O ambiente no escritório estava tenso, todos focados na tela enquanto a chamada de vídeo conectava. Assim que as imagens de Valentine e Jonathan apareceram na tela, Clary se preparou mentalmente para o que viria a seguir. Valentine, com sua postura sempre rígida, e Jonathan, com um brilho calculista nos olhos, a observaram com atenção. No instante em que perceberam a marca vermelha em seu rosto, suas expressões mudaram.
Jonathan foi o primeiro a reagir, seu tom frio e cortante como uma lâmina.
— Clarissa, o que é isso no seu rosto? — ele perguntou, sua voz carregada de fúria mal contida.
Clary manteve a compostura, apesar de sentir a ira de seu irmão através da tela.
— Eu disse a vocês. Stephen veio até o nosso apartamento esta manhã, — ela respondeu, o tom de sua voz tão frio quanto o de Jonathan. — Ele tentou me intimidar, e quando eu não recuei, ele me deu um tapa.
A tensão na sala aumentou. Jonathan fechou os punhos, o rosto se contorcendo em uma mistura de ódio e incredulidade. Valentine permaneceu em silêncio por alguns segundos, sua expressão tornando-se ainda mais sombria.
— Isso é inaceitável, — Valentine disse, sua voz baixa, mas cheia de ameaça. — Stephen ousou atacar minha filha, minha herdeira. Isso vai custar caro a ele.
Jace, que estava ao lado de Clary, interveio com firmeza, sua voz carregada de determinação.
— A guerra contra Stephen já foi declarada, — ele informou, o olhar duro e implacável. — Ele passou dos limites e agora não há mais volta.
Jonathan assentiu, o rosto ainda vermelho de raiva, mas seus olhos pareciam brilhar com uma fúria controlada. Ele respirou fundo, como se estivesse tentando se concentrar na estratégia à frente.
— Ele não vai sair impune, — Jonathan sibilou. — Vou garantir que ele sinta cada golpe, cada perda, até que não reste nada dele além de poeira.
Clary, apesar da dor e da marca ainda latente em seu rosto, manteve a postura. Ela sabia que esse era o momento de falar sobre o que havia ocorrido com Isabelle e Simon.
— Há mais uma coisa, — ela começou, a voz um pouco mais tensa, mas ainda firme. — Quando Isabelle e Simon foram buscar Celine na mansão de Stephen, houve uma troca de tiros. Stephen estava esperando por eles. Isabelle foi atingida no braço e Simon levou um tiro na costela... Ele está em cirurgia neste momento.
Valentine fechou os olhos por um segundo, como se estivesse tentando controlar sua fúria, enquanto Jonathan se levantava abruptamente, passando a mão pelos cabelos em frustração.
— Isso não vai ficar assim, — Valentine disse, sua voz carregada de uma frieza mortal. — Stephen não é mais uma ameaça que pode ser ignorada. Ele se tornou um problema que precisa ser eliminado, com ou sem guerra.
— Eliminado e humilhado, — Jonathan acrescentou, o olhar duro enquanto encarava a tela. — Ele ousou ferir os nossos, ele vai pagar com o próprio sangue.
Jace cruzou os braços, assentindo lentamente. Ele sabia que a situação estava se tornando cada vez mais perigosa, mas também sabia que Stephen havia cometido o erro de subestimar Clary e a força que ela trazia consigo.
— Já temos homens em posição, — Jace informou. — Nova York será nosso. A questão agora é quão rápido podemos derrubar Stephen antes que ele tente alguma coisa desesperada.
Valentine olhou para a filha, seu olhar carregado de uma mistura de orgulho e preocupação.
— Clarissa, — ele começou, sua voz um pouco mais suave, mas ainda rígida. — Eu te criei para ser forte, mas isso não significa que você precisa carregar tudo sozinha. Estamos com você, e Stephen aprenderá que ninguém toca em minha filha e sai impune.
Clary assentiu, sentindo o apoio de sua família através da tela, e seu coração se endureceu ainda mais contra Stephen. Ela sabia que, embora aquela guerra estivesse apenas começando, eles estavam unidos — e juntos, Stephen não tinha chance.
— Eu sei, — ela respondeu, sua voz fria e decidida. — E ele vai aprender isso do pior jeito possível.
Stephen Herondale saiu do escritório, o som de seus sapatos ecoando nos corredores silenciosos enquanto ele caminhava em direção ao encontro marcado com A Ordem. A raiva ainda fervilhava dentro dele após o confronto com Clary e a ousadia de Jace em declarar guerra. Ele sempre acreditou ser o verdadeiro senhor de Nova York, o líder incontestável da cidade. Agora, tudo estava se desmoronando por causa de uma "princesinha de Chicago" e seu marido que, para Stephen, era apenas um jovem insolente.
Enquanto se dirigia para o local onde a reunião com A Ordem aconteceria, ele refletia sobre os últimos acontecimentos. O tapa em Clary foi um ato impulsivo, mas necessário para mostrar a ela que ele ainda estava no controle. No entanto, ele sabia que agora estava em um território perigoso. Jace não recuaria facilmente, e a intervenção de Valentine e Jonathan era algo que ele temia e odiava.
Chegando à entrada discreta do prédio, Stephen foi recebido por dois homens de rostos fechados. Eles o guiaram por um corredor mal iluminado até uma sala onde os líderes da Ordem aguardavam. O ar ali era pesado, carregado de desconfiança e conspiração.
Ao entrar, todos os olhares se voltaram para ele. Os rostos sombrios e calculistas dos membros da Ordem não ofereciam conforto; pelo contrário, eles emanavam uma sensação de perigo iminente. No centro da sala, sentado em uma cadeira imponente, estava o líder da Ordem, conhecido apenas como O Vigia. Ele era um homem de poucas palavras, mas seus olhos penetrantes revelavam uma mente afiada e impiedosa.
— Herondale, — O Vigia começou, sua voz grave cortando o silêncio. — Fomos informados de sua... recente perda de controle.
Stephen se aproximou lentamente, mantendo a compostura. Ele sabia que não poderia demonstrar fraqueza ali.
— Tive um... incidente com Jace e Clary, — ele admitiu, escolhendo cuidadosamente as palavras. — Mas não é algo que não possa ser resolvido. A situação está sob controle.
O Vigia arqueou uma sobrancelha, evidentemente cético.
— Sob controle? — ele repetiu, a voz carregada de sarcasmo. — De onde estamos, parece que você perdeu o controle da cidade. Declarações de guerra, sua própria esposa sendo resgatada de sua mansão... Não me parece o retrato de um líder no controle.
Stephen cerrou os dentes, a fúria crescendo, mas ele se forçou a manter a calma. Ele sabia que qualquer demonstração de fraqueza diante da Ordem seria o fim para ele.
— Jace e Clary são um problema temporário, — ele disse, tentando soar confiante. — Eu já tomei medidas para lidar com eles. A guerra foi declarada, sim, mas Nova York ainda é minha. Com a ajuda da Ordem, eu posso garantir que Jace cairá antes que ele tenha a chance de consolidar qualquer poder.
Os olhos do Vigia brilharam com uma mistura de curiosidade e frieza.
— E por que deveríamos nos arriscar por você, Herondale? — ele perguntou, sem rodeios. — Você já está com a faca no pescoço. A guerra está em suas portas, e parece que a cidade está começando a escorregar de suas mãos.
Stephen sentiu a pressão aumentar, mas ele sabia que precisava dar a eles algo mais.
— Se vocês me apoiarem, garantirei que a Ordem terá controle total sobre os negócios subterrâneos de Nova York, — ele ofereceu. — Jace e Clary são poderosos, mas são jovens e inexperientes. Eles dependem de Valentine e Jonathan, e esse é o erro deles. Assim que os eliminarmos, Nova York será nossa. A máfia de Chicago será desestabilizada, e a influência da Ordem se expandirá.
Um dos membros da Ordem, sentado ao lado do Vigia, interveio.
— E o que nos garante que você não falhará novamente? — ele perguntou, o tom duvidoso.
Stephen olhou diretamente para ele, com uma expressão implacável.
— Porque dessa vez eu vou jogar sujo. Jace confia demais em Clary, e Clary... — ele sorriu com malícia. — Ela é minha chave. Eu a conheço bem o suficiente para saber onde atacar. E quando ela desmoronar, ele também cairá.
O Vigia ficou em silêncio por alguns momentos, os olhos avaliando cada palavra e movimento de Stephen. Finalmente, ele inclinou a cabeça levemente.
— Você terá o apoio da Ordem, por enquanto, — ele disse, sua voz carregada de autoridade. — Mas saiba que nossa paciência tem limites. Se falhar novamente, não será apenas Jace que virá por você. Será a Ordem.
Stephen assentiu, sabendo que esse era o melhor acordo que poderia obter.
— Eu não falharei, — ele prometeu, com uma determinação sombria.
Ao sair da sala, Stephen sentiu o peso da guerra iminente sobre seus ombros. Ele sabia que estava cercado por inimigos de todos os lados, mas também sabia que não poderia perder. O destino de Nova York estava em jogo, e ele faria o que fosse necessário para garantir sua vitória — mesmo que isso significasse destruir todos que se colocassem em seu caminho.
O sol começava a se pôr no horizonte de Nova York quando o jatinho particular de Valentine pousou suavemente na pista privada. As luzes da cidade brilhavam ao longe, mas a atmosfera era tensa, carregada de expectativas e incertezas. Jonathan e Valentine estavam prestes a desembarcar, ambos cientes de que aquele momento marcaria o início de uma nova fase na guerra que se aproximava.
Ao saírem do jatinho, o vento frio os envolveu, mas nada parecia abalar a postura firme de Valentine, com seu semblante impassível, nem de Jonathan, que exibia sua habitual expressão controlada, mas com uma faísca de raiva nos olhos. Eles caminharam em direção à área onde Jace e Clary já os aguardavam.
Clary, vestindo um sobretudo elegante, manteve a compostura, embora o olhar afiado de Jonathan recaísse sobre ela, ainda preocupado com o incidente envolvendo Stephen. A marca do tapa no rosto de Clary já havia sumido, mas a fúria que ela carregava por dentro ainda queimava. Jace, ao seu lado, estava em seu habitual terno preto, um ar de autoridade emanando dele, ainda mais intenso depois de ter declarado guerra contra seu próprio pai.
Assim que Valentine e Jonathan se aproximaram, houve um momento de silêncio. Os quatro se encararam, medindo um ao outro, como se tentassem ler as emoções ocultas. O vento soprava ao redor deles, mas o verdadeiro conflito estava no ar entre as famílias.
Valentine foi o primeiro a falar, sua voz baixa, mas carregada de poder:
— Jace, Clarissa, — ele cumprimentou, lançando um olhar demorado para a filha. — Espero que esteja tudo sob controle por aqui. A situação parece estar se intensificando mais rápido do que o esperado.
Jace assentiu, seus olhos fixos nos de Valentine, sem desviar por um segundo.
— Stephen cruzou a linha ao tocar em Clary. Ele sabe o que está em jogo agora, e nós estamos prontos para o que vier. — Havia uma frieza em sua voz, uma promessa implícita de vingança.
Jonathan, que havia permanecido em silêncio até então, deu um passo à frente, o olhar fixo em Clary. Havia uma mistura de preocupação e raiva em seus olhos, embora sua voz permanecesse controlada.
— Você está bem, Clarissa? — Ele perguntou, referindo-se ao incidente, mas havia algo mais em sua pergunta, um questionamento silencioso sobre as decisões que ela e Jace estavam tomando.
Clary segurou o olhar do irmão, sem desviar.
— Estou bem, Jonathan. Stephen tentou nos intimidar, mas não conseguiu. Ele está desesperado, e isso só mostra que estamos no caminho certo. Essa guerra já começou, e vamos vencê-la. — Sua voz era firme, mas havia uma tensão subjacente. Ela sabia o quanto Jonathan se importava com ela, mas também sabia que ele questionava o quanto ela estava envolvida emocionalmente com Jace.
Valentine, observando os dois, interveio antes que a conversa se aprofundasse demais.
— Stephen subestimou nossa união. Ele acha que pode jogar com nossas fraquezas, mas nós temos algo que ele nunca terá: lealdade. Lealdade que não se baseia em medo ou poder, mas em laços de sangue e compromisso. Essa é a diferença entre nós e ele.
Jonathan, assentindo levemente, voltou a encarar Jace, uma tensão palpável entre os dois.
— Eu ainda não estou convencido de que isso não vai nos custar mais do que estamos preparados para pagar, — ele disse, a voz baixa, mas carregada de desconfiança. — Se for necessário, Clarissa, você sabe que faremos o que for preciso, até mesmo contra Stephen... ou qualquer outro.
A insinuação não passou despercebida por Jace, mas ele se manteve firme.
— Eu sei onde estou pisando, Jonathan. Minha lealdade é com Clary, com esta família, e com Nova York. Stephen está com os dias contados. Ele traiu a confiança de todos nós e não vai escapar ileso disso. Estou disposto a fazer o que for preciso para derrubá-lo, mesmo que isso signifique me afastar do nome Herondale.
Valentine o estudou por um momento, percebendo a determinação em cada palavra de Jace. Ele então olhou para Clary, como se procurasse em seu olhar a confirmação de que os dois estavam unidos nessa jornada.
— Então estamos todos de acordo, — Valentine concluiu. — Nova York será nossa, mas devemos ser rápidos e estratégicos. Stephen vai retaliar, e precisamos estar prontos para contra-atacar antes que ele possa fortalecer sua posição com a Ordem.
Clary assentiu, sentindo a mão de Jace segurar a sua de maneira firme, um lembrete silencioso de que, não importa o que acontecesse, eles estavam nisso juntos.
— Estamos prontos, — ela disse, com confiança. — Stephen não sabe o que está por vir.