Narração
Felix atravessava o campus correndo, desviando dos universitários, por pouco não esbarrando em um deles e derrubando sua caixa cheia de donuts coloridos. Havia preparado especialmente para seu amigo - por quem tinha uma quedinha desde o primeiro semestre de faculdade.
Os donuts, muito bem decorados, haviam sido preparados durante uma das aulas do curso de Gastronomia. Felix havia ficado mais tempo que o normal distribuindo corações de açúcar e glitter comestível, tentando deixá-los perfeitos para Bang Chan.
Seu coração estava acelerado, não só pela corrida longa até o campo de futebol, mas pela preocupação de não conseguir chegar a tempo de desejá-lo boa sorte antes da partida, como fazia quase que religiosamente.
O prédio do curso de Gastronomia era bem afastado do campo de futebol, tornando suas quartas e sextas agitadas e a missão exaustiva.
As manchas de corante vermelho no avental e o açúcar de confeiteiro na franja provavam a dedicação de Felix, que sonhava em ter seu amor correspondido pela única pessoa que realmente importava.
Quase não tinha tempo de distribuir seus doces para os universitários que faziam questão de provar e dar avaliações sempre positivas. Felix sabia que nem sempre para os doces e pratos, e sim para sua aparência sempre impecável e adorável, mas não se importava nem um pouco.
Ele usava seu charme como um escudo que protegia seu coração vulnerável. Seus doces eram uma extensão de si mesmo, pois transmitia afeto e paixão, que era o que sentia falta.
Felix percebia que as avaliações nem sempre eram sinceras, porém não se importava, achando a atenção interessante na maior parte do tempo.
Seu pai havia tentado lhe fazer a cabeça, listando tudo de cruel que poderiam aprontar ao notar seu jeito açucarado, como gostava de chamar, só não contava com o poder de seu sorriso gentil e jeito encantador.
Felix era uma força da natureza, determinado a espalhar alegria e positividade onde quer que fosse. Ele tinha visto o mundo cruel e preconceituoso de perto, então decidiu construir o seu próprio, repleto de cores, positividade e doces bem decorados.
Felix esperou muito tempo para se assumir homossexual, por conta de seu pai religioso e preconceituoso, então mantinha a promessa que fez a si mesmo no dia em que se mudou para o campus, de que nunca mais se esconderia ou fingiria ser algo que não era.
Deixou sua personalidade e seus gostos refletirem em toda a sua aparência e pertences, sequer se preocupando com opiniões ou julgamentos.
A liberdade recém conquistada podia ser comparada a biscoito amanteigado, derretia e abraçava sua língua com açúcar.
Abriu um grande sorriso ao adentrar a área arborizada do campus e ver Bang Chan acenar para ele da lateral do campo, ainda a alguns metros de distância.
Não desacelerou os passos, forçando seu corpo a manter o ritmo, esquecendo-se de prestar atenção, não se dando conta das pernas esticadas no meio do caminho.
Estava tão focado que ignorou o mundo ao seu redor, concentrado apenas em sua paixão, acabando por falhar em sua missão.
A caixa com os donuts voou de suas mãos, caindo aberta sobre a grama enquanto seu corpo deslizava de frente. — Meus donuts! — Felix choramingou ao ver a caixa tombada e mais da metade dos doces cobertos de grama e folhas. — Meu queixo. — Guinchou de dor, o pressionando com a palma da mão, sentindo arder.
Ele piscou contra a luz do sol, tentando se recompor enquanto seu coração se apertava com a visão dos donuts espalhados, sua oferta de carinho coberta de terra.
— Você está bem? — Hwang Hyunjin arregalou os olhos e se levantou rapidamente, inspecionando a situação com cuidado antes de apoiar a mão sobre os joelhos.
A preocupação em sua voz trouxe Felix de volta à realidade, e ele ergueu os olhos para encontrar o rosto desconhecido.
— Acho que estou. — Resmungou Felix enquanto ajeitava seu moletom lilás. Passou a mão pela frente da peça, tentando tirar a grama e a sujeira, sentindo suas bochechas queimarem de vergonha.
Alguns segundos de silêncio se passaram até Felix levantar o olhar e perceber que Hyunjin inspecionava a guitarra ao lado dele, resmungando e conversando com o objeto inanimado enquanto tirava a grama que havia caído entre as cordas.
A cena era um tanto engraçada, o homem parecia falar com sua guitarra como se fosse uma criança precisando de consolo.
— Você não sabe andar como uma pessoa normal? — Hwang Hyunjin ralhou com o homem ainda sentado na grama. A irritação era evidente em sua voz, mas havia também um tom de humor que Felix não pôde deixar de notar.
— Eu não vi suas pernas esticadas. — Ele se levantou, choramingando de forma dramática enquanto segurava seu queixo como se ele pudesse cair. — Me desculpe. Eu não quis parar então a vida acabou me parando.
Ele olhou para Hyunjin, um sorriso envergonhado em seu rosto, tentando suavizar a situação com um toque de humor.
— A sua sorte é que minha guitarra está inteira mesmo depois de seus pezinhos atrapalhados tropeçarem nela. — Hyunjin bufou audível e se concentrou nas cordas, as ajustando sem ao menos se importar com o olhar culpado do outro.
Felix se abaixou para pegar a caixa, notando que dois donuts ainda estavam intactos dentro dela. Sorriu para si mesmo enquanto fechava com cuidado e a colocava ao lado do homem enfurecido.
— Me desculpe, não quis tropeçar em você, estava com tanta pressa que nem prestei atenção. Dois donuts ainda estão perfeitos, aceite como um pedido de desculpas. — Fez uma rápida reverência antes de se virar para continuar seu caminho até Bang Chan, que ria da situação do amigo.
— Eu passo. — Hyunjin não ergueu os olhos, mas havia uma diversão perceptível em sua voz. Ele estava gostando do pequeno drama mais do que queria admitir.
— Então pau no seu cú! — Murmurou Felix, fazendo Hyunjin arregalar os olhos por alguns segundos antes de arquear uma sobrancelha, assistindo-o caminhar para longe.
Era um lado mais atrevido de Felix que raramente vinha à tona, mas Hyunjin o tinha provocado com sua recusa nada educada.
Felix era do tipo prestativo, bondoso e delicado, sempre medindo suas palavras e fazendo favores para as pessoas, na maior parte do tempo se cansando e se anulando por elas.
Odiava ser odiado ou ignorado pois fazia de tudo para não ser, porém, em alguns momentos como aquele, que havia acabado de perder todo seu trabalho duro, Felix se permitia apenas responder como queria.
Hyunjin soltou o ar pelo nariz antes de negar com a cabeça e voltar a afinar a guitarra. — Atrevido. — Murmurou para si mesmo, um sorriso de canto de boca se formando enquanto observava Felix se afastar.
Felix suspirou contente ao ser envolvido em um abraço acolhedor de Bang, pressionando seu queixo contra o ombro dele e guinchando com a ardência em seguida. — Eu me machuquei. — Se afastou minimamente para choramingar.
Bang Chan segurou seu rosto pelas laterais, olhando de perto a região avermelhada antes de soltar uma risada fraca. — Foi só um arranhão pequeno, nem chegou a romper a pele. — A voz de Chan era suave, e sua proximidade trouxe calma para o coração apaixonado de Felix.
— Mas está ardendo muito! — Felix fez um enorme beicinho nos lábios e abriu bem os olhos, sabendo que faria o outro sentir pena. — Não está sangrando? Olha direitinho, Channie! — Seu tom era dramático, fazendo o homem abrir um sorriso afetuoso.
Bang Chan passou a lateral do polegar sobre o queixo e projetou os lábios em um biquinho para conseguir assoprar. A ação foi tão reconfortante e carinhosa que fez o coração de Felix se aquecer ainda mais.
Seus rostos estavam próximos como nunca antes, fazendo Felix morder o lábio para conseguir conter o sorriso sapeca que queria se abrir.
Bang Chan dizia conhecê-lo bem, mas sempre caía em seus dramas exagerados e em seus charmes para conseguir qualquer tipo de atenção. A proximidade fazia o tempo parecer desacelerar, e Felix estava ciente de cada detalhe, desde a textura da pele de Chan até o brilho em seus olhos.
— Está melhor? — Bang Chan perguntou e esperou pela resposta, notando os olhos desfocados e quase fechados de Felix. — Hum... Lixie? — A voz suave e envolvente, o trouxe de volta de seus devaneios.
— O que tem eu? — Felix perguntou perdido, fazendo o outro rir e se afastar.
A risada de Chan era contagiante, e Felix não pôde evitar sorrir de volta, satisfeito com o pequeno momento que haviam compartilhado, mesmo que sua chegada ao campo não tivesse sido tão graciosa como havia planejado.
— O treino já vai começar. Por que não se junta ao Seungmin? — Chan apontou para a arquibancada.
Felix concordou com a cabeça, prestes a se afastar, quando um grito irrompeu atrás deles. — Você aí! — Ele se virou alarmado, seu coração dando um salto em seu peito. — Você mesmo, fada dos doces! — A voz distinta e carregada de um tom de provocação fez o estômago de Felix se contrair.
— Por que o Hwang está vindo em nossa direção? — Bang Chan perguntou baixo, de forma que apenas Felix pudesse ouvir, seu tom era uma mistura de curiosidade e diversão.
— Foi nele que eu tropecei. — Felix respondeu no mesmo tom, se sentindo um pouco constrangido pela situação.
Hwang Hyunjin se aproximou rapidamente, seus passos decididos, e seu olhar fixo em Felix. — Está vendo isso aqui? — Hyunjin levantou o mini amplificador na altura do rosto, balançando-o algumas vezes. A intensidade em seus olhos sugeria que ele estava prestes a apresentar uma prova irrefutável de um crime gravíssimo.
Felix piscou confuso, tentando acompanhar o ritmo da conversa. — Perdão?
— Está ou não está vendo?
— Estou vendo. — Murmurou, cruzando os braços sobre o peito e se preparando para defender seu caso, percebendo que o outro não iria deixar o assunto morrer sem uma boa discussão.
— Escuta alguma coisa? — Hyunjin colocou o mini amplificador na grama antes de passar a paleta pelas cordas, sua sobrancelha arqueando de forma desafiadora quando Felix, mais uma vez, negou com a cabeça. — Pois é! Eu também não escuto. Você tropeçou no meu cabo. Sabe quanto é? — A acusação era clara, e Hyunjin parecia pronto para detalhar o custo do estrago que o homem de moletom infantil havia feito.
— Tenho certeza de que vai me dizer. — Felix murmurou, tentando manter o humor leve, mas sentindo o peso da situação. Ele deu um sorriso sem graça, mas Hwang estreitou os olhos, claramente não achando graça nenhuma.
Antes que Hyunjin pudesse continuar sua argumentação sobre o prejuízo, o toque insistente de seu celular interrompeu sua fala.
Ele resmungou e se afastou, passos pesados ecoando na grama, deixando Felix e Chan observando enquanto ele atendia a ligação.
Felix suspirou, aliviado pela interrupção, mas também ciente de que o outro não deixaria passar. Ele olhou para Chan, que apenas deu de ombros, um sorriso divertido no rosto. — Você conseguiu fazer o caladão' falar. O deixou mesmo furioso.
— Eu acho que vou precisar de mais que dois donuts para ser perdoado. — Felix respondeu, balançando a cabeça enquanto tentava afastar o nervosismo.
Ele seguiu na direção de Seungmin, tentando se focar no motivo pelo qual havia corrido tanto para estar ali: apoiar e se manter perto do cara por quem estava apaixonado.
...
Heey,
Primeiro capítulo :) Estou um pouco apreensiva pois Intense foi um sucesso e eu não sei se essa vai se sair tão bem hahah Espero que gostem :)
+15 Comentários para voltar? É muito?
O que esperam dessa fanfic? :) Quero saber ❤