Guto pov
Eu não sei bem como cheguei aqui. Parece que foi tudo de uma vez: faculdade, Levi, Mila. Minha cabeça está um caos, meu corpo... pior ainda. Estava tudo indo mais ou menos como o esperado.
Entrei na faculdade de Administração cheio de planos, com aquela vontade de fazer as coisas darem certo, sabe? Mas, de repente, minha vida virou de cabeça pra baixo.
A chegada do Levi foi a melhor coisa que já me aconteceu, mas também a mais complicada. Um bebê de quase 5 meses já exige de você tudo que tem e mais um pouco. Não dá tempo de descansar, de parar e respirar.
Às vezes, me sinto engolido pela rotina. Acordar, cuidar do Levi, ir pra aula, voltar e tentar dar atenção para Mila... que também, por mais que a gente tenha nossas diferenças, está exausta.
Ela veio pra me ajudar, eu sei. Mas a verdade é que, com a Mila aqui, tudo ficou mais intenso... O cansaço dela reflete no meu, e eu tento ser o melhor pai possível, mas às vezes sinto que estou falhando com os dois.
E, no meio de tudo isso, comecei a sentir que meu corpo está pedindo arrego. De início, era só aquele cansaço acumulado que você acha que é normal — afinal, um bebê e a faculdade consomem cada pedaço do meu dia.
Mas, ultimamente, parece que tá piorando. Eu me arrasto até a faculdade. Voltar pra casa parece uma maratona. Já tive febre algumas vezes, mas achei que fosse uma gripe qualquer. Sei lá, o corpo grita, mas a gente só aprende a ignorar.
Tô ficando preocupado. Só que, ao mesmo tempo, não dá pra parar e pensar nisso, entende? Não tem espaço. Entre o Levi, as provas, as noites sem dormir, o trabalho que a faculdade exige... Eu me pergunto quando foi que comecei a perder o controle.
Sinto que minha saúde está ficando em segundo plano e que meu corpo tá me mandando sinais, mas parece que não tem espaço na minha vida pra lidar com isso agora.
Eu não contei pra Mila sobre esses roxos, nem sobre a febre. Não quero deixá-la mais preocupada do que já está.
A gente anda em um equilíbrio tão frágil, sabe? Entre cuidar do Levi, tentar manter a casa em ordem, e ainda resolver nossos próprios problemas... Não é fácil pra ninguém.
E eu sei que se eu falar que estou me sentindo mal, ela vai surtar. Vai pensar que é algo grave, vai perder o foco, e eu não quero isso. Não quero ver ela sofrendo mais.
A verdade é que eu amo a Mila. Talvez mais do que eu tenha coragem de admitir pra mim mesmo,a cada dia que passa eu percebo o quanto ela significa pra mim.
Esses últimos dias têm sido piores. Eu sinto meu corpo falhando de formas que antes eu não sentia.
Outro dia eu fui levantar o Levi do berço e meu braço pareceu ceder. Foi um instante, mas o suficiente pra eu entender que algo está muito errado. Só que, no fundo, eu tô com medo.
Medo do que pode acontecer se eu for ao médico. Medo de ouvir que talvez eu não possa estar aqui pra eles do jeito que eu quero. Que talvez, sei lá, eu não tenha tanto tempo quanto pensei.
Então eu escondo. Respiro fundo e finjo que tá tudo bem. Quando Mila me pergunta como eu tô, eu sorrio, digo que só tô cansado. Nada além disso. Eu seguro a barra porque é isso que ela precisa que eu faça. E é isso que eu preciso acreditar que consigo fazer.
Mas, à noite, quando tudo fica quieto e o Levi finalmente dorme, eu fico me perguntando até quando vou conseguir continuar assim.
Até quando vou conseguir esconder isso dela. Porque, se tem uma coisa que eu sei, é que quando você ama alguém de verdade, você faria qualquer coisa pra protegê-la. Mesmo que, às vezes, isso signifique mentir.
Mesmo que isso signifique esconder o fato de que, talvez, eu esteja desmoronando por dentro.