Capítulo 4
No outro dia.
O som dos sapatos de salto ecoava pela sala de dança vazia, enquanto Thamy, perdida em seus pensamentos, se movia graciosamente. A música preenchia o ar, acompanhando cada passo, cada movimento de seus braços que deslizavam suavemente. Ela se entregava à dança, sentindo-se livre. Aquele era o único momento em que se permitia esquecer suas inseguranças, onde seu corpo pesado parecia leve, quase flutuante.
Do lado de fora da sala, Salvatore observava silenciosamente. Ele havia ido novamente ao estúdio, mas dessa vez não era o compromisso paterno que o movia. Era algo mais forte, algo que o empurrava para dançarina de novo. Desde o dia em que a viu dançando, Salvatore não conseguia tirar Thamy da cabeça. Havia algo nela que o encantava, uma mistura de sensualidade e força, escondida atrás de uma timidez que a tornava ainda mais irresistível.
Ele encostou-se no batente da porta, cruzando os braços enquanto a observava dançar, sem perceber que ela já o havia visto. O coração de Thamy acelerou assim que seus olhos se encontraram, e por um segundo, seus passos vacilaram. Ela tentou focar de novo, mas a intensidade do olhar de Salvatore a desnorteava. Havia algo na maneira como ele a olhava, uma mistura de desejo e admiração que ela não estava acostumada a receber.
— Você deveria continuar — a voz de Salvatore ecoou pela sala. Ele deu um passo à frente, adentrando o espaço vazio. — Eu gosto de ver você dançar.
Thamy engoliu em seco, sentindo o calor subir por seu rosto. Ela não sabia o que dizer. Não era todo dia que um homem como Salvatore a elogiava, especialmente alguém tão poderoso e inatingível quanto ele.
— Eu... não estou acostumada a ter plateia — disse ela, tentando disfarçar a timidez com um sorriso nervoso.
Salvatore caminhou lentamente em sua direção, os olhos fixos nela. Quando estava a poucos metros, ele parou, permitindo que o silêncio falasse por ele. Seu olhar examinava cada detalhe, desde os cabelos volumosos até as curvas cheias de seu corpo. Ela era diferente de todas as outras mulheres que já tinham passado por sua vida, e talvez fosse exatamente isso que o atraía. Thamy era real. E ele não podia ignorar o quanto queria conhecer cada parte dessa mulher fascinante.
— Talvez eu deva me apresentar adequadamente — Salvatore quebrou o silêncio com um sorriso no canto dos lábios. — Salvatore Romero.
— Eu sei quem você é — Thamy respondeu, a voz mais firme do que ela sentia. — Mas... acho que você já sabia disso.
Ele riu baixo, cruzando os braços enquanto continuava a observá-la. Havia uma tensão no ar que ambos podiam sentir. Uma atração que ia além da simples aparência. Salvatore não estava acostumado a se sentir tão fora de controle, mas ali, diante de Thamy, ele sentia que não havia mais volta.
— Você é diferente — ele disse de repente, e as palavras pareceram pesar no ar.
— Diferente como? — Thamy perguntou, nervosa, mas curiosa.
Salvatore se aproximou mais um passo, parando tão perto que ela podia sentir o calor do corpo dele.
— Diferente de qualquer mulher que eu já conheci. E isso... me fascina.
O coração de Thamy batia acelerado. Ela não sabia o que pensar, o que dizer. Havia tanto que ela queria perguntar, mas as palavras simplesmente não vinham. Ao invés disso, ela deu um passo para trás, sentindo-se repentinamente insegura. Seus velhos medos e inseguranças voltando com força total. Como um homem como Salvatore poderia estar interessado nela? Ela, com suas curvas cheias, sua timidez, tão distante das mulheres perfeitas que ele provavelmente conhecia, que convivia. Thamy era tão fora do mundo que ele frequentava, que dominava, que ela não sabia o que pensar.
Salvatore notou a hesitação dela e estendeu a mão, tocando suavemente seu braço.
— Não fuja de mim, Thamy — ele disse, a voz baixa e rouca. — Não vou machucá-la, eu quero conhecer você. De verdade.
Ela levantou os olhos, encontrando os dele mais uma vez. Havia sinceridade naquelas palavras, algo que a fez relaxar um pouco, mas o medo ainda estava lá, rondando.
— Eu não sou como as outras mulheres que você conhece, Salvatore. Não... sou como elas. — Thamy disse, sua voz trêmula.
— Eu sei. E é por isso que eu não consigo parar de pensar em você. Nunca gostei de coisas simples, minha querida, você esconde algo que me instiga a descobrir o que é. quero saber o que me puxa para você, Thamy.
As palavras dele atingiram-na como uma onda, e por um momento, ela se permitiu acreditar. Talvez, só talvez, ele estivesse sendo sincero. Talvez aquele homem que parecia inalcançável estivesse realmente interessado nela, na pessoa que ela era, e não apenas no que ele via por fora. Seria isso possível?
— O que quer saber de mim?
— Me fascinou te ver dançar, começamos por isso.
Ela soltou um suspiro. Era tudo uma loucura. Salvatore poderia estar brincando com ela, ou querendo algo que ela não podia dar, mas mesmo assim a dançarina aceitou sua proposta. Estava cometendo um erro? Logo saberia.
— Tudo bem, eu vou dançar com você de plateia, mesmo que isso exija muito de mim —disse de repente, com um brilho nos olhos. — Mas dessa vez, fique até o fim.
Salvatore sorriu, recuando alguns passos e se encostando na parede. Ele faria isso. Ficaria. Observaria cada movimento dela, sabendo que, a cada passo, estava sendo capturado ainda mais profundamente por essa mulher que o desafiava a ser mais do que o mafioso que todos conheciam.
A música recomeçou, e Thamy voltou a se mover. Desta vez, ela sabia que ele estava ali, a observando, mas não se sentia mais tímida.
Sentia-se poderosa.
E, pela primeira vez, talvez ela estivesse pronta para dançar não apenas para si mesma, mas para alguém. Para ele.
[...]
Thamy olhou para o reflexo no espelho da sala de dança, os cabelos ainda levemente bagunçados pela coreografia, a respiração pesada enquanto seu peito subia e descia. Sentia o suor escorrer pelas têmporas, mas sua mente não estava mais focada na dança. Em vez disso, ela se perguntava o que havia de diferente em Salvatore. Nunca se sentiu assim perto de um homem, ainda mais um tão bonito quanto ele.
Normalmente, diante de homens que a atraíam, sua mente travava. Ela não sabia o que dizer, como agir ou onde colocar as mãos. Mas com Salvatore era diferente. Não gaguejava, pelo menos não como fazia com as outras pessoas. Não ficava nervosa. E isso a inquietava. Desde a primeira vez que o viu, quando ele apareceu para buscar a filha, algo dentro dela se soltou ao ver o fascínio nos olhos dele. Era como se o peso do julgamento que ela sempre sentia em relação ao seu corpo simplesmente desaparecesse. Ainda se sentia tímida, mas também havia um desejo de vivenciar mais, de descobrir, de sentir.
Ela começou a dançar, sentindo a música a invadir. A batida era contagiante, viciante, infiltrava sua pele, seus sentidos. A fazia sentir. Thamy amava isso, a energia, o calor provocado, a alegria contagiante. Ela dançou, se entregou, sentiu, viveu. Foi ao chão, ondulou, abriu as pernas, rebelou e olhou fixamente para Salvatore, tomada pela euforia de se mostrar, de ser vista. Ele a admirava, seu coração estava acelerado, seu corpo quente, desejo correndo por suas veias. Salvatore desejou que os movimentos da dançarina fossem nele, tocar sua pele, sentir seu cheiro, seu sabor. A queria. Desejo cru, intenso, irracional.
O mafioso respirou fundo, buscando acalmar as emoções. Tinha que estar no controle. No comando. Thamy o desestabilizava e isso não era bom.
A dançarina se ergueu, ainda movendo o corpo no ritmo da música sensual que tocava, a música que ela gostava de dançar. Então, na última rodada, prestes a terminar sua coreografia, seus olhos vagaram pela grande janela da sala de dança, e ela se lembrou de minutos antes.
Seu olhar estava perdido na paisagem além do vidro. Esperando encontrar algo. Salvatore. Ela o queria lá, observando-a. saber que um homem como ele a vira e gostou do que viu despertou algo novo dentro dela. Um desejo que ela nunca soube que poderia sentir. Tinha despertado o interesse de um homem poderoso, um homem que podia ter muitas mulheres, mas que tinha vindo por ela. A jovem rejeitada por todos, humilhada, desprezada. Salvatore Romero era poderoso e a queria, Thamy sabia disso.
Foi esse pensamento que a trouxe ao estúdio hoje, logo depois de sua péssima entrevista de emprego. Um suspiro pesado escapou de seus lábios ao lembrar do que aconteceu horas antes. Ela se sentou em uma cadeira de madeira, em frente a uma mulher impecavelmente arrumada, cujos olhos a analisaram com desdém desde o momento em que Thamy entrou pela porta.
O emprego de recepcionista em uma galeria de arte parecia uma boa oportunidade. Ela estava empolgada, tinha se preparado, sabia que poderia fazer o trabalho muito bem. Mas o olhar da entrevistadora a reduziu a nada em segundos. O sorriso forçado da mulher, as perguntas rápidas e secas, tudo denunciava a falta de interesse.
E então veio o golpe final: um comentário disfarçado de gentileza.
— Você é bastante qualificada, Thamy. Mas, sabe, estamos buscando alguém com uma imagem mais... adequada para o ambiente. Talvez você não se encaixe bem com o perfil visual que buscamos. Boa sorte em sua busca.
A jovem sentiu o sangue ferver na hora, mas, como tantas outras vezes, ela não soube o que dizer. Já tinha passado por situações parecidas. Tantas portas fechadas por causa de seu corpo, de quem ela era. As rejeições em entrevistas, onde sua aparência parecia importar mais do que suas habilidades, eram sempre um soco no estômago. Mais uma vez, ela saiu sem emprego, apenas porque não se encaixava no padrão.
O estúdio de dança era seu refúgio. Ali, pelo menos, ela não sentia aqueles olhares de julgamento. Mas agora, enquanto dançava, algo dentro dela se agitava. Havia uma inquietação que ela não conseguia ignorar. Não era só pela entrevista ruim ou pelos comentários cruéis que ela já ouvira tantas vezes. Não queria apenas extravasar, deixar ir os sentimentos ruins através da batida da música que ela descobriu amar.
Era por Salvatore.
Ela queria que ele a visse. Que a desejasse. Que sentisse por ela. Não como a sociedade via, cheia de preconceitos e julgamentos, mas como ela se via quando dançava: forte, confiante, capaz. Jovem dançarina realmente estava gostando de se mostrar para alguém, algo que ela jamais achou ser possível. Thamy estava sendo despertada pelo poder de ser desejada, de ser o objeto da excitação de Salvatore. Isso era incrível, poderoso.
O som de passos a tirou de seus pensamentos. Ela se virou, e lá estava ele, parado atrás dela, tão imponente. Os olhos escuros de Salvatore se conectaram com os dela e, por um breve momento, o mundo parou.
— Você está bem? — A voz dele soou suave, mas firme, e Thamy percebeu que ele a observava com uma preocupação genuína. — você parou de dançar e ficou pensativa.
Ela forçou um sorriso, não queria mentir, mas também explanar seus pensamentos era demais..
— Tive uma entrevista ruim hoje — admitiu, o olhar desviando para o chão.
— O que aconteceu? — Ele havia tomado todo seu espaço pessoal. Podia sentir o calor de seu corpo, sua respiração, e isso lhe causou coisas que nunca havia sentido.
— Acontece que não sou "adequada" para ser recepcionista de uma galeria de arte — ela disse, tentando soar casual, mas a dor em suas palavras era evidente. — Já ouvi isso antes. Não devido às minhas habilidades, claro, mas... por causa do meu corpo.
Salvatore franziu a testa, a irritação crescendo em seus olhos. Ele sabia como o mundo podia ser cruel, especialmente com pessoas que fugiam dos padrões impostos pela sociedade. Mas ouvir isso sobre Thamy, uma mulher tão talentosa, tão cheia de vida, o irritava profundamente.
— Eles não sabem o que estão perdendo — ele disse, a voz grave, mas sincera. — Se não conseguem enxergar além das aparências, então são idiotas. — sua voz tomou um tom de raiva.
Thamy sorriu com amargura, mas o calor nas palavras dele a reconfortou de um jeito inesperado.
— Às vezes, é difícil não deixar isso me afetar.
Ele ergueu a mão lentamente e, com um gesto delicado, tocou o rosto de Thamy, levantando seu queixo até que seus olhos se encontrassem de novo.
— Não deixe — ele murmurou. — Você é mais do que qualquer julgamento superficial. Mais do que qualquer padrão ridículo. Tem algo grande dentro de você e eles não podem lidar com isso.
Thamy sentiu seu coração acelerar com o toque dele, e por um segundo, o peso das inseguranças e frustrações que ela carregava se dissipou.
— Obrigada — ela sussurrou, sua voz baixa, mas cheia de emoção.
Salvatore deu um leve sorriso, o polegar ainda roçando a pele de seu rosto.
— Você tem mais poder do que imagina, Thamy. E eu vou garantir que ninguém te faça esquecer disso.
O olhar dele era intenso, cheio de promessas. E pela primeira vez em muito tempo, Thamy se permitiu acreditar. Não em si mesma, mas na possibilidade de que, talvez, com ele ao seu lado, ela pudesse ser vista exatamente como sempre quis: forte, bonita e digna.
[...]
O toque suave de Salvatore no rosto de Thamy a fez sentir uma onda de calor percorrendo todo o seu corpo. Respirou fundo, tentando controlar as emoções que se agitavam dentro de si. Havia algo diferente nele, algo que ela não conseguia explicar, mas que a atraía como um ímã. Ela desejou fazer com ele coisas que nunca cogitou fazer com homem algum. Como lhe dar seu primeiro beijo, por exemplo.
Tomada pela razão, a jovem desviou o olhar por um segundo, insegura sobre o que dizer ou como reagir. Os pensamentos de sua entrevista frustrante ainda ecoavam em sua mente, misturados agora com o desejo crescente de se entregar ao momento. Salvatore, percebendo o leve desconforto dela, recuou um passo, mas seus olhos nunca deixaram os dela.
— Não deveria ser assim — ele disse, com um tom de firmeza. — Você não deveria ter que provar nada para ninguém. Não para eles, não para mim, nem para o mundo.
Ela sentiu um nó se formar na garganta. Era difícil acreditar que um homem como Salvatore, com toda a sua presença e força, pudesse estar tão atento aos sentimentos dela. Não apenas isso, ele parecia genuinamente incomodado com o que havia acontecido, como se aquilo o afetasse diretamente.
Balançou a cabeça, tentando afastar as memórias desagradáveis da entrevista.
— Estou cansada de tentar me encaixar em lugares que não me aceitam — confessou, sua voz mais baixa, quase um sussurro. — Parece que, não importa o quanto eu me esforce, o meu corpo sempre será um obstáculo.
Salvatore franziu o cenho, como se estivesse tentando processar as palavras dela. Ele não entendia como algo tão superficial quanto a aparência pudesse ser um motivo para rejeitá-la. Para ele, Thamy era linda em sua essência. Ela irradiava uma energia vibrante, especialmente quando dançava, e isso era tudo o que importava.
— Talvez o problema seja que você está tentando se encaixar em lugares que não te merecem — ele respondeu, a voz baixa, mas firme. — Você não precisa mudar nada. Eles é que precisam enxergar além das aparências.
A dançarina sentiu uma lágrima ameaçar escapar, mas ela a segurou. Não queria parecer frágil, não diante dele. Havia algo em Salvatore que a fazia querer ser forte, uma versão de si mesma que não se intimidava pelos outros. Poder, ela queria ter o poder que ele tem, que ele emana.
— Eu só queria um lugar onde pudesse ser eu mesma — ela confessou, o coração acelerado. — Sem julgamentos. Onde eu pudesse... ser vista.
As últimas palavras saíram carregadas de emoção, e ela se deu conta de que, mais do que qualquer coisa, ela queria que ele a visse. E, de certa forma, ele já a via. Mas ainda assim, havia um medo profundo de que, se ela se abrisse demais, ele também acabaria se afastando como os outros.
Salvatore deu mais um passo em sua direção, seus olhos escuros fixos nos dela. Desta vez, ele não tocou seu rosto. Em vez disso, segurou suas mãos, envolveu seus dedos com os dele, e o calor daquele toque fez com que o mundo ao redor parecesse desvanecer.
— Eu vejo você, Thamy — ele disse, sua voz rouca e intensa. — Eu vejo tudo o que você é. E nada pode me afastar disso.
Ela se permitiu fechar os olhos por um momento, sentindo o peso das palavras dele, como se cada sílaba penetrasse fundo em sua alma. Quando abriu os olhos novamente, sentiu-se mais leve, mais forte. Havia algo naquele momento que a fazia acreditar que talvez, só talvez, ela pudesse ser o suficiente.
— Eu acredito em você — ela murmurou, surpresa por suas próprias palavras. — Só que às vezes é difícil acreditar em mim mesmo, entende? O que eu tenho? O que posso oferecer?
Salvatore inclinou a cabeça, sem nunca desviar o olhar.
— Você tem tudo para fazer qualquer um estar aos seus pés.
— Não consigo acreditar nisso. — Sua voz era um sussurro. Um doloroso sussurro.
— Então me deixe te mostrar. Deixe-me te mostrar que pode fazer qualquer homem cair aos seus pés. Deixe-me te mostrar isso.
Antes que ela pudesse responder, ele soltou uma de suas mãos e a puxou para o centro da sala de dança, onde o chão de madeira brilhava suavemente sob a luz das lâmpadas que iluminava o ambiente já escuro pelo cair da noite. Ele não era um dançarino, e ela sabia disso. Mas naquele momento, ele estava disposto a segui-la em sua própria arte, em seu próprio mundo. Estava disposto a deixar cair uma de suas muitas camadas para ver Thamy bem e sorrindo. Tristeza não combinava com ela e Salvatore sabia disso.
A jovem dançarina deu uma risada nervosa, seus pés quase tropeçando quando ele a puxou para perto.
— O que está fazendo? — ela perguntou, tentando conter o riso que subia por sua garganta.
— Estou te seguindo — ele respondeu, os olhos faiscando de diversão, mas com um brilho sério. — Mostre-me como é ser você. Mostre-me que tem poder, que pode conquistar o mundo. Que pode ter o que quiser, quem quiser. — Seus olhos estavam conectados e eram intensos. — Você me encantou, Thamy, agora me mostre mais. Eu quero mais de você.
Ela respirou fundo, tentando não pensar demais. Seus braços envoltos nos dele, o corpo pesado contra o dele, enquanto o ritmo de uma música imaginária os guiava. Cada passo que ela dava era uma mistura de hesitação e coragem. E ele a acompanhava, com uma paciência e confiança que a faziam acreditar que, de fato, ela estava sendo vista.
Eles giraram pelo estúdio, o silêncio quebrado apenas pelo som de seus sapatos deslizando no chão de madeira. Não era uma dança convencional, mas, naquele momento, parecia a coisa mais natural do mundo.
Quando finalmente pararam, Thamy estava ofegante, mas havia um sorriso em seus lábios, um sorriso genuíno que há muito tempo ela não exibia. E Salvatore, sem palavras, apenas a observou. Ele soltou suas mãos lentamente, mas os olhos dele ainda estavam conectados aos dela.
— Viu? — ele disse, com uma leveza na voz. — Você me mostrou algo. Fez-me dançar com uma dançarina profissional. E sabe de uma coisa? — Ela negou com a cabeça. — Eu nunca danço. — Seu sorriso era enorme e sincero.
Ela não sabia o que responder, mas estava feliz. Ao perceber o quão colado estavam, seu rosto queimou, mas pela primeira vez, não de vergonha, e sim de um calor bom, de uma sensação de acolhimento.
— Obrigada — ela sussurrou, incapaz de conter a emoção.
Salvatore apenas sorriu, um sorriso que dizia mais do que qualquer palavra poderia expressar. E naquele momento, Thamy percebeu que, pela primeira vez em muito tempo, alguém a via verdadeiramente. Não era apenas uma observação superficial, mas algo mais profundo, que a fazia sentir-se importante, desejada e, mais do que tudo, suficiente.