Capítulo Nove – Águas Passadas
De manhã cedo, antes mesmo de descerem para o café, Hermione recebeu da professora McGonagall todos os horários das alunas. Ela os entregou às monitoras das casas e voltou para a sala comunal, para esperar por Rony e os amigos. Os quatro desceram juntos e sentaram para tomar o café da manhã no Salão Principal. Harry percebeu olhares ansiosos de Draco na direção de Gina.
- Não olhe agora, Gina, mas parece que seu "amigo" está indócil para falar com você – disse, distraído enquanto passava geléia de morango em uma torrada.
Gina virou o pescoço e seu olhar cruzou com os olhos cinzentos ansiosos de Draco por um instante. Ele abriu a boca e ergueu a mão, como se fosse fazer algum sinal ou balbuciar algo, mas ela fez uma careta desgostosa e virou a cara. Mione estranhou a atitude.
- Você não ia fazer as pazes com ele? – Gina riu.
- E vou.
- Tudo bem maninha, por mais que a sua amizade com o Malfoy seja repugnante e bizarra eu sei que vai ser útil agora. Só me esclareça se eu perdi alguma coisa. Eu pensei que para ser amigo de alguém, mesmo do Malfoy, a gente precisasse ser simpático.
- Não com Draco – respondeu com categoria, colocando leite na sua tigela de cereais. – Ele precisa ser provocado primeiro. Ele é quem vai ter que me procurar, Ron – o irmão levantou as sobrancelhas para Harry, que fingia não se importar com o assunto, enquanto Gina o servia de leite também. – Se eu for simpática ou procurá-lo vou colocá-lo em vantagem sobre mim. Entendeu? – Harry riu.
- Quem diria? Ela tem essa carinha de anjo mas é totalmente perversa. Praticamente um diabinho ruivo – disse, segurando o queixo dela, que corou.
- Nem tanto – ela justificou, abaixando os olhos.
- Não que eu esteja reclamando – acrescentou baixinho. Rony ficou sem graça.
- Aham! – Mione mudou de assunto. – Vocês já conferiram os horários de vocês? – cada um pegou o seu pergaminho nos bolsos das vestes e os abriram sobre a mesa.
- Hey! Nós temos aulas juntos hoje à tarde – Harry disse, animado, para Gina, que correu os olhos pelo papel, mas os sorrisos desapareceram quando leram qual seria a aula conjunta.
- Ah! Não! Artes Marciais, junto com a Sonserina... Por que não nos atiram aos dementadores ao invés disso? – Mione deu uma risadinha cínica.
- Eles já tentaram isso no nosso terceiro ano, Ron. Seria uma grande falta de criatividade – os quatro riram.
- E de manhã, o que você tem? – Harry perguntou, tentando animar a namorada.
- Poções, com a Corvinal... – ela choramingou. – E vocês três?
- Herbologia, Lufa-Lufa – respondeu, afagando a cabeça dela com pena. – Eu trocaria com você, se fosse possível... – ela passou a mão carinhosamente no rosto dele.
- Eu sei. Mas já basta de confusão com o seboso. Ontem você já bateu a sua cota – ele concordou. – Não adianta nada você ser expulso da escola – ele passou o braço sobre o ombro dela. - Eu só não espero que ele implique comigo, Harry – ele olhou para a mesa dos professores, cruzando o olhar com Snape. Percebeu que olhava de Draco para Gina com um ar pensativo.
- Algo me diz que vai ser justamente o contrário, Gina – os três olharam surpresos para a expressão enigmática de Harry.
- Tomara mesmo...
Terminaram o café e se despediram, indo para lados opostos, Gina para as masmorras e os demais para a estufa número sete. Assim que a ruiva entrou na sala Snape a acompanhou até que ela sentasse em seu lugar com um olhar agudo e penetrante, o que a fez se sentir extremamente incomodada. Depois de uma pausa ele iniciou a aula.
- Eu hoje vou ensinar como se faz uma Poção Revigorante. Quero que todos coloquem os caldeirões imediatamente com água até a sua metade e comecem a aquecê-los. Quando estiver fervendo acrescentem lascas de tronco de Dracena fragans e os olhos de Atyopsis gabonensis, esses pequenos camarõezinhos negros que estão nos potinhos à frente de vocês. Durante quinze minutos vamos mexer. Deixando em repouso por mais quinze, e aí sim acrescentaremos o ingrediente final, as escamas secas de Lepomis gibbosus. Copiaram isso? – perguntou friamente. – Muito bem, depois de pronta teremos que testar a poção... – Gina fechou os olhos, nervosa. Com certeza a "cobaia" seria ela. – No nosso convidado especial – ele apontou a porta. Todos viraram o rosto e Gina viu um Draco Malfoy muito contrariado entrar na sala de aula. - Como podem observar o Sr. Malfoy foi liberado de sua aula matinal para voluntariamente me ajudar nessa aula..
Gina imaginou o quanto Draco estava odiando estar ali, servindo de cobaia para alunos mais novos da Grifinória e Corvinal. Logo ele? Um chefe de monitores? Um Malfoy? E realmente era o que estava se passando pela cabeça dele quando o diretor da Sonserina o liberou pessoalmente da aula de Feitiços e o mandou ir até as masmorras.
- Eu fui buscar o senhor Malfoy aqui, que fez questão de ajudar os mais novos, já que é um excelente aluno de Poções – disse, colocando as mãos sobre os ombros de Draco, que tentou trocar um olhar com Gina em vão. Novamente a garota virou o rosto para ele. - Eu vou precisar de um voluntário da turma para estuporar o nosso Monitor Chefe aqui, para usarmos a Poção Revigorante – Draco arregalou os olhos. - É claro que um aluno do sexto ano não conseguirá causar danos ao colega mas será interessante assim mesmo. Quem gostaria de ajudar?
Nenhum aluno ergueu a mão, com medo de sofrer alguma represália por parte do sonserino. Snape se irritou com aquilo. Draco esboçou um sorrisinho triunfante, tinha orgulho da fama de mau.
- Acho bom que alguém se ofereça. Eu me responsabilizo por qualquer dano causado ao senhor Malfoy – no mesmo instante todos os braços se ergueram, menos o de Gina, que permaneceu quieta em seu lugar, com o olhar monótono. Snape apertou os olhos. - Decidido. Senhorita Weasley, venha aqui na frente para estuporar o seu colega – Gina franziu a testa.
- Eu não me ofereci, professor – justificou.
- Eu sei. Por isso mesmo. Dez pontos para a Grifinória por sua modéstia em deixar de se candidatar.
Gina quase tropeçou; "Snape distribuindo pontos para Grifinória? O que ele faria em seguida? Vestir-se de Papai Noel e dançar Jingle Bells?", pensou. Draco abriu a boca mas não emitiu nenhum som.
- Ande depressa senhorita Weasley. Ainda temos que dar a poção revigorante para o seu colega depois de estuporá-lo – ela abaixou a cabeça.
- Tudo bem professor Snape. Mal posso esperar para estuporá-lo – Draco fez uma careta. O professor deu um sorrisinho maldoso.
- Muito bem Srta. Weasley. Estupore-o.
Gina sentiu o sangue gelar nas veias. Nunca havia estuporado ninguém e agora teria que ter o sangue frio de estuporar o seu melhor amigo. E não poderia transparecer o quanto sentia em estar fazendo aquilo. Ou poria todo o plano de fazê-lo se chegar por água a baixo. Respirou fundo e encarou os olhos cinzentos de Draco, fazendo uma força sobre-humana para não transparecer o medo que sentia.
- Estupore! – um jorro vermelho saiu da ponta da sua varinha e Draco caiu sentado no chão. Snape sorriu. Alguns alunos se assustaram mas a maioria riu, o que deixou Gina particularmente aborrecida.
- "timo Srta. Weasley. Mais cinco pontos para a Grifinória – ela se sentia ainda pior. Como poderia ser premiada por ter estuporado um amigo? - Agora terminem a poção revigorante... – Gina ergueu a mão.
- Ele vai ficar assim por mais quinze minutos? - Snape deu de ombros.
- A senhorita está preocupada? – Gina rodou os olhos tentando disfarçar.
- Eu? É claro que não... – ele riu com o canto da boca.
- Muito bem, preparem a poção agora.
Ele explicou com calma como se fazia enquanto Gina sentia o estômago revirar com o cheiro da poção borbulhante e com a visão de Draco desacordado no chão. Depois de terminarem a poção ainda recomendou que esperasse esfriar e antes que mais alguém se fizesse voluntário chamou Gina para ministrar o antídoto a Draco.
Ela se abaixou e derramou um gole generoso da poção na boca do amigo, que imediatamente tossiu e cuspiu um pouco do líquido amarga no chão, abrindo os olhos em seguida. Ainda parecia sonolento e sentia dores pelo corpo, o que Gina percebeu apenas olhando para sua expressão.
- Acabou a aula. Trinta pontos para a Sonserina por sua contribuição, Sr. Malfoy – Snape anunciou. – Srta. Weasley e Sr. Malfoy, os dois, arrumem as bancadas. Os demais estão liberados. Saiam... – ele enxotou os alunos e também saiu, deixando Gina e Draco completamente sozinhos e sem ação.
A grifinória deu de ombros e começou a arrumar as bancadas. Draco a observou em silêncio por alguns minutos, decidindo falar então.
- Então você me estuporou? – ela não respondeu. - Ah! E me bateu antes. Um tapa no rosto – acrescentou passando a mão na cabeça primeiro e depois na bochecha.
- Você mereceu – ela se limitou a dizer.
- Ser estuporado ou apanhar?
- Os dois – disse sem olhá-lo.
- Já que está me respondendo, nós vamos conversar? Não vai ser um monólogo? – ela rolou os olhos para cima.
- Sobre o que você quer conversar, Draco? – perguntou, impaciente.
- Bem, sobre nós. Agora que nos beijamos devemos assumir nosso compromisso e... – Gina sacudiu a cabeça, incrédula.
- Você é inacreditável! Eu pensei que fosse me pedir desculpas. Mas não... Tem sempre que ser irritante e cínico – ele sorriu.
- E o que você esperava, ruiva? Um perdão formal? Esqueça! A cara do Potter vendo a cena foi algo inesquecível. Eu não posso pedir desculpas e lamentar algo que realmente não lamento. A não ser o tapa. Isso eu lamento – ela olhou bem para ele.
- Eu vou desistir de conversar com você desse jeito – disse, tentando ignorar seu comentário.
- Tudo bem ruiva, o que você quer que eu diga? Ou faça? – disse, sentando encima de uma das carteiras. Gina se sentou à sua frente.
- Primeiro que você me ouça. É muito difícil? – ele gesticulou, impaciente, para que prosseguisse. - Primeiro eu quero que você saiba que eu ainda estou aborrecida com você. Muito – fez uma pausa. – Mas ainda assim eu decidi dar uma chance à nossa amizade e mantê-la.
- Nossa! Muito obrigado por isso – disse, sarcástico. – Estou comovido – ela apenas lhe lançou um olhar de poucos amigos. – Continue – disse, retomando um esboço de seriedade.
- Mesmo sendo, obviamente, um erro, eu quero contar algo para você – respirou fundo e mordeu o lábio inferior.
- Pára de enrolar e fala logo o que é ruiva. Você quer me enlouquecer? Assim você coloca a sua vidinha em risco...
- Minha vida já está em perigo, Draco – ele ficou estático.
- Como é? – a voz saiu trêmula
- A questão aqui é: o que você faria para proteger a minha vida? – ele não conseguiu dizer uma só palavra. - Eu quase fui morta, Draco. No meu primeiro ano, no ano retrasado – ele a interrompeu.
- Isso toda a escola sabe, Weasley. Não é nenhuma novidade e... – foi a vez de ela o interromper.
- Mas ninguém sabe que ano passado, quando Beauxbatons foi destruída, meu dormitório foi explodido e quem fez isso teve uma grande decepção de eu não estar nele – Draco franziu a testa.
- Você quer dizer que...
- Eu estou dizendo que o meu enterro faz parte do calendário anual de Você-Sabe-Quem. Ele me quer morta tanto quanto Harry. Ele tentou me matar e vai continuar... Até conseguir – ela abaixou a cabeça. Draco passou as mãos pelos cabelos nervosamente.
- Hey, não diga isso. Ele não vai conseguir – ergueu o queixo dela carinhosamente. – O que eu preciso fazer?
- Impedir? Se você estiver disposto – ele inclinou o corpo para frente e olhou dentro dos olhos dela fixamente, quase encostando a testa na dela.
- Nossa! Deixe-me pensar sobre isso... É óbvio! – enfatizou a última frase, sarcástico. - Você me ofende assim, Virgínia. Como você pode duvidar de algo assim? – ela estranhou o fato de ele chamá-la pelo nome e estar sério de verdade.
- É mais complicado que querer, Draco. Impedir implica em mais coisas do que pensa. Há coisas a serem feitas. Coisas das quais você vai precisar abrir mão. Requer uma tomada de posição...
- Quando eu vou ter que começar a informar os passos do meu pai? – perguntou secamente, assustando-a.
- Draco... – ela colocou a mão no peito.
- E não me venha dizer que não é isso porque estou lendo nos seus olhos que é. Só me diga quando. O "como" é por minha conta. Eu posso deduzir sozinho – ela engoliu em seco.
- Logo. É preciso que os "passos" de Você-Sabe-Quem sejam previstos de algum modo. Você sabe, o seu pai é...
- Eu sei bem o que ele é, ruiva. Mas eu sei também quem ele é. Ele é meu pai... – disse sem emoção.
- Ninguém vai fazer nada contra a sua família – achou por bem acrescentar; Draco deu uma risada pelo nariz.
- A minha "família" – disse com os dedos das mãos formando aspas – não é bem o modelo do que você define como família, ruiva: um grupo de mortos de fome em volta de uma mesa, roendo um pão velho e dizendo o quanto se amam. A sua idéia é muito diferente da minha visão da "ceia de natal", onde eu tenho que ficar grato por não ser o prato principal – ela suspirou.
- Eu sinto muito por isso...
- Ah! Não! Não sinta. Eu agora vou estreitar mais os laços com o papai – disse, cínico. - Quem sabe assim ele não me ame? – completou, rindo, mas Gina não achou graça. - Eu vou ver o que posso fazer. Lúcio vai adorar o meu interesse repentino pelos negócios escusos da família, se é que há algum negócio não escuso – Gina se sentiu penalizada.
- Eu não quero criar problemas para você, Draco – ele deu um sorriso maroto.
- Você já fez isso – ela ergueu o olhar para ele – quando aceitou ir comigo naquele baile.
- Eu só me preocupo...
- Comigo? Então você se preocupa comigo, ruiva?
- Draco, eu tenho o péssimo hábito de me preocupar com os meus amigos – ela cruzou os braços, ofendida.
- Então somos amigos de novo, mesmo? – perguntou, ansioso.
- Depende – Gina contraiu os lábios, tentando ficar séria.
- Do quê? De você não ter uma crise de risos e morrer prematuramente agora? – ela ergueu as sobrancelhas e permaneceu calada. - Depende do quê, Weasley? Você está tão chata hoje. Cheia de mistérios... Dá vontade de embrulhá-la para presente de Natal. Meu pai ia adorar – ela riu.
- Conto com você para evitar isso...
- Eu vou evitar, ruiva.
- Obrigada Draco. Eu esperava que fizesse isso – ele olhou para ela e ficou estático, em um silêncio incômodo. - Por Merlin, venha cá – ela esticou os braços e o envolveu em um abraço. Draco respirou o perfume dela e fechou os olhos.
- Me desculpe por ontem – ele disse inconscientemente, com um fiozinho de voz. Gina sorriu.
- Tudo bem.
- Você ainda me ama? – ele se admirou de ter a ousadia de perguntar. Ela deu uma risada.
- Amo. Amo sim – deu um beijo estalado na bochecha dele. – Você é o meu melhor amigo. O que aconteceu são águas passadas – disse, recolhendo seu material. – Nós nos vemos depois – saiu da sala deixando um Draco meio abobado para trás.
Gina encontrou Harry, Rony e Hermione depois da aula. Os quatro almoçaram juntos. Ela contou como foi a aula e a conversa e Rony teve uma crise de risos ao saber que ela tinha estuporado Draco.
- Conta de novo como ele caiu, Gina. Essa é a melhor parte – disse, com lágrimas nos olhos de tanto rir. Mione pisou no pé do namorado por baixo da mesa. - Ai! – retrucou alto no ouvido dela. Os outros dois riram.
- Então ele aceitou, Gina? – a grifinória ignorou de Rony.
- Aceitou sim Mione – Harry ficou em silêncio. Gina percebeu algo estranho. - O que foi? – ela sussurrou enquanto Rony tentava convencer Mione a tirar os dedos dos ouvidos enquanto ele falava. – Isso está te incomodando mais do que você achou que fosse incomodar, não é? – ele balançou a cabeça negativamente. Ainda não havia parado para pensar no que significava a ajuda de Draco.
Assim que terminaram o almoço foram descansar e se trocar. Uma hora depois desceram para o Salão Principal. Seria a primeira aula que teriam de Artes Marciais. Gina estava particularmente desanimada. Sabia que ter Cho Chang como professora seria com certeza uma experiência desagradável. Além disso as aulas seriam sempre junto com os sonserinos, o que não contribuiria em nada para aplacar as rivalidades das duas casas.
Pelo menos o sétimo ano teria aulas em conjunto com o sexto. E o único consolo de Gina era o fato de que Harry estaria assistindo às aulas com ela. Mas sabia, também, que isso não seria de todo bom. Uma vez que a professora de Artes Marciais dificilmente deixaria de implicar com os dois, como um casal.
Gina caminhou de mãos dadas com Harry até o Salão Principal, os dois eram acompanhados de perto por Rony e Hermione. Ela não pôde deixar de notar o olhar desdenhoso com que a professora encarou os dois, entrando de mãos entrelaçadas, para assistir à aula.
Os alunos foram chegando aos poucos e se espalhando em volta de um tatame azul, que agora ocupava todo o centro do Salão. Cho estava usando um quimono de luta tradicional, preto, e esperou que todos chegassem para iniciar a aula.
- Muito bem – ela disse, fechando as portas atrás de si. – Como Dumbledore mesmo disse vocês precisarão de todo o preparo possível. Então vou ensinar a vocês algo realmente importante – Rony torceu os lábios e se surpreendeu ao encontrar a mesma expressão de desgosto em Draco Malfoy, que estava do outro lado da sala, à sua frente. - Eu quero deixar bem claro que Artes Marciais são algo mais do que uma luta. São uma tradição Oriental Milenar e até mesmo uma filosofia – acrescentou, olhando feio de Rony para Draco. O último ignorou solenemente o olhar repreendedor da professora e fez uma careta desdenhosa, provocando uma imensa vontade de rir em Gina, que só agora tinha visto onde o sonserino estava.
Cho andou até o centro do tatame e olhou em volta. Parecia estar procurando alguém especificamente. Então ela parou, dando um sorrisinho malicioso de satisfação.
- Sr. Potter! – disse pausadamente. Gina apertou a mão de Harry e ele percebeu que ela estava suando. – Eu gostaria de contar com a sua ajuda para demonstrar o primeiro movimento básico.
Gina olhou ameaçadoramente para Cho, as duas pareceram medir forças com os olhares por alguns segundos. Ela já imaginava o que a professora faria.
- Eu não vou. Não quero fazer parte desse circo que ela está tentando armar – Harry disse entre dentes. Rony e Hermione pareciam em choque, de tão indignados que estavam.
- Você vai sim – Gina sussurrou em resposta. – Se você não for essa Jezebel vai achar que conseguiu nos abalar e... – a voz dela foi abafada pela de Cho.
- Vamos, Sr. Potter. Ou a sua namoradinha não pode soltar da sua mão um minuto sequer? – disse, olhando no fundo dos olhos de Gina.
Harry soltou a mão da namorada e trocou um olhar apoiador com a menina. Andou até o centro do tatame, parando exatamente na frente de Cho.
- Eu vou demonstrar, é claro, que sem machucá-lo – disse a palavra de forma provocativa, olhando Gina. – Tudo o que nós podemos fazer... – ela se demorou na frase. – Em uma situação de luta – completou calmamente.
Gina ficou escarlate e olhou aborrecida para Hermione. A amiga também já estava revoltada com aquilo.
- Eu vou mostrar um dos modos de se pegar e imobilizar o oponente – disse, segurando as vestes de Harry.
Com um movimento suave ela o derrubou no chão, caindo por cima dele. Harry bufou. Gina sentiu o café da manhã querendo voltar enquanto os alunos da Sonserina davam risadinhas.
- Machucou? – Cho perguntou, sorrindo maliciosamente para ele. Harry virou o rosto, repugnado, e encontrou o olhar penalizado de Rony.
- Não professora Chang – respondeu friamente, sem encará-la. Ela riu e se voltou para a turma.
- Uma vez no chão você pode imobilizar o adversário como quiser – disse, passando uma perna para cada lado de Harry, prendendo os braços dele. Ele não ofereceu nenhuma resistência. Parecia ausente ou atingido por um feitiço "desossador", de tão desanimado. - Você pode prendê-lo ou acabar come ele – continuou, soltando-o finalmente. Harry ficou de pé. - Obrigada Sr. Potter – disse, acompanhando-o com o olhar e vendo o exato momento em que ele passou o braço sobre os ombros de Gina. Apertou os olhos. - Agora eu quero demonstrar a utilidade prática de se dominar a técnica. Eu vou escolher alguém que possa me ajudar. Será bem mais interessante – ela girou o corpo pela sala.
Neville Longbottom se encolheu atrás de Simas. Ela olhou para todos e se voltou para o mesmo lugar.
- Srta. Weasley – disse secamente, olhando Gina com uma expressão divertida no rosto. Foi a vez de Harry se preocupar. – A Srta. pode vir até aqui e me ajudar nessa parte da aula? – Gina respirou fundo e andou calmamente até o meio do Salão. Estava disposta a tentar dar uma surra ao estilo Weasley na professora.
As duas ficaram de frente uma para a outra. Harry trocou um olhar preocupado com Rony, embora o amigo achasse que a irmã levava grande chance se fizesse com a professora o que fazia com ele e os gêmeos quando saíam no tapa. Elas se posicionaram e se curvaram, como era de praxe em qualquer luta ou duelo civilizado.
- Eu vou demonstrar um dos tipos de quedas – Cho disse para a turma mas estava olhando Gina, que não manifestou qualquer reação. Sequer piscou, apenas crispou os punhos. Ela viu um brilho cinzento ameaçador nos olhos de Draco, por cima dos ombros da professora. - Muito bem... Agora.
Gina se preparou para dar um soco nela mas a força com que investiu contra a professora, que apenas a segurou pelas vestes, fez com que ela voasse por cima de Cho e batesse violentamente no tatame. Harry fez menção de ir até ela mas Rony o segurou pelo ombro, imaginando que se estuporasse a professora de Artes Marciais perderia mais pontos para a Grifinória do que jamais poderiam recuperar.
- Agora. Eu poderia matá-la facilmente se quisesse – Cho disse novamente para a turma, sem desviar a atenção da adversária, colocando o antebraço sobre o pescoço da menina e comprimindo discretamente. Ela esperou que Gina fizesse uma careta e a soltou. – Mas esse não é o meu intuito hoje – acrescentou, liberando a oponente.
Gina voltou para o seu lugar com ódio brilhando nos olhos castanhos. Harry examinou o pescoço dela. Draco poderia explodir a cabeça de Cho com o olhar se isso fosse possível.
- Você está bem? – Harry perguntou baixinho. Ela sacudiu a cabeça afirmativamente. - Eu gostaria de partir a cara dela ao meio por isso – disse, irritado. Gina tentou sorrir.
- Somos dois. Mas ninguém poderia fazer isso aqui – respondeu, desanimada. enquanto Cho se voltava para a turma de novo.
- Alguém gostaria de tentar um desafio para finalizarmos a aula? – perguntou em tom superior.
Harry se sentiu tentado mas sabia que não teria nenhuma chance e ainda poderia piorar a situação. Cho já estava encerrando a aula quando um burburinho se formou. Ela se virou na direção da agitação e deu de cara com Draco Malfoy. Deu um sorrisinho surpreso e desdenhoso.
- Sr. Malfoy? – perguntou, irônica. Ele olhou sem emoção para ela.
- Eu pensei que o seu objetivo era arranjar um voluntário – ele disse, sério, e ela sorriu. Gina engoliu em seco.
- Ela vai destruir ele... – Harry disse em um tom dúbio, sem deixar transparecer se ficaria mais feliz se Draco derrotasse a professora ou se fosse derrotado por ela.
- E quem se importa? – Rony brincou mas foi repreendido por um cutucão de Hermione nas costelas. Sabia que Draco era amigo de Gina.
- Eu não sei por que mas não tenho tanta certeza disso, Harry – Gina disse, trocando um breve olhar com Draco. Pôde adivinhar ali, naqueles olhos cinzentos, uma imensa satisfação antecipada, e se sentiu quase vingada.
Cho se colocou à frente dele. A turma fez um silêncio retumbante enquanto os dois se cumprimentavam. Eles se puseram frente a frente, em posição de combate. Mas antes de começarem, Draco a interrompeu. A turma pareceu desapontada.
- Ele vai desistir? – Hermione perguntou curiosa.
- Creio que sim – disse Rony. – E nem podemos culpá-lo por isso – Cho pareceu ter a mesma opinião.
- O senhor mudou de idéia, Sr. Malfoy? – perguntou, sarcástica. Ele deu uma gargalhada.
- Não, professora – disse, debochado. – Eu só gostaria de saber se essa luta é mesmo para valer – ela sorriu.
- Bem, contanto que o senhor não esteja com medo – ele a cortou.
- "timo – os olhos dele faiscaram um azul profundo. – Era só o que eu queria saber – emendou, dando um olhar significativo a Gina. Ela retribuiu, sorrindo.
"Ele vai acabar com ela...", pensou, satisfeita. Cho e Draco voltaram rapidamente para a posição de antes e a luta começou.
Cho investiu contra ele mas Draco pareceu prever facilmente o movimento dela e reverteu o golpe contra ela mesma, usando a força da professora a seu favor. A turma parecia não acreditar.
- Eu não acredito! – Harry exclamou, sinceramente satisfeito. Mesmo tendo sido Draco a derrubar Cho Chang no chão estava particularmente feliz. Rony também estava impressionado.
- Será que foi sorte de principiante? – perguntou, admirado. Ninguém respondeu.
Cho, pelo visto, tinha novamente pensado a mesma coisa, e se voltou novamente contra Draco, dessa vez com toda a sua raiva. O sonserino a segurou pelo braço e a rodou, com facilidade, sobre o eixo desse. Ela pareceu uma boneca de trapos rodopiando no ar. Todos ouviram um estalo forte e um grito agudo. Tinha acabado de quebrar o braço da professora de Artes Marciais ao meio.
Cho se contorcia no chão, o braço completamente fora do lugar e quebrado em um ângulo estranho. Ele se esforçou para não dar uma gargalhada.
- Bem, antes de alguém chamar Madame Pomfrey eu gostaria de dizer – ele falava alto, abafando os gemidos da professora – que o movimento que eu fiz foi totalmente esportivo e esses incidentes, infelizmente – ele não conseguiu evitar sorrir nessa hora – acontecem – completou, satisfeito. – Aliás, isso é um tipo de contra-ataque mas eu chamaria de "botar para quebrar". E não é nada pessoal, Chang. Acredite. São águas passadas – piscou para Gina.
Harry se sentiu incomodado com o jeito que ele olhou para a namorada mas não conseguiu evitar o sorriso quando Gina disse um "bem feito" no ouvido dele. Lilá e Parvati saíram correndo e voltaram com a enfermeira da escola. Obviamente ficariam um bom tempo ser ter aulas de Artes Marciais. Draco havia inutilizado a professora.