》Author Notes 📜☕🧸 --
Dessa vez vou por meu comentário primeiro.
Alerta de conteúdo sensível para algumas pessoas. Descrição de alguém suprimindo crise de ansiedade, family issues, e briga.
Siga por sua conta e risco.
—Shinne. H
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石Louise Angelle
Na manhã seguinte, eu acordei com uma sensação de vazio no peito. A noite anterior tinha sido um desastre, e o peso de tudo ainda pairava sobre mim. O sol mal entrava pelas frestas das cortinas, e eu me forcei a sair da cama. Meu corpo doía, como se estivesse carregando um peso invisível. Mais uma vez, o olhar julgador da minha mãe estava gravado na minha mente. Não era apenas o vestido – que, aliás, ela tinha me proibido de usar –, mas tudo que eu representava para ela. Tudo que ela detestava.
Lembrei do sorriso malicioso de Sunoo, e de como Niki estava diferente. Ele estava tão tenso, como se estivesse à beira de um colapso, e eu sabia que era por minha causa. A noite não tinha acabado bem para nenhum de nós. Puxei o lençol sobre meu rosto, tentando afogar a sensação sufocante que começava a subir pela minha garganta.
Levantei-me devagar e fui até a porta. Quando a abri, dei de cara com Niki no corredor, batendo de leve com os nós dos dedos na parede, claramente agitado. Eu respirei fundo, já pressentindo o que viria.
— Precisamos conversar, Louise. — Sua voz saiu baixa, controlada. Mas eu conhecia bem esse tom. Sabia o que estava por vir.
— Sobre o quê, Niki? — Cruzei os braços, tentando não deixar transparecer a onda de cansaço que me dominava.
— Sobre ontem. Sobre você e Sunoo, e sobre o que está acontecendo entre nós. — Ele deu um passo à frente, a mandíbula cerrada. Seus olhos eram intensos, ardendo com aquele ciúme que eu começava a reconhecer tão bem.
Eu fechei os olhos por um momento, sentindo o familiar aperto no peito. De novo isso.
— Já falamos sobre isso, Niki. Eu te disse que Sunoo é só um amigo. — Eu tentei manter a voz firme, mas minha paciência estava se esgotando rapidamente. — O que mais você quer que eu diga?
— Quero que você seja honesta comigo! — Ele ergueu a voz, o tom se tornando agressivo. — Você acha que eu não percebo? Eu vejo como ele olha pra você, como vocês são íntimos.
— Intimidade?! — A risada saiu mais amarga do que eu pretendia. — Ele é meu amigo de infância, Niki! Crescemos juntos. Você está sendo ridículo!
Niki deu um passo à frente, os olhos faiscando.
— Ridículo? Eu estou sendo ridículo por me importar com o fato de outro cara estar sempre por perto de você? — Ele bufou, passando a mão pelos cabelos de maneira nervosa. — Você acha que eu não vejo como ele tenta se aproximar?
A cada palavra, algo dentro de mim começava a se quebrar. Não era só o Niki. Era tudo. O olhar da minha mãe na noite anterior, o fato de eu nunca ser boa o suficiente para ela, o modo como meu pai ficava calado, mas sempre conivente com cada crítica cruel. Tudo isso estava se acumulando, e eu não sabia por quanto tempo conseguiria manter o controle.
— Niki, por favor, eu não aguento mais essa discussão! — Minha voz saiu trêmula, e eu me odiei por isso. — Você está fazendo uma tempestade em um copo d'água.
— Tempestade em um copo d'água?! — Ele deu um passo mais perto, e agora sua voz estava quase em um grito. — Eu te vi, Louise! Vi como você se comporta perto dele! Como ele segura sua mão, como vocês trocam olhares. Acha que sou cego?
Senti uma lágrima teimosa se formar no canto dos meus olhos, mas me recusei a deixá-la cair. Não na frente dele. Não assim.
— Você está vendo coisas que não existem, Niki. — Eu tentei manter a calma, mas minha voz já estava embargada. — E sabe de uma coisa? Eu estou cansada. Cansada de ter que lidar com o seu ciúme, cansada de tentar te agradar, cansada de me sentir sufocada o tempo inteiro!
Ele me olhou por um momento, chocado. Mas logo o choque se transformou em raiva.
— Ah, claro. Agora a culpa é minha, não é? Eu sou o errado por me preocupar com você, por te amar. Você acha que isso é fácil pra mim? — Ele estava gritando agora, e eu pude ver seus olhos brilhando de raiva. — Você age como se isso não importasse!
Eu senti a raiva borbulhando dentro de mim, misturada com todo o peso que eu carregava.
— Você não sabe nada sobre o que eu sinto! — As palavras escaparam da minha boca antes que eu pudesse controlar. — Eu lido com minha mãe me controlando, meu pai me ignorando, e agora você! Eu não sou perfeita, Niki, e estou exausta de tentar ser!
Aos poucos, eu senti meu coração acelerar. A respiração se tornou rápida e superficial, e o ambiente ao meu redor começou a girar. As palavras de Niki se tornaram um ruído distante. Eu estava à beira de algo, algo que eu não queria enfrentar. O pânico começou a crescer dentro de mim, uma sensação de afogamento, como se o ar tivesse se tornado pesado demais para ser respirado.
— Louise... — A voz de Niki soou mais baixa, preocupada. Ele deu um passo à frente, mas eu levantei a mão, pedindo que ele parasse.
— Só... só me deixe em paz. — Minha voz saiu fraca, quase um sussurro. Eu sentia o chão sumir sob meus pés.
Corri para o banheiro e tranquei a porta, me sentando no chão frio. As lágrimas que eu tentei tanto segurar finalmente desceram. Eu não podia deixar que ele visse. Não podia deixar ninguém ver.
Minha respiração estava irregular, e minha mente era uma tempestade de pensamentos. Eu estava sufocando. O peso de tudo – minha mãe, Niki, os olhares de julgamento, o medo de não ser suficiente – estava esmagando meu peito. Eu queria gritar, mas não podia. Não devia.
"Você tem que ser forte, Louise", eu me repetia mentalmente. "Você não pode perder o controle."
Fiquei ali, no chão frio, esperando que o aperto no peito diminuísse. Aos poucos, forçava-me a suprimir tudo, a trancar cada emoção em algum lugar dentro de mim, onde ninguém pudesse ver. Porque era isso que eu sempre fazia. Era isso que minha mãe exigia.
Quando finalmente consegui respirar de novo, me levantei e me olhei no espelho. Os olhos vermelhos denunciavam o que tinha acabado de acontecer, mas eu sabia que podia esconder isso. Eu tinha que esconder.
Saí do banheiro e encontrei Niki ainda parado no corredor, os olhos preocupados.
— Está tudo bem. — Minha voz saiu firme, fria. — Vamos deixar isso pra lá. Temos coisas mais importantes para lidar.
Ele não disse nada. Apenas assentiu, mas eu podia ver a dúvida em seus olhos.
No fundo, eu sabia que não estava bem. Nada estava. Mas eu continuaria a suprimir. Continuaria a fingir. Como sempre fiz.