Eu não podia acreditar. Perdi meu livro. Meu maior pesadelo estava se realizando. Alguém o havia pegado, e com certeza, não teria o mesmo carinho que eu teria.
Eu voltei para casa, chorando lágrimas de crocodilo, mas quando passei pela esquina da casa de Dave, me sentei junto à grade de uma casa, e ali fiquei encarando o nada, pedindo na minha mente que Dave aparecesse.
E pelo jeito, alguém ouviu meus pedidos. Quando eu já estava me levantando para ir embora, olhei para a direção da casa de Dave, lembrando quando passamos juntos por ali. Eis que vejo Dave com seu cabelo balançando um pouco enquanto ele corria até mim. Ele trazia algo na mão, mas eu não consegui ver o que era antes dele chegar até mim e me abraçar.
- Oi, Mary Ann.
- Oi, Dave!
- Eu estava indo até a sua casa! Estou com algo que creio lhe pertencer.
E aí, ele olhou para a sua própria mão, estendida em minha direção. Nela, brilhava a capa do meu livro.
- Dave! Ah, você o encontrou! – Eu o abracei – Obrigada! Fiquei tão preocupada...
- Imagina... Eu passei pela sua sala, queria falar com você. Mas você não estava mais lá, e seu livro estava então eu o peguei e guardei. Mas agora, eu queria que você não estivesse aqui...
- Por quê?
- Eu queria ter ido até sua casa, e aí quem sabe eu passaria mais tempo com você...
- Mas você pode ir lá em casa! Venha!
Eu o puxei pela mão, e ele começou a andar comigo.
- Como vai sua família, Dave?
- Ah, tudo bem... Debbie está enorme, mas ainda não parou de fazer arte... Outro dia, ela pulou a cerca e foi até o quintal do vizinho, só pra pegar um ossinho de brinquedo do cachorro dele. Mas o vizinho é legal e deu o brinquedo pra ela.
Eu ri
- Que cachorrinha mais sapeca!
O papo prosseguiu até chegarmos em casa. Eu podia ver como Dave gostava de animais, e quando chegamos, ele apertou a mão de meu pai, abraçou minha mãe, e alisou Shadow, que estava na cozinha enquanto minha mãe terminava de limpar o fogão. Quando chegamos até o meu quarto, Caúna estava, pra variar, em cima da minha cama.
- Mas que coisinha mais linda!
- Ah, essa é a Caúna... Ela não sai do meu quarto, é minha bebê.
Dave analisava minha estante enquanto conversava comigo.
- Puxa, quantos livros! Você já leu todos?
- Só os da segunda e da quarta prateleira... O resto ainda não faz meu estilo... Quem sabe um dia.
- Então, esse é o seu talento? – Ele se virou pra mim.
- Não tenho um talento, Dave. Já disse!
- Ora! Todos têm um talento. Você talvez só não tenha descoberto o seu.
Ele pegou um caderno que eu usava pra escrever poesias, quase cheio, da estante e começou a ler.
- Esse é o seu talento!
- Ah, não! Não leia isso, por favor! É constrangedor!
- Não! Eu gostei! Leia uma pra mim!
Ele insistiu, e eu li uma poesia que eu tinha escrito há pouco tempo, sobre a paz, as flores e a felicidade. Eu me lembro de que nesse dia eu tinha ido até um bosque para buscar inspiração. Era primavera, e as flores coloriam o bosque todo, e foi sobre isso que eu escrevi.
- É maravilhoso! – Ele disse quando terminei de ler.
- Dave, pare. É horrível!
- Mary, as pessoas têm que te conhecer! Todos precisam ler pelo menos uma frase do que você tenha escrito! Você é maravilhosa!
- Dave, você só fala isso porque é meu amigo! Pare!
Ele continuou falando sobre como eu era maravilhosa, e tudo o que eu fazia era maravilhoso, e que todos deveriam ler algo meu. No fim, eu só concordei, porque sabia que ele não ia parar.
Naquela noite, depois do jantar, depois de Dave ir embora, Depois de tomar um bom banho e depois de escovar os dentes, pouco antes de dormir, eu acendi meu abajur e comecei a ler na cama. Quando fechei o livro, o papel em que eu havia anotado as seis coisas que eu precisava saber sobre Dave caiu. Quando ele achou o livro, ele deve tê-lo folheado e encontrado o bilhete. Foi uma surpresa quando eu descobri que ele havia respondido todas as minhas perguntas.
"- 15 anos
- Azul marinho
- Música clássica
- Lasanha
- Você sabe¹
- Você sabe²"
Eu dormi antes de conseguir pensar em qualquer coisa a respeito daquilo.