Bruxos&Demônios, vol. II - Le...

By FelipeLReis

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Sam e Killian estão finalmente juntos, Lexa e Roman também, e Amora não é mais tão relutante sobre se aproxim... More

Nota do Autor: Personagens
Capítulo I: Idiotas apaixonados
Capítulo II: Não brinque com os livros
Capítulo III: P-I-P
Capítulo IV: Mutatio Locus
Capítulo VI: Professor irritadiço
Capítulo VII: Reconheça o sentimento
Capítulo VIII: Hierarquia do sangue
Capítulo IX: Dezoito anos de partilha
Capítulo X: Precisamente silencioso
Capítulo XI: Lunática ou perigosa?
Capítulo XII: Marque-me como seu
Capítulo XIII: Dezesseis anos dividida
Capítulo XIV: Perguntas sobre perguntas
Capítulo XV: Situação de oportunidade
Capítulo XVI: Canalizando
Capítulo XVII: O compromisso final
Capítulo XVIII: Vestidos para matar
Capítulo XIX: Profanando solo sagrado
Capítulo XX: Demônios no dia do santo
Capítulo XXI: Entrelaçados pelo destino
Capítulo XXII: Conectados pela estranheza
Capítulo XXIII: Ad vita at inanimatum
Capítulo XXIV: Confuso sentimento
Capítulo XXV: Testados
Capítulo XXVI: Sobre a natureza de nós mesmos
Capítulo XXVII: Mentes sinuosas
Capítulo XXVIII: Gritante
Capítulo XXIX: Clube de luta adolescente
Capítulo XXX: Conhecendo o bestiário
Capítulo XXXI: Simétrico e pessoal
Capítulo XXXII: Quando a represa se rompe nas chamas
Capítulo XXXIII: Chore e grite, coração solitário
Capítulo XXXIV: Amantes (dis)funcionais
Capítulo XXXV: Sentimentos nunca ditos
Capítulo XXXVI: Pelos motivos que te amo
Capítulo XXXVII: Os escolhidos
Capítulo XXXVIII: De pai para filhos
Capítulo XXXIX: Vinte anos de empréstimo
Capítulo XL: Todos os tons de dor
Capítulo XLI: Filhos do diabo encarnado
Capítulo XLII: Diante a todas as verdade
Epílogo
Agradecimentos

Capítulo V: Agarre-se a minha a mão

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By FelipeLReis


Samuel

– Oi...

– Oi.

Respondi a Killian sem saber o que continuar depois.

Estávamos no início da noite de sexta, o que aqui na academia era mais como um dia sem incrivelmente nada para fazer. Alguns alunos tinham voltado a sair no fim de semana, mas geralmente era o mesmo grupo da outra turma, com umas sete pessoas. Era um grupo confortável para se sair à noite no lugar que já matou duas de nós.

– Algo aconteceu?

Perguntei assustado percebendo que era a primeira vez que ele batia na minha porta desse jeito.

– Não. Não. É só que... Eu vi Sébastien descendo as escadas com uns livros, e pensei que talvez você fosse querer companhia.

– Amora o pediu ajuda em umas pesquisas sobre sua linhagem feérica, eu iria me juntar a eles agora.

– Ah, claro. Eu só pensei que... Esquece.

Disse ele já se virando.

– Mas eu posso me atrasar um pouco. Lexa queria mesmo dar essa oportunidade para que eles ficassem sozinhos.

– Bom.

Respondeu ele, claramente tão desconfortável com aquilo como eu. Mas não era um desconforto ruim, era só diferente.

– Quer entrar?

Perguntei, como se ele fosse um vampiro e precisasse de permissão.

– Sempre.

Respondeu.

Escondi um sorriso ao ouvir aquilo.

– Acho que nunca tinha entrado no quarto de outro aluno antes.

Comentou assim que a porta se refez atrás dele.

– Nem eu. E ninguém tinha entrado aqui também.

– Que honra.

Acrescentou ele, agora mais relaxado. A parte estranha tinha passado.

– Acho que eu não aprendi muito bem como ser um namorado no meu último namoro então não sei o que fazer agora.

Disse topando com as costas da minha canela na quina da cama.

– Podemos deitar e conversar, eu acho.

– Eu realmente gosto de conversar.

Respondi parecendo um idiota.

Killian se deitou na cama primeiro e eu me ajeitei no espaço que existia entre ele e a parede. O frio do final do inverno ainda estava presente, então nos cobrimos. Fiquei imaginando o que Bash acharia se nos pegasse aqui de surpresa, achei melhor avisar a Lexa que avisasse a ele que eu estava com companhia.

– Então como foi seu dia?

Perguntou.

Minha cabeça estava quase prensada contra seu corpo, ele era quente. E era agradável.

– Passamos a maior parte dele junto, acho. Não tem nada novo.

– E verdade. Então pergunte algo.

Sugeriu.

– Sei lá, não sei o que perguntar.

– Tudo bem, eu pergunto novamente. Deixe me ver alguma coisa que eu queira saber sobre você... Acho que sei uma, você não teria um nome do meio ou teria? Já lhe disse o meu, não me lembro de você dizer se tinha ou não um.

– Para falar a verdade, sim. Oliver, o nome do meu avô paterno já falecido. Papai queria que um dos filhos tivesse esse nome, como forma de prestar uma homenagem ao avô, como eu fui o único rapaz a nascer eu o recebi.

– Oliver – disse ele para si mesmo – Ollie. Eu gostei. Ollie, meu Ollie – comentou – Alguém mais te chama assim?

– Meu pai me chama de Oliver às vezes, mas acho que é por que ele esquece o meu primeiro nome e é mais fácil recordar o do pai que ele teve mais tempo para gravar. Mas fora isso, ninguém. Para ser honesto meus avós maternos nunca gostaram, e eu nem me lembro se minha mãe gostava.

– Okay. Então vou chamá-lo de Ollie, posso?

– Claro que pode.

Respondi tentando colocar meus olhos na sua linha de visão, em uma tentativa tola de não parecer desesperado para beijá-lo, mas ele viu e então me beijou.

Era incrivelmente saboroso sentir o calor passar da boca dele para a minha.

Então uma eclosão de pensamentos ocorreu. Meus pensamentos.

– Estamos juntos há duas semanas e meia, e eu aqui sem perceber... E você também não disse nada. COMO NÃO PENSAMOS NISSO... Ah, DEUS!

Disse, jogando toda minha confusão sobre ele. E também girando meu corpo de modo que ficasse em cima do dele na cama.

– Não faço à menor ideia do que está falando.

Comentou.

– Obviamente estou falando da mulher que lhe criou. A mesma que é diretora dessa academia, e provavelmente deve estar nos vigiando agora mesmo. E que nenhum de nós dois pensou nesse meio tempo.

– Está preocupado se Evangeline vá proibir nosso namoro? Agora que estávamos nos beijando?

Perguntou na mesma hora que eu me joguei para fora da cama e fiquei em pé em sua frente.

– É. Exatamente. Ela pode fazer isso, não é? Tipo, sendo sua mãe adotiva e tal... Ah, tínhamos que ter falado com ela. Me introduzido ou apresentado. Claro que eu não teria gostado, mas era o certo...

– Veja pelo lado bom, eu não engravidei você.

Disse ele fazendo piada.

– Não ria – questionei, gostando mais dele antes das piadas – Estou falando sério.

– Eu sei que está, e já estou acostumado. Mas não precisa se preocupar com a diretora. Se ela tivesse algo para falar sobre nossa relação, já teria dito, e não disse.

– Céus, ela acha que eu sou só um caso passageiro sem importância.

Disse apavorado, eu claramente não servia para aquele tipo de coisa.

Killian se levantou e me virou aproximando minha cabeça da dele.

– Acalme sua ansiedade por um segundo, por favor. Eu não seria seu namorado se considerasse isso um caso passageiro, Samuel Oliver Herveaux. E se você quer se apresentado, vamos apresentá-lo amanhã em um maravilhoso e típico jantar. E sim, a opinião dela é muito importante para mim, pois é a figura materna que eu tive durante toda a minha vida e por causa disso eu sei que ela gosta de você do mesmo jeito que eu.

– Ok.

Respondi sem ser capaz de falar outra palavra.

– Bom, agora me beije. Não temos a noite toda para ficar juntos.

Ordenou decidido.

– Espera. Não tenho que usar algum traje formal ou nada, não é? Ou saber usar um garfo de peixe, salada ou sobremesa e esse tipo de coisa?

Perguntei, voltando a surtar.

Eu queria que dê-se tudo certo, totalmente diferente do que tinha acontecido com os pais de Daniel.

– Claro que não, pode usar as roupas que usa normalmente nos fins de semana aqui, eu vou. Serão comidas normais, vou escolher o cardápio se preferir. Agora relaxe, a única pessoa que você tem que impressionar sou eu, e você já faz isso todos os dias desde que chegou aqui.

Disse ele passando os dedos no meu cabelo. E mesmo que eu não estivesse acostumado aquele tipo de interação física, eu não conseguia refrear a vontade de continuar.

– Obrigado.

Disse ameaçando beijá-lo então interrompi o beijo milímetros de tocar seus lábios.

– Mas eu preciso ver que roupa vou usar mesmo assim. E também tenho que cortar meu cabelo. Lavar meus sapatos. Procurar um perfume novo, pensar em assuntos para falar. E principalmente repassar todos os assuntos que não posso falar na frente dela.

Algo em mim tinha se perdido vários minutos atrás.

– Você vai me deixar aqui falando sozinho, não vai?

– Vou.

Respondi sem me preocupar com a sinceridade.

– Okay. Mas lembre-se ela já sabe tudo que tem para saber de você, então não adianta tentar impressionar ou fingir ser outra pessoa. Seja como for, ela vai gostar.

– Talvez, e falando no assunto, não sou o primeiro que você leva ou sou

Perguntei preocupado, isso com certeza mudava a balança das coisas. Independente da resposta.

– Não exatamente.

Disse ele beijando meus lábios.

– Quantos?

Perguntei interrompendo seu beijo.

– Nathaniel. Scott. Brett. Tyler. Mason. Caspar. Fraçois. Magnus. Alec...

Começou a dizer fazendo meu rosto ficar vermelho de rubor, até que percebi que ele estava caçoando com a minha cara.

– Fale sério Killian – disse o batendo no ombro – Preciso estar preparado.

– Tudo bem, já levei alguém antes. Kelly McNamara, era o nome dela. E caso você esteja se perguntando eu prefiro rapazes, e mesmo que não fosse o caso, estou comprometido com você e nada muda isso.

Respondeu calmamente, tentando me acalmar também no processo. Ele parecia tão habituado a navegar pela minha ansiedade e inseguranças, quanto a Lexa.

– Isso totalmente muda a dinâmica que eu estava pensando. Estamos num território totalmente novo.

– Pois ela era uma garota?

– Não, porque eu sou o primeiro rapaz.

– Primeiro de tudo, Kelly foi um erro. Ela uma garota humana, e eu nem mesmo sei por que eu comecei a namorar com ela. Quando dei por mim eu já estava nessa posição. Agora vamos tentar deixar a paranoia de lado e ter um bom tempo de qualidade juntos.

– Humana? Tem mais alguma coisa que você queira acrescentar?

Perguntei nervoso. Cada pequeno detalhe criava mais um caminho no meu cérebro.

– Está ao menos ouvindo o que eu estou falando ou só o que você quer ouvir?

– Não. Desculpe, é que...

Tentei dizer, mas ele me interrompeu, me beijando novamente. Agarrando minha cintura e forçando meu corpo a deitar na cama. Tentei desvencilhar do seu beijo, mas desisti sete segundos depois, sendo tomado pela euforia.

Com sua mão esquerda ele pôs o edredom sobre nós, e finalmente parou o beijo, me dando novamente a capacidade de respirar.

– Estou apaixonado por você, é a única coisa que precisa pensar agora. Entendeu?

– Okay.

Respondi desistindo de falar.

//

Killian bateu na porta do meu quarto dez minutos antes das oito da noite do dia seguinte. Respirei fundo, tentando reagrupar o conteúdo do meu estômago para que ele não saísse dali e sujasse minha roupa emprestada. Então o recebi abrindo a porta com a mão.

– Oi.

Disse sem jeito.

– Suéter. Gravata. Cabelo. Se não fosse a falta do óculo poderia jurar que estava namorando o Sébastien – comentou me analisando, e honestamente eu não poderia negar. Eram realmente as roupas do Sébastien – Sem ofensas.

Killian completou olhando para o Bash por cima dos meus ombros, ele estava deitado na cama lendo um livro.

– Não ofendeu – Bash comentou em tom alto – Eu disse a ele que era um exagero, mas ele não quer me ouvir.

– Você não acha que ela vai perceber? Ela vem o vendo há cinco meses. Sabe que não usa suéter e nem gravata.

– Certo. Posso me trocar se esperar um segundo.

– Só desarrume o cabelo, tire a grava e deixe o suéter se quiser. Vamos ficar bem.

– Okay.

Voltei para dentro fazendo o que Killian disse, olhando rapidamente para o meu reflexo no espelho.

Quando pus meus pés para fora, ele já estava perto da beirada da escada.

– Você vem?

Chamou, ainda de costas para mim, com somente sua cabeça levemente girada para trás.

Sua mão não estava realmente longe do corpo, estava simplesmente ali levemente estendida me convidando a segurá-la. Mas não só isso, ele também queria mostrar a todos que éramos um casal.

– Achei que fossemos passar por uma porta e parecer em algum cômodo da Casa Cinza.

Disse confuso.

– Não, vamos jantar na minha casa. É um verdadeiro jantar para apresentar um namorado a família.

Esclareceu sorrindo.

– Entendi.

Disse engolindo em seco.

Tomei coragem e segurei suas mãos sem entrelaçar seus dedos aos meus.

– Nervoso?

Perguntou, assim que começamos a descer o primeiro degrau da escada.

– Não.

Menti.

– A força do seu aperto de mão diz o contrário.

Comentou olhando para frente enquanto andava, quase de queixo em pé.

Então percebi a força que estava pondo sobre a sua mão. Não era suficiente para machucá-lo, ele provavelmente era mais forte que eu. Mas era suficiente para ele perceber alguma anormalidade.

Então me lembrei de algo que Sébastien havia dito, que ninguém teria coragem de dizer nada sobre nós enquanto eu estivesse ao lado de Killian, e contanto que eu não tocasse em ninguém eu poderia realmente acreditar nisso tudo. No meu estranho e pequeno conto de fadas.

Henrique, o rapaz de dreads que também tinha vindo do Brasil, foi o primeiro a nos ver de mãos dadas descendo as escadas, mas não expressou muita coisa.

Tentei me concentrar no que estava dizendo a Killian, mas meus olhos só varriam o interior da sala, procurando hostilidade.

Logo a metade dos alunos já tinha virado para nós ver, ou ver quem é que estava descendo. Mas não houve uma risadinha, um comentário baixo, nem nada. Era quase como se não tivessem visto nossas mãos dadas, ou não se importassem o suficiente para sair do jogo de cartas.

Então Rex nos viu. Seu olhar de ódio declarado e descarado não foi mascarado por nada. Intencionalmente. Não consegui entender o porquê, já fazia semanas que nem mesmo tínhamos trocado uma palavra ou provocação, mas qualquer coisa poderia acionar em Rex essa reação, e talvez ele visse nossa relação de forma ameaçadora. Killian era de longe o com maior pratica em magia, e Lexa e eu com uma fonte de energia ainda não explorada, nos unir poderia ser desastroso para ele. Ou quais é que fossem seus motivos.

– A pior parte já passou.

Comentou, novamente ainda sem olhar para mim.

Ao passarmos pela porta do dormitório um carro nos esperava.

Era só uma questão de tempo. E se eu pensasse que amanhã de manhã tudo já teria passado, era mais reconfortante ainda.

//

O carro parou uns cinco minutos depois de termos entrado. A casa da diretora não deveria ser realmente muito longe da academia, o que eu deveria ter presumido. Vir de carro tinha sido um exagero, mas achei melhor não comentar.

Respirei fundo enquanto o motorista abria a porta do carro para que saíssemos, e bem, a casa da diretora Witwer não era tão modesta assim. Ou fomos deixados em uma pousada colonial.

A casa era gigantesca, o que tirava dela o título de casa e o promovia para mansão. Bem diferente da minha simples casa de dois andares em São Paulo.

– Você nunca tinha dito que a casa era tão... Tão grande.

Comentei apavorado.

– Disse a você que tinha crescido em uma mansão na cidade. Não me culpe por ter esquecido uma informação.

– Segure a minha mão.

Pedi, precisava extravasar o pânico em algum lugar. Ele a estendeu de imediato, com um sorriso de satisfação.

– Seja você mesmo, só isso.

Comentou no pé do meu ouvindo, então entramos pelo portão de ferro.

A porta da mansão foi aberta por dentro, uma senhora baixinha nos atendeu. Usando um vestido simples e escuro. Ela sorriu ao ver Killian e ele também, de uma forma tão relaxada que eu ainda não me acostumava.

– Berta.

Comentou a abraçando.

– Senhor Kane. A senhora Evangeline está a sua espera na sala de jantar.

Disse ela.

– Berta, esse é Samuel, meu namorado.

– Muito prazer senhor Herveaux.

Disse ela a mim usando meu sobrenome, mesmo que Killian não tivesse o dito, presumi que a diretora tivesse a dito. E com o tempo que tinha passado na academia, parte de mim já tinha se acostumado a ser chamado assim. Em casa somente meus avós acertavam a pronúncia francesa, do sobrenome herdado do meu tataravô.

Enquanto andávamos pelo corredor ele esclareceu a mim quem Berta, era a governanta da mansão desde antes ele nascer.

A sala de jantar era no final do corredor virando a escada, consegui ver a entrada de uma escada, que levava até os dois andares seguintes, mas nem ameacei pensar no que tinha lá em cima.

Quando entramos ao cômodo, ele era pelo menos do dobro do tamanho do meu quarto, o que me fez perceber que ele tinha o tamanho aproximado do nosso banheiro, na academia. Não foi uma boa analogia para o momento.

A mesa era retangular e longa, com várias cadeiras, com pelo menos uns dezesseis lugares.

A diretora Witwer estava sentada no lugar de honra da mesa, em uma cadeira grande e elegante, as demais eram mais comuns, pelo menos para esse lugar. Eram incrivelmente melhores comparadas as cadeiras de alumínio que usávamos em casa com acento de acrílico transparente.

Killian largou minha mão alguns passos depois e se moveu claramente em direção a ela, então petrifiquei onde estava.

Ele se aproximou e a beijou no rosto, de uma forma que eu nunca o tinha visto fazer.

Ela deu o mesmo sorriso de lado que ele costuma dar, e segurou sua mão sobre a mesa de forma carinhosa e disse algo em tom baixo e ele concordou com a cabeça.

– Não precisa ficar aí parado Samuel, pode-se se sentar à mesa.

Disse ela me chamado pelo meu nome pela primeira vez, sem o uso do Herveaux.

Killian se sentou na cadeira ao seu lado, e eu não soube se deveria sentar ao lado dela ou do dele, mas ele tratou de me informar com os olhos que eu poderia sentar ao lado dele se quisesse, e foi o que o fiz, o mais rápido possível e de forma menos destrambelhada.

Procurei sua mão por baixo do pano de mesa com tanta agilidade quanto possível e em menos de meia hora eu já tinha me tornado altamente dependente daquele toque para me sentir calmo e controlado.

– O jantar vai atrasar alguns minutos – começou ela a dizer, seu vestido era preto como de praxe e as luvas eram o toque de seu vestuário que ela nunca tirava, tinha que me lembrar de perguntar o porquê – Podemos conversar durante esse período.

Propôs.

– Ele está nervoso, acha que você pode proibir o namoro de alguma maneira.

Killian disse sem nem ao menos me avisar.

Virei meu rosto para ele transtornado até ouvir a jarra de água na metade da mesa retangular se quebrar.

– Oh! Desculpe! Desculpe...

Comecei a dizer tendo certeza que havia sido minha telecinese a fazer aquilo.

– Killian!

Disse ela em desaprovação.

– Eu consertaria... Mas é que... Aí...

Disse tentando explicar.

– Fiquei calmo Samuel. Killian conserte o que fez.

Reverti.

Disse ele olhando para toda bagunça que eu tinha feito, e a jarra voltou ao normal e água para dentro do recipiente.

– Ele sabe ser bastante inteligente quando está de boca fechada, mas não sabe utilizar a arte de uma conversa estruturada e educada quando começa a falar.

A diretora comentou, ainda com seu olhar calmo mas de repreensão. Literalmente maternal.

– Desculpe.

Disse novamente.

– Não precisa se preocupar Samuel. Estou familiarizada com a falta de controle da juventude há décadas. Uma simples explosão telecinética baixa não é nada demais.

– É muito gentileza da senhora dizer isso.

– Não, não é. É só uma verdade.

Respondeu com o mesmo olhar maternal para mim. Não tinha percebido isso nela antes. Era estranho, não ruim, mas estranho.

– Sua casa é belíssima.

Comentei, sabendo que pelo menos nessa frase eu não poderia errar.

– Pertence a minha família há alguns séculos, orgulho-me muito dela e de como está. E espero que continue assim mesmo depois que eu não estiver aqui.

Disse ela usando educação para mascarar uma pequena ordem. Killian revirou os olhos de propósito, quase como se fosse uma brincadeira dos dois. Mas se ela pretendia deixar a casa para ele, ela realmente o considerava um filho.

– Vou mostrar tudo depois – Killian disse a mim – A sala de estar, a cozinha, meu quarto...

Os talheres vibrarem. PARE. PARE!

– Killian! – a advertiu – Pare de deixá-lo envergonhado.

Quem era esse rapaz?, pensei comigo mesmo.

Fazendo piadas. Implicando. Rindo. Sorrindo. Ele parecia outra pessoa. Também não era algo ruim, era só diferente.

– Perfeito, o jantar está vindo.

Ela comentou ao ver os empregados trazendo três bandejas redondas e prateadas. Supliquei para que aquele fosse um jantar convencional onde tudo seria colocado na mesma e pegávamos o que queríamos e não com entradas, pratos principais e afins.

Reparei enfim que havia pelo menos uns mil talheres diferentes na mesa e meu pavor aumentou, mas eu só precisava imitar o que Killian fosse fazer, e usar o que ele usasse que eu me sairia bem, pelo menos o melhor possível.

Assim que o empregado ao meu lado, um senhor também já bem mais velho que eu, levantou a tampa prateada fui pego por um estranho alivio mesclado a surpresa e susto.

Milk-shake, hambúrguer e batatas fritas?

Perguntou ela a Killian.

– Você disse que eu poderia pedir o que quisesse para o jantar, por que era especial.

Disse ele fingindo não entender.

– Não quis dizer que poderia pedir fastfood, querido. Eu quis dizer para o cozinheiro.

– Seria mal educado tirar o prato agora que está aqui, na frente de nosso convidado.

Acrescentou novamente fingindo desentendimento.

– Podem ficar com isso. Mas pelo menos comam um pouco da sopa, precisam de comida de verdade no estômago para passar a noite.

Pediu educadamente.

Comecei mergulhando uma batata sobre um potinho com molho vermelho que presumi ser ketchup. Agradeci assim que provei e tive a confirmação que realmente era ketchup.

Comemos nossa comida nada saudável enquanto trocávamos frases amigáveis. Com o passar dos minutos e com a ajuda de Killian, foi fácil construir sentenças de palavras e estruturar conversas inteiras com assuntos variados. Ela em si parecia muito aberta a querer se socializar comigo e não só com aquele que estava acostumada. Aquilo me relaxou o suficiente para não precisar segurar mais a mão de Killian, mesmo que por um impulso ou dois, eu ainda quisesse sentir o calor dos dedos dele.

//

Quando terminamos de comer a sopa fria – que nem era realmente ruim – diretora Witwer pediu licença e saiu da mesa, Killian explicou que ela sempre via alguma coisa da academia depois de jantar, era quase um ritual. Um hábito dela.

– Vamos conhecer a casa.

Disse ele se levantando da mesa, depois de terminar o segundo milk-shake de frutas vermelhas.

– Quantos cômodos têm aqui?

Perguntei.

– É uma mansão de bruxos, honestamente eu não faço a menor ideia. Esse lugar provavelmente tem mais quartos do que um prédio pode sonhar em ter. Já me perdi mais aqui dentro do que em um supermercado quando era pequeno.

Comentou enquanto balançava a cabeça;

– Vamos para onde então?

Perguntei, ele estava me mostrando o restante da mansão como prometido.

– Para sala de estar, primeiro.

Voltamos pelo corredor e entramos na primeira entrada perto da porta de hall.

A sala era maior que a sala de jantar, tinha dois sofás longos, e diversos outros lugares para se sentar, como poltronas e pufes. Uma estante enorme que ocupava uma parede inteira, onde ficavam os livros e a televisão gigante, e perdido no meio de tudo aquilo um vídeo game, que eu não sabia dizer a marca, mas que presumi ser de Killian.

– Pronto. Próximo lugar.

Disse ele antes mesmo que eu pudesse terminar de entrar.

– Eu ainda nem entrei.

Comentei.

– Quero que conheça meu quarto.

– Killian, não.

Disse pesaroso.

– Não sei quando vai poder vir aqui novamente, só quero aproveitar a oportunidade.

Disse ele tentando passar inocência, tinha aprendido ultimamente que era algo que ele não possuía.

– Não quero aproveitar da sorte, isso sim.

Comentei.

– Vou me comportar, ficaremos de portas abertas. Tudo bem?

– Certo.

Passamos pelo segundo andar e fomos até o final do corredor do terceiro, quando Killian finalmente parou de andar.

– Aqui?

Perguntei apontando para uma porta ao meu lado.

– Mais para cima.

Comentou. E uma escada surgiu.

– Seu quarto é no sótão? Você me enganou.

Comentei.

Mas um quarto no sótão para o filho mais velho, não era algo estranho por aqui, disso eu sabia. Contudo um quarto no sótão para um único adolescente em uma mansão com uma centena de outros quartos era.

– Me mudei para cá uns cinco ou seis anos atrás. Era o meu espaço, separado de tudo.

Respondeu, lendo minha expressão.

Subimos a escada e entramos.

O lugar era completamente diferente de toda a mansão.

Sem reboco nas paredes ou nada que tampasse a alvenaria.

Era simplesmente madeira clara para tudo que era lugar.

Havia uma cama de casal em um canto, uma mesinha de computador em outra, duas bicicletas presas a parede do lado contrário, um armário no meio de tudo, outra estante com livros, um daqueles sacos de areia suspensos no ar, peças e capacetes da sua moto, jogados em um canto. Era realmente um quarto de garoto, arrumado em sua bagunça.

– Parece com você.

Respondi. Era verdade.

Sua mão cruzou minhas costas e segurou minha cintura aproximando meu corpo ao dele.

– E como eu disse a porta está aberta.

Acrescentou antes de me beijar.

Não que alguém conseguisse ver nada daquela passagem, era preciso subir e colocar a cabeça aqui para dentro, e ele sabia disso. Fora que ninguém iria vir até o terceiro andar à toa. Ele havia me enganado descaradamente, e obviamente eu havia gostado.


E caro leitores, para aqueles que queiram perguntar, criticar, reclamar ou elogiar, sintam-se livre para me chamar tanto por aqui, quanto pelo meu whatsapp (021997643001).

Só chamar lá, e ficar a vontade.

Felipe L.

Bjos.

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