A Menina da Conspiração

By Laryssa_Prado

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🔹🔹Segundo Lugar em Ficção Científica nas Olimpíadas Literárias🔹🔹 O mundo foi dividido em pequenas com... More

Prólogo
Capítulo Um
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Aviso
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Nota
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte e Um
Capítulo Vinte e Dois
Capítulo Vinte e Três

Capítulo Dois

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By Laryssa_Prado

Charlie esfregava as mãos de nervosismo, enquanto os guardas vasculhavam a casa. Até que dessa vez não estavam fazendo tanta bagunça quanto das outras. Charlotte havia retirado o livro de dentro do casaco e posto dentro da mochila, os guardas não vasculhavam a mochila, uma vez que já havia sido vasculhada na escola.

Jack - seu irmão de sete anos, que tinha belas covinhas, cabelo loiro espetado, olhos claros e um sorriso brincalhão, parecia muito com Darius, o pai deles - estava sentado numa das poucas cadeiras na sala, enquanto balançava os pés e olhava para lá e para cá, totalmente entediado. Eileen, sua mãe, estava em pé ao lado de Jack enquanto observava quieta os guardas. Ela tinha uma bela face, mas as rugas já eram mais visíveis, tinha longos cabelos negros como os de Charlotte, e olhos escuros também, e covinhas, as quais Charlotte não havia puxado. O pai de Charlotte, Darius, se aproximou de sua esposa e pôs o braço em volta dela sorrindo - era um homem alto, cabelos loiros um tanto rebeldes quanto o do filho e olhos claros, era impressionante a semelhança entre ele e Jack. A única coisa que Charlotte tinha herdado do pai era o sorriso.

Charlotte podia ouvir o guardas, agora em seu quarto, tirando as coisas do lugar. Ela então encarou a mochila, e tremeu levemente ao ver que um guarda se aproximava da mesma, que estava em cima da pequena mesa da sala, lá também havia uma caixa de artesanatos feitos por Einleen para venda. O guarda caminhou até lá, parou em frente a mochila, Charlie engoliu em seco, então ele pegou a caixa e a abriu, e começou a mexer lá dentro. Charlie soltou a respiração que nem percebeu que estava prendendo.

- Está tudo limpo por aqui. - Um outro guarda disse. - Vamos.

- Certo. - Darius assentiu. - Os acompanho até a saída, senhores.

Os guardas seguiram para a saída, se encolhendo um pouco por conta do pouco espaço da casa, acompanhados por Darius que sorria, Charlie não entendia como seu pai conseguia sorrir mesmo com tudo aquilo.

Quando finalmente ouviu a porta ser fechada, Charlotte respirou aliviada. Se aproximou da mesa e pegou a mochila, tentou agir naturalmente.

- Charlie! - Jack pulou da cadeira e foi até a irmã. - Você poderia me dizer por que não posso correr na escola?

- Para não se machucar, ou fazer bagunça. - Ela respondeu.

- E por que não posso brincar com meus amigos da escola?

Charlie ponderou um pouco, não seria bom falar para uma criança de sete anos que era porque estavam numa prisão e não podiam se divertir.

- Porque você tem que estudar, não brincar na escola.

- Mas eu não posso sair de casa, então como vou brincar? Só tem a escola.

- Ah, pestinha, você quer é fugir dos estudos. - Ela sorriu, um sorriso ensaiado e bagunçou o cabelo do irmão. - Vou para o quarto. - Ela avisou.

- Querida, preciso de sua ajuda na cozinha mais tarde. - Eileen disse.

- Não esqueça de fechar a janela antes que os Kiriuns entrem. - Darius disse, antes que ela entrasse no quarto, e riu.

Ela fechou a porta e riu ao pensar na história que seu pai uma vez inventara para ela dormir, onde os Kiriuns, criaturas minúsculas, entram no quarto das crianças para roubar-lhes a criatividade e seus sorrisos. Definitivamente, ele não era um bom contador de histórias para dormir.

Ela se sentou na cama e abriu a mochila, tirou de lá o livro O Coelho Beeboll e o pôs sobre a cama, então deixou a mochila no chão sem se importar muito. Se ajeitou na cama dura, e olhou para a pequena janela com grade, mostrava o sol da tarde. Então voltou sua atenção ao livro, e o abriu, os diversos rabiscos mostravam o coelho preso, colocando algemas, e um muro gigante no lugar da simples grade que o prendia, e também algumas palavras a esmo que ela dificilmente conseguiu entender, eram coisas como liberdade e força.

Quando chegou a página sete tentou novamente entender o que estava escrito, agora com mais atenção conseguiu entender que era algo como J.L.C. e logo abaixo Lute pela liberdade. Charlotte se deitou e pôs o livro em cima de sua barriga e encarou o teto rabiscado de seu quarto pensando naquilo, o que poderiam significar aquelas iniciais, naquele momento não fazia muito sentido.

"Pense, Charlotte, pense. Não é muito difícil." Ela disse baixo a si mesma.

Estava tão absorta em seus pensamentos que não notou a porta sendo aberta, levou um pequeno susto quando viu sua mãe entrando no quarto, então escondeu o livro em baixo do fino travesseiro num reflexo. Sua respiração estava um tanto acelerada, tentou controla-la.

- O que estava fazendo? - sua mãe perguntou, desconfiada.

- Nada. - ela disse rápido. - Só deitada.

- Estava demorando muito, logo já é noite.

Charlotte encarou a janela e se surpreendeu com como o tempo passou sem que ela notasse.

- Nossa. Eu nem percebi... nem troquei de roupa ainda. Só um minuto, já estou indo.

- Certo, se demorar muito vou vir aqui te buscar.

- Claro, mamãe.

Depois que sua mãe saiu do quarto, se esgueirou sobre a cama e tirou o livro de debaixo do travesseiro. Pensou um minuto em qual seria o melhor lugar para guardá-lo, então se levantou da cama, levantou o colchão e o pôs lá. Então ajeitou o colchão e foi trocar de roupa.

Suas roupas ficavam guardadas numa pequena cômoda velha a qual todos os anos seu pai tinha que arrumar, algumas vezes conseguia madeira com algum conhecido para conserta-la, mas no final acabava quebrando com o tempo. Ela abriu uma gaveta e encarou suas poucas roupas, a maioria costuradas pela própria mãe. Sua mãe fazia trabalhos manuais para vender, mas as vendas eram baixas considerando que poucas famílias podiam comprar, e que todo o dinheiro no final era entregue aos guardas.

Charlie se despiu e colocou uma calça simples e uma blusa azul. Dobrou a roupa da escola - uma blusa e calça de cores cinza - e guardou na cômoda.

- Charlotte! - Ela ouviu sua mãe chama-la.

- Estou indo. - Ela respondeu.

Ao chegar a cozinha viu seu pai sentado no sofá da sala, descansando no pouco tempo que tinha, apenas nos dias de checagem tinham folga, quer dizer, depende do que você faz. No caso do pai de Charlotte que trabalha no setor de entregas dos alimentos - que chegam nos caminhões, e o trabalho ia muito além disso e o cansava muito -, não tinham descanso.

- Você já sabe o que tem que fazer. - Eileen disse, tirando Charlotte do meio de seus devaneios.

- Sim. - Ela começou seu serviço, primeiro começou a lavar a louça com a pouca água que saia da torneira enferrujada.

- Hoje houve um problema com a entrega de uma das cestas. - Darius disse. - Um dos novos se confundiu e trocou as cestas de duas famílias, o que ocasionou na sua punição, não sabemos ainda quantos dias vai ficar preso em casa.

- Isso é terrível. - Eileen disse, mas não estava chocada, essas coisas aconteciam com frequência, qualquer erro leva a isso.

- E parece que um garoto, - ele olhou para Charlotte - foi pego com objetos proibidos na mochila, e que ele gritou algo como "a conspiração é mais forte".

Charlotte havia visto a cena, mas não prestou atenção nos gritos do garoto, estava muito nervosa pensando que poderia ser pega. Ela não prestou mais atenção a conversa entre seu pai e sua mãe e continuou limpando a cozinha.

O tempo passou e logo já estavam fazendo o jantar, e aquela breve conversa ainda martelava em sua cabeça.

Leitor, poderia por favor, parar de ler e pensar um pouco a respeito de tudo isso? Assimilar melhor o que estamos falando. Charlotte certamente precisa fazer isso, mas com Jack correndo para lá e para cá, era um tanto impossível.

Quando o garoto finalmente se acalmou, sentaram-se a pequena mesa para jantar. Não houve conversa, apenas o barulho dos talheres batendo no prato. Logo já estavam indo para a cama. Tudo aquilo ainda martelava na cabeça de Charlotte, ela se deitou e fechou os olhos mas demorou muito para dormir pensando, tentando entender aquilo tudo, tentando relacionar as coisas. Depois de um longo tempo o sono finalmente a pegou, trazendo sonhos. Ou talvez pesadelos.


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