Sinopse: Talvez se eu tivesse seguido aquele mapa à risca eu tivesse outro destino.
Gênero: Drama, romance.
Classificação: Livre.
Status: Shortfic – Finalizada.
Observações: Baseada na música Maps, do Maroon 5.
O jogo dos Dodgers contra os Lakers estava de 4x3, meus nervos estavam à flor da pele, apertava a cerveja em minhas mãos como se o resultado do jogo dependesse disso. ley) experimentava vestidos em nosso quarto enquanto cantava uma música, estava atrapalhando um pouco minha concentração, mas não pediria para que parasse, sua voz era linda!
Ela entrou saltitando na sala, vestia um vestido vermelho não muito longo, mas não muito curto com algumas franjas no final, era um tanto quanto estranho... Parou em frente a televisão e pôs as mãos na cintura, fazendo um biquinho e rindo em seguida. Tentei driblar sua presença e continuar a assistir o jogo em que, antes, depositava toda a minha atenção.
— Adam! Preste atenção em mim! – revirei meus olhos e lhe sorri, eu tinha uma namorada maravilhosa. Peguei o controle ao meu lado e desliguei a televisão, veria o resultado na internet outro dia...
— Em que posso ajudar? – tinha certeza que meus lábios estavam repuxados em um sorriso de canto e ela deu pulinhos e bateu palmas, correu para o quarto e voltou com dois cabides, ambos com vestidos de festa, um preto e um outro vermelho.
— Qual o melhor? – Pôs cada um na frente do corpo, fazendo uma pode em seguida. Ri de sua animação, era apenas uma festa... Que ocorreria em CINCO DIAS.
— O preto, ponha aquela jaqueta que lhe dei em seu aniversário, fica linda em você. – ela sorriu, jogando o vermelho longe e pondo o preto novamente na frente do corpo, dando uma volta em torno de si mesma em seguida.
— Agora o sapato. Este está bom? – pôs o pé direito sobre a mesa de centro, revelando um sneaker azul com detalhes muito extravagantes. Contorci o rosto em uma careta e ela riu. — Acho que não. – correu de volta para o quarto e voltou com um salto preto em um pé e uma sapatilha vermelha em outro.
— Qual dos dois? – apontei para a sapatilha e ela sorriu, tirou ambos os sapatos e pulou em cima de mim. — Obrigada. – segurei-a pela cintura e sorri, lhe beijando em seguida.
Ela apoiou a cabeça em meu ombro, pegou o controle e a cerveja de minhas mãos, deu um gole na bebida e ligou a TV.
— Quero assistir um bom romance, está passando Um Dia, Um Homem de Sorte e Um amor para recordar. – disse sorrindo para mim, e que sorriso lindo! Sorri de volta e beijei-lhe a testa.
— Um Dia, por favor. – pôs no canal e foi para a cozinha, voltando com uma grande travessa de pipocas, um pote de nutella com duas colheres dentro e duas garrafas de cerveja.
— Eu deveria estar decidindo com que maquiagem eu vou para o aniversário...
— Deveria relaxar, isso sim. A festa é no fim de semana, amor! Agora deite-se e vamos assistir o filme. – encheu uma das colheres com o doce e eu abri minha boca, mas quando achei que o doce e delicioso gosto do chocolate preencheria minha boca senti todo o creme em meu rosto. Ela começou a rir de minha provável expressão de descrença.
— Corre. – espremi os olhos e disse.
— O que? – perguntou parando de rir.
— Corre. – repeti e ela se levantou em um pulo, pondo-se a correr sendo seguida por mim e meu rosto repleto de nutella.
— Você corre como uma mulher, Adam! – disse enquanto ria e jogava almofadas na tentativa de me atingir.
— Você que corre como um quarterback! – ela riu, riu tanto que caiu, dando-me chances de pular em cima dela e prendê-la.
— VOCÊ É GORDO! SAI! – ley) começou a bater em meus braços e se remexer sob mim.
Levantei-me e puxei-a junto e A abraçando por trás voltamos juntos para o sofá.
— Sabe, eu amo isso, esses nossos momentos infantis... – eu disse aconchegando-a em meu peito.
— Eu também, a propósito, você ainda está sujo de chocolate. – riu tocando meu nariz e lambendo o dedo indicador sujo de doce. Tirei a nutella de meu rosto, espalhando pelo dela desde a testa até o queixo, ley) me encarou boquiaberta com uma falsa raiva estampada no rosto.
— Idiota. – começou a rir e a bater em meu braço enquanto eu tentava desviar e me proteger.
Entrei em casa depois do trabalho e vi ley) sentada no sofá segurando um pote de sorvete de chocolate enquanto assistia Sempre Ao Seu Lado. Caminhei até ela e beijei sua bochecha.
— Por que está assistindo um filme de drama, devorando um pote de sorvete e se acabando em lágrimas em plena quinta-feira? – perguntei me jogando ao seu lado no sofá e afrouxando a gravata.
— O mundo é um lugar horrível, Adam. Eu quero morrer. – deitou a cabeça em meu ombro e continuou chorando cada vez mais alto. Afaguei seus cabelos e suspirei enquanto ela soluçava.
Afastei-a um pouco e me levantei correndo para o escritório. Voltei para a sala com uma folha de papel branco e duas canetas. Sentei-me ao seu lado novamente e lhe entreguei uma das canetas. Ashley me encarou com curiosidade, mas pegou a caneta.
— O que significa isso? – disse parando de chorar e enxugando as lágrimas, dei de ombros e encarei-a.
— Tem razão, o mundo é um lugar horrível. Por que não desenhamos um mapa para um lugar melhor? – sorri para ela, adorávamos fazer essas brincadeiras.
— Okay, que tal nosso paraíso? – ela me encarava sorrindo e esperando uma resposta. Droga! Eu amo esse sorriso! Assenti e comecei a desenhar as linhas que levavam ao norte do mar, ao leste das estrelas e ao sul da lua. Coordenadas imaginárias que não levariam a lugar nenhum, mas ao nosso paraíso.
— Espera! Deixa eu fazer também! – ela disse rindo, posicionando a caneta no papel e continuando meu desenho estranho, terminando-o com um "X"
— Olha! Aqui no meio forma um coração! – apontei para a folha, mostrando-lhe o desenho.
— Verdade! Que lindo... Obrigada, Adam. – deitou a cabeça em meu peito e minutos depois estava dormindo. Não demorou muito para que eu fizesse o mesmo caminho.
Acordei com a forte luz do sol em meu rosto, minhas costas estavam me matando e as roupas desconfortáveis estavam incomodando. Peguei o telefone no bolso e vi as doze ligações perdidas de meu chefe. Eu estava ferrado... Fechei os olhos e cobri o rosto com as mãos.
— Droga. – suspirei e levantei, estralando minha coluna e indo procurar por Ashley no quarto. Para minha surpresa, porém, ela não estava lá e a cama estava impecavelmente feita. Se conheço Ashley bem ela teria deixado-a como se um furacão tivesse passado no quarto.
Fui até a sala novamente e percebi o bilhete sobre a mesa.
"Bom dia, amor. Bem, liguei para seu trabalho e avisei que não poderia ir hoje porque estava passando muito, muito mal então se seu chefe lhe ligar não ouse me desmentir! Outra coisa: que maneira melhor de começar uma sexta-feira que com um jogo bem legal? Então... Siga o mapa que leva a mim. XxAshley" no verso da folha um mapa caprichosamente desenhado do nosso bairro. Ri voltei para o quarto para mudar de roupa. Vesti uma calça jeans e uma camisa vermelha. Saí de casa segurando o mapa.
Segui todas as coordenadas a risca e aqui vim parar: no restaurante favorito dela. Soltei uma risada nasalada e entrei, procurando por ela. Ashley estava sentada em uma mesa no final do estabelecimento encarando a janela. Vestia um vestido amarelo leve e uma jaqueta jeans clara. Os cabelos presos no habitual rabo de cavalo a deixavam com uma aparência leve e descontraída, parecia uma criança.
Caminhei até ela pus as mãos sobre seus olhos, vendo-a sorrir.
— Você me achou.
— O mapa que leva até você.
— Vamos, Adam! Você demora mais que eu! – do quarto eu conseguia ouvi-la bater os pés no chão de madeira. Conseguia visualizá-la com as mãos na cintura e revirando os olhos, olhando vez por outra para o espelho e ajeitando a franja ou o rabo de cavalo alto.
— ! VAMOOOOS! – revirei os olhos e soltei uma risada nasalada. Levantei da cama preparado para parar de fingir que estava me arrumando como se fosse participar de photoshoot da vogue e desliguei a televisão, peguei o casaco no armário e saí rindo de sua cara.
— Não me diga que já estava pronto! – arregalou os olhos quando comecei a gargalhar e pôs as mãos na cintura. — Você já estava pronto! Adam! Devíamos estar lá há uma hora! Argh, vamos logo. – pegou a jaqueta e saiu batendo pé sem me esperar.
— Ashley! Volta aqui, vai ficar brava comigo por uma besteira dessas? – corri atrás dela e abracei-a por trás, começando a beijar-lhe o pescoço em seguida enquanto ela ria como uma bobona.
— Por que eu não consigo ficar brava com você, seu bobo? – bateu em meu ombro e entrou no carro. Andei até o outro lado e entrei, liguei o veículo e olhei para ela.
— Porque você me ama, bobona. – dei-lhe um selinho e recebi outro tapa.
— Bobo.
— Se continuar batendo em mim o bobo aqui chega na festa sem braço. – ela riu e revirou os olhos.
Já estávamos quase chegando e o silêncio estava me incomodando, liguei o rádio e fiquei mudando as estações enquanto ficávamos parados no sinal. Mudei todas as estações procurando por uma música boa, mas aparentemente nenhuma passava no momento.
— Odeio quando faz isso, já procurou por todas! Desligue, por favor. – gemeu encostando a testa na janela. Fiz o que ela pediu e voltei minha atenção para a rua. O sinal abriu e continuei meu caminho até a casa de Jeff.
Da esquina – onde estacionei o carro – conseguia ouvir a música eletrônica tocando na casa de meu melhor amigo, as luzes estavam todas acesas e era impossível ouvir até meus pensamentos. Segurei a mão de Ashley e caminhamos juntos até a porta, aonde fomos recebidos quase que automaticamente por Jeff.
— Olha quem deu o ar da graça! Entrem, entrem! – disse depois de nos cumprimentar com um abraço rápido e me entregar uma garrafa de cerveja. Ashley me puxou até a sala de estar, onde uma pista de dança improvisada funcionava. Puxei-a pela cintura e ela passou os braços pelo meu pescoço. Começamos a dançar até que sou puxado por meu grupo de amigos que logo ocupam minhas mãos com bebidas.
— Vem cá, Adam. Vamos aproveitar um pouco, cara. – Nick dizia me puxando. Parei e me encostei na soleira da porta.
— Vou ficar aqui um pouco, caras. Alcanço vocês daqui a pouco. – deram de ombros e foram em direção à cozinha. Olhei para frente e avistei Ashley dançando com algumas amigas e me encarando, sorri para ela admirando o corpo de minha namorada. Senti meu braço ser puxado e olhei para o lado avistando Jeff que começou a me empurrar.
— Qual é cara, eu posso andar sozinho, okay? – ele riu e deu três tapinhas nas minhas costas, me dando uma garrafa de whisky.
— Fala sério, você quer me embebedar!
— Quero mesmo. Isso é uma festa, você tem que aproveitar, não ficar olhando sua namorada aproveitar. Vem, a Monique tá louca pra te ver.
— Monique minha ex namorada? Não, obrigada.
— Sim, Monique, sua ex namorada gostosa que está louca pra te pegar hoje, vamos, beba mais alguns goles e vá até Monique. – revirei os olhos e comecei a conversar com alguns amigos que não via há tempos. O bom das festas de Jeff era isso: reuníamos os amigos, era uma das poucas ocasiões em que nos encontrávamos, já que todos moravam muito longe um do outro.
Olhei para o lado, procurando por Ashley e encontrei minha ex. Devo admitir que não era exatamente uma situação agradável, mas se ela não me visse eu não seria obrigado a falar com ela. Né? Né?! Virei de costas e saí andando, tentando fugir da cozinha... Mas é óbvio que Jeff não me deixaria ir sem trair minha namorada. Me empurrou para dentro novamente e me guiou até Monique.
— Adam! – gritou jogando os braços ao redor do meu pescoço. Usava um vestido preto curto e o cabelo preso em coque. Pegou um copo plástico e preencheu meu copo com alguma bebida.
Depois de algumas doses tinha certeza de que estava bêbado, but who cares? Monique pegou uma fatia de limão e pôs em minha boca; fiz uma careta devido ao gosto, causando risadas nos que estavam perto de nós. Mordeu o lábio inferior e puxou-me para um canto perto de dispensa, me prendendo contra a parede.
— Sabe... – começou a brincar com os dedos em minha blusa. — Eu esperei a noite toda pra ficar com você... A sós. – soltei uma risada nasalada e puxei-a pela cintura. Colei meus lábios nos dela. Seu beijo não era tão bom quanto eu me lembrava e eu não podia deixar de compará-lo ao de Ashley. Anyway, Monique era gostosa, no momento isso me servia.
— Adam?! – Ashley estava parada a poucos metros de distância me encarando decepcionada. Tirei minhas mãos da cintura de minha ex e tentei me aproximar de Ashley.
— Não encosta em mim. – disse levantando os braços e saindo correndo da casa.
— , ESPERA! – tentei correr atrás dela, mas fui barrado por alguns amigos que me puxaram de volta para a cozinha.
— Me deixem ir! Jeff, a culpa é sua! Se não tivesse me manipulado pra ficar com a Michele eu não tinha beijado ela, Ashley não teria visto e eu não estaria desesperado! Você vai resolver isso, seu merda! – eu tentava agarrar o cabelo de Jeff, mas três outras pessoas me seguravam.
— O nome dela é Monique, Adam...
— FODA-SE O NOME DESSA PIRANHA! EU QUERO A ! – empurrei-os e saí correndo. Espero que Ashley não faça nenhuma besteira...
Ashley's POV
Empurrei a porta verde musgo com força e desci os poucos degraus que me levavam até a calçada, minha vista está embaçada e tudo que consigo ver é a cena de Adam beijando uma qualquer. Eu queria batê-lo, queria me bater, queria bater em qualquer coisa. Perdi as contas de em quantas pessoas esbarrei até me dar conta de que acabaria causando um acidente. Parei na porta de uma casa qualquer e sentei nas escadas, limpei o rosto e respirei fundo. Não demorou muito para que as lágrimas voltassem a rolar e o rímel voltasse a manchar meu rosto. Vi o carro de Adam virando a esquina e voltei a correr, não queria vê-lo agora e se o fizesse provavelmente cometeria um homicídio. Algumas pessoas tentavam me parar e aquilo estava começando a me irritar muito. Um mendigo maltrapilho me parou para pedir dinheiro e, para mim, aquilo foi a gota d'água. Comecei a gritar com o homem e empurrá-lo para longe de mim, estava estressada demais para aguentar aquilo... Talvez se eu tivesse prestado mais atenção nos locais onde pisava e menos no velho que tentava me puxar de volta para a calçada tivesse visto a caminhonete vindo em minha direção buzinando e com o farol alto. Empurrei o velho um tanto mais forte e acabei parando no meio da pista movimentada. A dor que senti em seguida foi impossível de descrever, foi insuportável e...
Adam's POV
Aumentava a velocidade cada vez mais, não importava quem estava na minha frente ou quem queria me ultrapassar. No momento eu não pararia nem para Deus. Seguia em direção ao hospital mais próximo ao som das buzinas, reclamações e xingamentos soltos pelos motoristas, eu realmente não ligava. Queria ver Ashley, saber como estava, me desculpar, abraçá-la e levá-la de volta para casa. E eu iria conseguir.
Parei o carro de qualquer jeito na entrada do hospital e corri até a o balcão.
— Qual o andar de emergências, acidentes graves e afins? – a loira me apontou a tabela que indicava cada área e continuou a mascar o chiclete sem nem ao menos se importar com a maneira exasperada que corri em direção aos elevadores; acho que o tempo realmente não estava a meu favor, já que – em minha concepção – tudo estava mais lento para mim que para o resto do mundo. Entrei na cabine do elevador quando este finalmente chegou, encostei minha testa no painel de andares e fiquei apertando o botão do terceiro andar até que chegasse no mesmo. Corri até um segundo balcão onde algumas pessoas se aglomeravam e empurrei-as, abrindo espaço para que pudesse ver a assistente rechonchuda sentada de frente para um computador. Algumas das pessoas reclamaram, alegando que eu deveria esperar minha vez; revirei os olhos e me dirigi à mulher.
— Onde é a porra da emergência?! – a mulher tentava me acalmar e pediu para que uma segunda assistente me trouxesse um copo d'Água.
— Só me diz aonde é! ONDE É?! – FODA-SE TAMBÉM. Empurrei as pessoas novamente e desviei de médicos, enfermeiros, visitantes e pacientes até chegar em uma área cheia de macas, abri as cortinas procurando por minha namorada, atraindo olhares de enfermeiras que me advertiam a sair dali. Andei mais um pouco, abri mais algumas cortinas até encontrar uma sala onde vários médicos, cirurgiões, enfermeiros e até um ou dois policiais estavam e deduzi que aquele deveria ser o lugar que eu estava procurando, afastei dois homens que barravam minha visão e pude ver Ashley estirada na maca com o rosto quase deformado, ela sangrava muito e haviam vários hematomas em seu corpo. Os médicos tentavam – aparentemente – reanimá-la e a hipótese de que eu pudesse tê-la perdido para sempre me assustava. Estava atônito, não conseguia respirar, pensar ou andar. Acordei de meu transe com alguns homens me tirando do chão e me arrastando para fora da sala.
Estava sentado na sala de espera com o rosto entre as mãos, batia os pés incansavelmente. Eu estava destruído, aquilo havia acontecido por minha causa, só minha! Esperava ansiosamente algum médico sair por aquela porta e me dizer que Ashley estava bem.
— Droga, droga, droga, droga, droga... – dizia repetidas vezes, não que melhorasse ou mudasse alguma coisa, mas... Sei lá, na minha cabeça melhorava.
Um homem de cabelos brancos, beirando os 60 anos, com olhos cansados passou pela porta e caminhou até mim. Abaixou-se para ficar cara a cara comigo, respirou fundo e abaixou a cabeça.
— Olha rapaz, eu vi o quanto você ama essa moça no momento em que você entrou desesperado na sala de cirurgia, um local proibido, por falar nisso, e vi também que você realmente se importa. Não estaria aqui esse tempo todo caso contrário e eu sinto muito, muito mesmo. Nós fizemos tudo o que podíamos, mas infelizmente não foi o suficiente. Eu sinto muito, rapaz. Volte para casa e durma, foi uma noite desgastante para você. Por favor, volte para casa e durma, filho. – as lágrimas desciam pelo meu rosto e estabeleciam uma marca em minha camisa. O velho levantou-se e suspirou, bateu em meu ombro e saiu andando.
Saí do carro e segui meus pais até o aglomerado de pessoas vestidas – assim como eu – de preto. Alguns tinham o rosto inchado de tanto chorar, outros apenas olhavam para o chão. Haviam outros que sorriam fracamente olhando o caixão, talvez tento alguma lembrança boa que envolvia minha amada. Sua mãe estava apoiada no ombro do pai dela, chorando alto e segurando um lenço branco, o homem tinha os olhos vermelhos, porém não derramava uma lágrima sequer. Sabia que tinha que se manter forte por si mesmo e pela esposa. Eu fazia parte de um grupo não tão pequeno de pessoas que olhavam para baixo e choravam baixo para que ninguém notasse as lágrimas. Segurava um buquê de tulipas brancas, as flores que lhe dei em nosso primeiro encontro e tirei de dentro de meu bolso o pingente que havia lhe dado em seu último aniversário; pus dento de uma das flores e deitei o arranjo sobre ela, pondo suas mãos ao redor das mesmas.
— Adeus, meu amor. Eu te amo muito. Sempre vou amar. Você vai ser, pra sempre, minha eterna princesa.
Faziam dois meses. Eu, sinceramente, não conseguia e não queria continuar resistindo. Queria acabar com aquilo de uma vez! Todas as noites, durante esses dois meses, tenho o mesmo pesadelo: o carro está perto dela e eu grito para que o motorista pare, mas ele acelera, acelera e acelera ainda mais. Ela está atravessando a rua, não presta atenção por onde anda e o carro bate nela com força; corro até o local e olho pela janela do carro, não há ninguém, viro para Ashley, mas vejo a direção, o vidro quebrado, minhas mãos cheias de sangue dela e minha namorada jogada no para brisa. Eu era seu assassino.
Balancei a cabeça, não queria me lembrar. Olhei para o espelho em frete a cama, eu havia perdido cerca de dez quilos desde a perda, não sentia fome, não sentia nada, só dor e saudade, eu a quero de volta. Eu preciso tê-la de volta! Olhei para minhas mãos, os nós dos dedos estavam feridos e as portas de madeira estavam fundas devido aos socos que eu dava. Dirigi meu olhar ao banheiro e lembrei de um vidro de remédios para dormir que guardava ali, talvez esta noite os pesadelos não me atormentassem se os tomasse. Levantei e caminhei até lá, abri o armário, peguei dois comprimidos e, quase os colocando na boca, uma ideia me veio à cabeça. Tirei mais nove ou dez comprimidos e coloquei todos na boca, abri a torneira e coloquei um pouco de água na boa para ajudar a engolir. Caminhei, já começando a ficar tonto e ter a vista embaçada, até a cama e deitei-me abraçando o travesseiro de Ashley e fechando os olhos em seguida.
O barulho de máquinas hospitalares, burburinhos e passos foi a trilha sonora do momento em que acordei percebendo que tive minha tentativa frustrada. Gemi e algumas enfermeiras viraram-se para mim.
— Chame o Dr. Fills. – a ruiva sussurrou. A morena baixinha e rechonchuda assentiu e saiu da sala, voltando segundos depois com o mesmo médico de cabelos brancos e olhos cansados que me deu a notícia da morte de Ashley. Lamentei mais uma vez pela tentativa frustrada quando o homem sorriu fraco para mim.
— Eu esperava que não tentasse fazer isso, rapaz...
Meus pais estavam sentados nos bancos da frente e eu estava no banco de trás com a cabeça encostada na janela do carro. Me sentia uma criança birrenta, mas quem gostaria de ser forçado a ir para uma reabilitação depois de tentar suicídio? Eu não.
O lugar era bonito e espaçoso, mas eu continuava a me sentir uma adolescente depressiva por estar ali. Peguei minhas malas e segui a enfermeira até meu quarto. Depois que ela saiu tirei minha camisa e deitei-me na cama confortável perto da janela. Tirei um livro de dentro da mala e comecei a ler. O tempo iria demorar a passar até minha primeira consulta com um psicólogo ou encontro em grupo.
Cinco anos depois eu estava no aeroporto, me preparando para ir morar em Paris. A oferta de emprego era irrecusável e uma mudança de ares nunca era demais. Entrei no avião e dormi.
A aeromoça tocou meu ombro e me acordou quando a viagem chegou ao fim. Desci do avião e esperei minhas malas na esteira. Chamei um táxi e fui até meu novo apartamento. A vista era linda, podia ver a cidade inteira de onde estava, o vento frio fazia com que meu corpo todo se arrepiasse e me trazia uma gotosa sensação de conforto e segurança. Sorri e suspirei, falaria com meu novo chefe no dia seguinte. Desfiz as malas e guardei tudo em seu devido lugar, me joguei na cama.
— Au revoir ancienne vie. Bienvenue à Paris.
Estava quase atrasado, corria pelas ruas a fim de chegar a tempo no trabalho, deveria haver seis pastas repletas de relatórios debaixo de meus braços e eu mal podia esperar para jogar tudo sobre minha mesa e me jogar em minha cadeira. Mas claro, o tempo tinha que brincar comigo e alguém precisava esbarrar em mim com um copo de café quente! Era uma moça muito bonita, devo admitir, cabelos negros, longos e ondulados, olhos azuis, uma pele pálida típica européia e um sorriso fofo, lembrava bastante Ashley, mesmo sendo completamente diferente. Nos abaixamos para juntar minhas pastas e nossas testas bateram uma na outra. Seria mais clichê se fossem livros de romance trocados. Sorrimos um para o outro e me levantei, ajudando-a em seguida.
— Desculpe. Estou apressada e acabei não lhe vendo. – deu de ombros e pôs uma mecha do cabelo atrás da orelha. Sorri de lado e lhe estendi a mão.
— Sem problemas, me chamo Adam. E você é...?
— Aimêe. – disse sorrindo e apertamos as mãos.
— Então, Aimêe, por que não saímos para um café qualquer dia desses? – ela sorriu e concordou. Acho que cinco anos é um bom período de tempo para recomeçar, com certeza nunca esquecerei Ashley, nunca esquecerei o quanto a amei e nunca vou deixar de amá-la. Mas talvez eu precise achar um outro mapa que leve a um outro alguém.
FIM.
Nota da Autora: Então gente, muito obrigada por lerem a short, espero que tenha gostado :D