07:42 PM
Não me consigo lembrar da última vez que saí com os meus amigos e me diverti tanto. O Benjamin é completamente adorável e educado. Falámos sobre o casamento da Emma e do Dean e o Benjamin falou sobre o que esteve a fazer no último ano. Ele tem viajado por todo o mundo e conhecido pessoas e sítios incríveis. O Jace deixou-nos mais cedo porque tinha um encontro, mas o Dean, a Emma, o Benjamin e eu ficámos por aqui.
Enquanto a Emma e o Dean falavam sobre algo que não captei, o Benjamin estava a contar-me sobre a India e as lindas paisagens e monumentos.
- É um local lindíssimo. Tenho a certeza de que ias adorar.
- Parece incrível. – Sorrio. Devo dizer que ele é sexy e meio fofo. O Benjamin tem cabelo loiro, olhos azuis e lábios cheios, é lindo como o inferno e muito inteligente. Ele é um rapaz de sonho.
- Estás ainda mais linda desde a última vez que te vi. – Coro.
- Obrigada. Tu também estás bem.
- Devo dizer que o cabelo curto te fica muito bem.
- Gostas? Fi-lo hoje.
- Fica-te maravilhosamente bem, pareces uma badass.
Ambos rimos, mas Benjamin fica serio ao olhar para trás de mim.
- O que foi? – Pergunto.
- Não queria dizer isto porque posso estar errado; mas está ali um tipo, na outra mesa, que não parou de olhar para ti desde que te sentaste.
- Quem é?
- Não sei, mas ele não parece muito feliz.
Viro-me diretamente para trás par ver quem ele é. Suspiro zangada e ajeito o cabelo quando vejo Harry a observar-me. Ele está com outra mulher, ela é ruiva, tem um vestido vermelho brilhante e está basicamente no seu colo.
- Quem é ele? – Benjamin pergunta ao ver a minha reação.
- Não sei. – Bebo o resto do meu vinho e levanto-me segurando a minha mala. – Com licença, mas vou à casa de banho.
Enquanto caminho para a casa de banho, sinto os olhos do Harry a queimarem a minha pele. Entro na casa de banho das mulheres e tiro o batom de dentro da mala. Faço a cor vermelha deslizar pelos meus lábios colorindo-os. Eu não pareço eu, pareço uma mulher, uma verdadeira mulher adulta. Oiço a porta abrir-se mas continuo a retocar a maquilhagem.
O corpo do Harry está encostado à parede atrás de mim, por isso vejo-o através do espelho.
- Não podes estar aqui. – Digo secamente.
- Mas estou.
- Não devias. – Começo a arrumar as minhas coisas na mala novamente.
- Quem é ele? – Pergunta com os braços cruzados.
- Um amigo.
- Também sou teu amigo e não és toda risinhos e sorrisos quando estás comigo.
Viro-me olhando para ele.
- Não és meu amigo.
- Então sou teu namorado? – Pergunta a sorrir de forma idiota.
- Eu não te conheço.
- Oh, não conheces? Tens a certeza? – Não respondo. – Bem, então deixa-me apresentar-me: Sou o Harry Styles, tenho 28 anos, tirei a tua virgindade na noite passada e fodi-te esta manhã. Prazer. – Ele eleva a sua mão para mim e sinto os meus olhos arderem.
- Como podes fazer-me isto? – Murmuro. – Estiveste comigo ontem à noite e esta manhã, e agora já estás com uma outra oferecida.
- Ciumenta?
- Magoada.
- Estás bonita com o teu novo corte de cabelo. E esse vestido fica-te a matar. Arranjaste-te assim para ele?
- Para Harry! Ele é meu amigo! Não o vejo há anos e sim, eu gosto dele, é simpático, querido e inteligente.
- Por favor, ele parece um galã.
- Ao menos não me deixa sozinha na manhã seguinte após ir para a cama comigo. Ele não partiu o meu coração.
- Oh bebé! – Harry aproxima-se e toca no meu cabelo suavemente. – Eu parti o teu coração? Não queria fazê-lo.
- Fode-te Harry! – Grito tirando as suas mãos de mim. Ele sorri um pouco. – Como podes ser o mesmo homem que, ontem à noite, estava a cuidar de mim como se fosse uma preciosa boneca de porcelana? És simplesmente um bastardo!
- Mas tu gostas. – Diz. – Anda, vamos para minha casa. Desta vez não vai doer tanto.
A minha mão voa para a sua cara, forte e dura. Ele mostra-se chocado após o atingir.
- Não Harry. Não vou para casa contigo. – Digo sorrindo ironicamente, sei que ele bebeu um pouco demais. – Leva a tua estúpida ruiva e fode-a quando quiseres. Eu estou saturada desta merda.
Deixo a casa de banho e o Harry segue-me, ele chama-me mas ignoro. Vejo o restaurante inteiro olhar para nós, por isso sorrio e caminho confiante até à minha mesa, onde o Benjamin me olha confuso. Quando passo pela ruiva, sorrio cinicamente, e ela rola os olhos. Oiço o Harry chamar-me novamente, ele não parece chateado com o restaurante o estar a ouvir.
Quando chego à mesa, vou até ao lado do Benjamin, dobro-me e seguro a sua cara com a minha mão, beijo os seus lábios devagar e depois sorrio-lhe.
- Vou-me embora. – Digo depois de deixar dinheiro em cima da mesa. Emma olha para mim em desaprovação, mas continuo a sorrir.
- Ligo-te amanhã então para almoçarmos? – Benjamin pergunta.
- Sim, claro. – Sorrio.
Antes que possa sair do restaurante, olho para trás vendo Harry vermelho de raiva. A ruiva persiste em estar no seu colo tentando desesperadamente captar a sua atenção, mas Harry ignora-a focando-se na mesa onde estão os meus amigos. Quando os seus olhos encontram os meus, ficam tão escuros que sinto o seu olhar sombrio a penetrar-me duramente. Um arrepio percorre o meu corpo quando vejo a sua mandibula a ficar tensa. Ele está furioso.
Deixo o restaurante com alguma pressa, a rua está pouco movimentada, por isso apresso-me a chamar um táxi. Olho para dentro do restaurante novamente e, através dos vidros, vejo Harry a levantar-se e a deixar a mulher para trás enquanto realiza uma chamada. Com algum receio, começo a caminhar apressadamente pela rua acima tentando chamar um dos táxis que passam a grande velocidade sem sequer me notarem.
Vejo a porta do restaurante ser aberta e o corpo grande do Harry a sair de lá, tenso. Ele procura algo com o olhar e quando me encontra praticamente corre na minha direção, por isso também eu começo a correr, o que é uma tarefa difícil quando se está usar uns saltos altos de dez centímetros. Paro por segundos para tirar os sapatos e continuo a correr o mais rápido que consigo sem cair e esforçando-me para me mexer dentro do vestido apertado e desconfortável.
- Violett! – Ele chama e olho para trás vendo-o parado com um ar derrotado. Apesar de detestar desporto, sempre tive uma queda para a corrida.
- Não! Deixa-me em paz, Harry! – Digo de volta.
- Violett, para. – Conversa seguindo-me.
- Nem pensar. – Paro de correr e caminho aceleradamente, atravesso a estrada e entro para dentro de um jardim que não conheço, mas me parece uma boa opção. Preciso de o atravessar para chegar à praça de táxis do outro lado.
- Só quero conversar.
- Não temos nada para conversar.
- Tu podes nem falar, mas eu quero dizer-te algumas coisas.
- Não me podes obrigar.
- Por favor.
- Ainda não percebeste que eu não quero falar contigo! Vai-te embora com o teu ego gigante e álcool a mais e deixa-me em paz!
- Eu engoli o orgulho quando te comecei a seguir. Eu não bebi muito.
- Hum, não me parece! – Murmuro seca ouvindo os seus passos atrás de mim. Felizmente o jardim tem placas que tento seguir, não há ninguém no mesmo.
- Violett, querida, por favor. – Tremo com o nome carinhoso. – Só quero que me oiças por cinco minutos, é tudo o que te peço.
- Para quê, Harry? Para me encheres a cabeça de mentiras e me dares falsas esperanças? Não, obrigada!
- Eu gosto muito de ti. Tu és dura, és diferente. – Forço-me ignorar as palavras dele e começo a sentir os olhos a arder com lágrimas, mesmo depois de ter jurado a mim mesma que não iria chorar novamente por sua causa. Sou uma fraude.
- Harry, para... – Murmuro.
- É verdade! Tu és bonita e inteligente. Afrontas-me e lutas pelo que queres, e isso é de valor. – Felizmente alcanço o fim do jardim e felizmente está um táxi parado em frente à saída do mesmo. Abro a porta do mesmo e cumprimento o taxista que logo se põe apostos para partir. Os meus pés estão doridos e magoados.
- Os homens dizem sempre isso e olha para mim, continuo sozinha. – Admito olhando-o.
- Vá lá, não chores! – Diz e aproxima-se.
- Não! Fica longe de mim. – Digo. – Não quero estar contigo. Quero viver normalmente, sem ti.
- Violett, eu amo-te. – Solto uma gargalhada irónica.
- Boa técnica de engate, Harry, mas comigo não vai funcionar.
- A sério, eu amo-te mesmo.
- Tu sabes lá o que dizes. – Preparo-me para entrar no táxi. – Tu não és capaz de amar ninguém porque estás tão focado no teu mundo e na tua vida que não olhas duas vezes para a cara das pessoas com quem falas.
- Violett! – Chama quando entro no carro e fecho a porta. – Abre a porta! – Bate no vidro.
- Por favor arranque! – Peço lavada em lágrimas continuando a ouvir as batidas no vidro. – Agora!
Afastamo-nos e indico a morada antes de me afogar nas minhas lágrimas estúpidas e sem motivo. Ele é tão insensível e idiota no que toca aos meus sentimentos.
Chegando a casa, pago o táxi, mas o simpático senhor não me deixa ir embora sem antes saber se estou bem e se preciso de ajuda. Recuso delicadamente e caminho para minha casa. Deixo os meus pés magoados e sujos subirem as escadas frias e limpas do prédio. Caminho lentamente para o meu apartamento, melancólica, magoada, chateada e triste. Passo por um espelho no corredor vendo a minha imagem mal tratada.
O meu cabelo está despenteado, o vestido outrora novo, está amarrotado e um pouco sujo. A maquilhagem escorre-me pela face dando-me um aspeto descuidado. Os meus pés estão imundos e aposto que pareço miserável, mesmo que há poucas horas me sentisse no topo do mundo. A culpa é dele. É ele quem me deixa assim, confusa, mal tratada e insegura. Não sei como agir quando ele fala comigo, como reagir e o que pensar. Estou tão perdida!
Ao entrar em casa, deixo todas as minhas coisas caírem à porta e rastejo até ao sofá, para onde me atiro exausta. Será que a minha vida não vai nunca dar certo?
- Que mal fiz eu a Deus! – Resmungo sozinha.
Arrasto-me até à casa de banho onde tomo um longo e quente duche que me acalma e deixa sonolenta. Visto uns calções e uma grande blusa de lã da cor do algodão-doce e seco o cabelo que deixa de ficar com o aspeto bonito que tinha quando sai do cabeleireiro e fica mais normal e casual. Eu gosto assim. Caminho pela casa bocejando constantemente. Nem é muito tarde, é quase uma da manhã.
Há minutos atrás, Emma enviou-me uma mensagem dizendo que ia dormir a casa de Dean e que não esperasse por ela para almoçar amanhã. Ligo a TV num volume baixo e vou até à cozinha buscar um chá quente, mesmo que não esteja tanto frio assim em casa. Sento-me no sofá enrolada numa manta de pelo que a minha mãe me ofereceu quando me mudei e faço zapping pelos canais que não passam nada que me agrade. A minha mente divaga para longe, penso em como estou ansiosa para ir até à cidade dos meus pais e que isso me irá fazer bem, para além de que tenho imensas saudades porque não passei nem o Natal, nem o ano novo com eles. Fui obrigada a ficar cá porque não tive férias e não compensaria lá ir apenas um dia. Fiquei com a Emma e acabámos por nos juntar à família do Dean, que foram incrivelmente simpáticos. Na passagem de ano, fui com ela e o Dean até à Times Square, onde acabei por me perder deles e passar o ano sozinha. Quando os voltei a encontrar horas depois, ficámos a conversar e a beber com amigos e conhecidos. Foi divertido e diferente de todos os outros anos, que sempre celebrei com os meus pais.
As minhas memórias são interrompidas quando oiço a campainha. Franzo a testa com um ar interrogativo. Quem será a esta hora? Antes de abrir a porta, vou até à janela e espreito para baixo tentando investigar se há algum carro parado à porta do prédio, mas não há. Não oiço qualquer barulho do outro lado da porta, por isso volto a sentar-me no sofá um pouco receosa. Segundos depois a campainha volta a soar, levanto-me e seguro numa estatueta que está em cima de um móvel, caminho devagar e em silêncio até à porta, continuo sem ouvir nada. Abro a porta cautelosamente e espreito mas não vejo nada. Preparo-me para a fechar quando oiço o meu nome.