Blue Thomas
= Sem Fôlego =
Tadeu atreveu-se a enganar-me!
E ele ainda acha que é mais esperto que eu e, talvez, até seja porque, sinceramente, eu fui um idiota por acreditar que ele viria, que eu poderia apanhá-lo com as minhas próprias mãos sem ajuda ou preparo.
Felizmente, graças Ao meu Senhor Deus, Enri avisou-me a tempo. E, claro, rapidamente no dia seguinte aquele, perguntei como ele sabia da emboscada que me foi preparada e recebi a notícia de que foi a Mandy quem lhe disse.
E, por causa disso, lembro-me perfeitamente o porquê de procurá-la desde o início: Amanda já teve um caso amoroso com o Tadeu há quase quatro anos atrás. Mas, pelo que ouvi, ela foi a única mulher que ele amou ao ponto de querer casar e parece que confiava nela o suficiente para contar-lhe um plano desses.
— Ele vai se vingar... Eu vi alguns homens a me seguirem ontem até casa de modo suspeito. O que eu vou fazer? — Mandy treme enquanto decide sentar-se no sofá da casa dos seus pais. — Tadeu nunca vai me perdoar por tê-lo traído.
— Ainda assim, senhorita Amanda, obrigado por evitar que o meu irmão fosse apanhado de surpresa. — Russel intervém enquanto segura no meu ombro. — Se eu soubesse que ele tinha ido para um encontro com esse desgraçado, teria o impedido eu mesmo.
Mandy não responde. Fica apenas num estado cada vez mais assustado, pronta para se esconder. Ela está pálida; seu cabelo preto está desgrenhado, mas nada supera seu ar arrependido.
— Eu vou te proteger, Mandy — asseguro. — Falei com alguns seguranças e eles vão te proteger. Serão discretos para não atrapalhar a tua rotina, mas estarão por perto.
— E minha família?
— Também.
— Até Rebecca? — Os seus olhos ficam esbugalhados.
— Vou arranjar um também para ela até tudo se acalmar.
Russel, por sua vez, insiste que falemos com a polícia. Mas, estou resoluto. Ainda desejo apanhar com as minhas próprias mãos o Tadeu. E para isso talvez deva falar com a minha mãe desta vez.
— De qualquer forma, ninguém além de vocês deve saber que estou na cidade.
— Blue, tu queres eu minta? — Russel pergunta com desânimo, cheio de descrença.
— Que fiques quieto. Que não comentes sobre mim se alguém perguntar. — Russel ainda tem ar de querer protestar, mas volto a dizer:
— É para a segurança de todos.
Desta vez, Russel se acalma e decide aceitar o pedido para minha a felicidade.
[...]
Andreia
Aperto a minha garrafa de água apenas para verificar se ainda estou viva. O meu telemóvel não pára de vibrar, mas estou demasiado apática para me importar.
O meu Abuelo...
Fungo.
Ele pode estar Abuelo a morrer...
— Deixa-me atender, Andy — Mia sugere, mas, sem esperar, pega no meu telemóvel; procura-o avidamente dentro da minha bolsa e o atende rapidamente. — Fala a Mia, senhor Maxime. ... Ela está aqui, mas está muito abalada para falar. ... Sim, estamos no Hospital geral da cidade. Seria óptimo se o senhor chegasse o mais rápido possível.
Meu pai virá. E essa ideia em vez de assombrar os meus pensamentos, traz-me alguma luz, calor e consolo. Assim, como ver Bianca e seu marido chegarem, Rebecca e alguns irmãos da Igreja como Thalita e sua mãe. Ainda assim, espero até o momento que o Blue chegue, mas isso não acontece.
Senhor, não me abandona...
— Vamos orar — Thalita sugere e como ninguém se opõe, começamos de facto a orar. Baixo, mas com fervor, por um milagre.
Senhor, um milagre. Por favor, não leva o meu avozinho já. Eu o amo tanto, vou cuidar dele melhor, nunca mais me chateio com ele.
— Vamos ser fortes, Andizinha — Rebecca segura nas minhas mãos e logo me abraça, com lágrimas.
— Vamos ser fortes — repito.
Ficamos pouco mais de vinte minutos horas à espera de alguma coisa; meus pais e irmão chegam e, apesar de querer muito abraçá-los, permaneço sentada, à espera de algo vindo deles primeiro.
A minha mãe não hesita em correr na minha direção e abraçar-me, enquanto, a parte masculina cumprimenta os outros com apertos de mãos até chegar a mim.
— Filha... — A minha se enternece ao segurar com ambas as mãos a minha face. — Faz tanto tempo desde que nos vimos.
Lágrimas que não sabia que tinha, começam a cair e eu abraço novamente a minha mãe. Saudades, pesar, alívio, raiva, tudo se mistura.
— O médico que nos atendeu disse-me que há muito tempo que o Abuelo está doente. — Rebecca dá espaço à minha mãe para se sentar; a mãe não deixa em nenhum momento as minhas mãos. — O estado dele é...
— Terminal. Eu sei, querida. — Ela tira uma mecha do meu cabelo e a coloca atrás da minha orelha. — Ultimamente, ele fez uma viagem ao nosso lar e contou-nos tudo.
— Ele já sabia que estava doente? — pergunto num tom muito fraco. Os meus pulmões parecem não ter ar.
— Já.
Então, quero gritar, chorar e chamar o meu avô de traidor por ele não me contar, mas, então, lembro-me que ele quis contar-me sobre algo que me deixaria muito triste, mas eu recusei. Duas vezes, muitas vezes, eu rejeitei a verdade para não chorar, mas tudo que fiz foi tentar evitar o *invitável.
Oh, se eu antes soubesse, talvez pudesse evitar!
— Só nos resta dizer " adeus", irmã — Rubén, o meu irmão, atreve-se a dizer. Sua aproximação e tomada de lugar que era da Mia, não me assusta, muito pelo contrário.
Lá no fundo eu sei que esta é uma bolha de reconciliação que pode estourar a qualquer momento, mas não me importo muito por agora. Neste momento, tudo que me importa é a ideia de que o meu avozinho está a lutar pela vida.
E assim, poucas horas se passam até que somos informados que podemos visitá-lo, falar um pouco com ele. E ainda que exista tal oportunidade, estou com vontade de fugir daqui, por isso, os meus passos até o quarto de hospital tornam-se cada vez mais pesados até que a minha mãe insiste que eu caminhe mais depressa ao segurar no meu braço.
O meu pai abre a porta do quarto com furor, pressa; os seus passos são uma mistura dos dois quando se aproxima do próprio pai. E, diferente do que esperava, o Abuelo não parece desesperado, extremamente triste ou furioso. Para a minha surpresa e decepção, ele parece extremamente calmo e em paz com a sua sentença.
Por causa disso, outras lágrimas caem.
— Vocês vieram ver-me? — o Abuelo tosse, com um sorriso fraco. — Andy, não chore. Não gosto de te ver chorar.
— Eu te amo, Abuelo. Por favor, não nos deixa... Não me deixa. Não quero ficar sozinha. — Aproximo-me da cama onde ele se encontra deitado.
Foi um infarto que o deixou deitado deste modo; um infarto causado pela sua asma que eu nunca soube que ele tinha. Mas, pelo pouco que percebi da explicação, há menos de um mês, o meu avô descobriu que todos os seus anos que ele teve no tabagismo resultaram nos dois pulmões danificados. Um já não existe e o que existe, cada vez mais morre.
— O Senhor sabe os seus caminhos, mi nieta. E não vais estar só. Muita gente aqui te ama e, maior do que isso, O Senhor te ama e cuidará de ti até o último dia, e depois daqui.
— Pai... — Vejo o meu próprio pai ajeitar a sua gravata; desesperado quando toca as mãos do Abuelo. — Não nos disseste que era assim tão grave. Poderíamos ter ido a algum lugar fora do País para te tratar.
— Vivi o suficiente para ver o meu único filho se tornar um homem com uma linda família. — O meu Abuelo tosse. — Estou bem, meu filho, mas ficaria melhor se todos vocês estivessem em Cristo.
— Pai, não é o momento de falar sobre isso.
— Sempre é um bom momento para falar dO Senhor. Sempre é um bom momento para buscá-lO.
Por respeito a ele, nem os meus pais ou irmão, reclamam do seu trabalho de evangelização. Não me atrevo também a dizer nada. Ele parece melhor do que eu, que não consigo acalmar as batidas do meu coração.
[...]
Deixamos o Abuelo descansar e decidimos comer juntos no refeitório do hospital.
Nem Bianca ou Rebecca estão aqui estão onde as deixei e Mia também não parece muito disposta a fazer parte da pequena reunião familiar que se formou, então, decide comer numa mesa à parte com os irmãos da Igreja, enquanto, a minha comida repara mais em mim do que eu nela.
— Come, Andy. Parece que perdeste muito peso. Não tens comido direito? — Minha mãe toma a minha mão. — Se voltares connosco...
— Mãe, não é o momento de falarmos disso. O nosso foco agora é o Abuelo.
Com rapidez a minha mãe deixa a minha mão e cobre a sua boca antes de falar:
— Tu e o teu pai são muito parecidos. Nunca dão um braço a torcer. Nunca deixam de lado o próprio orgulho.
— E o que fiz desta vez? — meu pai pergunta com irritação. Eles ainda são os mesmos, discutem sem parar. O grande Tales Mamixe e sua linda esposa, Fella, ainda não sabem se dar bem. — Fella, estamos num Hospital. Vamos ter um pouco mais de respeito.
— Estás a me chamar de desrespeitosa? — A minha mãe se levanta. Seu olhar está entristecido e furioso, lágrimas começam a escorrer enquanto eu me sinto culpada por começar uma nova discussão. — Tales!
E sai da mesa e, poucos segundos depois, o meu pai a segue; faço a menção de segui-los, mas Ruben segura o meu braço.
— Deixa-os, Andy. Eles estão com as emoções à flor da pele por causa do nosso avô.
— Não, Ruben, eles sempre foram assim.
Posso ver o momento que os ombros do meu irmão caem.
— E eu sempre só me preocupei comigo mesmo. Fui um grande egoísta. Conheço a ladainha, não precisas repetir sempre que me vês.
— Não é uma *ladanha! É a verdade.
— Ladainha. — Ruben sorri suavemente. — E não sabes o quanto senti falta desse português e ainda mais dos teus erros, maninha. Continuas tão teimosa quanto antes e não queres aprender bem o Português como eu aprendi.
Não respondo, apesar de querer muito.
Sim, a bolha de *reconsiliação foi rapidamente estoirada.
— E onde está o Antony? — Ele olha para os lados. — É mesmo verdade que ele foi esfaqueado?
— Eu também gostaria de saber. E sim, ele foi.
— E vocês já voltaram a ser amigos?
Fico logo irritada com a pergunta. Ele nunca quis saber realmente da minha amizade com o Blue. Sempre foi tudo sobre ele, sem excepção.
— E porquê isso seria da tua conta?
— Tu és minha irmã e eu importo-me contigo.
— E isso desde?
Espero que o meu irmão fique mais retraído depois da pergunta, mas ele apenas sorri novamente de modo gentil.
— Desde que percebi que o Mundo não gira a minha volta. — Rúben suspira. — Eu não fui um bom irmão para ti, Andreia. Sempre te vi como uma inimiga quanto a atenção dos nossos pais. Fiquei tão centrado em mim que esqueci que precisavas de mim. Desculpa, irmã.
Antes mesmo que possa reagir, lembranças de Rúben numa corrida imaginária comigo para alcançar o amor dos meus pais começa. Nela, Rúben não se importa de inventar coisas sobre mim ou até ignorar-me deliberadamente.
— Rúben, tu sempre foste o preferido. Os nossos pais sempre te amaram mais do que a mim, então, nunca entendi o porquê de tanto ódio. Já tinhas tudo, mas isso nunca te bastou.
— Eu não te odeio, Andreia...
— Gostaria de acreditar, mas não consigo. E mesmo que fosse verdade, não iria adiantar de nada agora. Eu já não preciso correr atrás vocês. Eu já tenho as minhas amigas, a Igreja, o Abuelo...
— Andy, o Abuelo está a morrer...
— Tu não sabes de nada! O que é que vieste fazer aqui, afinal? Quem te chamou? Lembro-me perfeitamente de chamares o nosso avô de bêbedo. Tu mesmo disseste que ele nunca iria parar de beber ou fumar, mas estás aqui com cara de inocente.
Vejo os olhos de Rúben brilharem como se estivesse a ponto de derramar as primeiras lágrimas do dia.
— Eu estou arrependido...
— Mentira! Tu só queres parecer uma boa pessoa. Tudo isso para ti é só um jogo, mas desta vez, eu não quero saber, eu não me importo, eu não acredito em ti!
Antes que possamos continuar a nossa discussão, Mia coloca as suas mãos sobre os meus ombros e pede-me por calma.
— Calma? Ele passou a vida a me desprezar. Só ele importa, já entendi, mas precisa se mostrar num dia tão triste?
— Sê racional, Andy, ele é teu irmão e estamos num hospital. Achas que o senhor Gonzales vai gostar de saber que em vez de orarmos estamos a fazer confusão?
Penso por um bocado.
— Vai embora, Rúben, eu não te quero aqui.
— Andy! — Mia repreende, mas a ignoro. Estou cansada de ser paciente com todo mundo enquanto sou espezinhada.
Não, ele não tem porquê estar aqui.
" Querido senhor B.,
Hoje foi um dia triste, então, eu pensei em ti. Pensei em como me dirias que ficaria tudo bem. E, antes não iria chorar, mas agora choro. Ainda guardas um lenço para mim?"
Carta 42
[...]
Olá?
Espero que estejas bem, caro leitor; lamento por trazer um capítulo tão triste, mas estou a seguir o roteiro da história, está bem?
Desde que desenhei Mitigar, logo nos princípios, este momento estava nos planos e decidi não retirar porque vai impulsionar em muitos aspectos a história, personagens e ideias.
Além do mais, tivemos um reencontro familiar e, talvez agora já possas perceber um pouco das origens da Andreia além da parte que ela sempre buscava algo no Mundo que pode encontrar nO Senhor. Seus pais e irmãos estão aqui. Tens algo a dizer sobre?
O Antony, Blue Thomas, Rei do Drama, continua resoluto em apanhar o Tadeu, será que vai acabar bem?
O que vai acontecer depois daqui?
Vamos ver no Sábado?
Até à próxima, que O Senhor te abençoe!