Ladar - Sangue & Sacrifício...

By ruiszh_sebas22

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Setecentos anos antes de Sangue & Honra. Em um mundo onde a lua ilumina um terreno de trevas e traições, Calu... More

Dedicatória
Apresentação do Livro
Cast 1
Cast 2
Epígrafe
A canção do caçador
01 - A festa dos Mortos - Parte I
01 - A festa dos Mortos - Parte II
01 - A festa dos Mortos - Parte III
02 - Serpentes da Floresta - Parte I
02 - Serpentes da Floresta - Parte II
03 - A cidade dourada - Parte I
03 - A cidade dourada - Parte II
04 - O Festival da Lua - Parte I
04 - O Festival da Lua - Parte II
04 - O Festival da Lua - Parte III
05 - O Treinamento - Parte I
05 - O Treinamento - Parte II
06 - Emeriony
07 - Presságio - Parte I
07 - Presságio - Parte II
07 - Presságio - Parte III
07 - Presságio - Parte IV
08 - Uma nova visão - Parte I
08 - Uma nova visão - Parte II
08 - Uma nova visão - Parte III
09 - Outrora era assim - Parte I
09 - Outrora era assim - Parte II
09 - Outrora era assim - Parte III
09 - Outrora era assim - Parte IV
10 - Caos & Sangue - Parte II
10 - Caos & Sangue - Parte III
10 - Caos & Sangue - Parte IV
11 - A Batalha de Tessélia - Parte I
11 - A Batalha de Tessélia - Parte II
11 - A Batalha de Tessélia - Parte III
12 - Reivindique as Feras - Parte Final
12 - Reivindique as Feras - Parte Final
12 - Reivindique as Feras - Parte Final
12 - Reivindique as Feras - Parte Final
12 - Reivindique as Feras - Parte Final

10 - Caos & Sangue - Parte I

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By ruiszh_sebas22

Calum e Rasmus caminhavam entre os centauros, o cheiro de terra úmida e madeira queimando no ar tomava de conta da floresta. A Fenda estava tomada pela presença majestosa das criaturas, que se moviam com uma graça selvagem, conversando e sorrindo entre si, como não mais faziam há séculos. As cabanas rústicas, cobertas por musgo e iluminadas por tochas, criavam uma atmosfera ancestral, quase mítica. De repente, Calum sentiu uma pontada na cabeça. Uma visão o tomou de assalto: ele via uma cidade em chamas, a fumaça negra subindo em espirais, gritos de soldados ecoando. Uma mulher, com os olhos vazios sem vida, tinha a cabeça cravada em uma estaca. O horror da visão o sufocava, e ele sentiu o chão se abrir sob seus pés. Mas, tão rápido quanto veio, a visão se desfez, deixando Calum ofegante.

Ele piscou, tentando clarear a mente, e percebeu que não estava mais entre os centauros. Diante dele, sentada sobre uma rocha coberta de musgo, estava uma mulher de presença imponente, pronunciando palavras em uma língua élfica. Evera Lamila, a Sacerdotisa da Fé Vermelha, cujo rosto ele quase esquecera, mas o sorriso não.

Calum cambaleou, segurando a cabeça que ainda latejava, mas a dor começou a diminuir. Ele olhou para Evera, seus olhos cheios de perguntas.

— Calum — a voz de Evera era suave, mas carregada de uma gravidade inescapável —, a guerra começou. As chamas de Eolon chegaram à fronteira. Costa-Ferro caiu, os exércitos marcham para a fronteira.

Calum sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Pouco do que havia escutado sobre Eolon, era que o caos não mais controlava.

— Eolon... — murmurou, mais para si mesmo do que para Evera.

— Sim — respondeu Evera, seus olhos fixos nos de Calum. — Chegou o momento, Calum, o tempo em que você deve matar o caçador que vive dentro de você e salvar o guerreiro antes que seja tarde demais. Se não o fizer, Eolon recuperará todo o seu poder, e nossas terras serão consumidas pela escuridão. Ele forjará uma nova criação e todos nós seremos varridos do mapa. Expurgados do controle enquanto o mal controlará o vento e as marés e os que restar da gente, serão escravizados.

Calum respirou fundo, tentando absorver o peso das palavras de Evera. Ele sabia do que ela estava falando. O caçador, a parte de si que sempre buscou sobrevivência a qualquer custo, precisava ser silenciada para que o verdadeiro guerreiro dentro dele pudesse emergir. Como uma fênix, mas Calum Fireblade possuía tantas feridas.

— Mas como, Evera? Como posso matar uma parte de mim mesmo? — a voz de Calum tremia com a incerteza.

A Sarcedotisa levantou-se, sua figura imponente contra o pano de fundo da floresta, as roupas vermelhas sendo o contraste com sua cabeleira branca.

— Através da fé e da força, Calum. Você não está sozinho nesta luta. Nós acreditamos em você. A luz de Eslandril brilha em seu caminho, mas você deve aceitar o desafio e lutar com todo o seu ser. Reivindique o poder... reivindique a magia profunda e permita que ela o consuma por dentro e guie seus passos. Mate o caçador, torne-se o guerreiro que nasceu para ser. Lute por todos os que se foram. Lembre-se de Cole, de Lencel, de seus pais. Tome o poder.

Calum fechou os olhos por um momento, sentindo o peso da responsabilidade sobre seus ombros. Quando os abriu novamente, encontrou a determinação que precisava nos olhos de Evera.

— Me ajude a reivindicar e eu lutarei por nós. — Ele afirmou com uma nova firmeza na voz. — Lutarei contra Eolon, contra o caçador dentro de mim, e salvarei nosso mundo do fim.

Evera assentiu, uma expressão de aprovação suavizando suas feições.

— Então que seja.

A floresta estava em silêncio quando Calum foi levado para Noron. A lua cheia brilhava intensamente no céu, lançando um brilho prateado sobre tudo. As fadas dançavam no ar, suas luzes cintilando como estrelas ao redor dos troncos negros das árvores sagradas. Centauros, homens e outras criaturas mágicas seguiam em um cortejo solene, seus passos abafados pelo tapete de folhas caídas. Este era um momento sagrado, uma cerimônia de libertação que ninguém testemunhava há gerações. Calum caminhava com passos firmes, sentindo o peso de cada olhar sobre ele. Rasmus, seu mentor e guia, estava ao seu lado, seu rosto sério e olhos focados. A presença de Noron se intensificava a cada passo que davam, como se as árvores negras os observassem com olhos invisíveis. Quando finalmente chegaram ao círculo de Noron, Calum sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Este era o lugar onde ele renasceria. Noron, o círculo formado por cinco árvores antigas e negras, parecia pulsar com uma energia própria. Os troncos eram altos e retorcidos, com galhos que se estendiam como braços esqueléticos para o céu. A luz da lua filtrava-se entre as folhas, criando padrões místicos no chão. Calum respirou fundo, sentindo a energia do lugar envolver seu corpo. Ele sabia que estava prestes a passar por uma transformação que mudaria sua vida para sempre. Então Rasmus começou a desfazer as roupas de Calum, suas mãos experientes trabalhando com calma e precisão. As vestes caíram ao chão, deixando Calum nu diante de todos. Sua pele dourada reluzia sob a luz da lua, cada músculo esculpido e delineado com perfeição. Ele era uma visão de força e beleza, um guerreiro prestes a ser moldado pelo poder antigo de Noron. Seus olhos, de um verde profundo, estavam fechados em concentração, seus lábios movendo-se em uma prece silenciosa, pendindo a Deusa para que desse certo.

Com uma lâmina de prata, Rasmus começou a cortar os longos cabelos de Calum. Cada mecha caía ao chão como uma oferenda ao espírito de Noron, o som das lâminas ressoando no silêncio da noite. Calum sentiu cada corte como uma libertação, cada fio de cabelo que caía levando consigo parte de seu passado. Quando Rasmus terminou, ele traçou a marca de Eslandrill no peito esquerdo de Calum, um símbolo antigo e poderoso que brilhava com uma luz verde intensa. Calum sentiu a marca queimar em sua pele, mas não emitiu som algum, seu foco absoluto na cerimônia. A celebração começou, e o vento ao redor deles começou a ganhar força, uivando entre as árvores negras. As folhas dançavam no ar, criando uma sinfonia de sussurros. As fadas cintilavam ainda mais intensamente, suas luzes refletindo a crescente energia no ar. Os centauros, com seus corpos musculosos e olhos profundos, observavam em silêncio reverente. Os homens, alguns guerreiros endurecidos pela batalha, outros jovens em busca de respostas, mantinham-se imóveis, sentindo o poder de Noron correr por dentro de suas veias.

As árvores de Noron, com seus troncos quebrados e retorcidos, começaram a vibrar. A terra sob os pés de Calum tremia, e a magia no ar se intensificava, espessas faíscas verdes começando a emanar do corpo dele, como se a própria essência de Eslandrill estivesse se manifestando. O vento se transformou em uma tempestade de energia, as árvores de Noron rangendo e estalando com o poder crescente, rachando em pedaços e brilhando. A terra parecia se abrir, e uma luz verde intensa começou a envolver Calum, consumindo-o de dentro para fora. Ele sentiu cada fibra de seu ser se conectar ao mundo espiritual, um elo inquebrável que o ligava às forças antigas de Ladar. De repente, uma explosão de poder eclodiu do corpo de Calum, a energia verde varrendo o círculo de Noron. Os troncos das árvores se elevaram, renascendo em toda sua glória negra, crescendo até tocar o céu. A luz verde atravessou as nuvens, espalhando-se pelo ar, e um uivo de lobos ecoou mais forte, seguindo pelo rugido dos leões, hidras, dragões, entes, como se as criaturas da noite estivessem saudando o novo guerreiro. Quando a explosão de energia diminuiu, uma espessa fumaça emergiu do lugar onde Calum estava. Para o espanto de todos, ele havia desaparecido. A clareira em Noron estava vazia, exceto pelas árvores negras que agora se erguiam majestosas, testemunhando um caos alinhado na perfeição imperfeita do mundo.

As luzes das fadas continuavam a cintilar, agora com um brilho mais intenso. Os centauros murmuravam entre si, seus olhares fixos no local onde Calum estivera. Os homens, ainda atônitos, olhavam ao redor, tentando compreender o que acabara de acontecer. Rasmus permaneceu imóvel, seu olhar fixo na fumaça que se dissipava lentamente. Ele sabia que Calum não estava mais ali, mas sentia sua presença, como um eco distante no tecido da magia.

Evera Lamila, a Sacerdotisa da Fé Vermelha, emergiu das sombras. Seu rosto era sereno, mas seus olhos brilhavam com um conhecimento profundo, quase vermelhos. Ela caminhou até o centro do círculo, onde a fumaça ainda pairava no ar. Suas mãos se ergueram, pronunciando palavras antigas em uma língua élfica, e a fumaça começou a se dissipar mais rapidamente, revelando o chão marcado com símbolos brilhantes.

Evera olhou ao redor, seus olhos encontrando os de Rasmus.

— A guerra começou — ela disse em um tom grave. — As chamas de Eolon chegaram à fronteira. Calum deve matar o caçador que vive dentro dele e salvar o guerreiro antes que seja tarde demais. Eolon está recuperando todo o seu poder, e somente Calum pode impedir sua ascensão. E a última Portadora da magia profunda, o levou.

Rasmus assentiu, seu rosto mostrando compreensão e determinação, mas parecia nervoso.

— Ele está preparado — respondeu, sua voz firme. — Nós o preparamos para este momento. Ele encontrará seu caminho, mesmo que agora esteja perdido.

Evera se aproximou de Rasmus, colocando uma mão reconfortante em seu ombro, apaziguando o tormento por alguns instantes.

— A jornada dele será árdua, mas ele não estará sozinho. A magia de Noron o guiará, e a marca de Eslandrill será sua bússola. Nós devemos ter fé. Na Deusa.

Enquanto Evera e Rasmus conversavam, os outros presentes começaram a se dispersar, ainda sussurrando entre si sobre o que haviam testemunhado. A clareira em Noron, agora iluminada pela luz verde das árvores renascidas, parecia mais viva do que nunca. A cerimônia de libertação havia terminado, mas a jornada de Calum estava apenas começando. Antes do golpe final, ele precisava entender quem ele era.

Calum, em algum lugar distante, sentiu uma onda de poder atravessar seu corpo. Ele estava sozinho, mas não perdido. A conexão com Noron e a marca de Eslandrill o guiariam. Seus olhos se abriram apressadamente, seu coração palpitando, quase rompendo os ossos. A garganta seca, o ar quase impossível de se respirar. Ele estava deitado sobre relvas verdes, havia um enorme jardim com flores exóticas, e jazia nu. Algo movimentou rapidamente, um flash silencioso quando avistou uma cabana mais adiante, uma velha senhora sentada na varanda fumando.

Calum acordou sentindo o chão frio e úmido sob seu corpo. O aroma de ervas e terra fresca invadiu suas narinas enquanto ele piscava, ajustando-se à luz suave que permeava o ambiente. Erguendo-se lentamente, viu-se em um jardim exótico e místico, repleto de plantas e flores que nunca havia visto antes. Era um lugar estranho e deslumbrante, como se tivesse sido tirado diretamente das lendas de sua infância.

Ao longe, uma figura caminhava com dificuldade em sua direção. Uma mulher idosa, com longos cabelos prateados que caíam como uma cascata ao redor de seus ombros, adornada com um vestido escuro e majestoso. Sua presença era imponente e seus olhos, apesar da idade avançada, brilhavam com uma sabedoria ancestral. Ela usava uma coroa intricada feita de galhos e pedras preciosas, que refletiam a luz com um brilho quase angelical. Em uma das mãos, segurava um cajado ornamentado, enquanto na outra, uma pequena lanterna lançava uma luz trêmula, mas constante.

Calum reconheceu a mulher das histórias que ouvira ao longo dos anos. Era Morgana, a última dos homens antigos a possuir a magia. Isolada por Rowan por heresia contra seus herdeiros, ela foi banida para uma terra distante onde ninguém jamais a encontraria, exceto o novo portador do poder. A conexão entre eles era única e inquebrável.

— Bem-vindo, Corvo Branco — disse Morgana, sua voz grave ecoando no jardim. — Meu nome é Morgana, e esta é a minha humilde morada.

Ela se aproximou mais, entregando a Calum roupas novas e convidando-o a entrar em sua cabana. O interior era pequeno, mas impecavelmente organizado. Em um canto, uma pequena criatura verde-água perambulava pelo cômodo. Devi, o Crasko, uma criatura de pouco mais de setenta centímetros que usava roupas verdes e tinha a aparência de uma criança, embora sua idade avançada fosse evidente em seus olhos astutos e cheios de vida.

Calum sentou-se, ainda atordoado e assustado. Morgana tentou acalmar seus nervos, servindo-lhe uma xícara de chá fumegante. A princípio, ele hesitou, mas logo cedeu ao carisma e à doçura da mulher, sentindo-se um pouco mais à vontade.

— Quem é você, jovem? — perguntou Morgana suavemente, olhando-o com curiosidade. — De onde você vem? O que fazia antes de ser trazido para cá?

Calum respirou fundo, lutando contra as lágrimas que ameaçavam escorrer pelo rosto. Seu corpo todo doloria.

— Eu... Eu sou Calum. Era um caçador e líder em Enya. Mas descobri, há poucos meses, que sou algo mais... um Corvo Branco.

Morgana assentiu lentamente, um olhar de compreensão cruzando seu rosto.

— É uma honra receber o Corvo Branco em minha casa antes de meu último suspiro. Deixe-me contar-lhe uma história, Calum.

Ela começou a narrar sua própria história, de como fora exilada e de sua missão. Sua voz era melodiosa e hipnótica, carregando cada palavra com um peso de drama e melancolia. Calum ouvia atentamente, absorvendo cada detalhe.

— Antes que os mundos evoluíssem — continuou Morgana —, um guerreiro capaz de controlar as feras nasceria. Este guerreiro seria o Corvo Branco, destinado a trazer equilíbrio entre as raças. A origem do Corvo Branco está ligada a um toque simples, mas poderoso, de um rei na barriga de uma jovem. Este ato desencadeou um caos que se propagou através dos tempos.

Calum, com os olhos marejados, perguntou em meio às lágrimas.

— Quem sou eu realmente, Morgana? Por que fui escolhido?

Morgana sorriu enigmaticamente, seus olhos brilhando com uma sabedoria que apenas os antigos possuíam.

— Você é mais do que um simples caçador, Calum. Você é o Corvo Branco, destinado a unir as raças e enfrentar a escuridão que ameaça nosso mundo. Seu destino foi selado no momento em que o rei tocou a jovem, sua mãe. Agora, você deve cumprir seu papel e restaurar o equilíbrio.

Calum sentiu um calafrio percorrer sua espinha. As palavras de Morgana ecoavam em sua mente, cada uma carregada com um significado profundo e misterioso.

— Agora descanse, jovem Corvo — disse Morgana, sua voz suave e reconfortante. — Amanhã começaremos a preparação para sua verdadeira jornada. O destino do mundo depende de você. Precisa equilibrar o caos dentro de você, e eu irei ajudá-lo.

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