Acordei com uma leve sensação de que tudo a minha volta estava girando.
Abri os olhos e a primeira coisa que vi foi a grade da cama de cima do beliche. Olhei em volta e percebi que estava de volta ao meu quarto do orfanato.
"Como... Como eu vim parar aqui?"
"Bom dia senhorita Banner! Dormiu bem?"
"Eu... Quem está aí?" puxei meu cobertor e fiquei olhando em volta, mas não havia ninguém no quarto.
"Oh, me desculpe. Eu sou S.I.A., Sistema de Inteligência Artificial. Estarei sempre aqui para auxiliá-la. Não somente em seu quarto, mas em toda a base."
"Base? Por acaso eu vou jogar em algum time?"
"Tecnicamente não senhorita Banner."
"Então... O que... Como... Como eu vim parar aqui?"
"Desculpe senhorita Banner, mas não tenho a devida autorização para responder quaisquer perguntas que possam comprometer seu desempenho futuro."
O quê? Não, isso só pode ser o Clóvis de brincadeira comigo.
"Por acaso isso é alguma pegadinha? Tá com cara de pegadinha..."
"Negativo."
"Clóvis, já pode sair do armário." levantei, fui até o armário que costumamos usar, e abri as portas.
Vazio. Ocupado apenas por nossas roupas.
"Mas... O que tá acontecendo aqui? SIA, você ainda está aí?"
"Sim, senhorita Banner?"
"Onde está meu irmão? O que tá acontecendo?"
"Temo que seu irmão esteja... Passando por dificuldades neste momento." SIA responde.
"Dificuldades? Como assim? Por que você não responde minhas perguntas diretamente?"
Ouço um grito de raiva ao longe, e reconheço o tom de voz.
"Clóvis!"
Corro até a porta e tento abri-la. Está trancada.
"Abram essa porta!" começo a esmurrar a madeira sem parar. "Abram essa porta! Por favor! Eu preciso sair!"
Nada.
Volto a me sentar na cama e deixo as lágrimas descerem.
"Clóvis..." digo entre soluços.
Ouço a porta ser destrancada e me levanto. Quando ela se abre totalmente, revela nada mais ninguém menos que...
"Diretor? O que faz aqui? Cadê meu irmão? O que você fez com ele?"
"Acalme-se senhorita Banner. Seu irmão está bem."
"Eu o ouvi gritar. Ele não está bem. O que você fez com ele?"
"Seu irmão está bem."
"Prove." cruzei os braços e fiquei encarando-o.
Ele enfiou a mão para dentro do terno escuro que sempre usava e retirou um celular. Clicou algumas vezes, então o estendeu para mim.
Peguei o aparelho e encarei a tela. Estava um pouco escuro, mas havia luz o suficiente para eu identificar o corpo trêmulo que estava deitado na maca.
"Ah meu irmão..." meus olhos lacrimejaram novamente.
Devolvi o aparelho para o diretor.
"Viu? Ele está bem, só está dormindo um pouco." ele me responde guardando o aparelho no bolso interno de onde o havia tirado.
"Mas então porque ele não está dormindo aqui no quarto?"
"Porque ele está sedado."
"Sedado?" O diretor afirma com um aceno de cabeça. "Mas... Mas por quê? O que raios está acontecendo com ele?"
Ele para por um instante. Levanta o dedo como quem pede permissão para falar e se vira.
"Venha comigo senhorita Banner. Precisamos conversar um pouco."
E não me resta escolha a não ser segui-lo.