Oi, amores! Como vocês estão? Confesso que estou morrendo de saudades do Twitter (me recuso a chamar aquela bomba de X). Enfim, como mencionei anteriormente, por ser uma adaptação, haverá novas cenas que não existiam antes. Isso permitirá que vocês conheçam um pouco mais sobre os personagens e tornará a história mais fluida, mas sem alterar sua originalidade.
Quero avisar que alguns temas abordados incluem traição, uso de palavras de baixo calão, álcool e outras drogas. Reforço que não é minha intenção romantizar ou normalizar essas questões. Leiam cientes de que os personagens são imperfeitos e muitas vezes não agirão conforme suas expectativas.
Eu não gosto de pedir votos e comentários, mas admito que eles me motivam muito e me ajudam a entender como vocês estão se sentindo ao ler a obra. Então, se puderem, não hesitem em deixar um feedback.
Espero que aproveitem a leitura! 💖
O cheiro de nicotina misturava-se com o aromatizador de ambiente, que exalava lavanda e limão siciliano. O relógio marcava duas e dezessete da tarde, e Jungkook mal podia esperar para sair daquela sala sufocante, que mais parecia uma prisão sem grades.
Sua prisão sem grades.
Onde seus desejos e planos futuros foram moldados antes mesmo de dar seus primeiros passos ou pronunciar alguma sílaba.
Do lado de fora, a chuva intensa caía, e rajadas de vento batiam contra a janela, tornando o cenário ainda mais melancólico, como se sua vida fosse o roteiro de algum filme cult melodramático dos anos oitenta.
Talvez fosse.
Expelindo a fumaça uma última vez antes de apagar o cigarro, seus dedos alcançaram o smartphone guardado em sua calça militar. Ele o retirou sem esforço, desbloqueando-o com Face ID até abrir o chat com a pessoa que há muito tempo se tornara seu mais novo vício, entre tantos outros.
Não foi difícil digitar algumas palavras e enviar, sem sequer cumprimentá-lo ou seguir as regras de etiqueta que pessoas educadas sempre seguiam:
[Jungkook]
Preciso de você hoje! Seja pontual.
Pagarei a mais pelo serviço.
Bons minutos se passaram até que ele recebesse uma resposta.
[Meu erro]
Educação te mandou lembranças, Jeon!
Tenho horário livre a partir das 22h.
Jungkook batucou os dedos na mesa de madeira maciça, focando brevemente no relógio digital.
Sem muita enrolação, respondeu à mensagem com um emoji de "beleza", sem se dar ao trabalho de retrucar a ousadia do bronzeado. Conferiu novamente o relógio digital, bufando ao notar que as horas pareciam estar contra ele, não passando de jeito nenhum.
Levantando-se de sua cadeira de courino preta, caminhou até o pequeno banheiro que lá havia, passando rapidamente as mãos pela cabeleira negrume, aproveitando para ajustar a boina de cor vermelha em sua cabeça, logo rumando para seu próximo compromisso.
***
A tarde seguiu-se como quase todas as outras, com alguns soldados vomitando pela exaustão do treinamento rigoroso elaborado pelo Capitão Jeon. Alguns chegavam a desmaiar devido à pressão baixa. Se achavam que toda aquela cena de choros, lamentos e pedidos de ajuda tornaria o treinamento menos rigoroso, estavam enganados.
Liderar uma tropa era mais difícil do que parecia; Jungkook estava cercado por jovens com excesso de testosterona e pouca — ou nenhuma — inteligência emocional. Alguns filhos da elite coreana eram seus recrutas, e quem achava que ele dava alguma vantagem a eles estava enganado. Pelo contrário, o treinamento era ainda mais exaustivo.
Para os soldados que ingressavam no Exército através do alistamento, o caminho era sempre mais tortuoso. Eles não possuíam regalias e trabalhavam na manutenção do perímetro do quartel-general onde estavam servindo: limpar banheiros, lavar o uniforme de seus superiores, cozinhar, limpar armamentos, entre outras tarefas, além do treinamento padrão.
Diferente de muitos outros de sua patente, Jeon exigia o máximo de seus soldados. Ele os lançava em uma floresta, com os olhos vendados e as mãos amarradas, mochilas pesadas e apenas um cantil de água para cada um, ordenando que encontrassem o caminho de volta ao QG antes que o cronômetro estourasse.
Ou então, os levava para escalar o pico de uma montanha, onde as temperaturas chegavam a graus negativos, fazendo a urina congelar antes mesmo de tocar o solo.
Jungkook era o melhor.
E por isso ele requeria que seus soldados também fossem os melhores. Para alguns, seus métodos de treinamento beiravam ao sadismo, mas ninguém tinha coragem de intervir em seu trabalho.
— Estão liberados, senhores! — gritou a plenos pulmões. Gotículas de chuva pingavam de seus cabelos negros e desciam pelo peitoral nu. O treinamento havia terminado após uma corrida de dez quilômetros, onde saltitavam em sincronia e gritavam palavras de ordem.
— Sim, senhor! Licença para retirada, senhor.
— Licença concedida.
Após a continência, os soldados se dispersaram em direção ao vestiário, enquanto Jungkook se dirigia à sua sala, ansioso por um banho quente antes de ir ao apartamento onde encontraria Kim.
Ser oficial tinha suas regalias: um gabinete individual com sofá, um cantinho do café com uma máquina de torrar grãos — comprada com seus próprios recursos — e um banheiro pequeno, mas confortável.
Depois do banho e vestido com um uniforme reserva, Jeon desligou o computador e arrumou seus itens pessoais, esperando que a maioria dos colegas se dispersasse para poder sair sem ser incomodado; odiava conversas triviais.
Não era um homem de muito diálogo, especialmente com quem não fazia parte de seu círculo social.
O som de uma notificação chamou sua atenção, e ele arqueou a sobrancelha ao ler a mensagem na barra de notificações após desbloquear o aparelho.
[Hae]
Amor, pode passar naquela padaria perto do seu trabalho e trazer alguns macarons? Sinto que vou morrer se não comê-los hoje.
[Jungkook]
Oi, querida.
Já está em casa? Achei que pegaria um turno extra.
Jungkook mordiscou o lábio inferior, aguardando resposta.
Sua noiva não costumava lhe enviar mensagens em horários como este. Na verdade, ela não gostava de conversas por mensagens de texto, pois não tinha paciência para isso.
[Hae]
Na verdade, estou no seu apartamento. Hoje é sexta... noite de massas e vinho. Lembra?
— Puta que pariu — empurrou a língua contra a bochacha, suspirando de maneira frustada — como eu pude esquecer?! Porra!
[Jungkook]
É claro que não esqueci, querida.
Mentiroso.
[Hae]
Você vai demorar muito?Seu prato preferido está pronto e o cheiro está me dando água na boca.
[Jungkook]
Chegarei o mais rápido possível.
Tente não comer tudo sem mim!
Te amo.
***
O relógio marcava seis e vinte quando Jungkook parou sua Mercedes sedan preta a poucos metros da portaria do quartel. Ele abaixou os vidros escuros e blindados para se identificar, sendo prontamente respondido pelo sentinela com uma continência e um sorriso educado. Enquanto o soldado anotava algumas informações em sua prancheta de madeira, como o horário de saída, a placa e o nome do condutor, Jungkook se lembrava do dia em que, acidentalmente, conheceu Taehyung.
Era por volta das três da manhã, há dois anos, quando encontrou um cartão cor de vinho jogado ao lado de uma boca de lobo, em uma viela qualquer de Gangnam.
A princípio, não deu muita importância, mas seu pequeno TOC por limpeza o levou a recolher o cartão e descartá-lo de maneira responsável, xingando quem quer que tivesse sido mal-educado o suficiente para jogar lixo no chão.
No entanto, seus olhos foram atraídos por letras garrafais douradas onde estava escrito "V", ao lado de um QR code. Movido pela curiosidade, ele desbloqueou seu smartphone e apontou a câmera para o código.
Imediatamente, foi redirecionado para uma página de conteúdo adulto — deveria agradecer à sua operadora pela eficácia da banda larga.
Entretanto, sua curiosidade foi totalmente frustrada quando, ao tentar clicar em um dos diversos vídeos, uma tela pedindo senha para desbloquear o conteúdo apareceu, impedindo-o de continuar.
— Por que caralhos o site pornô está pedindo senha de acesso?! — zombou, franzindo as sobrancelhas escuras — gourmetizaram a punheta?
Após várias tentativas frustradas, o site foi bloqueado, aumentando ainda mais a insatisfação de Jeon.
Ele caminhou até um barzinho de rua, pediu uma dose de whiskey bourbon e acendeu um cigarro mentolado, disposto a esperar os dois minutos necessários para tentar acessar a plataforma novamente.
O velhinho corcunda trouxe sua dose de whiskey e lulas empanadas como acompanhamento. Jungkook bebeu a dose de uma só vez, suspirando extasiado quando a bebida quente desceu rasgando.
Ao analisar novamente o cartão de cor escura, pôde ver, em letras miúdas, uma combinação numérica: V123905.
— Não custa tentar — sussurrou para si mesmo.
Os dedos grossos e tatuados digitaram a combinação de maneira solene, logrando êxito.
Um sorriso presunçoso estampou sua face pálida, e ele pediu mais uma dose de whiskey para comemorar sua nova descoberta.
Seu estômago deu uma volta de trezentos e sessenta graus — se isso fosse possível — ao avistar o catálogo contendo diversas fotos de um homem de pele bronzeada, cabelos escuros, olhos felinos e uma boca perfeitamente linda, que tiraria o fôlego de qualquer um.
Prendendo a respiração, ele rolou a tela, analisando minuciosamente as fotos. Algumas mais ousadas, outras vestindo um robe de seda vermelho e uma máscara preta.
Sexy.
Jeon sentiu sua mão formigar, e algo em suas calças deu sinal de vida, mas sua imaginação foi interrompida por um chat que se abriu automaticamente:
[V]
Vejo que você passou bons minutos analisando o catálogo.
Ele bebericou sua nova dose de whiskey e digitou rapidamente uma resposta, sem saber que o bate-papo era em tempo real. Seus dedos voavam sobre a tela, ansiosos para descobrir mais sobre o misterioso homem das fotos.
[Jungkook]
Não costumo conversar com robôs! Quantos cavalos de Troia eu adquiri ao abrir o site?! A propósito, foi um tanto estressante conseguir entrar no site. Se a intenção é deixar seus clientes relaxados, falhou miseravelmente. Quem diabos exige senha de acesso?
A resposta veio como uma faca de dois gumes:
[V]
Segurança é nossa prioridade. A senha protege tanto você quanto nosso conteúdo. Afinal, os cartões são distribuídos apenas para VIPs. Acredito que você não seja um deles... correto?!
[Jungkook]
Não. Não sou.
[V]
Como imaginei... Nosso tempo gratuito está se esgotando. Acredito que você não seja um cliente em potencial, mas caso esteja disposto a se cadastrar na plataforma, deixarei aqui o link para que você siga com o processo (LINK).
A resposta ácida foi suficiente para que Jungkook, movido por impulso e curiosidade, clicasse no link sem hesitar. Ele foi redirecionado para uma página de cadastro que solicitava informações adicionais, como nome, idade e se o cliente tinha algum fetiche. A página também especificava que o dono da plataforma não trabalhava com a realização de parafilias.
Além disso, o tal "V" exigia exames de ISTs para comprovar que o cliente não possuía infecções sexualmente transmissíveis.
Jungkook achou tudo muito complexo; por que um garoto de programa exigia tantas coisas?
Afinal, o trabalho dele era deitar na cama, abrir as pernas e fingir que estava gostando de trepar com o cliente.
Certo?
Bom, ele não iria necessitar dos serviços ali oferecidos; era apenas sua curiosidade que o levou a se cadastrar, inserindo seu nome e sobrenome. Por fim, revirou a nuvem em busca de exames recentes, mas optou por refazê-los e anexá-los em outra ocasião, uma vez que todos os exames continham dados cruciais sobre sua pessoa, como o endereço de seu trabalho e residência.
Foi a partir dali, após encontrar o cartão de maneira aleatória, que sua vida virou de cabeça para baixo.
Os olhos felinos, a boca carnuda e a pele bronzeada foram os responsáveis por fazê-lo ceder aos desejos mais profundos, sem se importar com as consequências de seus atos.
Sem se importar com as consequências.
Jeon Jungkook era o típico homem de classe alta: bonito, ganancioso e mimado.
Estava no topo da pirâmide elitista.
Era o tipo de homem que, munido de seus atributos físicos, conta bancária recheada, emprego estável e bons ganhos, não pensava muito na realidade alheia.
Não pensou em sua doce noiva ao deitar-se com V pela primeira vez, há cerca de dois anos — poucas horas antes de pedi-la em casamento.
Naquela noite, as memórias de suas dores e traumas o consumiram, e ele buscou refúgio nos braços do bronzeado. A conexão que sentiu foi intensa e imediata, uma fuga temporária de sua realidade.
Horas mais tarde, ele se preparou para um dos momentos mais importantes de sua vida. Com o anel de noivado no bolso, ele se ajoelhou diante de sua noiva, prometendo-lhe um futuro juntos. Mas, no fundo, ele sabia que uma parte de si sempre estaria presa àquela noite com V.
Ele era egoísta o suficiente para não querer abrir mão de ninguém.
Jungkook acreditava que sua habilidade de manipular a verdade lhe dava uma vantagem inquestionável. Ele se sentia invencível, navegando entre suas duas vidas com a destreza de um maestro. Cada mentira contada a Taehyung era cuidadosamente planejada, cada detalhe meticulosamente ajustado para manter a ilusão intacta.
Enquanto Taehyung se apaixonava pelo empresário fictício, Jeon se deliciava com o controle que exercia sobre a situação. Ele sabia que estava jogando com fogo, mas a adrenalina do risco era viciante. A cada encontro, a cada mensagem trocada, ele se aprofundava mais no labirinto de suas próprias mentiras.
Mas, no fundo, uma pequena voz sussurrava que essa teia de enganos não poderia durar para sempre. E, embora ele ignorasse essa voz, ela permanecia, um lembrete constante de que, eventualmente, todas as máscaras caem.