Sobre Sangue e Mar (Alluvium...

By scararmst

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Em um pequeno território nortenho chamado Kaldrjǫrð, entre montanhas, rios e fiordes de gelo, dois povos vizi... More

Góublót
A Canção do Fim
Os Lobos de Ulvegr
Uma Porta Se Fecha
Ostara
Desgraça Iminente
As Estradas das Águas do Mar
Irmãos de Guerra
Noite de Máni
A Disputa do Cordeiro
Walpurgisnacht
Cachorro
A Rocha do Lobo
A Batalha do Mar de Aegir
Mudando a Maré
Impotência
O Dia em que Musphelhein Congelou
O Vôo da Valquíria
Ritos Finais
Lar
Fragmentos do Passado
Sob a Égide de Týr
Uma Questão de Perspectiva
Desvio Inesperado
Intenções Assassinas
Liberdade Condicional
Pela Bênção de Odin
Águia de Sangue
Lealdade
Pequenos Asilos
Tratado Selado
Champanhe e Hidromel
Na Pele
Roxo e Azul
Lua de Fenrir
À Margem
O Sangue dos Kaldreses
Casa Grande
O Novo Mundo
Renascimento
Epílogo

Estratégias Diplomáticas

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By scararmst

Seu carinho faz uma diferença infinita para mim!

Eu escrevo porque gosto, mas mais ainda porque quero dividir meus personagens e minhas histórias com vocês, e deixa meu dia infinitamente feliz que vocês também possam dividir o que pensam das histórias e dos personagens comigo <3 Então, me encheria de alegria se você considerasse votar, comentar e mostrar essa história para seus amigos.

Nós temos um grupo de whatsapp também se quiser conversar com outros leitores. Não tenho conseguido colocar aqui nos comentários, mas mando por mensagem pra qualquer um que pedir :D

Obrigada por dedicar um tempinho ao meu projeto. Espero que se divirta!

E obrigada a todos pelas 150 leituras <3 Fiquei muito feliz!


Trygve estivera muitas vezes ao lado do trono de Ravnheimr, como braço direito e conselheiro, fazendo seu trabalho de orientar Sigrid em suas decisões, embora na maior parte das vezes ela não lhe desse ouvidos. Era fácil sentir, parado ao lado dela e vendo o peso das decisões cair em suas costas, que poderia tomar decisões melhores em seu lugar. Que se fosse ele, sentado ali, as coisas seriam diferentes. Agora, porém, a chance de fazer tudo de forma diferente estava em suas mãos, e ele não sentia nada além de inquietude e um pouco de medo. Não se sentia capaz, ou merecedor. Talvez tivesse passado tempo demais de sua vida ouvindo outras pessoas dizerem que não merecia nada, que não era bom o suficiente, e agora ali estava. E Aric, quem tinha todas as peças encaixadas para avançar indefinidamente em seu futuro, estava queimado, e suas cinzas jaziam no fundo do mar.

Ele apoiou a mão no encosto do trono. Se sentia estranho, quase um intruso contemplando se sentar no lugar de outra pessoa. Mas Bjorn tinha o nomeado, e não por achar que o devesse um favor — se fosse por isso, Trygve teria recusado sem pensar duas vezes —, mas por todo o tempo que passara ao lado de Sigrid, por como conhecia Ravnheimr e os ravenos. Ravenos e ulveganos sempre foram um único povo, kaldreses, mas seria ingenuidade assumir que nada mudara em todos os anos passados como dois povos separados. Ansiavam por estarem juntos de novo, mas haveria detalhes para resolver pelo caminho. Bjorn achava que Trygve estava pronto para isso, mas estaria?

Trygve ouviu passos atrás de si, e se virou, vendo Torben chegar pelo corredor dos fundos. Vinham discutindo a possibilidade de se mudarem para a casa grande, mas a ferraria acabara se tornando seu lar, e agora Trygve não queria deixá-la. Ela precisava ser reconstruída como o resto da cidade, e o jarl ansiava por voltar ao seu canto de paz com o noivo, onde pudessem se preocupar com nada além de preparar o casamento.

Jarl. A palavra amargou no fundo da garganta de Trygve, ainda não acostumado com o título. Ele tentou colocar uma expressão tranquila no rosto ao olhar para Torben, mas algo em seu rosto deveria ter denunciado seu nervosismo, pois Torben não parecia enganado nem por um segundo.

— Você precisa se acalmar — ele comentou, se aproximando e pousando a mão no ombro de Trygve, fazendo um carinho suave. — Bjorn não teria te escolhido se não achasse que você serve para a posição.

— Não tenho tanta certeza — o jarl respondeu, se afastando do trono e entrelaçando seus dedos nos do noivo. — Talvez ele só queira alguém que não vai discutir com ele. Temos o rabo preso agora, então...

— Pare com isso — Torben cortou, segurando os dois ombros de Trygve com força, o virando para si. — Você merece isso. Você conquistou isso. Tenho orgulho de ter feito parte disso pelo caminho, e de ter visto o quanto você pode liderar. Você vai conseguir, e eu estarei com você a cada segundo do caminho, ok?

Trygve assentiu em silêncio, ainda encarando o trono com um olhar languido e distante. A resposta não parecer ser boa o suficiente para Torben, uma vez que ele decidiu abraçar as costas do noivo e caminhar com ele para fora da casa grande.

— Vem comigo, eu quero te mostrar uma coisa.

O jarl o acompanhou sem prestar muita atenção em seus próprios passos, a mente perdida no futuro e em como coordená-lo enquanto seguia o caminho. Não se deu conta da direção em que estava indo até reconhecer a região que cercava a ferraria de Torben — não, a casa deles — e a casa de pé, como costumava ser.

— Torben?!

— Você estava ocupado — o ferreiro comentou. — Tem um meio país pra arrumar, não pode ficar priorizando suas coisas, mas eu posso. Coloquei ela de pé pra nós com a ajuda dos meus irmãos.

Trygve sentiu os olhos lacrimejarem. Torben o puxou pela mão, os dedos entrelaçados nos dele, e parou de frente para a porta, com a mão na maçaneta.

— Quer dar uma olhada?

É claro — ele respondeu, juntando sua mão à do noivo.

Os dois abriram a porta. A ferraria estava quase exatamente como era antes por dentro. Quase. Ao lado do balcão da forja, havia uma mesa larga com espaço para Trygve escrever o que fosse necessário em seus documentos. Havia um baú extra também.

— Aquilo é... para mim?

— É claro! Antes era a casa de um ferreiro, agora é de um ferreiro e um jarl.

— Torben —

— Você nem viu o quarto ainda — o ferreiro cortou, um sorriso aparecendo em seus lábios, um pouco carinhoso, um pouco maldoso. A forma como Torben o olhava fez um arrepio correr a espinha de Trygve, um tom rosado tomando seu rosto.

Não conseguiu dizer nada, se sentindo mais envergonhado que gostaria de admitir. Ele deixou Torben conduzi-lo escadas acima, a mão já abrindo a porta para o quarto deles. Do lado de dentro, o quarto parecia exatamente como antes, com uma cama muito parecida, mas com o acréscimo de uma banheira bem maior. E ela estava cheia agora, com água fumegante de quente.

— Torben... O que é isso? — Trygve perguntou, o rubor em seu rosto aumentando e ele se virando para Torben um pouco exaltado.

Não queria parecer nervoso, mas não pode evitar. E sua reação acabou apagando um pouco do sorriso do rosto de Torben, algo do que se arrependeu imediatamente.

— Não estou reclamando — se apressou a completar. — É incrível, a casa está incrível, e está frio, não é? Então é uma boa ideia que —

Torben colocou dois dedos sobre os lábios de Trygve, e o homem parou de falar. Então levou a mão para o rosto dele, fazendo um carinho suave.

— Você está pensando algo e não está me falando — Torben comentou. — Nós sobrevivemos. Os problemas acabaram. O que está te preocupando?

O jarl segurou a mão de Torben com a sua, entrelaçando seus dedos nos dele. Não sabia se conseguiria explicar, mas tinha certeza de que o homem não o deixaria em paz até que falasse sobre.

— As coisas mudaram — ele comentou, se sentando na beira da banheira. Torben o acompanhou, sentando ao seu lado. — Eu... vou ter que mudar. Foi tudo muito rápido e... Não sei. Estou fugindo dessa conversa faz um tempo, mas não sei como você se sente sobre se casar com um jarl.

Torben franziu a testa, e Trygve sentiu um alívio tímido. Talvez não fizesse diferença para ele.

— As coisas vão mudar — Trygve continuou. — Sei que você gosta de uma vida tranquila, foi o que lutamos para ter. Mas agora estarei o tempo todo enfiado em problemas grandes, viajando por Ravnheimr... A vida pacífica que sonhamos em ter juntos não pode existir.

— Hm — Torben respondeu, dando de ombros, um sorriso leve aparecendo em seu rosto. — Você não aprende mesmo... Eu não estou com você por uma vida pacífica, ou por uma ou outra coisa que você possa me proporcionar. Quando você vai entender? Eu só quero estar com você, mesmo. E se tivermos que viajar muito, ou se eu passar o dia inteiro em uma cadeira ao seu lado, vou fazer isso muito satisfeito. Fui ferreiro por muito tempo. Ainda quero ser, mas mais que isso, quero ser seu marido. Simples assim.

— Simples assim?

— Sim.

— Ah.

Trygve sentiu o rosto esquentar. Não sabia exatamente como responder a isso. Ele e Torben fizeram tantos planos, e vários deles mudaram sem que previssem. Temera que a nova vida fosse ser desagradável para ele, e passara tanto tempo pensando nisso que não passara para considerar as coisas boas que poderiam vir.

— Viajar com você vai ser agradável — Trygve respondeu, um sorriso aparecendo em seu rosto.

— Sabe o que também pode ser agradável? — Ele perguntou, os dedos roçando devagar no pulso de Trygve, entrando por baixo da manga de sua blusa. — Um banho quente em um dia frio desses. E você parando de se preocupar tanto com pouco. Me promete?

— É um pedido um pouco difícil...

— Trygve...

— Vou tentar. Mas sou uma pessoa complicada... Eu não tive uma família grande e amorosa como você. Cresci acreditando que eu era um espinho no caminho de todo mundo... Queria dizer que isso é um problema que posso superar com facilidade, mas talvez seja algo que sempre estará um pouco comigo.

— Então vou estar aqui, todos os dias, pra te lembrar de como as coisas são — Torben respondeu, roubando um beijo breve de Trygve. — Temos todo um futuro pela frente, meu amor. Não tem porque se preocupar.

A cabeça de Trygve agora era nada além de preocupações. Como iria gerir Ravnheimr? Como iria convencer um povo envenenado por tempo demais pelas ideias violentas de Sigrid que um futuro diferente era possível e melhor? Iria conseguir construir o mundo com o qual sonhara por tanto tempo?

Mas agora decidiu não pensar nisso. Deixou Torben tirar suas roupas, uma de cada vez, e afundou na água quente com ele, deitando a cabeça em seu peito e se permitindo relaxar em seu abraço. O universo poderia jogar o que quisesse em sua frente. Com Torben ao seu lado daquela forma, se sentia pronto para enfrentar o mundo.



A biga de cabras parara ao lado de fora da clareira. Sivir receou que tivesse dificuldades para reencontrar o local sem a ajuda direta de Freya, mas o caminho acabara gravado em seu cérebro, algo que ela agradecia agora, embora também ressentisse. Não queria Mikhail e sua comunidade na fronteira de Krasnaya ocupando tanto espaço em sua mente, mas não pode evitar. Quando se deu conta, percebeu simplesmente saber aonde estava indo.

— Você vai bater ou não? — Alvar perguntou, parado ao seu lado, enrolado da cabeça aos pés em um cobertor.

Não estava muito mais frio ali que em casa, mas Alvar vinha se recusando a mostrar o rosto até quando estavam sozinhos, e ela não podia culpá-lo. A situação era... curiosa. Quase imperceptível, felizmente, mas se fosse percebida, levantaria questões as quais não queriam responder. Além disso, Sivir desconfiava de que ele simplesmente não gostasse de tê-la o encarando como vinha fazendo, mas não conseguia evitar.

— Pra quem não queria vir, você está bem ansioso.

— Já vim, não vim? Agora que já me dei ao trabalho, vamos acabar logo com isso!

Sivir tentou não se irritar. Depois do combate contra Hulda, a sacerdotisa ulvegana, pensou que Alvar fosse morrer. A magia krasniana parecia estar corroendo a pele dele de dentro para fora, se espalhando por suas veias enquanto ele voltava à forma humana no meio da noite ravena. Preocupada que alguém pudesse ver um lobo se transformando de volta antes do nascer do Sol, Sivir usara o resto de suas forças para carregá-lo para longe no meio do caos, e ficar com ele até ser seguro aparecerem de novo.

Um dia depois, fora da lua cheia, ele se transformara em casa, após ter um surto nervoso ao acordar de dia e não encontrar a irmã, que estava trabalhando nos funerais, ali.

Não precisou de muito para Sivir entender o que acontecera. Pretendia pedir a Bjorn para visitar Krasnaya de qualquer forma, então foi bom que ele a enviasse, embora a mulher tivesse fingido um pouco que não estava tão interessada quanto queria parecer. Não precisava de Bjorn fazendo perguntas demais. Era melhor o homem pensar que a ideia fora totalmente dele.

E não bastasse precisar engolir seu orgulho e voltar até a Rocha do Lobo com o rabo entre as pernas, tinha de fazê-lo com Alvar ainda mais irritado que ela pelo ocorrido, não querendo estar ali, mas não tendo escolha a não ser estar. Sequer vira Mikhail ainda, e já queria ir embora.

Ela suspirou, batendo na madeira do portal, cansada e já detestando os comentários que o líder certamente teria a fazer sobre sua situação. Ao seu lado, Alvar cruzara os braços e parecia estar ali contra a própria vontade, o que em partes estava. Embora Sivir não o tivesse obrigado a ir, ele não ficara feliz ao ver que essa era sua única escolha.

Precisaram esperar um bom tempo. Ela chegou a se perguntar se Mikhail se recusaria a recebê-los, talvez tivesse ferido o ego do homem a esse ponto. Mas, ego ferido ou não, o orgulho pareceu tomar precedência e o portal se abriu, revelando o homem parado do outro lado.

Sivir sentiu seu coração dar um salto breve, um arrepio inesperado descendo por sua espinha. Ele estava exatamente como se lembrava: a pele marrom, os cabelos castanhos ondulados na altura dos ombros, os caninos levemente sobressalentes e aquele anel fino e púrpura ao redor das íris.

— Hm. Sivir Erikovna. E... O irmão — ele anunciou, se recostando contra o portal. — O que está fazendo na minha casa?

Um sorriso curto se insinuou no canto da boca de Mikhail. Sivir não ia dar a ele o gosto de ouvi-la pedindo ajuda, embora sua presença ali já fosse muito significativa. Em vez disso, ela puxou Alvar para o lado, puxando o cobertor para expor seu rosto, e esperando que os olhos dele, com aquele anel roxo ao redor das íris, exatamente como os de Mikhail, falasse o bastante por si.

O sorriso sumiu do rosto de Mikhail. Ele encarou Alvar com seriedade, puxando o queixo do homem para perto, girando seu rosto de um lado para o outro para olhar os olhos dele mais de perto.

— O que foi que você fez?! — Ele perguntou, soltando Alvar com brusquidão.

— Foi sem querer! Estávamos lutando, eu usei alguns dos seus feitiços, e deu nisso!

— Ah, sim, lutando. Na sua guerra. Eu disse que isso acontecer.

— Você vai ajudar ou não?!

— Não! — Mikhail exclamou, voltando para dentro do portal e batendo a porta.

Sivir deixou o queixo cair. Tudo bem, sabia que ele não estaria muito feliz de vê-la. Imaginou que teria de insistir um pouco, talvez, ou barganhar. Mas não esperara ser dispensada daquele jeito.

— Eu sabia! — Alvar exclamou, puxando o manto de volta. — O que você achou que ia acontecer? Ele é terrível, nós podemos —

A porta se abriu de novo, de uma vez, e ali estava Mikhail, a irritação visível em seu rosto. Sivir abriu um sorriso forçado, largo, torcendo para isso ser o bastante para ganhar o que tivesse sobrado da simpatia do homem, e ele cedeu, se afastando para o lado e dando espaço para os dois entrarem.

Alvar seguiu para dentro, sem olhar para Mikhail no processo, e Sivir seguiu em passos ansiosos. A porta bateu atrás deles e Mikhail passou em sua frente, seguindo até sua casa.

Sivir reparou que foram reconhecidos. As pessoas olhavam para os dois, alguns a cumprimentando com sorrisos e acenos, outros parecendo menos felizes de vê-los ali. Fora embora tão focada nas perguntas que fora até lá para responder, que não parara para pensar sobre o impacto que estava deixando para trás. Era provável que fossem se lembrar do ocorrido por muito tempo. E, é claro, dela também. Se tinha uma boa reputação, talvez suas chances de conseguir um acordo fossem maiores. E se conseguisse um acordo, poderia ficar ali, e não precisaria viver em Kaldrjǫrð sob o regime de Bjorn.

Foram guiados para dentro da casa, e Mikhail fechou a porta atrás deles. Então seguiu até a cozinha, resmungando, abrindo os armários para pegar três copos e servindo um pouco de vodca em cada um. Sivir não estava esperando beber, mas não iria recusar a bebida quando precisava da ajuda de Mikhail para alguma coisa.

— E então — ele comentou, virando seu copo de uma vez. — Em detalhes. Que merda você fez?

Sivir bebeu um gole de seu copo, sentindo o líquido queimar garganta abaixo. Que merda fizera? Mikhail continuava tão arrogante quanto antes, mas agora tinha uma camada de razão por cima para justificar suas atitudes metidas.

— Estávamos lutando — Sivir explicou. Decidiu ser concisa e direta, não precisava dar mais detalhes a Mikhail para ele se achar mais dono da razão ainda. — Alvar foi mordido e era lua cheia, então estávamos conectados pelo ritual de Fenrir. A luta ficou complicada e eu decidi usar alguns feitiços que aprendi com você. Alvar colapsou um pouco, e aqui estamos nós.

Mikhail suspirou, apertando a ponte do nariz por um instante. Ele serviu mais uma dose para si, e se sentou à mesa em seguida, agora bebendo a dose devagar.

— Você nem deveria ser capaz de fazer isso. Pensei que as magias não funcionassem juntas.

— Fiquei tão surpresa quanto você.

— Hm. E você? — Mikhail perguntou, se virando para Alvar. — O que aconteceu depois?

— Eu virei gente no meio da noite — ele respondeu. — E... virei lobo de dia algumas vezes.

Alvar pigarrou. Havia mais na situação. Se fosse apenas uma questão de Alvar tendo sua transformação com um comportamento diferente, poderiam sobreviver com isso, mas ele não estava conseguindo controlar. E isso, em seu povo, era um sinal de que alguém não estava apto a fazer parte da sociedade. Já tinha Sigrid presa e rechaçada por ordem de Bjorn, se isso acontecesse com seu irmão também não conseguiria aguentar.

— A coisa saiu de controle — Sivir cortou. — Não podemos deixar isso acontecer assim. Viemos aqui pra Alvar aprender a controlar a condição dele e, talvez, conseguir um acordo diplomático com você. A guerra acabou. Bjorn está interessado em seu povo.

— Bjorn, huh? Então a abordagem da sua irmã não funcionou.

Prima.

— Tanto faz.

Mikhail se levantou, levando as mãos para as costas, caminhando devagar até a janela da cozinha. Sivir conseguiu imaginar o que se seguiria a isso. Mikhail acabara de perceber que tinha a vantagem na situação, e ele era do tipo de aproveitar cada pedaço.

— Não tenho interesse no seu novo rei, por mim vocês podem todos se explodir — Mikhail comentou. Isso não surpreendia Sivir, e honestamente ela não se importava. Não fora até ali por Bjorn. Fora por Alvar. — Já seu irmão... Admito que as possíveis consequências da inesperada mistura da nossa magia com a sua me... preocupam. Então aqui está minha oferta: vocês podem ficar aqui, e eu proverei auxílio na situação dele, desde que eu tenha acesso livre a qualquer aprendizado e informação que a situação possa oferecer. Meu acordo é com vocês, não com seu país, e pode ser quebrado assim que uma das partes assim desejar. Até lá, vocês podem ficar. E então?

A resposta era óbvia sobre qualquer ângulo. Precisavam de ajuda, e também precisava considerar que Bjorn a diria para aproveitar a oportunidade e tentar convencê-lo com o passar do tempo. Sivir não queria fazer nenhuma caridade para Bjorn, mas ainda era kaldresa e gostava de sua nacionalidade. Se ficasse ali e não fizesse nenhum esforço em direção a um acordo, poderia enfrentar consequências. É claro, poderia mentir, e Bjorn não teria como saber a verdade, mas... era um risco.

— Muito bem. Aceitamos — Sivir respondeu, bebendo o resto de seu copo.

— Aceitamos?

— Sim, Alvar, aceitamos, pelo amor de Odin temos que resolver sua situação.

— Mas —

— Excelente, Sivir Erikovna! — Mikhail respondeu, o familiar sorriso cínico se abrindo em seu rosto. Ele se virou para Alvar, o dispensando com gesto de mão. — Busque Natalya Ivanova lá fora, ela vai poder te ajudar melhor que eu. E eu preciso falar com sua irmã.

Alvar abriu a boca para protestar, mas Sivir se virou para ele imediatamente, usando uma onda leve de seiðr para cobrir sua boca como uma mordaça. Ele resmungou algo, ininteligível, e então se levantou de uma vez, ainda praguejando enquanto saía da cozinha. Sivir manteve a seiðr até o ver do lado de fora da casa, e então se levantou, apoiando as mãos na mesa e encarando Mikhail com um olhar sério.

— O que você quer?

A expressão de Mikhail ficou séria. Ele apoiou as mãos na mesa, como Sivir, de frente para ela, a encarando como se tentasse desvendar um quebra-cabeças.

— Sou eu quem deveria te perguntar isso. Sua guerra aconteceu, você estragou as coisas e voltou aqui pra eu limpar sua bagunça com seu irmão. Tudo bem. Mas você teve coragem de dar as caras aqui após ter contado pro seu rei sobre nós. O que acha que vou fazer com você se ele vier causar problemas?

— Ele é frouxo! Não causa nada em ninguém a não ser vergonha alheia.

— Besteira. Você está cheirando a mentira, e eu quero saber o que —

Mikhail se interrompeu. Ele encarou Sivir por um instante, uma sobrancelha subindo devagar, e antes do sorriso de canto começar a aparecer no rosto dele, a sacerdotisa já soube o que estaria se passando na cabeça do homem. Ela sentiu o arrepio na espinha, de novo, e pelo calor subindo em seu rosto teve certeza de que estaria corada.

— Ora ora Sivir Erikovna... — Ele comentou, o sorriso agora fixo em seu rosto. — Como está sua magia? Funcionando bem?

— E-está ótima, ok? — A sacerdotisa exclamou, dando um passo para trás. Mais rápido que gostaria de admitir, Mikhail deu a volta na mesa e estava parado em sua frente, a analisando de cima a baixo, como se pudesse enxergar através de suas roupas.

— Se você diz... Só acho que talvez você esteja um pouco preocupada porque seu uso da magia krasniana teve repercussões inesperadas. Talvez você queira calibrar tudo de novo. Talvez você precise de ajuda...

Então, ele deu de ombros, a expressão ficando séria, cruzando as mãos à frente do corpo. Em um segundo, o Mikhail sedutor e provocador dera lugar à expressão altiva que ele carregava no rosto, o ar de superioridade se insinuando por baixo de sua expressão.

— Ou talvez não, quem sou eu para saber. Se me dá licença, tem alguns documentos que preciso analisar... No meu quarto.

Ele deu as costas sem dizer mais nada e deixou a cozinha. Sivir ficou parada no lugar por alguns instantes, sentindo as pernas bambearem de leve. Ele era ridículo. O que achava que estava fazendo? Maldito, agindo como se soubesse tudo sobre qualquer coisa, como se fosse melhor que ela, como se... se...

Maldito.

Ela grunhiu, deixando a cozinha e subindo as escadas com passos pesados. Mikhail precisava aprender uma lição. Tomar um susto, uns tabefes, qualquer coisa. Ela seguiu pelo corredor até o quarto do fundo e bateu na porta com força, com a mão espalmada, a madeira balançando de leve contra as dobradiças.

Sivir sentia o sangue ferver. Ele era um grosso, metido, ignorante... Como achava que poderia... Como achava que sabia mais sobre ela que ela mesma?

A mulher esperou do lado de fora, espumando, pensando se começaria gritando com ele ou lhe dando um belo tapa na cara, mas não precisou aguardar muito até Mikhail abrir a porta. Estava usando as mesmas calças leves de antes, mas a blusa agora tinha um decote muito maior.

Ia xingá-lo, mas as palavras morreram em algum lugar entre seu cérebro e sua boca. Estava furiosa. Ele não apenas achava que poderia manipulá-la, o maldito estava conseguido. E ela estava perto demais de deixar.

Mas não ia deixar. Não podia ser tão ridiculamente previsível a esse ponto, certo? Certo?

— Precisa de algo, Sivir Erikovna?

Até a voz dele parecia alguns tons mais baixa, embora Sivir achasse que esse último detalhe fora apenas invenção da sua cabeça. Ela pigarrou se preparando para mandá-lo ir à merda e exigir que ele retirasse o que acabara de dizer, mas não foi isso que acontecer.

A única coisa que ela conseguiu fazer foi atirar os braços ao redor do pescoço do homem, colando seus lábios nos dele. Ela ainda pode senti-lo sorrir contra seus lábios antes de puxá-la para dentro e fechar a porta.

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