisaríamos contar para Erin! Agora, olha só no que deu!

É claro que nos acharam.

Passamos mais de quinze minutos desaparecidos e começaram a nos rastrear.

Fugimos por quinze minutos e, por pouco, não fomos atacados.

Ou coisa pior.

Nunca ficou tão claro para mim quão monitorado eu sou.

Mas, ao mesmo tempo, nunca me senti tão grato por ser vigiado de perto.

É claro, o lado negativo é que estamos sendo levados de volta para o hotel, onde a equipe inteira vai descobrir o que fizemos.

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"𝑬𝒖 𝒕𝒊𝒏𝒉𝒂 𝒕𝒂𝒏𝒕𝒂𝒔 𝒐𝒑𝒄̧𝒐̃𝒆𝒔,𝒎𝒂𝒔 𝒆𝒖 𝒇𝒖𝒊 𝒎𝒆 𝒂𝒑𝒂𝒊𝒙𝒐𝒏𝒂𝒓 𝒋𝒖𝒔𝒕𝒐 𝒑𝒆𝒍𝒐 𝒓𝒆𝒊 𝒅𝒂 𝒆𝒔𝒄𝒐𝒍𝒂..." © 2020.
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Jeon Jungkook loves his cigarettes dearly. But the only thing he'd give them up for is the taste of strawberries on his lips. (or) AU where Jungkook...
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