Na sexta-feira, a pequena fase de lua de mel que Harry e Draco experimentaram passou. Eles estão de volta ao normal. Harry tem que ter o jantar na mesa às cinco e estar apresentável. Ele não consegue usar uma camisa suada e subir do laboratório de fermentação às quinze para as cinco, e ele tem uma pequena marca vermelha na bochecha para lembrá-lo disso. Draco não esconde isso.
Mas ele não está muito irritado. Ele está em êxtase com o "Excelente trabalho, Sr. Potter", que Snape lhe deu ontem, ao entregar sua poção bem-sucedida. Ele sorri agora só de pensar nisso.
Ele e Draco estão caminhando juntos, às sete da noite, em direção ao Caldeirão Furado para se encontrar com Ron e Hermione. Draco está segurando sua mão, frouxamente. Eles não falam muito, alguns comentários de vez em quando, mas nada substancial. O jantar transcorreu da mesma maneira afetada.
Harry fala a maior parte do tempo com Snape. Ele ajudou o homem a preparar poções na terça-feira e depois ficou para o almoço na quinta-feira. Conversar com Snape é surpreendentemente fácil. Ele não se importa com os comentários sarcásticos de Harry agora que não é mais aluno, e Harry passou a apreciar o senso de humor único de seu professor severo quando isso não está lhe custando uma nota ou pontos na casa.
"Severo", embora já tenha sido adequado, pode não ser o melhor descritor para o que Harry pensa atualmente de Snape. Talentoso, inspirado, espirituoso, inteligente? Talvez um pouco bonito.
Harry olha para onde seus dedos estão entrelaçados com os de Draco e engole em seco. Bonito de uma forma totalmente platônica, esse homem só está sendo legal comigo, me ensinando a fazer poções, me resgatando e cuidando de mim até ficar saudável. Esse tipo de beleza. Muito casual.
Draco olha para Harry que parece estar com a cabeça nas nuvens.
— O que está em sua mente, amor?
— Ah, não muito. Pensando em poções — mestres.
— Fico feliz que você esteja gostando tanto, é bom ver você feliz com alguma coisa — Draco comenta e desvia o olhar antes que Harry possa encontrar seu olhar.
Ele gostaria que Draco simplesmente dissesse o que queria dizer. Harry não é bobo, ele pode ver que Draco deixou de fora a parte em que ele está furioso com a infelicidade de Harry. E de quem é a culpa? ele pensa, com amargura.
O Caldeirão Furado está movimentado, como sempre acontece em uma sexta-feira quente de verão. Hermione e Ron já se encontram em uma cabine familiar perto do fundo, com quatro canecas de cerveja na frente deles.
Harry não teve notícias de nenhum deles desde a carta que ele enviou na semana passada. Hermione não escreveu mais, ele não sabe se isso é bom, ela ouviu o que ele disse, ou se isso é ruim e ela está chateada com ele.
Em ambos os casos, ela age como se nada tivesse acontecido e força Ron a sair da cabine para que ela possa dar um grande abraço em Harry. Ron dá um tapinha nas costas dele. Não passa despercebido que nem Ron nem Hermione dão a Draco uma saudação muito calorosa, e Draco é similarmente cauteloso com Hermione.
Essa vai ser uma noite longa pra caramba.
— Como você está, Ron, algum caso interessante? — Harry pergunta, tomando um gole de sua bebida. Ele olha para Draco, que bebeu metade de sua cerveja como se fosse água. Ele não bebe nada desde sexta-feira passada.
— Claro, companheiro. Queria que esses malucos tirassem o verão de folga ou algo assim. Você não acreditaria na quantidade de "Comensais da Morte" que pegamos na semana passada. — Ron faz aspas no ar em torno de "comensais da morte". — Realmente, eu quero jogar esses idiotas de meia-tigela em uma cela com Lestrange por uma tarde, para ver o quão chamativo eles acham que é ser um Comensal da Morte. — Ele comenta, obviamente ainda animado.
— E o que seria isso, Ron? Hermione diz.
— Antiético — ele imita a voz de Hermione, estridente demais. — Acredite em mim, se não existisse ética, teríamos muito menos crimes — Ron toma outro gole, parece considerar o que disse e então acrescenta: — Não foi isso que eu quis dizer, mas você me entendeu, certo Harry?
Harry sorri, só um pouquinho.
— É, Ron, eu entendo você. — Tinha sido muito mais fácil para os três (e, claro, inúmeros outros estudantes e apoiadores, mas muitas vezes só eles) fazer as coisas quando não tinham estatutos e contratos para cumprir durante a guerra.
Falar sobre a guerra irrita Draco, mas ele não comenta.
— E Mione, como está Kingsley?
Hermione parece irritada com sua semana de trabalho também. Ela se inclina, conspiratoriamente, abaixando a voz, como sempre faz quando fala sobre assuntos do ministério que não deveria compartilhar.
— Sinceramente? Estou começando a ficar tão entediada. Todo mundo me disse que ser uma auxiliar me levaria rapidamente para a política, mas às vezes eu prefiro ser uma das manifestantes. Pelo menos então eu sentiria que estou na ação. — Ela suspira e se inclina para trás em seu assento.
— Por que não os dois? — Harry sugere. Hermione revira os olhos.
— Tenho certeza de que isso seria bem aceito. Tive que passar pela Luna outro dia e fingir que não concordava totalmente com o fato de que o tratamento que damos aos Mysticoads malhados não é completamente terrível
— Mysticoad?
— Eu literalmente não tenho ideia, mas Luna apresenta um argumento convincente sobre como os colocamos em perigo e deveríamos parar de usá-los como ingredientes de poções.
Ron interrompe:
— Pelo menos você não teve que escoltá-la para fora do prédio. O que eu sou? Um segurança? — Ele joga as mãos para cima.
Harry está com ciúmes de novo, como sempre fica com os amigos. Ambos têm empregos emocionantes que se cruzam. As conversas deles na mesa de jantar são certamente muito mais interessantes do que as dele e de Draco.
— Caramba, isso é horrível. — Harry acena em consolo. As bochechas de Ron já estão tingidas de vermelho, seja pela bebida ou por estar tão pressionado, Harry não tem certeza.
Ron continua.
—Eu sei, e a pior parte é o quão legal ela foi sobre isso. Quer dizer, você conhece a Luna, é claro, mas foi tudo 'Está tudo bem, Ron, eu sei que é só o seu trabalho', e então até convidou Mione e eu para jantar enquanto eu a expulsava.
Eu deveria escrever para Luna, Harry pensa e faz uma nota mental para finalmente responder a ela em algum momento desta semana. Talvez ele até tente ir vê-la.
Eles continuam conversando. Draco entra na conversa de vez em quando, apenas o suficiente para agir como se não estivesse tentando ignorar Ron e Hermione, mas suas respostas apenas velam seus pensamentos atuais.
Harry gosta que Draco não esteja falando muito. Ele não está conduzindo a conversa, ou beliscando a perna de Harry quando ele diz algo errado. Na maior parte do tempo, Harry sente como se estivesse apenas bebendo com seus amigos. Ele passa a mão sobre sua bochecha, a marca vermelha que fica logo abaixo da armação de seus óculos. Isso é bom, se a vida continuar assim para sempre, ele ficará bem.
Depois de terminar sua primeira cerveja, Harry pede licença para ir ao banheiro.
O banheiro do Caldeirão Furado está igualmente sujo, mas Harry faz xixi rápido e lava as mãos. Ele não se vê sem o glamour desde segunda-feira, não tem ideia de como seus olhos estão se curando. Eles não estão mais muito doloridos, o que é bom. As bolhas em seu peito praticamente desapareceram, a maioria dos hematomas agora é apenas amarelo-claro, e não dói mais sentar.
A maçaneta balança. Harry termina e abre a porta, mas é Ron, que rapidamente os empurra para dentro do banheiro, trancando a porta com segurança.
— Uh — Harry não sabe o que dizer, olhando para seu melhor amigo com cara de pedra.
— Harry — Ron começa, então parece perder todo o seu gás. — Estou um pouco bêbado, desculpe.
— E você está no banheiro comigo por quê?
— Hermione me disse para falar com você.
— Oh.
Eles não dizem nada. Esta não é a amizade de Ron e Harry. Não quer dizer que eles não possam compartilhar momentos emocionais e sinceros, eles tiveram sua cota justa deles, é só que eles não são do tipo que conversam sobre coisas assim. Eles são mais propensos a resolver seus sentimentos por meio de um jogo de Quadribol ou ocasionalmente fazendo coisas explodirem até que se sintam melhor.
— Você está bem? — Ron finalmente quebra o silêncio.
— Sim, Ron, estou bem, companheiro. — Harry quer sair dessa situação o mais rápido possível.
— Se não estiver, tudo bem. Não, ugh — Ron passa a mão pelo cabelo, frustrado. — Não que esteja tudo bem que você não esteja bem, está tudo bem que você não esteja se sentindo bem.
— Jesus Cristo, Ron, você bebeu antes?
Ron só fica mais frustrado. Ele respira fundo, como se estivesse se concentrando para lançar um feitiço, então diz:
— Eu não sou bom nisso, mas parece para Hermione e eu que algo está acontecendo que você não está nos contando. Se não, ótimo, eu não quero que você se machuque. Se algo está acontecendo, possivelmente entre você e Draco, não tem problema precisar de ajuda. Nós faremos qualquer coisa por você, Harry.
Harry fica impressionado com a maneira como Ron colocou isso, não que seja um bom momento para uma piada sobre a eloquência usual de Ron. Em vez disso, Harry oferece um sorriso ligeiramente triste.
— Obrigado, Ron. — Ele diz, sinceramente. — Eu aprecio vocês dois.
A platitude não parece fazer Ron se sentir melhor. Harry conhece seu amigo, ele sabe que Ron só quer a verdade e que eles não fiquem enrolando, mas Harry não pode dar isso a ele. Ainda não.
Ron não diz mais nada, mas ele puxa Harry para um abraço. Não é o abraço usual de tapinhas nas costas, é um abraço Weasley real, apertado, sufocante e confortável. Harry quase sente que vai chorar com o quanto ele sente Molly e Arthur no abraço de Ron.
— Eu te amo, companheiro.
— Também te amo, Ron.
Eles finalmente se separam e Harry sai do banheiro. Ainda bem que não tem ninguém esperando para entrar, isso seria estranho.
De volta à mesa, Harry rompe o contato visual intenso de Hermione e Draco. Ele não diz nada, apenas se senta e eles se recuperam. Ron leva um tempo razoável no banheiro antes de voltar, com outra cerveja para todos eles.
Ficando sem material novo, eles lentamente voltam a falar sobre seus dias de escola. Discutindo o que todos estão fazendo e requentando fofocas de quase uma década que não significam mais nada. É legal e confortável, só fica um pouco estranho pelo fato de que eles têm que evitar falar sobre uma de suas principais fontes de irritação durante a escola.
Hermione e Ron ficaram apenas um pouco perturbados por Harry ter ficado com Draco. Ambos expressaram seu descontentamento, mas ao ver que Harry estava falando sério sobre ele, eles aceitaram. Eles nunca serão grandes amigos, mas querem que Harry seja feliz.
Hermione continua lançando olhares para Harry do outro lado da mesa. Ele se sente seguro agora, e ainda um pouco poderoso por fazer Draco relaxar um pouco nas regras. É bom para ele finalmente sentir que tem uma escolha real. Posso ficar com Draco, ou posso contar aos meus amigos e obter ajuda. Depende completamente de mim. Isso, claro, não é totalmente verdade, mas Harry esmaga a voz irritante gritando manipulação no canto mais escuro de sua mente.
A conversa deles é interrompida quando Hermione percebe uma figura passando. Harry está muito absorto em sua cerveja para notar.
— Professor Snape! — ela chama, acenando com a mão e soluçando um pouco por causa da bebida.
O rosto de Harry se ergue instantaneamente. Snape acaba de passar pela cabine deles. Harry olha para suas costas largas em um suéter azul de aparência suave enfiado em uma calça marrom. Ele parece bem elegante com o cinto acentuando sua cintura.
Quando Snape se vira, Harry pode dizer instantaneamente que o homem, de fato, os notou na mesa e estava tentando passar despercebido. Seu rosto está um pouco dolorido.
— Srta. Granger — ele cumprimenta com um aceno de cabeça.
Harry não consegue tirar os olhos de Snape. Ele se sente exposto, nu sob o olhar de Snape com Draco bem ao lado dele. Um pouco enjoado.
— Como vai, professor? Faz tanto tempo. — Hermione tem um sorriso entusiasmado no rosto, Ron parece irritado, e Harry não consegue suportar olhar para Draco. Ele não consegue unir esses dois mundos.
— Muito bem — ele acena para ela e depois para Rony, — Sr. Weasley.
— Sim, sim — Ron murmura, tirando a atenção dele o mais rápido possível.
— Bom te ver, Severus — Draco estende a mão passando por Harry e aperta a mão de seu padrinho. Dói no coração de Harry ouvir Draco chamar Snape por algo tão familiar.
Harry é quem se recusa a chamar Snape de qualquer coisa que não seja Senhor ou Professor em primeiro lugar, mas isso nasce de seu desejo por normalidade. Agora, ouvir Draco dizer isso faz Harry querer estar tão perto de Snape. Ele quer ouvir Snape dizer Harry naquele suave barítono novamente.
— E você, Draco. — O olhar no rosto de Snape é, novamente, de dor, mas não diferente de como ele costumava ser na escola.
Depois de todos os olás terem sido ditos, só resta Harry. Ele sabe que eles têm que dizer algo um ao outro, seria terrivelmente estranho se Snape simplesmente o ignorasse, mas ele não tem ideia do que dizer.
Harry encara Snape nos olhos, implorando por resgate. De novo.
— E vejo que o salvador do mundo bruxo anda bem ocupado ultimamente se embriagando no Caldeirão Furado.
Isso foi fraco, especialmente para Snape, mas pelo menos ele disse alguma coisa.
Droga, é a minha vez agora, Harry está bêbado o suficiente para gaguejar nas palavras.
— É bom ver você também, professor. — Ele finalmente força a saída.
Snape dá um último aceno à mesa e desaparece na multidão. Harry quer segui-lo.
Nenhum deles fica muito mais tempo, o ar ficou tenso.
Eles caminham para casa, Harry logo atrás de Draco, ficando um pouco para trás. Eles não pegam o caminho habitual para casa, então Harry não tem chance de olhar ansiosamente para Severus Snape. Somente com hora marcada. Ele está feliz por isso.
Draco está frio quando eles chegam em casa, e completamente bêbado. Ele tomou uma cerveja bem quando eles estavam prestes a sair.
A casa é escura e triste comparada ao Caldeirão.
Harry quer cortar a tensão entre eles, então, uma vez lá dentro, ele se vira para Draco e coloca uma mão em seu ombro. Harry tenta puxá-lo para um beijo, mas ele vira a cabeça para o lado, então os lábios de Harry fazem contato com sua bochecha.
— Está tudo bem, Dray? — pergunta Harry.
Draco estuda Harry com seus olhos azul-acinzentados. Então ele pressiona um beijo curto nos lábios de Harry.
As mãos de Draco vão para seus ombros e gentilmente o empurram para os joelhos. Ele se depara com uma protuberância grande e óbvia nas calças de Draco. Ele olha para Draco. Ele não quer fazer isso de uma forma sensual, mas olhar para cima através de seus cílios causa um efeito de qualquer maneira e Draco passa sua mão pelos cabelos pretos cacheados de Harry, puxando seu rosto para cima contra a ereção.
Harry não sabe o que dizer. Ele não está no clima, mas isso é melhor do que as alternativas. A ideia de dizer não neste momento parece muito trabalho, então, em vez disso, Harry começa a desfazer o cinto de Draco.
Eu concordo, não estou dizendo não. Então por que me sinto tão mal?
Ele tenta fazer rápido, e Draco parece ter a mesma ideia. É duro. O pau de Draco é longo o suficiente para que Harry consiga encaixar tudo, seu nariz pressionando contra os pelos pubianos de Draco.
Draco fode a boca de Harry rapidamente, estalando os quadris brutalmente. Em algum momento, Draco força os óculos de Harry a sair.
Depois de pouco tempo, Draco puxa a cabeça de Harry para baixo e goza bem no fundo de sua garganta, fazendo com que Harry se engasgue e arqueje. A baba escorre humilhantemente pelas laterais de sua boca, junto com o esperma que ele não conseguiu forçar para baixo.
Draco se enfia de volta na calça, deixando Harry de joelhos, limpando a boca. Finalmente, ele se levanta e Draco o olha com ar sombrio.
— Vá para a cama, Harry — Draco ordena.
— Ah, são só nove... — Ele diz sem parar.
— Vá para a cama antes de fazer algo de que irá se arrepender.
A névoa tempestuosa nos olhos de Draco o assusta, então ele vai para o quarto e fica deitado em silêncio até finalmente adormecer.
.
Na segunda-feira, Harry sai de casa com uma blusa leve de gola alta. Está 21 graus em Londres naquele dia, nenhuma nuvem no céu.
Ele está cobrindo uma marca de mão em volta do pescoço.
Ele sai de casa imediatamente depois que Draco vai trabalhar, mas não tem um local em mente. Draco não lhe deu mais dinheiro desde a semana passada, e ele gastou tudo isso em ingredientes para poções, então ele não pode ir às compras ou comprar comida.
Ele se pergunta se Draco lhe dará mais dinheiro como prometeu, mas não prende a respiração. Eles tiveram um fim de semana difícil. Draco estava bravo com algo que não queria compartilhar. Harry presume que tenha a ver com Hermione, mas não tem certeza.
Foram dois golpes seguidos e, claro, a noite passada.
Eles estavam fazendo sexo. Começou devagar, lânguido, Harry estava no clima, então ele foi com calma. Em algum momento, as coisas mudaram e ficaram mais difíceis. Harry tentou acompanhar e agradar Draco, mas o homem tinha um olhar resignado e frio enquanto o fodia.
Harry toca sua garganta gentilmente e se lembra das mãos de Draco apertando-a. Mais forte, mais forte, até que ele perdeu a consciência. Ele tem certeza de que foi apenas por um momento. Ele voltou a si quando Draco ejaculou em seu rosto.
Então Harry precisa sair de casa.
Seu primeiro pensamento é ir até Snape, mas ele não tem energia mental para ajudar a preparar poções hoje.
Ele passa uma hora em uma pequena cafeteria, capaz de juntar moedas exatamente suficientes para uma única xícara de café e um cartão-postal. Então ele fica realmente destituído.
Luna,
Obrigado por manter contato, embora eu não possa dizer que sempre sei o que suas cartas significam.
Talvez almoçar algum dia?
Atormentar.
Parece abafado, formal demais para os dois, mas ele não sabe o que mais dizer. Ele pensa na fala final por um tempo. Ele não tem ideia se Draco vai deixá-lo almoçar com Luna. A ideia de almoçar com Draco e Luna soa como uma forma de tortura que deveria ser proibida pelo governo federal.
Um relógio próximo bate dez horas enquanto Harry está perdido em pensamentos. Ele não consegue acreditar que está se preocupando com algumas linhas por uma hora. Ele considera rasgar o cartão e começar de novo, mas não tem dinheiro para outro. Em vez disso, ele se levanta e o coloca no bolso de trás. Ele decidirá o que fazer com ele mais tarde.
Saindo do pequeno café, Harry imediatamente nota a figura familiar de um homem alto, de cabelos pretos, caminhando rapidamente em meio à multidão.
— Professor! — Harry corre para alcançá-lo.
Snape está segurando um pequeno pacote e indo na direção do boticário. Ele não o vê desde o Caldeirão Furado, já que não pode sair nos fins de semana.
Snape parece aquecido e tem as mangas de sua camisa social enroladas acima do cotovelo. Sua pele é pálida, mas não tão medonha. Ele está especialmente bonito hoje, e tem o cabelo penteado atrás das orelhas.
— Sr. Potter — Snape para imediatamente.
— Harry. — Ele corrige, lembrando-se da última vez que se viram.
— Posso estender o mesmo a você?
— Severus? — Harry tenta o nome na língua. Parece muito errado, quase sujo, chamar seu professor pelo primeiro nome.
Severus parece encantado.
— Escute, me desculpe pelo Caldeirão Furado, isso foi estranho — diz Harry.
Severus assente.
— Não tenho certeza se estranho é a palavra correta. — Seus olhos são escuros, mas não como os de Draco, nunca como os de Draco. — Vou almoçar, quer se juntar a mim? — Pelo que Harry pode perceber, Snape está caminhando na direção de sua loja, então ele fica surpreso ao saber que o homem planejava fazer uma parada.
— Desculpe, senhor, não tenho dinheiro, senão iria.
Severus não questiona por que Harry, possivelmente um dos bruxos mais ricos de Londres, não tem dinheiro, ele apenas diz:
— É por minha conta.
Harry sorri e acena.
Ele está certo, Severus certamente não iria pegar comida antes de esbarrar nele, porque eles viraram na direção completamente oposta.
Há uma pequena sensação no estômago de Harry com isso. Borboletas, sua mente fornece, inutilmente. Eu certamente não tenho borboletas por almoçar com Snape–Severus.
O ar é leve ao redor deles, eles navegam pelos cardápios em silêncio amigável e ambos fazem seus pedidos quando solicitados.
— Está um pouco quente para um suéter — comenta Severus.
As bochechas de Harry ficam vermelhas e ele suga os lábios, sem responder.
— Desculpe. — Severus se corrige.
— Está tudo bem. Só não é bem uma conversa de almoço.
— Estragou mais alguma poção recentemente?
Harry quer bater a cabeça na mesa até que ele desapareça, ou chorar. Ele quer poder conversar com seu amigo sem ter que se esquivar constantemente das perguntas e contornar as respostas. Sim, estou queimando, mas a mão de Draco ainda está em volta do meu pescoço, e não, eu tenho que estar à disposição de Draco nos fins de semana, não tenho tempo para fermentar.
— Não, não tive a chance — ele finalmente diz. O olhar no rosto de Severus diz a Harry que ele sabe que há mais na história. — O que você estava comprando?
— A maldita ordem de St. Mungos — Severus resmunga. Harry não tem certeza se já ouviu Severus xingar antes.
— Tão ruim assim, hein?
— Abri minha loja para fazer algo quando não estou ensinando. Achei que seria até divertido fazer pedidos especiais, mas não tenho tempo para fazer nenhuma poção que eu queira quando Hogwarts e St. Mungos estão constantemente me requisitando.
— Bem, é só com hora marcada, por que não recusar?
Severus parece divertido e concorda.
— Você está certo. Eu sou surpreendentemente ruim em dizer não.
Harry sente um arrepio percorrer seu corpo, e o buraco em seu estômago retorna. Ele respira fundo algumas vezes, tentando conter uma onda de pavor e ansiedade que o atingiu com a velocidade e intensidade do ônibus noturno. Surpreendentemente ruim em dizer não, sua mente ecoa.
Eles se olham, olhares tensos. Severus está misturado com aversão, por si mesmo, por continuar a pisar acidentalmente nos pés de Harry. Harry está com tristeza porque tudo o que ele quer fazer é abrir sua alma para Severus.
— Sua mãe — Severus de repente continua, — Costumava me pegar no pé por isso. Eu sempre ajudava as pessoas quando elas precisavam de tutoria de poções. No nosso terceiro ano, perdi uma viagem a Hogsmeade porque concordei em dar tutoria a, oh, sete ou oito pessoas diferentes naquele dia. Ela me repreendeu por isso.
Harry fica um pouco chocado que Severus tão casualmente menciona sua mãe. As pessoas geralmente dançam em torno de toda a coisa de pais mortos. Até mesmo Remus e Sirius só mencionariam James em circunstâncias muito específicas, com medo de que eles deixassem Harry irritado. Agora, ambos estão mortos e Harry nunca saberá dessas histórias sobre seu pai.
— Ouvi dizer que ela tinha um temperamento difícil.
Severus bufa.
— Só perto dos amigos. Todos os outros achavam que ela era perfeitamente educada.
— Conte-me uma história sobre ela — ele pede, feliz por ter a distração. Isso é algo sobre o qual eles podem falar facilmente.
Severus quebra a cabeça por alguns minutos.
— Ela não gostava dos Corvinais — ele começa.
— Acho que eu sabia disso. Sirius mencionou uma vez. — Foi de passagem, algo sobre sua mãe chamar os corvinais de 'presunçosos' ou algo do tipo, Harry mal se lembra.
— Sim, mas James e Black não sabiam por que ela não gostava deles. Ou talvez James soubesse, mas não até muito mais tarde. Ela disse a todos que não gostava de como os Corvinais agiam de forma mais inteligente do que todos os outros, e na época eles tinham ganhado a taça das casas dois ou três anos seguidos, então não era um sentimento incomum. Mas de qualquer forma, éramos calouros, quando ela e eu ainda éramos muito próximos, e havia um Corvinal muito bonito — Severus diz novamente, parecendo estar tentando se lembrar de todos os detalhes. Harry reconhece bem seu rosto pensativo agora, com as sobrancelhas unidas.
— Deuses, nem consigo lembrar o nome dele. Novilius? Algo pretensioso. Toda garota era obcecada por ele, até eu tive um sonho passageiro de que eu seria a pessoa que ele finalmente escolheria. — Harry, que está tomando um gole de água, gagueja de repente e engasga. Ele tosse forte por um minuto, atraindo o olhar curioso de todo o restaurante e o envergonhando completamente. Severus levanta uma sobrancelha.
— Desculpe - desculpe. Eu só, você é... Você sabe.
— Gay?
Harry acha que pode engasgar de novo. Severus ri.
— Sim, Harry.
— Mas eu pensei... você, minha mãe... Você sabe.
— Muito bem falado hoje, Potter. Mas, não, sua mãe e eu nunca 'você sabe.' — Severus esclarece. — Lilly era minha amiga, nada mais.
— Oh, desculpe. Acho que nunca ouvi a história completa de você. — Harry está honestamente surpreso. Ele nem tem certeza de quem começou o boato em primeiro lugar, mas ele tinha em mente desde meados de Hogwarts que Snape tinha uma queda por sua mãe, o que só serviu para deixá-lo mais irritado em sua classe.
— De qualquer forma, eventualmente Lilly ganhou confiança para ir até Novilius e perguntou se ele gostaria de sair com ela. Ele concordou. Ainda me lembro do rosto dela me falando sobre ele, era como se ela tivesse acabado de ganhar na loteria. — Harry está intrigado por saber como a história termina, mas é muito humanizador ouvir sobre sua mãe como uma caloura. James e Lilly são falados de forma tão maior que a vida que é difícil se relacionar com eles. — Ele disse a ela que ela poderia ir com ele no próximo fim de semana de Hogsmeade, mas quando ela apareceu para encontrá-lo do lado de fora das portas da frente, havia outra garota lá. Ele esqueceu que marcou um encontro com duas garotas para o mesmo dia.
— O quê?! — Harry está puto em nome de sua mãe com um babaca de décadas. — Ela o azarou, certo?
Severus ri sua longa risada que Harry tanto gosta.
— Harry, nós tínhamos doze anos. Ela apenas chorou e guardou rancor de toda a Corvinal pelos próximos dez anos.
— Eu gosto dessa história — diz Harry, quase sonhadoramente, seus olhos desfocados na camisa de Severus. Os dois botões de cima estão abertos e Harry pode ver o começo de pelos pretos e crespos no peito de Severus. — Não que minha mãe tenha sido enganada, mas que ela já teve doze anos.
— Você já teve doze anos — Severus responde e Harry pode sentir que o homem está olhando para seus olhos. Ele não os encontra.
Harry engole em seco. Sim, eu tive. E não pensei que acabaria aqui.
Eles já terminaram de comer e Harry empilha seus talheres no prato.
— Obrigado pelo almoço.
— Sempre que quiser, Harry, estou falando sério.
— Passarei lá na quinta-feira, bem antes do seu pedido vencer, e exigirei que você me leve para almoçar. — Ele brinca.
— E eu farei isso — diz Severus, sobriamente.
Eles saem logo depois disso, Harry não sabe o que dizer em resposta, então eles saem em silêncio.
Bem do lado de fora das portas do restaurante, eles são recebidos por dois bruxos do Profeta Diário. O primeiro tira uma foto antes mesmo que eles consigam dizer o que está acontecendo, e o segundo imediatamente começa a fazer perguntas.
— Harry Potter, bruxo garoto de ouro, e Ex-Comensal da Morte, Severus Snape, o que os traz aqui hoje? — Ele é um homem alto e barulhento com barba infeliz e vestes feias. Harry não o reconhece, o que é bom, houve um tempo em que ele conhecia basicamente todos os repórteres de Londres.
Harry agarra o antebraço de Severus e o puxa para longe do repórter.
— Almoço — ele joga por cima do ombro e eles rapidamente vão embora. O repórter logo se perde em um mar de bruxos e eles entram em um, felizmente desolado, Knockturn Alley.
— E eu pensei que eles finalmente tinham terminado com nós dois — Severus diz, suas palavras cortantes enquanto ele olha de volta na direção do repórter. Ele odeia ser chamado de Ex-Comensal da Morte, ele sabe o que eles querem dizer com isso e gostaria que eles o chamassem de Notavelmente Maligno ou algo mais direto.
Quando ele olha de volta para Harry, o rosto de Severus cai. Harry está olhando para o chão e respirando profundamente e controladamente.
— Harry? — Severus pergunta gentilmente.
Quando Harry olha para cima, seus olhos estão vermelhos, mas nenhuma lágrima caiu ainda. Ele ainda está segurando o antebraço de Severus, firmemente. Sua mão está úmida e fria.
— Eles vão colocar essas fotos no Profeta. — Ele diz e então respira fundo, quase ofegante.
— É só você indo almoçar com um velho professor, Harry, tenho certeza que não vai dar em nada. — Severus tenta racionalizar.
Severus coloca uma mão no ombro de Harry e o puxa para um pequeno vão entre dois prédios, quase um beco. Não havia ninguém andando por ali, mas Severus ainda os quer longe de olhares curiosos.
— Você não entende. Ele vai saber sobre você agora. — Os olhos de Harry estão suplicantes. Ele finalmente solta o braço de Severus, mas Severus continua segurando seu ombro.
— Ele sabe que você está fazendo poções, certo? — Severus pergunta e Harry apenas concorda. — Diga a ele que você precisava de ajuda e combinou de falar comigo. Só isso.
Harry suga o ar e as lágrimas finalmente transbordam. Ele se inclina pesadamente contra o peito de Severus. Ele não coloca os braços em volta de Severus, apenas se pressiona contra ele. Severus lentamente levanta os braços para envolver firmemente os ombros de Harry, protetor.
— Harry, por favor, não volte lá — ele diz, baixinho, quase num sussurro, mas eles estão tão perto que Harry consegue ouvi-lo claramente.
Ele chora silenciosamente na camisa de Severus por alguns minutos, apenas aproveitando a sensação de ser abraçado.
— Não sei como ir embora — ele finalmente diz.
— Você só precisa fazer isso. Faça uma mala e venha ficar comigo. Ou eu te levo para a casa de Ron e Hermione, ou Molly Weasley, ou Hogwarts. Qualquer lugar. — Severus esfrega um pequeno círculo nas costas de Harry.
Finalmente, Harry se afasta e as mãos de Severus caem frouxas ao seu lado.
Ele respira fundo mais algumas vezes antes de murmurar:
— Preciso ir — e passar por Severus para sair do beco.
Ele vai embora porque tem medo de que se ficar mais tempo diga sim.