"Um desconhecido fazendo perguntar"
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O sol começa a se por no horizonte, me fazendo questionar se ficarei ali mais quanto tempo, naquela casa da velha.
Estou encostada na parede da varanda, olhando o sol, esperando para o que iria acontecer, já que Yusuke e Kuwabara estavam passando cera no chão.
A velha sai de dentro do quarto onde os meninos estavam, não consegui ouvir o que eles conversaram, já que eu não estava prestando atenção, não queria prestar atenção e estava com uma dor de cabeça muito forte.
Com o passar dos dias, com o treinamento que a vovó passava para Yusuke que ele me ensinava, eu conseguia sentir as presença dos yokais mesmo a distância, aquilo me dava arrepios e a dor de cabeça que eu estava sentindo.
A vovó me olhou, caminhou na minha direção, desencostei da madeira e caminhei até o parapeito da varanda, apoiei meus cotovelos na madeira e juntei as mãos entrelaçando os dedos uns nos outros.
- Assim como o seu irmão, você ficará muito mais forte daqui por diante. - ela disse, sinto o seu olhar sobre mim, não a encaro. - As habilidades melhoram com os anos, seu irmão será um estrategista e você a guerreira dele, que ajudará a colocar as estratégias em movimento. - olho para ela, juntando as sobrancelhas.
Ela me olha, pela primeira vez, sorri, com sinceridade.
Desencosto, ficando ereta e me viro para ela.
- No entanto... - digo, fazendo ela desaparecer com o sorriso dos lábios.
- No entanto, pessoas como ele, que enfrentam um poder maior do que a dele, chega ao fim da vida e morre.
Caminho na direção dela, ficando face a face com ela.
- Nunca deixarei meu irmão morrer! - cuspo as palavras com raiva e medo.
Anseio, na verdade. Se meu irmão morresse, meu mundo iria cair, não só meu mundo, como também tudo o que eu amo.
- Eu espero muito que esse dia nunca chegue. - ela completa, me dando as costas.
Ela some pela varanda, meu irmão e Kuwabara saem do quarto, meu irmão me olha, caminha na minha direção e para na minha frente.
- O que ela lhe disse? - meu irmão me questiona.
Nego com a cabeça.
- Nada de mais, apenas orientações para eu te ajudar a cumprir. - ironizo, fazendo sumir o meu tom de preocupação. - E o que ela lhe disse?
Meu irmão me olha, logo desvia para Kuwabara, volta a olhar para mim.
- Vamos descer a montanha!
Entro no meu quarto, junto as minhas coisas, já que sabia que era a nossa hora de partir, não era muita coisa, já que eu não trouxe quase nada.
Saio do quarto, com ambos já me esperando, saímos da varanda, a vovó nos esperava para descer o lance de escadas, a qual, subi a mais de 20 dias.
Começo a descer as escadas, no meio do Yusuke e Kuwabara, a vovó está bem atrás de nós três, Botan não está com a gente, a verdade é que já havia horas que eu não a via.
Meu irmão para, para logo alguns degraus a baixo, viro meu corpo para a vovó, assim como meu irmão e Kuwabara.
- Não vai se livrar da gente não, vovó. - meu irmão diz.
- Mesmo que a senhora não queira, a gente vai voltar. - foi a vez de Kuwabara falar.
Cruzo os braços, arrumando a mochila no ombro. Ela me olho, olho para ela e sorrio.
- Se esquecer da gente, não haverá piedade quando voltarmos. - ameaço.
Ela ergue a cabeça e sorri, ela olha para cada um, um de cada vez.
- Cuidem-se, rapazes. - ela fala para os dois. - Akiko, proteja-se e proteja os meninos. - ela pede.
Concordo com a cabeça, dou as costas para ela e volta a descer as escadas, com ambos ao meu lado.
- Ah, moleque! - ouço Kuwabara dizer.
Ainda sinto o olhar da vovó sobre mim, sei o que ela quis dizer em proteger os meninos, mais eu só me importava com Yusuke, Kuwabara sabia se defender agora.
O sol já estava sumindo quando saímos da casa, agora a noite estava sobre nós três e com ela, um vento de tempestade.
Paramos na frente de uma encruzilhada.
- É aqui que a gente se despede, até amanhã irmãos Urameshi. - Kuwabara fica de costas para nós dois e sai andando, erguendo o braço e dando adeus.
Viro meu corpo em direção que meu cabelo fique atrás dos meus ombros, Yusuke me olha e dá de ombros.
- Vamos para a casa onde a nossa mãe está, deixamos as coisas lá e eu te pago um lámen da Keiko. - ele diz.
Comemoro dando palmas e dando pulinho, ele começa a andar com as mãos nas bolsas da calça.
- Só se você levar as coisas para dentro de casa. - digo, mostrando a minha bolsa.
Ainda caminhando, ele me olha sobre o ombro, sorrio para ele, ele revira os olhos e concorda.
- Já dá para mim se não eu mudo de ideia. - ele estica o braço esquerdo e eu lhe entrego a minha mochila, ele coloca no ombro e continua andando.
O vento bate nas nossas costas, jogando o meu cabelo para frente, tiro alguns fios de cabelo sobre a boca, é um vento de tempestade, a qual em sempre amo, o vento não é gelado e nem quente, ele é de tempestades, aquelas em que dá raios no início e no fim, a chuva cai com força.
- Você lembra daquela menina que estudava na nossa sala? - ele me questiona, o olho, sem entender. - Aquela que sempre sumia por alguns dias e durante os finais de semana, em que, quando você ligava, o avô dizia uma doença diferente.
- Ahn! Sei. O que tem ela? - me lembrei da garota que ele estava falando.
Keiko e eu éramos muito amiga dela, mais ela começou a sumir depois de alguns dias e agora, ninguém sabe a onde ela está, já que ela some e volta.
- Faz tempo que não a vemos mais. - responde.
Concordo. A verdade, é que depois que o avô dele morreu e ela conseguiu completar o ano, como, ninguém sabe, ela voltou a sumir, a mãe e o irmão dizem que ela está viajando para completar a carga do curso que ela está fazendo, então, os professores pedem para levarmos as anotações para o irmão, ela fica uma semana e volta para a "viagem" dela.
Paramos na frente da nossa casa, não quero entrar agora, a vovó está lá dentro fumando e eu odeio o fedor de cigarro, assim como a mamãe provavelmente vai estar fumando.
Yusuke entra e o vento volta a ficar forte. Olho para o céu, de costas para a rua, o vento passa novamente pelo meu corpo, uma mão sobre meu ombro me faz virar já na defensiva.
A pessoa se afasta, erguendo as mãos na frente do corpo, na defensiva também.
- Desculpa por ter de assustado. - ele começa a dizer, coloco a mão sobre o peito e sinto meu coração batendo acelerado.
Fecho os olhos e solto um ar pesado, abro os olhos e volto a olhar para a pessoa.
Ele está piscando, com as mãos já ao lado do corpo, com uma mochila de lado. É um rapaz, seus olhos são escuros e o cabelo negro como o céu em tempestade que se formava sobre a nossas cabeças.
- Tudo bem! - digo. - No que posso te ajudar? - pergunto.
Ele sorri, sem mostrar os dentes, seu olhar é de empolgação.
- Eu sou novo na cidade e eu queria chegar ao centro, mais parece que eu me pedir. - explica. - Como chego lá? - questiona.
- Na verdade, você se perdeu muito. - me aproximo dele, já virando meu corpo para a rua a frente. - Segue reto até o fim da rua, vira a esquerda e vira na quarta direita, aí você vai chegar na rua de comércio, lá vai ter gente que pode lhe ajudar melhor, inclusive táxi.
Volto a olhar para ele, ele estava olhando para onde eu estava apontando. Meu corpo se arrepiou, olho em volta, não há nenhum yokai por perto, assim provavelmente daria tempo para esse rapaz fugir, ele me olha com um sorriso mais aberto.
- Muito obrigado! - ele dá uma afastada. - Aliás, sou Nark! - ele estica a mão.
Olho para a mão dele e aperto em resposta, um novo arrepio me percorre, dessa vez, é dele.
- Kyo! - é o primeiro nome que me vem a mente, não sei de quem é esse nome.
Solto minha mão da dele e sorrio, para disfarçar minha preocupação.
- Pode me dizer se tem alguma casa a venda por aqui? Ou na cidade em si? - continua me perguntando.
Nego. Pisco e penso em Yusuke, dou as costas para a rua em que apontei para o rapaz, ou seja lá, o que ele é.
- Aí, caramba! - ele passa a mão nos fios longos do seu cabelo, ele olha para o lado. - Preciso de um lugar para ficar essa noite, tem algum hotel no bairro? - questiona novamente.
Movimento meu corpo, batendo o pé no chão.
- Achei que queria ir para o centro! - falo, fazendo ele olhar para mim.
Ele sorri, disfarçar sua mudança de olhar, já que ele ficou com dúvida do que eu disse.
- Sim, preciso! - ele se aproxima de mim. - Mais e depois, a onde eu vou ficar? - me questiona.
- No centro tem hotéis para passar a noite. - digo.
Não podia simplesmente jogá-lo para o mundo, mais eu não tinha certeza se era mesmo ele quem era o yokai ali.
Som de flauta me faz olhar sobre o ombro do rapaz, no céu, como se fosse um balão, algo passa, tocando uma flauta, atrás de si, duas crianças dançando.
Volto a olhar para Nark que estava na minha frente, mais agora não está mais ali, logo a porta se abre de casa e é Yusuke que está falando algo.
- Só tem uma cama para nós dois, ou seja, eu durmo no chão e você na cama. - ele para na minha frente.
Pisco, atordoada com tudo o que eu vi.
- Akiko, o que foi? - ele me questiona.
- Aconteceu uma coisa muito estranha! - digo, logo deixando meus lábios entre abertos.
Ele me olha com desconfiança, sem entender do que eu estava falando. Continuo olhando para o céu, onde vi a criatura com a flauta e as crianças passando no céu.