Lua nova

By tatahalvesribeiro

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Eu preferia somente poder ser eu mesmo sem precisar me preocupar com que minhas ações sejam a próxima fofoca... More

Prólogo
Capítulo um

Capítulo dois

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By tatahalvesribeiro

16 de novembro
Luke me acompanhou até em casa ontem enquanto me escutava falar sobre o livro que estava lendo na praça (Ele que perguntou sobre) e acho que eu tagarelei um pouco demais, mas a leitura é um hiperfoco muito grande meu.
Dessa vez trocamos números para que pudéssemos conversar pela internet.
Minha mãe ficou muito surpresa e desconfiada por me ver chegando com alguém novo em casa.
Eu não sou muito de fazer amizades, porém eu nem sei se isso é uma amizade.
Eu realmente estou confuso em relação ao garoto com a pele cor de chocolate.
Passei o resto da tarde de ontem pensando em como me sentia em relação a Luke, sentimentos não são fáceis de se entender e é ainda mais difícil para uma pessoa neurodivergente assimilar tudo isso.
Durante a noite fiz uma maratona de estudos para as provas de hoje, eu deveria estar com sono mas roubei um pouco de whisky escondido do meu pai e isso me deixou bem acordado.
Eu não estava preocupado com as notas pois como um grande filósofo disse uma vez “Notas não medem seu conhecimento”.
O caminho para a escola foi o mesmo de sempre, as provas também as mesmas chatices, história dos reinos, geografia e etc.
A única matéria que me interessa de verdade é artes. Um dia gostaria de ser um grande artesão reconhecido pelo povo graças ao meu trabalho e esforço.
Minha mãe diz que é uma perda de tempo e que eu deveria investir no meu cargo como sucessor e ficar rico.
A última prova terminou e eu fui direto até a sala de canto onde Lena estava à minha espera.
Lena faz parte do coral da escola e de sua igreja desde que eu me lembro, e hoje ela estava ensaiando para a sua apresentação.
— Finalmente Tata, achei que não viesse mais
Vou até o armário e pego o violão da escola emprestado já que não pude trazer o meu.
— Eu não te deixaria na mão

Depois que terminamos de ensaiar, Lena se dirigiu até a igreja para sua apresentação e eu fiquei arrumando a sala de canto.
Até que a porta se fechou atrás de mim com baque alto, eu podia ouvir os risinhos do outro lado e logo reconheci as vozes de Kaia e Naru.
— Meninas, isso não tem graça, abram.
Mais risadinhas.
— Ue Taylor você não é homem? Não deveria estar com medo.
Seus passos e suas vozes se distanciavam cada vez mais da porta.
Elas foram embora e me deixaram trancado.
— Brincadeira de mal gosto viu
Isso ia me dar problema mas eu não tinha escolha, peguei meu canivete na mochila e desparafusei a maçaneta fazendo com que a porta abrisse magicamente mesmo sem a chave, porém quando eu já estava do lado de fora tentando encaixar a maçaneta de volta fui pego no flagra por Antony o zelador da escola.
Eu já sabia que estava ferrado.
Antony me levou até a diretoria onde ligaram para minha mãe e contaram o que viram, eu “vandalizando as propriedades escolares”.
Enquanto esperava do lado de fora da sala podia ouvir minha mãe se perguntando em voz alta “onde foi que eu errei?”.
A porta se abriu e minha mãe estava vermelha, mas antes que pudesse ter a chance de me explicar sua mão atingiu com força o lado esquerdo do meu rosto.
Ela me deu um tapa.

Ao chegar em casa ainda tive que escutar poucas e boas dos meus pais, como se a culpa do que tinha acontecido fosse minha.
Depois de cerca de duas horas de broncas e reclamações pude finalmente ir até meus aposentos e descansar.
A essa hora a noite já estava chegando e haviam novas mensagens de Luke no meu celular.
Depois de explicar tudo para ele, marcamos de nos encontrar no pequeno “parque” perto do centro da cidade que é tão pequeno que nem de parque dá pra chamar.

Chegando lá me sentei no canto de um banquinho esperando sua chegada eu só não esperava que ele viesse acompanhado.

O mesmo grupinho que havia implicado comigo e jogado a bola em mim estava se aproximando junto com ele, meu coração acelerou na hora e minha mente disparou minha ansiedade imaginando todos os cenários que poderiam dar errado a partir daquele momento.
Fechei meus olhos e respirei fundo e quando os abri novamente Luke e os outros já estavam à minha frente.
Olhei para Luke com raiva em busca de uma resposta e mesmo no escuro consegui ver seus lábios formulando as palavras “foi mal” sem som.
— Ah, ficou surpreso de nos ver?
É a voz da mesma menina que falou comigo no dia da festa, poderia reconhecer essa voz de longe, mas me recusei a olhar para o resto do grupo e fixei meus olhos em Luke esperando para ver quando ele ia tomar uma atitude sobre os atos de seus amigos, e de repente seus olhos mudaram de arrependidos para determinados.
— Cowen vai embora
Ela se virou para ele tão incredula quanto o resto dos rostos ao redor.
— O que?
Luke desviou seu olhar de mim para direcioná-lo a ela, e eu a olhei em seguida, não perderia sua expressão por nada.
— Vão E-M-B-O-R-A
Um dos garotos se aproximou e passou o braço por cima dos ombros de “Cowen”
— Qual é cara você não vai trocar a gente por “ela” né ?
Passei minha língua pelos dentes de nervoso, é claro que eles iam apelar para isso.
— Taylor é meu amigo. E vocês não vão desrespeitá-lo na minha frente.
— Luke…
— Eu não quero mais saber de vocês.
Eu tinha a sensação de que aquilo tinha sido só o começo, mesmo que eles já tenham ido embora a muito tempo Luke permanecia em silêncio sentado ao meu lado com a cabeça baixa.
Quando me dei conta eu já estava gargalhando alto.
Luke me olhava com uma expressão confusa e eu sabia que ele não estava entendendo nada mas mesmo assim não conseguia parar de rir.
— Cara eu nunca ri tanto em toda a minha vida
Passei a mão pelo rosto secando as lágrimas de alegria e depois olhei bem no fundo de seus olhos.
— Obrigada
Sua expressão ficou mais suave, porém ainda mostrava um semblante de confusão.
— Vai me explicar o que está acontecendo? Eles foram extremamente babacas com você, mas você está rindo!
Desviei o olhar sorrindo.
— Luke eu não ligo para esse tipo de coisa, é claro que machuca mas se essas pessoas tentam me ofender é somente porque não são felizes com si mesmas.
Quando olhei novamente para ele, não conseguia mais entender a emoção que estava em seu rosto.
Parecia uma mistura de alegria mas também de admiração.
Corei levemente e decidi agradecer de novo.
— Mas a questão é que ninguém nunca me defendeu assim então obrigada novamente e desculpe por te colocar nessa situação com seus amigos
Desta vez ele gargalhou alto e me deu um susto de leve, mas acho que ele não percebeu.
— Tata não precisa se desculpar, eles não eram bons amigos mesmo, na verdade nem sei se considerava eles meus amigos de verdade.
Ele sorriu para mim e nesse momento eu percebi que estava muito ferrado.
Eu estava me apaixonando.
— Você está bem, Tatá?
— Ah sim
Acho que fiquei tempo demais olhando para ele, é difícil para mim entender as regras da socialização.
Luke me acompanhou até em casa como sempre, mas nosso caminho foi resumido em um silêncio bom nós nos entendemos da nossa própria forma.

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