Sombras de Outubro

By itssmf_lilithh

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Na pacata cidade de Esperança, o Halloween é um dia temido. Um grupo de jovens decide desafiar o toque de rec... More

Cidade de Sombras
Problemas na Estrada
Floresta
A Chegada no Galpão
Primeiros Sinais
A Casa de Terror
Gato e Rato
É Problema Meu
Cruzando a Linha
A Primeira Morte
Jogo
Bons Sonhos
Sentir

Noite de Halloween

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By itssmf_lilithh

Agora, finalmente de volta à estrada após tanta confusão e problemas, o alívio era quase palpável no ar, embora a tensão ainda permanecesse. Parecia que o universo conspirava contra nossa ida àquela festa de Halloween. Por mais que a sensação de desconforto persistisse, eu decidi me manter quieta, engolindo qualquer comentário de preocupação. Esse papel já pertencia à Nina, e todos sabiam disso.

A caminhonete seguia seu curso, os faróis cortando a escuridão da noite, revelando um caminho deserto que se estendia à nossa frente. Maressa estava com a cabeça repousada no ombro de Gael, os dois parecendo estranhamente despreocupados, enquanto ele brincava com os cachos dela, enrolando-os entre os dedos distraidamente.

O silêncio no carro era opressor, o tipo de silêncio que grita mais alto que qualquer som. Cada um de nós parecia imerso em seus próprios pensamentos, refletindo sobre o que tinha acontecido até agora e o que ainda estava por vir. Parecia que algo estava sempre à espreita, pronto para nos surpreender, como a aparição misteriosa daquele homem mais cedo.

Luca, completamente bêbado, começou a batucar no encosto do banco da frente, sua tentativa desajeitada de quebrar o clima pesado. Ele começou a cantar, sua voz arrastada, mas surpreendentemente afinada. Mesmo com o álcool, ele conseguia manter um tom angelical.

— I thought that I'd been hurt before, but no one's ever left me quite this sore... — cantou Luca, sua voz preenchendo o silêncio com uma melodia familiar.

Thomas, sentado ao lado de Diogo, no banco do passageiro, deu um sorriso travesso e se juntou à cantoria com entusiasmo, sua voz grave contrastando com a suavidade da de Luca.

— Your words cut deeper than a knife, now I need someone to breathe me back to life... — Thomas completou a frase, e antes que percebêssemos, a tensão havia começado a derreter.

Nataly soltou um grito animado, seus olhos brilhando com uma excitação infantil.

— Shawn Mendes! — exclamou, batendo palmas, empolgada.

Foi o estopim para todos rirem, e, de repente, o carro estava envolto em um coro inesperado. Começamos a cantar juntos, todos rindo, como se a música tivesse o poder de nos conectar e dissipar qualquer mal-estar.

— You watch me bleed until I can't breathe, shaking, falling onto my knees...  — cantávamos juntos, como se nossa voz unida pudesse, de alguma forma, afugentar qualquer sombra de dúvida ou medo.

Até Nina, sempre a mais séria do grupo, estava murmurando a letra baixinho, sorrindo de canto, enquanto observava a estrada através da janela. Eu notei o brilho suave em seus olhos, algo raro de se ver.

Gael e Maressa, sentados juntos, pareciam em um mundo à parte. Cantavam olhando um para o outro, sorrisos bobos nos rostos, completamente alheios ao que acontecia ao redor. Havia algo reconfortante na simplicidade do momento, como se as preocupações de antes não fossem mais tão importantes.

Luca, Thomas e Nataly estavam vivendo o momento ao máximo, gritando a letra como os maiores fãs de Shawn Mendes que eu já havia visto. Eles colocavam tanto sentimento na música que era impossível não sorrir junto. Diogo, sempre discreto, cantava com um leve sorriso, apreciando o clima descontraído.

— Needle and the thread, gotta get you outta my head, needle and the thread, gonna wind up dead... — cantávamos juntos, as palavras ecoando pelo carro, e por um momento, eu me senti parte de algo maior. Talvez fosse a magia do Halloween, ou talvez fosse simplesmente o efeito da amizade.

A estrada à nossa frente parecia interminável. As árvores, à medida que passávamos, formavam sombras estranhas que dançavam no ritmo da luz dos faróis, criando uma atmosfera surreal. A música parecia envolver a todos, uma bolha temporária de felicidade que nos isolava do mundo exterior.

No entanto, mesmo em meio à leveza, um sentimento incômodo permaneceu preso no fundo da minha mente. A presença daquele homem mais cedo, com sua batina e cicatriz, não saía dos meus pensamentos. Algo sobre ele me incomodava, mas eu não conseguia definir o quê. As perguntas rondavam minha cabeça como um enxame de abelhas. Quem era ele? Por que estava naquele lugar remoto? E, mais importante, por que nos ofereceu um convite para uma casa de terror?

— Gente... — Nina começou, sua voz hesitante. — Vocês não acham que foi meio estranho aquele homem, né? Sei lá, do nada, no meio da estrada.

A música morreu lentamente à medida que as palavras de Nina ressoavam pelo carro. Todos pareciam subitamente conscientes do que ela estava dizendo. Era como se aquela leve distração não tivesse conseguido mascarar completamente o desconforto.

— Ah, Nina, relaxa... o cara só estava sendo legal. — Luca disse, rindo, claramente ainda sob o efeito da bebida.

— Eu concordo com Nina. — Maressa se endireitou no banco, sua expressão séria. — Aquele homem... algo nele me deu calafrios.

Gael permaneceu em silêncio, mas seu olhar também parecia pensativo. Não era comum que ele ficasse quieto por tanto tempo, o que só aumentava a tensão no ar.

— Vocês estão fazendo tempestade em copo d'água. — Diogo disse, tentando manter a calma. — Ele nos ajudou, não fez nada de errado. Temos mais é que agradecer.

Mesmo assim, o desconforto no carro era palpável. A música parou, e com ela, a breve fuga da realidade que havíamos experimentado.

De repente, uma luz forte surgiu à nossa frente, tão intensa que Diogo precisou frear bruscamente a caminhonete. O veículo derrapou levemente, levantando poeira e folhas enquanto os pneus lutavam para ganhar tração na estrada de terra. Todos fomos jogados para frente, um grito de susto escapando de algumas bocas.

— Que merda é essa?! — Diogo gritou, batendo o pé no freio com força.

A luz não vinha de um carro, mas de algo maior, parado no meio da estrada. Quando nossos olhos se ajustaram, percebemos que era um caminhão enorme, estacionado sem qualquer motivo aparente. Ele bloqueava a estrada completamente, como uma parede de aço intransponível.

— Como é que a gente não viu isso antes? — Thomas perguntou, sua voz um pouco trêmula.

Todos nos entreolhamos, confusos e alarmados. A estrada estava deserta há quilômetros, e não havíamos passado por nenhum veículo.

Diogo, ainda segurando firme o volante, respirava pesado. Ele olhou ao redor, buscando uma solução, mas a estrada era estreita demais para dar ré ou tentar desviar.

— Não faz sentido... — Maressa sussurrou, claramente desconfortável.

O clima no carro se transformou rapidamente de uma alegria descontraída para uma tensão sufocante. O caminhão à nossa frente parecia estar lá por algum motivo, e a sensação de que algo não estava certo só aumentava.

— A gente tem que dar meia-volta. — Gael sugeriu, sua voz firme.

Diogo assentiu silenciosamente, engatando a ré com cuidado. O veículo começou a se mover lentamente para trás, mas, antes que pudesse avançar muito, uma luz repentina surgiu no espelho retrovisor.

— Agora o que foi? — Luca murmurou, claramente incomodado.

Outro carro vinha em nossa direção, se aproximando rapidamente pela estrada estreita. Estávamos cercados.

Um cara alto, de músculos definidos e cabeça raspada, desceu do caminhão com uma tranquilidade inquietante. Seus braços estavam cobertos por tatuagens tribais que se destacavam sob a luz fraca da estrada. Do carro à frente, uma garota pequena e quase etérea saiu do banco do passageiro. Ela parecia mais uma boneca do que uma pessoa real, com seus cabelos loiros cacheados, cílios longos e curvados que quase tocavam suas bochechas. O vestido rosa cheio de babados que usava a fazia parecer deslocada em meio àquele cenário.

Logo depois, mais um homem saiu do carro, do banco do motorista. Diferente do primeiro, ele estava completamente envolto em moletom preto, com capuz cobrindo seu rosto. Sua presença era uma sombra sinistra ao lado da figura da garota.

A garota de aparência frágil caminhou até a janela do motorista, onde Diogo estava sentado, e bateu suavemente com os nós dos dedos. Seu sorriso doce era quase desconcertante naquele contexto, fazendo Diogo hesitar. Ele olhou rapidamente para Thomas, buscando alguma aprovação.

— É só uma garota bonitinha — Thomas comentou, dando de ombros, como se aquilo resolvesse a questão.

— É, uma garota bonitinha que está com dois brutamontes — acrescentei, sem esconder a preocupação. Apontei para o grandalhão do caminhão e o encapuzado que permanecia encostado no carro, imóvel como uma sombra vigilante.

Diogo soltou um suspiro frustrado, apertando o volante como se isso pudesse lhe dar algum controle sobre a situação. Ele então olhou para Gael, buscando algum tipo de direção, como se perguntasse silenciosamente o que deveria fazer.

— Só... baixa o vidro e vê o que ela quer. Talvez seja algum tipo de mal-entendido — sugeriu Gael, sem muita convicção, mas tentando manter a calma.

Diogo assentiu lentamente, pressionando o botão para baixar o vidro apenas alguns centímetros, o suficiente para ouvir a garota sem se expor completamente.

— Oi! — ela disse com uma voz fina e doce, como se estivesse oferecendo flores ao invés de estar no meio de uma estrada deserta à noite, com dois homens intimidadores ao seu lado. — Vocês estão perdidos?

— Não, estamos só... voltando para a estrada principal — Diogo respondeu, tentando manter a voz firme.

A garota inclinou a cabeça de lado, como se estivesse avaliando a resposta de Diogo. Atrás dela, o grandalhão do caminhão cruzou os braços, e o encapuzado permaneceu imóvel, mas sua presença era impossível de ignorar.

— Ah, que pena — disse ela com um suspiro teatral. — É que a gente achou que vocês iam pra festa. Sabe, a festa no galpão? — ela sorriu de um jeito que deveria ser encantador, mas a situação toda fez o ar parecer mais pesado.

Meu coração deu um salto. Como ela sabia da festa? Tudo aquilo parecia esquisito demais. Eu podia sentir a tensão crescer dentro do carro, as respirações ficando mais rápidas, os olhares nervosos se cruzando.

— Não estamos indo a festa nenhuma — Diogo respondeu, agora com uma ponta de nervosismo em sua voz.

A garota piscou lentamente, como se estivesse ponderando sobre algo, e então olhou por cima do ombro para o homem encapuzado. Ele não se moveu, mas a mudança no ar foi palpável. A atmosfera, que já era tensa, pareceu congelar.

— Bem, que pena mesmo — disse ela, sua voz ainda doce, mas agora com um tom quase... decepcionado. — Porque seria uma noite divertida. Mas, se não querem participar... — Ela deu de ombros, recuando alguns passos. — Espero que tenham uma boa viagem.

Ela acenou, voltando para o carro como se nada de estranho tivesse acontecido. O brutamontes, ao vê-la se afastar, seguiu atrás dela sem dizer uma palavra. O encapuzado foi o último a se mover, ainda sinistro e em silêncio.

No instante em que eles entraram de volta nos veículos, o motor do caminhão rugiu, e ele começou a manobrar lentamente para liberar a estrada. O som dos pneus esmagando o cascalho parecia ecoar pelo vazio ao redor. Mas algo não parecia certo. Aquela sensação persistente de que aquilo tinha sido muito mais do que um simples mal-entendido não me deixava.

— O que foi isso? — Nataly murmurou, rompendo o silêncio no carro. Sua voz estava fraca, como se tivesse medo da resposta.

— Não faço ideia — Diogo respondeu, mas seus olhos estavam fixos no caminhão enquanto ele se afastava. — Mas seja o que for, acho que demos sorte.

— Sorte? — perguntei, incrédula. — Aquela garota sabia da festa, Diogo. Como ela sabia?

— Podem ter ouvido a gente na estrada — sugeriu Thomas, mas sua voz também estava carregada de incerteza.

Nina, que até então estava em silêncio, cruzou os braços, olhando para trás, como se ainda pudesse ver os faróis do caminhão desaparecendo ao longe.

— Eu não gosto disso — ela disse, sem tirar os olhos da estrada deserta agora à nossa frente. — Isso tá me dando uma sensação ruim. Devíamos ter dado meia-volta quando tivemos a chance.

— Agora já estamos aqui — Gael disse, tentando soar confiante, mas até ele parecia preocupado. — Vamos só manter o foco e chegar à festa. Deve ser só gente estranha querendo brincar com a nossa cara.

Mas algo no fundo do meu estômago me dizia que não era só isso. A garota, os homens, o jeito como sabiam da festa... Era como se estivéssemos sendo conduzidos, como peões em um jogo que mal entendíamos.

— Vamos embora daqui — Diogo disse por fim, arrancando o carro com um pouco mais de força do que o necessário. O som dos pneus girando na terra ressoou pelo ar frio da noite.

Enquanto seguíamos adiante, o silêncio voltou a reinar no carro, mas dessa vez, não havia nada de confortável nele. Cada um de nós estava perdido em seus próprios pensamentos, tentando processar o que tinha acabado de acontecer. Algo estava errado. E, quanto mais nos aproximávamos da festa, mais claro ficava que essa noite de Halloween não seria como as outras.

O caminho parecia mais longo agora. O ar parecia mais denso, e a estrada, mais deserta. O desconforto que eu havia sentido desde o início da viagem só crescia. Eu olhei pela janela, tentando encontrar conforto nas sombras das árvores, mas tudo parecia distorcido, como se a própria noite estivesse conspirando contra nós.

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