Luna não fazia ideia do que estava fazendo, indo, sozinha, para a cabana. Ela não queria a intromissão dos espíritos das suas antepassadas, contudo, ela imaginava que era o único lugar onde poderia praticar, ou tentar, a magia.
Ela não sabe, também, como invocar o caos. Nem mesmo aprendeu bruxaria, nem encantos, como faria tudo isso sozinha, tendo que cuidar de si mesma e de Adrian, que estava sendo usado para a atingir.
Ao chegar, ela encarou a cabana, maltratada pelo tempo e a falta de cuidado e não sabia por onde começar. O que diria? Tentaria invocar alguma coisa daquele livro?
Mas como? Tudo o que tem ali é pura magia de bruxa, e a única coisa diferente é a parte onde as suas ancestrais invocaram o caos. Não havia um manual de como usar, como pronunciar. Não tinha uma professora.
Luna, então, caminhou até as escadas, onde sentou em um dos degraus, tirou o livro e o abriu, olhando para a página onde havia um desenho.
Era uma mulher que flutuava no ar. Seus cabelos ondulados e longos, voavam assim como o desenho da silhueta. A mulher vestia uma calça colada ao corpo, uma blusa, com calda e uma tiara, desenhada em sua testa, onde no centro, uma pedra vermelha chamava a atenção.
Luna não fazia ideia se era ela. Apesar das características, parecia mais velha. Ela encarou a pintura, curiosa, passando seus dedos sobre os detalhes. Runas, no qual ela ainda não conseguia ler, estava desenhada ao redor.
Ela parecia hipnotizada. O clima mudou, um vento atingiu o lugar e a garota não havia percebido. As folhas dançavam a sua frente, enquanto ela ainda estava presa no desenho.
De repente, ela sentiu uma energia atravessar seu corpo, a deixando ligada. Ao olhar, novamente, para o livro, pode entender o que significava.
Cada uma significava algo. Salvadora. Governante. Realidade. Caos.
Ao perceber, Luna se impressionou. Como fez aquilo?
A garota se levantou, ainda com o livro nas mãos, olhando para o redor, pensando, confusa. Como eu consegui ler isso?
Bem, ela não sabia. Empolgada com a descoberta, ela passou as páginas, leu o feitiço e o entendeu.
- O que está acontecendo? – Perguntou a si mesma. – Como, do nada, consigo ler isso?
Aquela não foi a única coisa surpreendente que aconteceu. Uma mulher, uma das inúmeras ancestrais, estava ali, no plano físico. Não em matéria, mas sim um astral.
- Parabéns. – Zombou a mulher. Luna fechou o livro com rapidez e o escondeu em seu corpo. Ela não tinha a reconhecido. A desconhecida tinha pele escura, cabelos cacheados, usava uma roupa fora de moda. Algo medieval. – Jura? – Levantou uma das sobrancelhas. Luna, ainda com os olhos arregalados e assustada, recuou, vendo a mulher se aproximar. – É uma ofensa não reconhecer uma das suas ancestrais.
- Espera – Se tocou, franzindo o cenho. – Estou no outro plano? – Olhou ao redor.
Bem, era fácil saber onde estava. Pelo menos, foi assim das duas últimas vezes. Ela sentia a energia. Parecia estar no passado, e não era isso que acontecia, no momento.
- Eu quem vim atrás de você. – Explicou. – Vejo que está descobrindo os truques.
- Que truques? – Continuou desconfiada. – E como está aqui? Achei que não podiam fazer isso.
A mulher, no qual não tinha se apresentado ainda, revirou os olhos.
- O colar que está usando. – Explicou, fazendo Luna olhar para o pingente que sua mãe lhe deu. – Posso usá-lo como ponte.
- Certo, mas você não deveria estar aqui. – Resolveu descer. O barulho das folhas secas, partindo-se, cada vez que andava, ecoou. – Além do mais, estou furiosa com vocês.
A gargalhada debochada da nova amiga, a fez franzir o cenho. A mulher, então, ironicamente, se curva e diz:
- Heloise, sua mentora. – Luna cruzou os braços, chateada. – A garotinha mimada ficou com raiva?
- Não preciso de uma mentora. – Ela ficou irritada. Esse novo espirito estava a deixando furiosa. – Posso fazer isso sozinha.
- É, eu vi todo o seu drama. – As duas estavam frente a frente. Luna era muito teimosa, e não gostou da outra garota, que parecia ter em torno de vinte e poucos anos. – Olha, você precisa de nós, querendo ou não.
- Já me ajudaram bastante, quando me deram um poder que não sei controlar.
- O poder do caos é incontrolável. – Explicou.
- Ótimo.
- Sem treinamento. – Adicionou. – Você deve aprender a se controlar, antes de tentar controla-lo.
- Não sei se reparou, mas... não tenho muito tempo. – Resolveu andar para longe. – Tenho que aprender a usar. Preciso de um feitiço de proteção, ou uma bruxa maléfica vai usar o Lobisomem que, aparentemente, é ligado a mim, contra mim mesma.
- Claro, o lobinho.
- Olha – Virou-se repentinamente, furiosa. – Se não veio me ajudar, vai embora!
- Eu sou a pessoa que mais sabe como funciona o poder do caos. Fui eu quem comecei com toda essa merda, ou seja, eu fui a pessoa que idealizou esse plano, então, baixa a bola.
- Não é você quem deve controlar algo que não sabe nem usar, que tem inúmeras responsabilidade, que não pediu, nas costas, uma bruxa perseguidora e ainda tem que esconder de todo mundo, o que é.
- Que bom que não vive na época medieval, docinho, ou seria difícil esconder. Seria condenada e queimada viva, por algo que, não escolheu. – Heloise tinha a mesma personalidade, forte, que Luna. Talvez fosse por isso que elas não estivessem se dando bem. – Acho que você vai gostar de uma viagem. – Falou, indo até Luna, tocando em sua cabeça, e a transportando para um passado doloroso da própria Heloise.
- O que...? – Luna foi emburrada para um tempo onde tudo era mais sombrio. Ouviu pessoas vindo, e ao olhar para a cabana, ela não existia. Ela arregalou os olhos e viu Heloise, dessa vez, viva. – Que merda é essa.
Heloise andava rápido, vestindo um longo vestido, típico da época. Combinava com sua pele. Era sensual. Ela parecia andar depressa, correndo de alguém. A mulher segurava algumas coisas em sua mão. Um frasco, galhos secos, e outras coisas que Luna não conseguiu identificar.
Como não conseguia se comunicar com a mentora, ela decidiu a seguir. Vendo Heloise entrar em sua casa, fechar a porta, respirar fundo e, com magia, mover algumas coisas do lugar. No centro da pequena sala, havia velas acesas. Desenho de pentagrama no chão, onde ela se sentou no meio, distribuindo o que havia pego.
Luna não fazia ideia do que estava acontecendo, nem como sair dali. Heloise pronunciava um feitiço. Aos poucos, o vento começou a bater forte na janela, as velas ameaçavam apagar, os olhos da morena ficaram brancos, enquanto seu corpo levitava.
Luna arregalou os olhos, ela parecia entender. Era uma invocação. De repente, a luz da lua cheia apareceu, no centro. Heloise então, começou a dizer coisas, em latim, tornando o vento ainda mais forte. A invocação do caos.
Heloise sabia que não conseguiria fazer isso sozinha. Não se brincava com o caos, e isso chamaria a atenção de todos. Quando acabou, a mulher estava, novamente no chão. A única coisa que restou foram as velas, pois até o pentagrama havia desaparecido.
Porém, a noite não estava acabada para ela, pois em pouco tempo, homens invadiram a sua casa, pegando Heloise pelos braços, no qual não resistiu. Curiosamente, a mulher pareceu enxergar Luna, que saiu da casa, seguindo os homens.
A garota viu Heloise sendo levada para o vilarejo, onde todos que moravam ali, se reuniam. Ela foi colocada em um grande troco, cercado por lenha, onde foi presa e Luna sabia o que iria acontecer.
Pediu para ir embora. Ela não queria ver, mas foi impossível. Quando os gritos da mulher começaram, Luna fechou os olhos e derramou algumas lagrimas. Quando abriu os olhos novamente, estava de volta a sua realidade.
- Todas nós nos sacrificamos para criar você. – Heloise disse. – Fomos perseguidas, mortas, queimadas.
- Por que se sacrificar tanto? – Luna ainda estava abalada.
- Estávamos presas. – Revelou. – Quando moremos, vamos para aquele lugar. Revivemos nossas mortes todos os dias. Os lobisomem, nos persegue, e... mesmo mortos, ainda sentimos dor.
- Espera, por que?
- A maldição criada. – Explicou. – A bruxa primordial prendeu todos os seus descendentes, os lobos. E continua usando a nossa ligação para fazer mal aos que estão vivos.
- Como?
- Ligação de sangue, você ainda vai aprender.
- Não quero aprender isso
- Pelo amor de Deus. – Revirou os olhos.
- Não! – Foi enfática. – Vocês me deram o poder do caos.
- Invocamos o caos. – Corrigiu. – Você foi criada. Ele tomou forma. Para usá-lo, vai ter que se conectar a essa energia. Mas saiba que é muito perigoso.
- Eu já li. – Informou.
- Acha mesmo que as informações que lê por ai vai ajuda-la a entender o caos?
- Pelo menos eu sei de algo.
- Então vamos começar com: levitação.
- Levitação? – Levantou uma das sobrancelhas.
Continua...