|𝐑𝐄𝐄𝐍𝐂𝐎𝐍𝐓𝐑𝐎
Eles decidiram, por fim, que usariam o depósito do lado de fora da casa para confundir Will. A ideia era deixá-lo irreconhecível, criando uma espécie de espaço neutro onde o monstro das sombras não conseguiria localizar o garoto. Enquanto os outros se separaram em grupos para os afazeres, Zoe e Mike guiaram Hopper até o depósito, e os três começaram a remover tudo o que havia lá — caixas, mesas, equipamentos velhos —, transformando o ambiente em algo completamente diferente.
Quando terminaram de esvaziar o lugar, Zoe e Steve começaram a grampear grandes folhas de papel preto nas paredes, cobrindo a madeira visível, que Will facilmente reconheceria. O trabalho era feito em silêncio, os dois concentrados no que faziam, mas havia uma sensação no ar de que muito mais se passava em suas mentes do que a simples tarefa manual.
Nancy chegou logo depois, oferecendo ajuda. Ela se aproximou e, sem dizer muito, começou a trabalhar ao lado de Steve. Zoe sentiu a tensão aumentar no ar. Embora todos estivessem unidos por uma causa maior, era impossível ignorar o que havia acontecido entre os dois. Zoe não queria ser um obstáculo, e mesmo que ninguém estivesse discutindo abertamente, era claro que algo ainda precisava ser resolvido entre Steve e Nancy. Zoe respirou fundo, percebendo que talvez fosse o momento certo para deixá-los a sós, para que pudessem esclarecer as coisas.
— Eu vou ao banheiro. — ela disse, interrompendo o silêncio. Havia algo de compreensivo em seu olhar quando se dirigiu a Steve, como se lhe encorajasse para enfrentar aquele confronto emocional que ele, por muito tempo, vinha adiando. Steve devolveu um sorriso discreto, um gesto de gratidão silenciosa.
Zoe saiu do depósito, mas ao atravessar a porta sentiu um leve incômodo no peito, uma sensação difícil de ignorar. Talvez fosse o fato de saber que Steve e Nancy estavam lá dentro, sozinhos. Mas por que isso a incomodaria?
Enquanto isso, dentro do depósito, um silêncio tomava conta do lugar. Eles continuaram a fixar o papel preto, ambos sabendo que, em algum momento, precisariam encarar a verdade do que havia ficado mal resolvido entre eles.
O silêncio entre Nancy e Steve continuava pesado, mas inevitável. Enquanto fixavam mais folhas de papel preto na parede do depósito, a tensão parecia finalmente pronta para explodir em palavras. Nancy, sempre a mais direta, decidiu quebrar o gelo.
— O que você fez... ajudar as crianças e tudo mais. Aquilo foi bem legal. — Ela disse, sem tirar os olhos do trabalho, mas com um leve sorriso no rosto.
Steve soltou uma risada curta e um pouco irônica. — É, os merdinhas só fazem besteira, né? — Ele sacudiu a cabeça, ainda tentando manter um tom leve.
Nancy sorriu de volta, compreendendo.
— Acredite, eu sei. — Ela parou de grampear por um segundo e olhou para ele. Era uma daquelas trocas de olhares que traziam muito mais do que palavras. — Eu fiquei pensando, sabe, sobre o que aconteceu entre a gente... tudo isso.
Steve suspirou, encostando-se na parede. Sabia que essa conversa estava por vir, e talvez fosse o melhor momento. Ele a observou por um instante antes de responder, o peso do que eles estavam prestes a falar pairando no ar. — Eu também. Acho que a gente já sabia faz tempo, né?
Nancy assentiu, mas manteve o olhar no chão por um segundo, como se estivesse reunindo as palavras certas. — Quando a gente começou... parecia que fazia sentido. Você era... a pessoa certa, naquela época. Mas acho que, no fundo, a gente sabia que... — Ela hesitou por um momento, tentando encontrar o equilíbrio entre sinceridade e delicadeza. — Não era amor, não de verdade.
Steve assentiu, mas dessa vez havia uma serenidade em seu olhar, diferente da raiva que sentira durante a festa de Halloween, quando ela falou isso na frente de todos, e de uma forma bem cruel.
Ele não estava magoado, na verdade, sentia um alívio. — É, eu percebi isso também. Só... demorei mais do que você. A gente tava tentando segurar algo que já tinha acabado há muito tempo. Não sei, talvez só o conforto de estar com alguém.
Nancy mordeu o lábio, pensativa, mas ao mesmo tempo parecia em paz com as palavras dele. — É, acho que era isso. Era confortável. — Ela suspirou.
— Eu sei. Vai ser melhor assim. — Ele deu um meio sorriso, aquele tipo de sorriso sincero.
Nancy sorriu, dessa vez de verdade.
Steve respirou fundo, sentindo um peso sair de seus ombros. Ele olhou para a porta por onde Zoe tinha saído a alguns instantes. — Então... amigos?
Nancy estendeu a mão para ele, sorrindo.
— Amigos.
Steve apertou sua mão, e ambos riram baixinho da formalidade da situação. Sabiam que aquilo não significava que realmente seriam amigos próximos, mas pelo menos era um fim pacífico para o que já estava desmoronando há tempos.
Eles voltaram ao trabalho, o clima mais leve, mas com uma compreensão mútua de que, finalmente, as coisas entre eles estavam no lugar certo.
Zoe estava andando de volta para a frente da casa, quando foi surpreendida por um puxão no braço.
— Vai me explicar o que tá rolando entre você e o babacao? — Hanna indagou assim que Zoe olhou para ela, com uma expressão de desafio.
Zoe revirou os olhos, achando a insinuação ridícula. — Somos amigos pela causa. — Ela disse, sem se dar ao trabalho de oferecer qualquer outra explicação.
Hanna cruzou os braços, esperando pacientemente que Zoe se abrisse mais. A expectativa de sua amiga estava clara; ela queria saber o que realmente estava acontecendo, com detalhes.
— Tá legal. Eu explico, mas precisa prometer que não vai ficar chateada. — Zoe disse, sua voz carregando um tom de receio, nunca tivera contado a verdade sobre o motivo da rixa entre os dois.
— Ta. Eu prometo. — Hanna respondeu, a sinceridade em seu olhar.
Zoe respirou fundo. — Quatro anos atrás, no acampamento de verão que você não foi, eu conheci o Steve. Nos aproximamos e viramos amigos. — Ela começou a explicar rapidamente, tentando resumir ao máximo. O semblante de Hanna já demonstrava espanto; ela nunca imaginaria que havia uma história anterior entre os dois. — Só que depois, quando eu entrei na escola pra estudar com vocês, ele fingiu que não me conhecia, me ignorou e me humilhou... E Depois, você já sabe.
Hanna ficou boquiaberta, absorvendo a revelação.
— Não tem nada rolando, tá legal? A gente só cansou de ficar brigando que nem duas crianças. — Zoe tentou tranquilizá-la, gesticulando para enfatizar a seriedade de suas palavras.
— Tá. — Hanna respondeu, mas não parecia totalmente convencida. Havia uma expressão de dúvida em seu rosto. — Mas e se isso mudar? Se ele fizer alguma besteira de novo? É de Steve Harrington que estamos falando.
Zoe balançou a cabeça, sua determinação se fortalecendo. — Eu não vou deixar isso acontecer.
Hanna olhou para ela. — Eu só não quero que você se magoe.
— Eu sei. — Zoe disse, um sorriso aparecendo em seu rosto. — Mas de verdade, estamos apenas tentando manter as coisas em ordem, pela causa. Não tem romance, apenas uma trégua.
Hanna relaxou um pouco, percebendo que talvez não houvesse motivo para preocupação. E a forma que Zoe falava parecia ser realmente verdade, até porque ela mesma acreditava fielmente no que estava dizendo.
Zoe sorriu. — Agora, vamos voltar para ajudar os outros. Precisamos nos concentrar no que realmente importa. — As duas começaram a caminhar juntas, encorajadas.
Naquele momento, todos trabalhavam juntos no depósito, colando papelões nas paredes e transformando o ambiente em algo irreconhecível. Trabalhavam com bastante pressa; a qualquer instante, Will poderia acordar.
Ao final, Jonathan acomodou o irmão em uma cadeira, completamente enrolada em papelão e fitas adesivas. Apenas Hopper, Joyce, Will e Jonathan permaneceram no depósito. Os outros se reuniram na cozinha da casa, um silêncio tenso pairando sobre eles. Após alguns minutos, Hopper, Joyce, Mike e Jonathan abriram a porta repentinamente. Hopper agarrou um papel e uma caneta, sentando-se à mesa com uma urgência que deixava todos em alerta.
— O que foi? — Dustin perguntou, ansioso.
— Eu acho que ele tá falando, mas não com palavras. — Hopper anotava rapidamente uma sequência de traços e pontos no papel.
— O que que é isso? — Steve questionou, as sobrancelhas franzidas em confusão.
— Código Morse. — Dustin e Zoe responderam em uníssono, suas vozes ecoando na sala.
— Nerds. — Hanna murmurou, mas com um sorriso involuntário no rosto.
Hopper, sem olhar para cima, continuou a escrever até que todos os presentes se aproximaram.
— Aqui. — Todos disseram em coro quando Hopper finalmente revelou o que havia escrito.
— Will ainda esta lá. Tá falando com a gente. — Hopper afirmou, a voz grave revelando um misto de alívio e medo.
Os quatro então retornaram ao depósito. Hopper segurava um walkie-talkie, enquanto os outros se comunicavam através de outro na casa. Ele apertava o botão, transmitindo traços e pontos que os que estavam dentro da casa podiam ouvir.
Quando terminaram, leram em voz alta o que estava escrito no papel: "Selar portal." A frase ecoou na sala, um presságio da batalha que se aproximava.
— Merda, merda, merda! — Dustin exclamou quando o telefone tocou, correndo alarmado até o aparelho e o desligando.
Mas o telefone tocou em seguida novamente. Zoe, também alarmada, agarrou o telefone e arrancou-o da parede, um gesto automático que a levou de volta a um ano atrás. Ela fez uma nota mental de que, após tudo isso, daria um novo telefone a Joyce.
— Será que ele ouviu isso? — Max perguntou, o medo evidente em sua voz.
— É só um telefone. Pode ser de qualquer lugar, né? — Steve disse, tentando convencê-los de que a situação não era tão grave quanto parecia.
Em poucos minutos, o grupo que estava no depósito voltou à casa, todos em estado de alerta. Will estava desacordado novamente, e a urgência no olhar de Hopper deixava claro que os Democães estavam se aproximando.
— Sabem usar isso? — Hopper perguntou, segurando um fuzil em cada mão e olhando diretamente para Jonathan e Steve.
Antes que os dois pudessem responder, Nancy e Zoe se colocaram à frente.
— Nós sabemos. — Zoe declarou com confiança, e Hopper passou os fuzis para elas.
Na linha de frente, Hopper se posicionava com sua metralhadora, enquanto Zoe e Nancy seguravam os fuzis, e Steve brandia seu taco de pregos. O restante do grupo se alinhava atrás, prontos para o que viesse, todos voltados para a porta e a janela da sala.
— Cadê eles? — Max indagou, pressionando-se atrás de Lucas, que segurava firme seu estilingue.
Um rugido ecoou do lado de fora, fazendo todos se encolherem. A tensão aumentou, e o medo era sentido por todos.
— O que tão fazendo? — Nancy perguntou, sua voz trêmula, revelando a ansiedade que a consumia.
A adrenalina fervia enquanto os sons grotescos de batalha lá fora aumentavam. Os rugidos te tornaram distorcidos, como se algo estivesse em confronto. Aos poucos, o som ficou mais agudo, até que um silêncio assustador tomou conta do ambiente. O grupo na sala prendeu a respiração. E então, com um estrondo, uma criatura foi arremessada através da janela, estilhaçando o vidro e fazendo todos se afastarem em reflexo. Zoe fixou os olhos na criatura imóvel no chão, a mente girando com perguntas: estaria mesmo morta? E o que, ou quem, a teria atacado?
— Puta merda. — Dustin murmurou, a voz tremendo de incredulidade.
Hopper se aproximou com cautela, sua metralhadora erguida.
— Ele tá morto? — Hanna perguntou, hesitante, sua voz quebrando o silêncio pesado.
Com a ponta da bota, Hopper deu um leve empurrão no corpo da criatura. Nenhuma resposta. Antes que pudessem relaxar, o ranger da porta fez todos se virarem de imediato. A tranca se destravou sozinha, e a corrente deslizou.
O que aconteceu deixou todos boquiabertos. Onze entrou na sala, uma figura inesperada e quase irreconhecível. Seu cabelo, agora penteado para trás, contrastava com a sombra preta ao redor de seus olhos. Vestida de preto, ela parecia mais madura, mais alta, mais forte. Zoe mal pôde acreditar no que via, o choque a paralisando por um momento antes que um alívio imenso tomasse conta de seu peito. Ela realmente estava viva.
Mike foi o primeiro a se mover. Ele correu para abraçá-la, as lágrimas escorrendo enquanto os dois se envolviam naquele abraço que parecia ter demorado uma eternidade.
— Eu nunca desisti de você. Eu te liguei toda noite por... — A voz de Mike falhou na emoção do momento.
— 353 dias. — Onze completou suavemente, afastando-se um pouco para olhar para ele. — Eu ouvi, Mike.
— Por que não disse que estava lá? Que estava bem?
— Porque eu não deixava. — Hopper se intrometeu.
Zoe, que até então observava, entendeu de imediato o que estava por vir. Mike se virou para Hopper, a frustração crescendo rapidamente.
— O que é isso? Onde você estava? — Hopper ignorou o tom pesado de Mike por um instante, largando a arma de lado e se aproximando de Onze, envolvendo-a em um abraço apertado.
— Onde você esteve? — Ela retrucou, devolvendo a pergunta com um olhar de reprovação.
A troca entre eles era tocante, mas Mike não conseguia segurar a raiva.
— Você escondeu ela. — Mike disse com os punhos cerrados. — Você escondeu ela esse tempo todo! — Ele empurrou Hopper, o rosto vermelho de raiva.
— Ei! — Hopper pegou Mike pela gola da camisa, puxando-o para longe da confusão. — Vamos conversar. Sozinhos. — Ele o arrastou para o quarto de Will.
Onze, agora sozinha no meio da sala, virou-se para Zoe. Os olhos das duas se encontraram, e Zoe, avançou sem hesitar para abraçá-la. Havia um conforto familiar no abraço, apesar de tanto tempo.
Onze estava mais alta, poucos centímetros de diferença do tamanho de Zoe agora.
— Senti saudades. — Zoe disse com sinceridade.
— Eu também. — Onze respondeu, um leve sorriso nos lábios.
— Gostei do novo estilo. — Zoe brincou, observando o visual renovado de Onze. Antes que ela pudesse responder, Dustin e Lucas correram para abraçá-la juntos.
— Sentimos sua falta. — Lucas declarou.
— Também senti. — Onze respondeu, sua voz tranquila.
— Falávamos de você quase todo dia. — Dustin disse com um sorriso grande, se afastando do abraço.
Onze o observou por alguns segundos. — Dentes. — Ela disse de repente, tocando a boca de Dustin, que ainda estava aberta em surpresa.
— O quê? — Dustin perguntou, confuso.
— Você tem dentes. — Ela comentou, como se fosse uma descoberta significativa.
Dustin riu, jogando um olhar para Lucas e Zoe, que também riam. — Gostou das pérolas? — Ele brincou, fazendo um som que parecia mais com um leão resfriado. Lucas rolou os olhos, claramente envergonhado pela tentativa desajeitada de humor do amigo.
Nesse momento, Max, que observava à distância, se aproximou. — Onze? — Ela chamou hesitante, estendendo a mão com um sorriso tímido. — Oi, eu sou a Max. Ouvi falar muito de você.
Mas Onze, ainda sem dirigir muita atenção à garota, apenas desviou para a cozinha, indo direto até Joyce. Um silêncio constrangedor ficou no ar, enquanto Zoe e Steve observavam a interação. Os dois trocaram olhares, franzindo a testa de leve. Era difícil ignorar o climão que havia se formado, mas não era hora para isso.
— Acho que ela não gostou muito da Max. — Steve comentou, num sussurro, com um sorriso de canto.
Zoe deu um leve tapinha no ombro dele, rindo. — Dá um tempo. É muita coisa para processar, só isso.
Após a breve conversa entre Joyce e Onze, a atmosfera na sala voltou a ficar pesada. Onze pegou o papel onde estava escrito "Selar portal", seu rosto impenetrável enquanto processava o que isso significava. A pergunta de Joyce ecoava no ar.
— Você acha que se voltar, consegue fechar? — Joyce perguntou, com a voz carregada de esperança.
Onze não respondeu de imediato, os olhos fixos no papel. A dúvida pairando no ar.
— Não é como era antes. — Hopper interveio, encostando-se no balcão da cozinha, o semblante endurecido. — Cresceu muito. Isso se conseguirmos entrar. O lugar está infestado de cachorros.
— Demo-cães. — Dustin corrigiu, sua expressão séria, como se o nome fosse de extrema importância.
Hopper ergueu uma sobrancelha, visivelmente irritado. — Como é que é?
— Eu disse Demo-cães. Tipo "Demogorgon" e "cães". Se juntar os dois fica bem bacana.
— Isso é importante agora? — Hopper perguntou com um sarcasmo afiado, já perdendo a paciência.
— Não é. — Dustin murmurou, ajeitando o boné e olhando para o chão. — Desculpa.
O silêncio caiu novamente, até que Onze, com voz firme, quebrou o impasse.
— Eu consigo. — Ela afirmou, sem hesitação.
Hopper balançou a cabeça, tentando fazê-la ver a gravidade da situação. — Você não está entendendo. — Ele disse, a mão apoiada na bancada, a tensão percorrendo seus músculos.
— Eu tô ouvindo. — Onze insistiu. — Eu consigo.
— Mesmo que você consiga — Zoe interveio, o tom mais racional do que desesperado — ainda tem outro problema. Se o cérebro morre, o corpo morre.
— Pensei que essa fosse a ideia. — Max comentou, sua expressão impassível, sem entender totalmente o que Zoe estava insinuando.
Zoe respirou fundo antes de continuar, tentando ser clara. — Sim, mas se estivermos certos, quando Onze fechar o portal e destruir o exército do Devorador de Mentes...
— O Will faz parte desse exército. — Steve completou, finalmente entendendo a gravidade da situação.
— Fechar o portal pode matar ele também. — Mike concluiu, sua voz trêmula, enquanto a realização de quão perigoso tudo aquilo era caía sobre ele como um peso insuportável.
Zoe observou a expressão de Joyce ao seu lado. A mulher estava claramente dividida, lutando contra o pavor crescente. Joyce deu um passo em direção ao quarto de Will. Todos a seguiram em silêncio, o clima pesado.
— "Ele gosta do frio." — Joyce disse, a voz quase em um sussurro, enquanto fechava a janela que deixava o vento frio entrar. — Isso é o que ele dizia pra mim. Estamos apenas dando a ele o que ele quer.
Nancy quebrou o silêncio com uma ideia simples, porém terrível. — Se for um vírus, e o Will for o hospedeiro...
— Temos que tornar o hospedeiro inabitável. — Jonathan completou, agachando-se ao lado da cama onde Will estava deitado, inconsciente.
— Temos que queimá-lo para fora. — Joyce afirmou, a determinação crescendo em seu olhar.
— Precisa ser em um lugar que ele não conheça. — Steve disse.
— Um lugar longe. — Dustin acrescentou, balançando a cabeça enquanto pensava em alternativas.
— Podem usar minha cabana. — Hopper se adiantou, a voz firme enquanto se aproximava da cama de Will. Ele já começava a mover o garoto para fora do quarto com a ajuda de Jonathan, enquanto Joyce, Nancy e Hanna se preparavam para seguir.
Zoe deu um passo à frente, pronta para ajudar, mas Hanna a deteve, virando-se para ela com um pedido sincero no olhar.
— Preciso que fique aqui. — Ela pediu, sua voz baixa, mas carregada de urgência. — Não posso ir sabendo que meu irmãozinho está sendo cuidado por Steve Harrington.
Zoe respirou fundo, segurando a vontade de protestar. Em vez disso, assentiu e abraçou Hanna com força, sentindo uma mistura de medo e impotência.
— Toma cuidado. — Zoe murmurou, lembrando-se do que havia acontecido no ano anterior. Ela não suportaria perder outra pessoa que amava.
— Eu vou. — Hanna respondeu, sua voz firme, mas o nervosismo estampado em seu rosto.
Com isso, os dois carros partiram. Hopper e Onze seguiram para o portal, enquanto Nancy, Jonathan, Joyce e Hanna rumaram para a cabana.
Zoe ficou no alpendre da casa, ao lado de Steve, Dustin, Lucas, Max e Mike, observando os carros desaparecerem na distância. O vento frio chicoteava seus rostos, mas não era isso que fazia Zoe estremecer. Era a incerteza do que estava por vir.
Ela olhou para Mike, cujos olhos estavam marejados enquanto via Onze se afastar. Ele estava apavorado, com medo de perdê-la de novo, e não conseguia esconder as lágrimas que agora escorriam pelo rosto.
Zoe, movida pela compaixão, passou o braço ao redor dos ombros de Mike, puxando-o para um abraço lateral. Mike, que estava rígido, deixou-se ceder sob o conforto. Ele agradeceu mentalmente por isso, aliviado por não precisar fingir que estava bem. Algumas lágrimas escorreram enquanto Zoe acariciava suas costas de forma reconfortante, seu toque oferecendo um pouco de consolo em meio àquele caos.
— Vai ficar tudo bem. — Zoe sussurrou, tentando passar confiança, embora uma parte dela também estivesse tomada pela dúvida. Mike não respondeu, mas assentiu levemente, abraçando-a de volta por um breve momento.