𝐀𝐤𝐚𝐢 𝐈𝐭𝐨 • 𝒆𝒏𝒕𝒓𝒆...

By _kunoichi_sama_

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"Um fio invisível une todos aqueles que estão destinados a encontrar-se, independentemente do tempo, lugar ou... More

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By _kunoichi_sama_


    Na manhã seguinte, Khione despertou cedo para tratar de assuntos importantes fora de casa. Ela estava de saída quando Kalliope acordou e as duas trocaram algumas palavras.

— Onde está indo?

— Para o hospital.

    A mais velha se sentou as pressas, preocupada.
    Khione riu ao ver a face ainda amassada e sonolenta da irmã, então perguntou:

— Noite longa?

— Muitos pensamentos. Estou me esforçando para ser uma pessoa melhor. Deixe-me ir com você.

— Não é necessário.

— Está com dor? Náuseas? Tontura?

— Não, eu estou bem. Farei uma visita à Azura.

— E como pretende fazer isso? Os responsáveis por ela estão fora da aldeia.

— Os responsáveis por ela são os líderes do clã, mas alguém a internou lá. Há uma exceção e eu descobrirei a identidade dessa pessoa, pedirei ajuda e farei essa visita. Ela precisa.

— Tudo bem, siga o seu coração. -Kalliope deu de ombros e voltou a se deitar. — Tome cuidado.

    Khione balançou a cabeça em concordância e saiu de casa rumo ao Distrito Uchiha. Adentrar o território de Madara seria ousado da parte dela, mas bater nos portões e chamar pelo nome certo seria apropriado. E ela sabia a quem recorrer naquele momento.

— O que faz aqui tão cedo, refugiada?

    A pergunta veio de um guarda posicionado em cima do muro que "protegia" o distrito. Khione ergueu o cenho com confiança antes de responder:

— Kagami Uchiha está disponível para uma breve reunião?

— Kagami Uchiha está descansando. Ele é responsável pelo turno da noite.

— Ele é responsável pela minha segurança e eu preciso falar com ele. Diga que Khione está chamando e enfatize a importância da sua presença.

— E desde quando você me dá ordens?

    A moça engoliu em seco, mas permaneceu firme.

— É um pedido. Garanto que Kagami terá problemas com os seus superiores se o meu chamado não for atendido.

    O guarda pensou um pouco, deu de ombros e decidiu atender o pedido da moça. Após longos minutos – quase uma hora –, Kagami apareceu. O rapaz responsável por convocá-lo demorou o máximo que pôde, visto que lhe parecia divertido testar a paciência de uma refugiada indesejada e problemática.

— Bom dia, senhorita. Está tudo bem?

    Kagami, sempre simpático e muito gentil, se aproximou com cautela. Khione não entendia como a irmã conseguira ver maldade em um rapaz como ele.

— Comigo, sim. Podemos conversar em particular por um minuto?

    Ele aceitou e os dois andaram alguns metros para longe dos muros do distrito. Com a devida discrição, Khione fez sua petição:

— Eu gostaria de visitar Azura e gostaria que você me ajudasse. Os guardas não me deixam entrar sem a companhia dos líderes do clã, mas eu sei que a pessoa que a internou pode me ajudar.

— Na verdade, Azura está sob a responsabilidade do clã inteiro. Eu mesmo posso autorizar a visita.

— Isso é sério?

— Por que eu mentiria? Azura é a futura esposa do nosso líder. Todos nós fizemos o juramento de protegê-la.

    Fazia sentido para Khione e só lhe restava confiar em Kagami.




    Chegando no hospital, o jovem Uchiha se dirigiu aos guardas e foi bastante claro em suas palavras:

— A moça está autorizada a visitar a paciente sempre que quiser. Eu me responsabilizo por ela.

— Está preparado para pedir abrigo ao clã Senju, Kagami? Madara-sama não ficará contente quando descobrir que você conspira a favor dessa refugiada.

— Não se preocupe, pois isso será tratado pessoalmente entre mim e o líder.

    Era de se imaginar que Kagami não fosse adorado pelos membros do seu clã, visto que era o aprendiz de Tobirama. Entretanto, ele fizera o juramento e tinha poder o bastante para autorizar ou proibir qualquer visita ao quarto de Azura.

    Ainda que descontentes, os guardas sabiam disso e eram treinados para seguirem regras. Dessa forma, eles cederam 20 minutos para que Khione pudesse conversar com a paciente. Azura estava acordada, por sorte, então o encontro foi bastante positivo para ambas.

— Eu sabia que você viria.

    As palavras da idosa, frágil e raquítica, pegaram Khione desprevenida. Ela se aproximou, sentou-se na cadeira disponível para os acompanhantes e segurou a mão de Azura com delicadeza.

— Você foi gentil comigo desde o primeiro momento. Era óbvio que eu viria.

— Mais raro do que encontrar alguém gentil, é encontrar alguém que saiba valorizar a gentileza que oferecemos.

    Khione sorriu sem mostrar os dentes, acariciando a pele enrugada e delicada da mão da idosa.

— Por que você está aqui, Azura? O que aconteceu?

— O meu velho corpo está exausto após 83 anos de muito esforço. Minhas costas sempre doeram muito, mas agora há uma inflamação na região da coluna. O ninjutsu médico é ineficaz, visto que eu estou muito debilitada para suportar uma cirurgia que é necessária. Entretanto, os medicamentos têm me ajudado bastante.

    A moça lamentou ter conhecido Azura em sua velhice.
    Ela gostaria de tê-la conhecido antes.
    Sem esperar por uma resposta de Khione, a idosa perguntou com doçura:

— Acha que seríamos amigas se tivéssemos mais tempo?

— Ainda que eu não entenda o motivo, sinto grande afeição por você desde o momento em que a conheci. Minha intuição não me engana, então para mim, já somos amigas.

— A sua intuição conversa com você? A aconselha?

— Sim, mas eu não costumo falar sobre isso. Poucas pessoas sabem sobre ela, na verdade.

— Temos muito em comum. -Azura sorriu com dificuldade. — A mesma intuição que conversa com você, me deu a garantia de que você era digna da minha confiança.

    Khione ergueu as sobrancelhas, atônita.

— A senhora também possui esse dom?

— Desde a primeira infância.

    Antes que a moça pudesse responder, Azura emendou:

— Os enfermeiros dizem que eu ficarei bem, mas eu sei que eles estão mentindo. A minha intuição nunca me enganou, mas ninguém me dirá a verdade até que Madara esteja presente. Contudo, eu quero me preparar para o que virá depois.

— E o que virá?

    Azura acariciou a mão de Khione com o polegar. Ela estava fraca, mas fazia questão de demonstrar o seu afeto e isso não passou despercebido aos olhos da sua nova amiga.

— Eles informarão o meu noivo a respeito da minha condição e eu finalmente poderei escolher como desejo passar os meus últimos dias. Eu já vivi o suficiente, então não quero viajar ou fazer algo que nunca fiz antes, mas pretendo aproveitar o tempo que me resta no conforto da minha casa. Precisarei dos cuidados de alguém em tempo integral e gostaria de me despedir deste mundo na companhia de uma pessoa querida por mim. O que acha de ser essa pessoa, Khione?

    A moça inflou os pulmões e em seguida prendeu a respiração.
    Azura emendou:

— Você precisa de um emprego e eu posso pagar pelos seus serviços. Sei que tomar conta de uma velha em seu leito de morte não é a melhor tarefa, mas creio que pode ser uma boa experiência para nós duas.

— Eu sinto muito, Azura.

    As palavras escaparam antes que Khione pudesse pensar no que estava prestes a ser dito. Para ela, trabalhar na casa onde Madara residia era impensável, mas como recusar o que possivelmente seria o último pedido de Azura?
    De todas as opções, a melhor era a sinceridade.

— Se a senhora quiser ficar na minha casa, será muito bem recebida. Cuidar da sua saúde não será um incômodo, em hipótese alguma, mas eu prefiro ser torturada a estar no mesmo ambiente que o seu noivo. A senhora sabe o que aconteceu e sabe que eu não estou exagerando.

— Eu entendo.

    Azura afagou a mão de Khione, que não soube o que dizer, e então garantiu:

— Resolverei esse problema.





    Enquanto Khione e Azura trocavam palavras doces e tentavam entrar em um acordo, Kalliope se distraía na feira de Konoha. Uma vez por semana, os comerciantes de verduras e frutas montavam suas tendas do lado de fora dos seus estabelecimentos e transformavam o ato de vender produtos em um grande evento.

    Kalliope ficou encantada com tudo o que viu, como se a guerra nunca tivesse acontecido. Entretanto, ela se perguntava o porquê de não estar conseguindo se divertir ali. A angústia e a taquicardia eram incomuns para ela; uma amante da diversão. Seria pelo fato de estar sozinha? Improvável. Seria o lugar ou as pessoas? Não.
    Algo não estava certo.

— Está gostando?

    Um timbre familiar afastou a moça dos seus devaneios.
    Era Kagami, sorrindo como de costume.

— Desculpe. Eu estava distraída.

— Os seus magníficos sensores não me detectaram?

— Eles não identificaram uma ameaça. Estou confortável aqui. Estou gostando.

— Fico feliz.

    Ao contrário do que Kalliope pensou, o Uchiha não foi embora.
    Andando ao lado dela, ele iniciou um diálogo amigável:

— Estive com Khione, recentemente.

— Ela conseguiu visitar a tal Azura?

— Sim, eu mesmo autorizei. Tive a impressão de que a visita faria bem às duas.

— Por que se preocupa tanto com o bem estar da minha irmã?

— É o meu trabalho.

— O seu trabalho?

— Sim, como aprendiz de Tobirama.

— Agora tudo faz sentido.

    Após poucos minutos de silêncio, Kagami observou:

— Você não me parece feliz, Kalliope. Algo a incomoda? Quer que eu me afaste?

— Por que a sua presença me incomodaria?

    A moça riu depois de perguntar.
    Kagami, sem saber o que dizer, apenas riu com ela.
  
    Os dois caminharam por toda a feira e acabaram se distraindo com a companhia um do outro. Kalliope não pretendia repetir o que fizera com o rapaz, mas não podia negar que ele era uma pessoa agradável. Detalhista, observador, mas agradável.

    De repente, o coração de Kalliope disparou dentro do peito e ela foi tomada por uma sensação estranha que lhe tonteou. Incapaz de continuar andando, a moça parou e se apoiou nos joelhos, tentando respirar. Os seus sensores saíram de controle e ela perdeu a capacidade de ver e ouvir, como se uma nuvem negra estivesse cobrindo os seus olhos e ouvidos. Kagami tentou ajudá-la, mas não a alcançou rápido o bastante.

    Kalliope caiu de joelhos e se concentrou na mensagem que os seus sensores enviavam ao seu cérebro. Foi quando ela identificou o chakra da pessoa com quem dividira o útero; a energia vital que se aproximava com a clareza do próprio sol de verão, sem deixar espaço para dúvidas. Era o chakra de Kallias.

— O meu irmão.

    Ela murmurou, recuperando a visão e a audição lentamente.

    Kallias estava expelindo chakra porque queria ser identificado pela irmã e a energia dele, ainda que familiar e afetuosa, era bruta para os sensores de alguém que não possuía chakra no organismo. Isso explicava a tontura e a perda temporária dos sentidos, mas eram reações comuns. Após tanto tempo sem sentir a presença do irmão, Kalliope precisava ser convencida de que não estava enganada e o seu próprio corpo encontrou uma maneira de convencê-la.

— Kalliope, você está bem?

    Kagami perguntou várias vezes.
    Quando a visão e a audição da moça voltaram ao normal, suas forças foram recuperadas também. Kalliope se colocou de pé e correu em direção aos portões sem dar uma explicação às pessoas que se preocupavam com ela segundos antes, mas não deixando a educação de lado. Aos gritos, ela os informou:

— O meu irmão está chegando! Informe Khione! As equipes voltaram!

    Algumas pessoas duvidaram de tal afirmação, enquanto outras correram com Kalliope para receber as equipes. A multidão se aglomerou rapidamente e a jovem apenas torceu para que Khione conseguisse chegar a tempo de participar do reencontro, visto que ela não conseguiria buscá-la nem se quisesse muito.

    Como uma imagem divina, subindo a elevação da terra que ficava além dos muros da aldeia, várias silhuetas apareceram. O sol por trás deles impedia que as pessoas tivessem uma visão clara das identidades de quem se aproximava, mas não restavam dúvidas. O chakra de Kaillani também foi detectado pelos sensores de Kalliope, confirmando a sua teoria e fazendo o seu coração bater ainda mais rápido contra as costelas.

Deuses…

    Por questões de segurança, nenhum civil podia passar dos portões para receber as equipes que retornavam. Todos os músculos do corpo de Kalliope tremiam enquanto ela esperava sem muita paciência. Aos poucos, conforme se aproximavam, as silhuetas tomavam forma e a jovem finalmente pôde enxergar, depois de longos meses, o rosto dos seus dois queridos irmãos.

Eu não acredito.

    A voz de Khione se fez presente.
    Sem pensar duas vezes, Kalliope abraçou a irmã e as duas choraram como crianças, comemorando o reencontro que estava prestes a acontecer.

— Como chegou aqui tão rápido?

— Hashirama me buscou no hospital e me trouxe nos ombros. Foi constrangedor, eu confesso.

— Valerá a pena.

    A equipe que acompanhava Kaillani e Kallias era a equipe liderada por Tobirama. Entretanto, ninguém percebeu isso. Quando os pés dos resgatados cruzaram o limite dos portões, Kalliope e Khione se lançaram nos braços dos seus irmãos e as lágrimas correram livremente. Os recém chegados pareciam não acreditar no que viam, mas desmoronaram assim que se deram conta de que os 4 filhos de Davina e Yohan estavam reunidos novamente.

— Eu peço perdão, Kalli. Me perdoe por tanto brigar com você. Me perdoe por não ter concordado com as suas ideias no dia em que nos separamos. De modo geral, eu falhei como sua irmã mais velha. Com vocês duas. E eu sinto muito.

    As palavras de Kaillani comoveram Kalliope ao ponto de deixá-la desesperada. Apesar das brigas, nunca faltou amor entre as duas. Ela precisava saber que nunca foi odiada.

— Não diga besteiras, Kani. Não diga tamanha besteira!

— Fico feliz em saber que você agora consegue ficar perto de tantas pessoas, Khiô. -disse Kallias, afagando o cabelo da caçula. — Lamento por não ter sido eu a encontrar a cura para a sua doença.

— Eu não estou curada, meu irmão. E você não tem a obrigação de me curar, pois não tem culpa de nada.

    Trocando as duplas, Kaillani abraçou Khione e os gêmeos se abraçaram. A filha mais velha da família sempre teve um carinho imensurável pela caçula, visto que Khione nunca foi uma criança difícil de lidar e as duas se entendiam muito bem.
    Ainda chorando, Kaillani sussurrou, maravilhada:

— Você cresceu tanto. Está maior, ainda mais bonita e nitidamente mais madura. Estou feliz por poder vê-la novamente, Khiô, mas fico triste por não ter acompanhado o seu crescimento como eu gostaria de ter feito. Eu sinto muito.

— Não sinta, Kani. A culpa não é sua. Ninguém é culpado pelo o que aconteceu.

— Foram dois longos anos.

    Enquanto a mais velha e a caçula conversavam e choravam com muita emoção, os gêmeos tinham um reencontro um tanto… diferente.

— Você está tão bonita, Kalli.

— Eu não posso dizer o mesmo de você, Kai.

— Somos iguais, idiota.

Que ofensa terrível!

    Kallias prendeu a cabeça de Kalliope embaixo do braço e deu-lhe um cascudo demorado enquanto ela tentava se soltar. Depois de rir por um tempo, ele a libertou somente para abraçá-la com toda a força que tinha disponível. Ela não conseguia se livrar dele e estava sendo forçada a se lembrar, da maneira mais literal possível, de como as demonstrações de amor do seu irmão podiam ser agressivas.

    Apesar da emoção presente no reencontro dos 4 irmãos, a família ainda não estava completa. Depois de conversar um pouco com Kaillani, Khione tomou a iniciativa de perguntar sobre o paradeiro dos seus pais e a resposta dada por Kallias não poderia ser mais impressionante e assustadora para ela.

— Eles estão vindo com as outras equipes. Estavam bem atrás de nós. Devem estar chegando.

    Kalliope mirou o rosto da caçula, ciente de que ela não estava nenhum pouco contente com isso, visto que os seus pais estavam sob a “proteção” do homem que dissera ser capaz de matá-los e de zombar dos seus cadáveres. Até onde a maldade de Madara poderia se estender?

— Eles estão vindo! -anunciou um comerciante que aguardava pelo retorno do filho.

    Ovacionados pela população, os dois times liderados por membros do clã Uchiha passaram pelos portões. Yohan estava ao lado de Madara, caminhando sem erguer a cabeça, enquanto Izuna trazia o corpo de Davina nos braços. Divididos entre recepcionar o pai e checar a saúde da mãe, os 4 irmãos não souberam direito o que fazer.

— Precisamos de médicos! -disse Izuna.

    A equipe responsável pelo tratamento dos feridos já estava presente ali. Os médicos pegaram Davina e correram com ela rumo ao hospital. Izuna parecia entristecido, como se realmente lamentasse pelo estado de saúde da mulher. Madara estava neutro, como de costume.

    Mesmo preocupadas com a mãe, Kalliope e Khione não puderam conter a alegria em rever o pai. Yohan ergueu a cabeça quando se deu conta de que não havia sido enganado e de que as filhas desaparecidas realmente estavam ali. Ele abraçou as duas ao mesmo tempo e chorou feito uma criança, ajoelhando-se diante delas e pedindo perdão pelos erros que acreditava ter cometido.

— Eu acreditava que fabricar espadas e ser pai eram as duas funções que eu melhor exercia nesta vida, mas de que me adianta forjar armas que vêm do ferro se eu não sou capaz de proteger a minha própria família?

— O senhor foi ótimo, papai, tanto como ferreiro quanto como pai. Nós tomamos as nossas próprias decisões, então não se culpe por algo sobre o qual não tinha controle.

    Khione consolou Yohan sem precisar pensar no que deveria dizer. Talvez por ser a caçula ou por ser a filha doente, o seu vínculo com ele era mais intenso do que com os seus próprios irmãos. Enquanto Kaillani e Kalliope preferiam a companhia turbulenta da mãe, Khione e Kallias admiravam as conversas pacíficas e sábias que tinham com o pai.

— E quanto ao meu filho?

    Uma mulher exigiu saber e muitas fizeram o mesmo depois dela.

— Eu não estou vendo o meu sobrinho!

— O meu irmão também não voltou!

    Deixando um pouco de lado a emoção do reencontro, a família se concentrou na cobrança que vinha das outras famílias. Mito surgiu de repente, muito mais séria do que o normal. Khione viu a expressão dela como um sinal de que algo ruim acontecera lá fora.

— As coisas podem ficar feias a partir de agora.

    Os 4 irmãos se entreolharam.
    Yohan estava cabisbaixo, sem prestar atenção no que acontecia ao seu redor. Sendo assim, Kaillani, a filha mais velha e mais racional, foi rápida em tomar uma decisão:

— Se importa de levar o nosso pai para longe daqui? Se as coisas ficarem feias, temo que o emocional dele fique ainda mais abalado.

— Eu pretendia acompanhar todos vocês para longe daqui.

— Eu preciso ficar. -Khione respondeu rápido.

Nós precisamos. -Kalliope acrescentou.

    Mito sustentou o olhar da caçula por alguns segundos antes de atender o pedido de Kaillani. A médica se aproximou de Yohan enquanto a cobrança da população se intensificava ao redor deles; direcionada aos líderes dos esquadrões e ao Hokage.

— O senhor precisa de medicamentos e de descanso. Eu sou médica e acompanharei o senhor até o hospital, certo?

    Yohan, um pouco aéreo, apenas balançou a cabeça e concordou sem relutância. Mais tranquilos por saberem que o pai e a mãe estavam em boas mãos, os 4 irmãos puderam se concentrar no tumulto que os rodeava. Era óbvio que as coisas ficariam feias dali em diante.

— Nós enfrentamos dificuldades fora dos muros e, infelizmente, perdemos muitos homens. -disse Tobirama, parado no meio da multidão, ao lado dos líderes dos outros dois esquadrões. — Em respeito às famílias, antes de entregarmos os relatórios ao Hokage, citaremos os nomes de todos os shinobi que perderam a vida em campo de batalha. Saibam que, acima de tudo, suas mortes não foram em vão e que todos, sem exceção, lutaram com bravura!

    Khione cobriu a boca com ambas as mãos e sentiu, vindo do fundo do seu âmago, o grito de alerta da sua intuição. Os olhares sobre ela e seus irmãos eram de retaliação. Ninguém culparia o Hokage por ter autorizado a missão e sim os refugiados que eram o motivo por trás das ordens dele.

    Tobirama citou os nomes de todos os membros que não conseguiram retornar; somente do seu esquadrão. Depois, Izuna relatou as baixas que tivera e por último, Madara fez o mesmo. O pranto desesperado das famílias era quase ensurdecedor.

— O meu filho morreu resgatando uma família de bastardos! Eles nem têm um sobrenome!

— Exigimos o exílio de todos eles! Somente isso aliviará a nossa agonia!

— Sequer sabemos se eles são as pessoas pelas quais vocês estavam procurando! E se forem clones em jutsu de transformação? Como saberíamos? Estamos correndo perigo!

— Eu reconheço o chakra puro dos membros da minha família. São eles! -disse Kalliope.

    Os 4 irmãos tomaram alguns empurrões antes de serem protegidos pelas ordens de Hashirama, que pediu para que o seu povo não fosse rude com eles. Segundo ele, dentro de uma sociedade, os problemas tinham de ser resolvidos com o diálogo e não com a violência. Porém, isso não bastou para calar as petições da população.

— Ouçam-me! -ordenou Madara.

    Ele falara pouco desde a sua chegada, mas quando pediu a atenção da população, o silêncio tomou conta da aldeia. Apesar de não ser adorado pela maioria, o Uchiha era respeitado por todos. Respeitado ou temido, mas isso era irrelevante.

— Eu não faço questão de abrigar essa família, mas não cabe a mim decidir o que será feito e sim ao Hokage. Entretanto, eu não pude deixar de notar que algumas pessoas estão duvidando da minha capacidade de discernimento e acreditando que eu, Madara Uchiha, poderia ter sido enganado por selvagens. Não há jutsu de transformação capaz de confundir os meus sensores; que são ótimos.

    O silêncio prevaleceu.
    Madara prosseguiu, caminhando em círculos no meio da multidão que o circundava.

— Vários membros do clã Hyuuga fizeram uso do byakugan e confirmaram a ausência de chakra nas duas primeiras refugiadas. Elas não são perigosas, ainda que sejam traiçoeiras. Todos nós sabemos que ambas são mulheres imperceptíveis e inúteis.

    Khione e Kalliope engoliram em seco, sem responder ou se defender. Logo, Madara chamou Kallias e Kaillani para o meio do círculo composto pela multidão de pessoas. Relutantes, os dois se aproximaram.

    A caçula fez menção de avançar junto com os irmãos, mas Tobirama a impediu. Khione foi rude ao se livrar do toque dele, mas o Senju entendeu que ela havia sido movida pela preocupação.
    O Uchiha prosseguiu com o seu discurso:

— Apesar de me sentir ofendido, eu entendo que a população precisa ser convencida de que os meus sensores nunca falham. Todos vocês precisam de uma confirmação para acreditarem que os seus entes queridos não lutaram em vão e infelizmente só existe uma maneira de provar que ninguém aqui está sendo enganado.

    Mais rápido do que qualquer um poderia prever, Madara esfaqueou mortalmente os dois irmãos, Kallias e Kaillani. A mais velha teve uma kunai enterrada em seu estômago e o rapaz ganhou um corte profundo no pescoço. O povo, horrorizado, se agitou. Kalliope e Khione gritaram com toda a voz que tinham, correndo na direção do Uchiha e sendo impedidas por Hashirama e Tobirama antes que conseguissem alcançá-lo.

    Enquanto a equipe de médicos e enfermeiros se apressava para tratar os ferimentos dos recém-chegados, as duas irmãs que presenciaram a cena se debatiam na tentativa de se libertar dos braços dos irmãos Senju. Hashirama segurava Kalliope pelos punhos e Tobirama abraçava a cintura de Khione com firmeza.

— Se eles fossem clones ou estivessem se passando por outras pessoas através de um jutsu de transformação, teriam assumido suas verdadeiras identidades ao serem golpeados tão violentamente. Nenhum jutsu resiste ao gosto ferroso da morte.

    Hashirama estava furioso com a atitude extrema de Madara, mas antes de fazer qualquer coisa, ele precisava acalmar a mulher que se propôs a segurar. Se ele soltasse Kalliope, ela avançaria na direção do Uchiha e suas ações bastariam para iniciar uma guerra. Naquele momento, o Hokage precisava ser perspicaz e agir com a gentileza de um bom homem ao invés de ditar ordens como um líder.

    Ele então puxou os braços de Kalliope para si e aproximou o corpo do dela, se inclinando sobre o seu ombro com o intuito de falar num tom que somente ela ouviria. Com o queixo, Hashirama afastou uma mecha de cabelo que cobria o pescoço da moça e assim conseguiu sussurrar no seu ouvido:

— Olhe ao redor, querida.

    O toque suave dos lábios do Hokage na pele do seu pescoço e orelha fez com que Kalliope prestasse bastante atenção nas palavras ditas por ele. A moça olhou ao redor e percebeu que o olhar das pessoas havia mudado. Ela parou de tentar escapar, ainda que não entendesse direito o porquê.

— Madara provou a inocência dos seus irmãos e mostrou que pode ser mais cruel do que vocês jamais serão. Ele assumiu o papel de vilão mais uma vez, livrando a sua família da retaliação. Ser odiado não o preocupa. Olhe pelo lado bom e entenda que esse teatro, na verdade, foi por uma boa causa.

    Aquilo fazia sentido.
    Kalliope não se esqueceu do ódio que sentiu pelo Uchiha, mas deixou aquele sentimento de lado e conseguiu se acalmar. A vida adulta exigia esse tipo de atitude e Khione jamais se acalmaria enquanto a irmã continuasse tentando atacá-lo também. De qualquer maneira, elas nunca o venceriam em um confronto.

    Hashirama percebeu que Kalliope estava controlada e a libertou. A moça avançou lentamente, sem desviar o olhar de Madara enquanto caminhava até Kallias e Kaillani. Quando ela passou pelo Uchiha, ele riu. Respirando fundo e se esforçando para controlar os próprios impulsos, Kalliope apenas resmungou: “idiota”, e se concentrou em checar a saúde dos irmãos feridos.

    Enquanto isso, Khione continuava tentando se libertar.
    A pele dos braços de Tobirama estava com arranhões profundos causados pelas unhas da moça. Ela arrancou a pele dele, socou os seus braços e ainda assim não conseguiu sair do abraço que envolvia a sua cintura. Frustrada, Khione chorou e gritou. Madara gargalhou ao vê-la se esforçando para atacá-lo e o seu jeito afrontoso foi o bastante para tirar a caçula do seu estado normal.

    Assim que o Uchiha se distraiu, Khione colocou os braços para trás e alcançou a espada longa que Tobirama mantinha embainhada no cinturão de sua armadura. O sharingan não era capaz de prever os movimentos vindos de uma pessoa sem chakra, e antes que Madara pudesse se preparar, a caçula arremessou a espada com a maestria de um espadachim experiente. A lâmina atravessou o peitoral do alvo, ficando alojada milímetros acima do seu coração.

Khione! -Izuna gritou, mas já estava feito.

— Maldita vagabunda! -Madara urrou como um urso raivoso e selvagem, arrancando a espada do peito e fazendo uso do seu ninjutsu médico para estancar o sangramento.

    Khione ficou atônita quando percebeu que o havia ferido. De certa forma, era o que ela precisava fazer para se acalmar. Porém agora, uma guerra estava prestes a começar. Hashirama protegeu a família com o próprio corpo enquanto a multidão se dividia em dois grupos: os que lutariam ao lado de Madara e os que lutariam ao lado do Hokage e da menina que ele estava protegendo.

— Tem certeza de que quer fazer isso, Hashirama? Deixe-me matá-la e tudo ficará bem!

    O ódio de Madara foi sentido por Khione, mesmo sob o efeito dos limitadores. A voz dele enviava ondas de energia densa e maldosa, das quais ela jamais se esqueceria. A moça percebeu, naquele momento, que nada no mundo poderia livrá-la do que estava por vir. Entretanto, ela não temia o próprio fim e morreria satisfeita por ter feito algo para vingar a violência gratuita que fora cruelmente despejada sobre os seus irmãos.

— A onmyōji despertou!

    Uma voz feminina, ainda desconhecida pelos refugiados, soou distante. Em um piscar de olhos, ambos os “times” pararam de querer lutar e todos os cidadãos – inclusive o próprio Hokage e até mesmo Madara – baixaram a cabeça em sinal de respeito, mas quem poderia ter tanta influência assim?

    A multidão se abriu para a passagem de uma mulher velha e de aparência decrépita, que só conseguia se locomover com a ajuda de duas jovens mulheres que usavam roupas de sacerdotisas. Ainda que não soubessem do que se tratava, Khione e Kalliope baixaram a cabeça em sinal de respeito. Era a primeira vez que elas viam uma verdadeira bruxa tão de perto assim.

— A onmyōji despertou com o intuito de passar-lhes uma mensagem. -disse uma das sacerdotisas.

    O silêncio era absoluto, como se toda a aldeia estivesse atenta às palavras e a presença daquela mulher idosa. Em passos lentos, a bruxa falou com cada um dos irmãos refugiados; começando em Kaillani, a mais velha, e terminando em Khione, a caçula. Os 4 ouviram as mesmas palavras:

Você é mudança.

    Os irmãos se entreolharam, tentando entender o significado daquilo. Kaillani e Kallias estavam sendo tratados, mas estavam bastante conscientes e fora de perigo; graças aos habilidosos enfermeiros que agiram a tempo. Ainda assim, nenhum deles foi capaz de entender a profecia na qual estavam envoltos.

    Depois de falar com cada um dos irmãos recém-chegados, a onmyōji foi até Hashirama. O Hokage se ajoelhou, demonstrando muito respeito e fé para com ela.

— Os fios vermelhos do destino estão emaranhados e dias turbulentos virão em seu encalço, mas a desordem é necessária quando se deseja pôr tudo no seu devido lugar. Essa família é a resposta para uma prece feita pelo senhor, grande primeiro Hokage, há muitos anos atrás. Saiba que é impossível escapar das mãos do destino.

    Hashirama permaneceu com a cabeça baixa, beirando o desespero. Os sábios diziam que as preces feitas com boas intenções, sinceridade e pureza tinham a capacidade de envolver os seus fiéis em profecias poderosas, mas o Hokage não acreditava naquilo. Não até aquele momento.

    Por fim, a onmyōji se dirigiu à Madara.
    O Uchiha se ajoelhou, bem como Hashirama fizera, provando que o respeito que todos tinham para com aquela bruxa era surpreendente.

— Os fios vermelhos do destino estão emaranhados, mas jamais serão rompidos. A mudança virá para o senhor também, grande líder do clã que veio dos corvos. O ódio que reside em seu coração há de desaparecer, visto que um homem jovem não merece cultivar tamanho rancor e amargura dentro de si mesmo. Ninguém merece viver uma vida infeliz, tampouco uma vida solitária.

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