Felix não soube exatamente como saiu da casa de chás e galopou de volta. Todo o ocorrido parecia um sonho, algo que ele assistiu e não necessariamente viveu.
Conhecer dois vampiros em um prazo tão curto? Quão irreal parecia?
Solaria sequer tinha casos de desaparecimento ou crimes passionais, sempre fora um ducado pacato e monótono. Não fazia nenhum sentido que criaturas sobrenaturais misteriosamente adquirissem um repentino interesse por ele.
As palavras de Lino ressoavam em sua mente, vívidas e um tanto distorcidas. Sua confissão sobre um passado doloroso, as memórias de sua família compartilhadas, o punhal em seu coração após a traição de Hyunjin... E a espécie de "jogo" de roubar companheiros mencionado pelo vampiro... Por que ele entregaria todas essas informações a um lorde que ele acabou de conhecer?
Lino afirmou que a notícia de seu encontro afetaria Hyunjin, afinal de contas ele parecia um homem perigoso com o qual Felix não deveria se envolver. E levando em consideração que eles estavam construindo... algo, o conde provavelmente se importava com seu bem-estar. Mas...
Como Lino sabia sobre o... entendimento que eles dois tinham?
Teria ele habilidades dedutivas e observadoras tão impressionantes quanto o detetive "Sherlock Holmes" para associar a breve conversa pública do Lee naquele baile com o conde a algo mais comprometedor?
Felix não notou sua presença no salão, parecia-lhe improvável que Lino os tivesse visto, mas o segundo contato ocorreu entre portas fechadas no castelo dos Han, onde o outro vampiro certamente não estava presente.
Talvez... as perguntas que o lorde fez a respeito do forasteiro para os administradores da cidade, de alguma forma, chegaram aos ouvidos desse tal irmão!
Hyunjin mencionou algo sobre saber que o Lee o investigara. Se ele obteve essa informação, Lino poderia também, visto que ambos tinham as mesmas competências. Sendo vampiros tão atraentes e distintos quanto "Lord Ruthven" de "The Vampyre", escrito por Polidori, facilmente seduziriam qualquer humano para confessar-lhes o que desejassem. O controle mental e a hipnose eram habilidades comuns dos personagens sombrios de Bram Stoker, Le Fanu e Polidori. O próprio Felix fora compelido a não reagir a cena horrorosa e sangrenta na casa de chás, ele não se surpreenderia se, de repente, Lino pudesse ler mentes.
O quê?
Ler mentes?
Não... o Lee estava se deixando levar. Imaginando que o vilão bolaria um plano mirabolante para descobrir seu affair com o conde. Sendo mais razoável, ele concluiu que a obra de sua imaginação fértil e enviesada pela quantidade de dramas e aventuras que leu nos livros da biblioteca não importava. Como Lino descobriu era irrelevante. Ele simplesmente sabia — e esperançosamente seria o único.
O que Felix faria com essa constatação era a questão. Não, mais importante do que isso era descobrir o porquê de ele ter-lhe dito coisas tão íntimas sobre si mesmo. Era um vampiro bom de prosa, que gostava de se conectar com suas possíveis vítimas?
Hyunjin também não o escondia muitas coisas...
Seriam eles todos sedentos por atenção e reconhecimento por sua grandeza sobrenatural? Por isso expunham sem rodeios sua natureza sombria e compartilhavam intimidades com qualquer um?
Lino não parecia um sujeito egocêntrico até onde ele pôde perceber. Perigoso, por outro lado, descrevia-o bem.
Faria mais sentido que suas palavras tivessem um propósito premeditado perverso.
Felix era um bom ouvinte e considerava-se um confidente confiável, mas um vampiro forasteiro que o estava conhecendo naquele dia não poderia estar interessado em desabafar com sua pessoa e obter os conselhos amigáveis de um jovem pouco vivido.
Quando ponderava quais benefícios Lino obteria partilhando seu relato de uma história trágica que ficou no passado, sem a possibilidade de mudança, ele concluía que isso só faria o lorde... simpatizar com ele.
— Onde diabos você estava?!
Felix foi agarrado pelos ombros assim que saiu do estábulo, onde desmontou de seu alazão e o acomodou em seu devido lugar. Perdido em devaneios, como de costume, demorou a dar-se conta de que em sua frente estava o conde de Mooncrest.
Sob o véu dourado do pôr do sol ele parecia ainda mais formidável do que se lembrava. Seus fios reluziam como cordões de cristal e seus olhos cintilavam em uma tonalidade amarelada como a pedra preciosa citrina. Sua pele, no entanto, não parecia bronzeada ou aquecida pelo sol. A palidez acinzentada que a cobria e as sombras duras que tornavam suas feições afiadas entregavam que Hyunjin não era como Felix.
Belo, fascinante, mas ainda... paranormal. Uma criatura obscura.
Os orbes rastreavam cada centímetro de pele do Lee, enquanto suas mãos gélidas esfregavam nervosamente seus ombros e braços.
— O que você... E-Eu fui ao centro em nome de meu pai, resolver algumas pendências. — Notando o afobamento do outro, segurou seus punhos com ternura. — O que está procurando?
— Você está bem?
— Estou. O conde não me avisou que visitaria-me tão logo — Felix disse, mordendo a língua, pois esperava sua visita muito antes.
— Não estava nos meus planos, mas não ouvi sua voz, nem senti o seu cheiro nenhuma vez hoje. Comecei a preocupar-me que tivesse saído na surdina em um momento meu de distração. Questionei os criados a respeito de seu paradeiro, mas eles continuaram insistindo que o lorde estava em seus aposentos. Sei que eles não conseguiriam mentir para mim, mas seus batimentos cardíacos não estavam em lugar nenhum e...
O Lee abraçou-o, cortando sua fala rápida e desesperada.
— Eu estou aqui agora. Estou bem.
— Não. Você não está seguro. Não se sair desta casa... maldição, nem mesmo dentro dela — Murmurou para si mesmo. — Você não estará seguro enquanto eu não...
— Sir Hwang, há algo que o conde acredita que eu deveria saber? — O Lee separou-os para olhá-lo nos olhos.
O vampiro quebrou a conexão, mesmo que seus olhos ainda estivessem pregados nos dele. Tornaram-se vazios e opacos, como se seu espírito estivesse passeando em outros mundos.
— Pelas suas falas imagino que tenha vigiado a mim e a minha casa pelo dia de hoje, ao menos. E suponho que não seja o primeiro dia. O que fazia aqui, se não me visitaria?
— Por que saiu às escondidas? — O conde rebateu com outra pergunta.
— Não o fiz, só não costumo dar satisfações aos servos. Saí bem cedo e somente meu pai estava ciente da minha agenda. Não vai responder o que o trouxe até aqui?
— Juro que não se repetirá, isso pode ser-lhe inconveniente. — Hyunjin tomou seu rosto entre as mãos, olhando-o com carinho. — Senti saudades suas.
— Você não pode mentir olhando-me nos olhos.
O conde franziu o cenho.
— Está evitando o assunto. Está escondendo coisas de mim.
Ele suspirou e afastou as mãos do Lee.
— Não quero assustá-lo ou causar-lhe um pânico inútil. Eu... vou cuidar de tudo por nós.
— Você se importa comigo, conde?
Hyunjin sorriu-lhe e tomou sua mão, depositando um beijo sob o tecido imaculado de suas luvas.
— Certamente eu faço, meu doce lorde.
— Oh. Diante disso, acredito que não seja inútil. Meu pânico seria bem justificado, sim. Aprecio seus sentimentos, mas eles trarão dor a você e perigo para mim. Devíamos ser totalmente honestos um com o outro.
O sorriso apagou-se.
— Por que está dizendo isso?
— Eu o encontrei hoje.
— Felix! É você, irmão? — A voz de Lady Olivia ecoou, aproximando-se rapidamente.
— Quem?
— Ele veio até mim e contou-me histórias tristes sobre o passado.
— Quem contou a você, lorde?
— Lix! Responda quando a senhorita sua irmã chamar! — Olivia estava quase os alcançando.
— Lino — revelou e virou-se na direção da voz feminina. Ele sentiu o coração acelerar enquanto tentava raciocinar sobre como deveria apresentar o Hwang. — Sim, Liv, estou de volta. Este... — Voltou-se para o vampiro, mas... não havia mais ninguém.
A garota abraçou-o com um sorriso e ergueu o queixo para encará-lo, esperando que concluísse sua fala.
— Hum?
— Está anoitecendo, devíamos entrar. — Ele passou um braço ao redor dos ombros da irmã, averiguando os arredores e não encontrando vestígios de nenhuma criatura sombria da noite, nem de seus criados.
Todos deviam estar cumprindo suas obrigações com o jantar ou reclusos após um árduo dia de trabalho. Ele só estranhou que o cavaleiro não o estivesse esperando no estábulo e sim Hyunjin...
O homem alto que havia desaparecido na floresta em um piscar de olhos, tão rápido quanto uma semente ao vento. Tão místico e sobrenatural quanto sua natureza.
Aqueles pinheiros eram assustadores de noite, todos tão parecidos que tornavam-se um labirinto, ele sentia calafrios e estremecimentos só de pensar em vagar naquele território. Felizmente, o conde era um vampiro com sentidos aprimorados, isento daquele temor humano pela própria vida. Com suas aptidões estaria a salvo no castelo dos Han em um piscar de olhos...
Felix, no entanto, fora colocado contra a parede. Ele teve de compartilhar com Olivia alguma história inventada a partir dos livros que lia, já que a garantiu que "contaria-lhe em um momento oportuno". Curiosa e entediada, a mocinha aguardou ansiosamente por ouvir sua aventura, que ele tornou o mais absurda e irreal possível, para fazê-la tomar como mentira óbvia e não mais desconfiar que ele podia ser audacioso às vezes.
Seria melhor se ela o julgasse incapaz de cometer rebeldias contra o decoro; se perdesse o interesse em questionar seus segredos e por onde andava. Afinal, só ouviria mentiras descabidas e desvairadas. O Lee amava a caçula e sabia que ela, provavelmente, seria a única de sua família a aceitar sua verdadeira perversidade, a sodomia intrincada em seu ser; mas ele ainda não estava pronto.
Menos pronto ainda para explicar a parte que seu amante era uma criatura amaldiçoada da noite que bebeu seu sangue quando Felix pediu.
O lorde fez sua higiene, jantou com a família e recolheu-se em seus aposentos algumas horas mais tarde; a presença de Lino ainda pairando sobre suas preocupações. Ele suspirou e decidiu que dormiria. De toda maneira, ele não resolveria nenhum quebra-cabeça naquela noite sem todas as peças.
Mas quando estava prestes a apagar a vela em sua cabeceira, sentiu uma brisa forte agitar suas cortinas e um cheiro familiar ferroso misturado a um perfume oriental preencher o ambiente. Uma sombra esguia e escura estendeu-se no centro do quarto, diante de sua cama.
O coração do humano perdeu o compasso e acelerou o ritmo. Deveria ter sido de susto, perplexidade.
Não foi.
— O q-que faz aqui? — Com as bochechas coradas, o lorde imaginou o sabor daqueles lábios carnudos e carícias tão agradáveis e indecorosas quanto as que recebeu no castelo dos Han.
Hyunjin não respondeu, ele foi até Felix e o tomou em seus braços, encaixando sua cabeça na curva do próprio pescoço. Segurando-o firme, como se pudesse quebrar ou escapar, ele farejou cada nota do cheiro adocicado de cacau e morangos.
Envergonhado com suas vestes inapropriadas e pensamentos perversos, o Lee tentou esconder seu corpo com as mãos e abaixar a cabeça para manter oculto em suas feições o desejo pelo Hwang. O vampiro tomou o seu queixo, erguendo-o para conectar seus olhos, parecendo totalmente alheio a qualquer coisa que não fosse seu belo rosto confuso.
— Você está bem? Não está ferido em nenhum lugar? — Hyunjin tinha um penteado selvagem, seus cabelos espalhavam-se em todas direções como se ele os tivesse amassado e puxado nas últimas horas.
Embora mantivesse uma vitalidade constante e eterna, sua feição aparentava abatida para o Lee. As roupas do conde estavam empoeiradas e duras em sua postura rígida, tensa, tanto que o lorde poderia ouvir suas juntas rangerem como dobradiças enferrujadas em seu próximo movimento.
— Eu disse que estou bem. Nenhuma avaria foi feita a mim, conde. Isso é por causa de Lino, certo?
— Minho. O nome dele é Minho. — Hyunjin soltou-o e cerrou os punhos e a mandíbula, sua musculatura contraída entregando sua preocupação exacerbada. — Ele... compeliu você? Disse coisas estranhas que o fizeram sentir-se diferente do que você acredita que sentiria? Fazer o que normalmente não faria?
— Ele obrigou-me a ficar calmo e quieto enquanto tomava chá e comia pãezinhos de mel.
O que Felix não mencionou foi que ele precisou ser acalmado pelo corte no pulso do garçom que fez uma poça ao lado de sua mesa.
— O que ele disse?
— Nada tão absurdo e drástico quanto o que provavelmente está imaginando, eu garanto. Ele inteirou-me a respeito de sua confiança traída e as promessas quebradas. Falou sobre uma fuga com seu companheiro e você o abandonando.
O Hwang engoliu, seu pomo de Adão saliente captando a atenção do mais baixo.
— Ele não me fez nenhum mal, mas deixou claro que é perigoso e que poderia. Disse-me que apenas transmitir a você sobre nosso encontro o afetaria como ele precisava, que o nervosismo de não saber quando ele virá me buscar o incomodaria muito mais do que me raptar de imediato.
— Como? Como ele descobriu sobre você? Fui extremamente cauteloso...
— Fiz a mim mesmo essa pergunta, mas isso ele não disse. E, de toda maneira, agora que já aconteceu não é tão importante, suponho. O que acontecerá comigo daqui para frente é.
Hyunjin encarou-o fixamente, seus olhos transitando de uma íris a outra, ele tocou a bochecha macia e acariciou com o polegar.
— Eu estou em perigo, não estou?
O olhar inocente e puro do lorde partiu o coração do vampiro, ele sentiu um temor abalar suas estruturas e uma queimação insuportável pela culpa também. Tanto, que poderia se desmanchar em prantos. Ele não fez isso. Seus olhos tornaram-se inteiramente negros e veias de mesma cor ramificaram-se deles.
— Eu não vou permitir que ninguém o machuque, meu companheiro. Jamais. Garantirei que sobreviva, não importa o que eu tenha que fazer.
Felix sentiu uma friagem formigar em sua espinha, ele estremeceu e deu um passo para trás. Pela primeira vez temor encheu seu espírito quando ele viu a forma demoníaca do Hwang. Ele usou as mãos para tatear o que estaria atrás de si enquanto se afastava lentamente. O instinto de autopreservação zumbia de forma ensurdecedora em sua mente.
Ele avançou em uma velocidade sobre-humana, seus dedos frios e implacáveis contendo os punhos do outro com força. Ele sentia a urgência de agir, de proteger, motivando-o.
— Hyunjin... — A voz do Lee saiu fraca e quebrada, um sussurro suplicante. Seus olhos estavam arregalados e ele parecia assustado.
Felix tentou relutar e desvencilhar-se das mãos que o algemavam, mas foi em vão. Ele era notoriamente mais fraco que o vampiro.
— Pare. Solte-me, você está me machucando — pediu, com lágrimas se formando em seu olhar. — Pare, Hyunjin. — Mas o mais velho esteve alheio aos pedidos, seu próprio temor o cegando.
Ele livrou apenas uma das mãos para morder o seu pulso, o humano tentou empurrá-lo e estapeá-lo, mas perante sua imponência não tinha chance.
Os lábios do vampiro ficaram escuros com o líquido viscoso que escorreu por sua pele pálida, suas presas pontudas manchadas com seu próprio sangue. Quando o Hwang o direcionou ao lorde, Felix lutou com mais desespero.
— Não! Por favor, pare! Solte-me! Você está me assustando! — As lágrimas escaparam, contornando as bochechas avermelhadas do Lee, ele tentou chutar e socar, mas o corpo do vampiro parecia sólido como uma rocha.
Ele sequer oscilava com qualquer golpe. Hyunjin segurou seu braço com tanta força que ele poderia quebrar, a dor fez o Lee apertar os olhos e expulsar mais de seu choro desesperado. O pulso ensanguentado do conde foi pressionado contra os lábios pequenos, que tentaram cuspir e em última instância morder em uma tentativa de afastá-lo.
Ele não se abalou, inerte a dor, com uma determinação queimando em brasas em seus olhos negros, que fixamente observavam o sangue preto abundante descer pela garganta de Felix. O lorde jogou a cabeça para trás e impulsionou-se para longe, pegando algum fôlego para não sufocar. Havia lágrimas e sangue por todo o seu rosto e queixo.
— Para trás! Fique longe de mim! — Ele suplicou, olhando para qualquer coisa em seus aposentos que pudesse usar para se defender do vampiro.
O gosto amargo e picante daquele veneno estava o enchendo de vitalidade e força, embora ele chorasse em desespero como uma criança pequena. Ele poderia ter gritado por ajuda, ele deveria, mas, parte de si não queria que Hyunjin fosse descoberto e afastado permanentemente dele. Felix só precisava que ele caísse em si e repensasse suas ações.
Ele imaginou que compartilhar seu sangue era provavelmente um gesto com intenções protetoras por detrás, fruto de sua preocupação desesperada, mas eles não discutiram sobre nada disso antes. Felix estava assustado porque não sabia o que estava acontecendo. Se o conde não o mordeu para se alimentar e fez, na verdade, o contrário, forçando o Lee a beber dele; poderia estar tentando torná-lo um vampiro também?
Fazê-lo seu semelhante? Um demônio que perdia o controle e não tinha consciência de suas atitudes mesmo contra aqueles que amava? Alguém perturbado e eternamente sozinho, como Lino?
O lorde lera o suficiente sobre vampiros e seres sobrenaturais para se fascinar com eles e admirá-los, mas ele nunca quis ser um. Embora tivessem capacidades impressionantes e fossem substancialmente mais poderosos que os frágeis humanos, Felix nunca almejou poder.
E para toda vantagem, sempre havia um "porém". Ser cronicamente belo, jovem, mais rápido que os demais, mais forte que qualquer um e não precisar se preocupar com enfermidades era bastante atrativo, ele não negava. Mas e sobre a parte de tornar-se um demônio sanguinário que não tem um fim?
O mundo era imenso e parecia divertido, o lorde gostaria de ter duas ou três vidas extras para chegar aos cem e conhece-lo por inteiro; mas não se imaginava existindo para sempre. Em algum momento o tédio, a monotonia e a morte de todos que ele conheceu e amou um dia o fariam querer um final, uma conclusão. Descansar, finalmente.
E os prazeres de satisfazer-se em um banquete delicioso por estar faminto, ou de dar aos seus músculos cansados um sono revigorante, o orgulho de si mesmo por vencer as dificuldades cotidianas e envelhecer contra as probabilidades?
Qual seria o propósito de sair da cama todos os dias se Felix simplesmente não necessitasse de nada e não fosse morrer nunca?
E se... Hyunjin... o deixasse em algum momento?
— Não! Não faça isso! Eu não quero ser como você! — O Lee chorou e agarrou com força o punho que o segurava. — Estou com medo. Você está me machucando!
Hyunjin viu o mais puro terror nos olhos de Felix e sentiu um aperto no peito ao perceber o efeito catastrófico que sua natureza vampírica estava tendo em seu companheiro. Só tentava desesperadamente resguardá-lo, mas no momento, seu demônio, na verdade, era quem ameaçava o que mais valorizava.
— Eu só... quero protegê-lo de Minho. Em sua atual condição você é frágil e completamente vulnerável.
— Pois então prefiro morrer. Eu prefiro morrer a ser como você.