Intermédio

By TabataEcclissi

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Samira é uma guardiã da vida, um dos muitos povos que habitam o mundo místico. Como braço direito da guardiã... More

Prólogo
1 - A Batalha Em Troca Do Conhecimento
2 - O Sonho
3 - Reencontro
4 - Descuido
5 - Inimigos e Aliados
6 - Melhores Momentos
7 - A Família Errada
8 - Ameaça Constante
10 - Derrota
11 - Tortura Mutua
12 - A Espera
13 - Descoberta
14 - O Verdadeiro Início
15 - Guerra
16 - Sacrifício
17 - Dor... Raiva... Novo Caminho
18 - A Nova Guardiã Suprema
19 - O Anjo da Guarda
20 - Intermédio

9 - Mensagem

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By TabataEcclissi

- Ela poderia estar falando de outra pessoa. Não temos certeza se era mesmo você.

Amber parecia mais tentar convencer a si mesma do que a mim, enquanto caminhávamos para longe daquela janela o mais rápido que meus ferimentos recentes permitiam. Fizemos o caminho de volta por entre as arvores.

- Quem mais poderia ser? Você? Todos a veneram, a julgam como a guardiã perfeita. Seu rosto carrega toda sua bondade e ingenuidade. Ninguém jamais teria coragem de fazer algo parecido com o que estou fazendo aqui neste reino, muito menos achariam que você seria capaz.

- Bondade e ingenuidade? É isso que você pensa de mim? – ela soa ofendida e isso me faz rolar os olhos.

- É isso que todos pensam de você.

- Você não é todo mundo.

- Não estou entendendo! Está ofendida por sua bondade?

- Bondade E ingenuidade. Isso é sinal de fraqueza.

Ela se afasta pisando duro e eu me apoio em um amontoado de pedras próximas, cobertas por um musgo.

- Você me acha fraca – Am se volta para mim acusatória.

- Eu não disse isso – bufo demonstrando minha impaciência – Você é muito mais forte do que eu, quando éramos crianças jamais venci nenhum de nossos duelos, nem mesmo agora que aprendi a controlar melhor minha mente, sei que não posso me igualar.

- Sabe o que eu quis dizer. Fraqueza não é somente física. De que maneira você não me acha capaz?

Suspiro longamente, sentindo uma pontada de dor na costela, antes de olha-la e responder:

- Você não é fraca, apenas... submete-se demais a tudo e a todos, até mesmo em seus pensamentos. Mais isso não é diferente de qualquer outro guardião.

Sustentamos o olhar uma da outra em silêncio.

- Mas é o que nos ensinam a fazer. Todos os guardiões são assim.

- Exatamente! É por isso que todos a adoram... ou fingem adorar, de qualquer maneira. Você é linda, forte e obediente como nosso pai. É um exemplo a ser seguido por qualquer jovem guardião que almeja chegar à sua posição um dia.

- Samira você também era assim até pouco tempo atrás – ela cruza os braços parecendo emburrada – Quebrava uma regra ou outra em benefício próprio e estava sempre descontente com alguma coisa, mas sempre fez tanto quanto eu.

- Eu sei, mas isso poderia ter acontecido com você muito antes de ter acontecido comigo.

Ela me olha transtornada. Eu continuo:

- Sei que você não era indiferente a Isaac.

- Isso não tem absolutamente nenhuma ligação com o assunto.

- Tem toda ligação do universo. Eu sofri essa mudança que você tanto fala e em tão pouco tempo por que conheci Eliot. Embora sinta que tudo sempre esteve dentro de mim de alguma forma, foi ele que despertou esse desejo de mudança – eu falava com certa ironia e acusação na voz – Obviamente estou com medo, mas não deixarei de vê-lo nem ficarei parada. Isaac poderia ter sido isso para você, se não tivesse sido...

Me interrompo ao perceber que havia ido longe demais. Minha irmã empina o queixo.

- Se eu não tivesse sido covarde? Você gosta de julgar o que as pessoas sentem com base no que você sente, mas não é assim que as coisas funcionam. Nem todo mundo tem que se sentir da mesma forma que você sobre tudo.

- E quando finalmente percebeu isso? Porque de acordo com todos neste reino nós devemos sim sentir o mesmo. Um sentimento belo chamado nada. Somos como as espadas que empunhamos, só nos movemos e fazemos o que nos mandam.

Amber passou a caminhar lentamente de um lado para o outro, procurando se acalmar.

- Não acredito que você realmente me acha fraca.

- Você irá superar. Sempre lhe disse tudo que penso e essa não é a primeira vez que você não aprecia minha opinião ao seu respeito. Você fica brava, magoada, pensa, reconsidera e tudo volta a ficar bem por que nós somos irmãs e é isso que fazemos. – não obtenho resposta por um minuto ou dois, então volto a falar – Na verdade não sei por que esse desvio de assunto repentino sobre o que penso ou deixo de pensar. Neste exato momento Isis deve ter mandado alguém seguir meus passos, ou ela mesma está atrás de mim, não poderei ver Eliot neste estado físico e será muito arriscado.

- Não acredito que ainda está pensando neste servidor. Samira isso tem que acabar agora.

- Achei que tivesse deixado claro quando lhe contei tudo. Com ou sem sua ajuda, não vou deixar de vê-lo.

- VOCÊ ESTÁ FORA DE SI – ela explode, espantando alguns pássaros do topo de alguma arvore.

Faço um movimento rápido para silencia-la e a dor novamente me atinge. Eu precisava me medicar logo.

- Sei que irá ponderar muito ainda sobre esse assunto e essa não é a hora de falarmos sobre isso. Só tem que decidir agora se continuará a me ajudar ou não.

Fico parada em frente a ela ainda com a mão em minha costela, olhando em seus olhos e tentando não parecer tão suplicante, mas sentindo que estava falhando nessa parte.

- Você é a guardiã da vida mais egoísta que eu já conheci – ela se da por vencida, soltando os braços ao longo do corpo.

- Amber você terá que vê-lo e entregar meu recado.

Minha irmã arregalou os olhos e ficou pálida.

- Ficou louca de vez? Eu não posso me encontrar com esse servidor.

- É o único jeito, ele precisa saber o que está acontecendo. E também não quero que se preocupe quando eu não aparecer, preciso me recuperar.

- Não posso fazer isso – ela volta a se mover sem ir a lugar algum ou prestar atenção em nada – Isis vai saber, ela já sabe.

- Ninguém nunca desconfiaria de você. Prometo que penso em tudo, você só terá que falar com Eliot.

- Não! Não vou me submeter a isso – ela aponta o dedo para mim – Queria ver minha coragem, então aqui está ela.

Começo a ficar impaciente e um tanto quanto irritada.

- Então terei que ir nessas condições mesmo. Você ainda me da cobertura? – Cruzo os braços sobre o peito.

- Não pode estar falando sério...

- Sim, estou louca. Ainda me da cobertura? – insisto.

- Samira...

- Amber...?

O silêncio mais uma vez se instala enquanto nós esperamos para constatar qual de nós duas cederia primeiro. Num gesto de frustração ela abana as mãos para o alto.

- Pelos espíritos! Você acabará matando nós duas. – suspira – Eu vou. Nunca a deixaria ir neste estado, e já que nada a faz mudar de ideia, eu irei.

Sorrio abaixando os olhos para o chão, me sentando com minha irmã numa pedra grande.

- Se serve de conforto, você é um ser muito melhor do que eu jamais poderia ser. Sempre tive consciência disso. Você escuta a mim e a todos, considera tudo, absorve o que te ajuda a melhorar e nunca faz isso pensando somente em você. Enquanto eu não mudo de ideia até que algo errado aconteça.

- Então você admite que é errado...

- Está vendo? Por isso eu não gosto de ser sentimental com você.

Rimos e ela me empurra levemente com o ombro. Permanecemos assim por um instante, fitando nossos próprios pés e perdidas em nossas próprias escolhas, consequências e riscos.

Um vento rápido e gélido corta o ar de repente, fazendo com que eu me encolha e erga os olhos para o céu. Sinto um movimento pelas minhas costas de alguém próximo, mas nada me faz virar a cabeça para saber do que se trata. Fico imóvel com os olhos fixos no vazio quando uma mão fria e invisível toca meu ombro. O vento sopra uma vez mais e afasta meu cabelo, um arrepio percorre toda minha espinha até a nuca, gelando meus ossos. Um silvo faz-se presente ao pé do meu ouvido. Baixo e sem sentido no inicio, porém, forte e como um sussurro no minuto seguinte.

Sangue... escolha... sacrifício

O sussurro forte era repetido como um mantra, penetrando minha mente e me assombrando pelo o que me pareceu longos minutos que nunca chagariam ao fim. A essa altura meus cabelos também estavam arrepiados, o gelo tomando conta de meu corpo. Contudo no instante seguinte, tão de repente como começou, a mão em meu ombro formada por uma espécie de névoa densa se esconde entre as arvores e as palavras se perdem no ar.

Pisco os olhos lentamente, sentindo que acabo de acordar de um transe. Me dou conta de que prendi minhas mãos em meus joelhos com força, fazendo os nós de meus dedos ficarem brancos. Procuro por todos os lados pela névoa acusatória e vejo pela primeira vez onde estávamos: as ruínas dos anciãos.

- Você ouviu isso? Sentiu Am? – pergunto rapidamente.

- Ouvi – responde baixo – o que quer dizer? Dor... raiva... novo caminho. Foi como um feitiço desconexo penetrando minha mente.

Olho para ela sem entender.

- O que disse?

- Dor, raiva, novo caminho. Foi o que a névoa disse. O que você ouviu?

- O mesmo – esfrego meus braços tentando afastar o arrepio – Só fiquei um pouco... confusa.

Amber levantou-se e me ajudou, dando-me apoio para andarmos depressa. Estava tão assombrada quanto eu.

- Melhor nos afastarmos daqui, você precisa repousar. Vamos logo.

Fomos por entre as arvores ao redor da clareira de treinamento para evitar guardiões e perguntas. Queríamos ir depressa e eu realmente estava tentando, mas respirar ficava cada vez mais doloroso. O caminho que escolhemos era maior, o que tornava tudo mais torturante. Não queria deixar todo meu peso sobre Amber, o que depois de certo tempo eu não pude evitar. Continuei com uma das mãos sobre a costela e pisquei os olhos algumas vezes, deixando Am me conduzir. Tentei distrair os pensamentos do caminho sem fim, mas só o que vinha a minha cabeça eram as palavras sussurradas num lamurio angustiante. Mais um minuto de caminhada... sangue... mais dois minutos... escolha... mais três minutos... sacrifício. Nada de bom viria desse mantra, essa era a certeza.

Quando chegamos a nossa casa suspirei aliviada, sentindo mais uma pontada forte. Minha irmã praticamente me carrega até o quarto e me ajuda a deitar na cama.

- Você está pálida Samira.

- Essa lição eu realmente não irei esquecer.

Tento sorrir, mas consigo apenas uma careta desajeitada de dor. Amber me deixa sozinha para preparar as plantas que Caleb prescreveu, noto meu estado lastimável desejando poder tomar um banho o mais rápido possível. Tudo conseguiu ficar muito mais perigoso muito rápido com Isis agora seguindo meus passos, meu estado físico me impossibilitando e me fazendo sentir incapaz, obrigando-me a colocar minha irmã em risco também. Seria melhor dar um passo de cada vez e pensar em como poderia ajuda-la a sair do reino sem que ninguém a visse.

Am trás as plantas e eu sou medicada cuidadosamente, sinto um alívio imediato descer por minha garganta, mas a pontada de dor ainda está lá a cada suspiro ou respiração pesada. Por incrível que pareça é o menor dos meus problemas.

- Amber, tenho que te ensinar o caminho até a arvore que me encontro com Eliot. – ela solta uma lufada de vento por entre os dentes e apenas presta atenção – Vou lhe explicar como faço para sair sem que ninguém perceba. Direi o caminho, escreverei e o que mais for preciso. A arvore é inconfundível, você nunca viu ou verá nada igual. Ele provavelmente já estará á espera. Temos quatro dias para planejar tudo. Tenho certeza de que você ficará bem.

- Está bem. Agora durma um pouco e tente se recuperar. Ficarei de olho em tudo.

Soltou o pano pesado, cobrindo a janela que deixava a luz do fim da tarde entrar no quarto.

- Amber?

- Hmm..

- Obrigada.

Ela balançou levemente a cabeça em concordância.

- Durma Sam.

***

Tive a impressão que haviam se passado vários dias quando acordei na manhã seguinte para ser medicada novamente e ao retirar os curativos todos os meus cortes já estavam praticamente cicatrizados. As plantas provavelmente eram fortes e me deixavam sonolenta, contudo eu não podia perder tempo. Entre os medicamentos e os cuidados eu planejava tudo com minha irmã. Expliquei como sair do reino, detalhei o caminho até a arvore o máximo que pude. Phil e Sophia apareciam algumas vezes durante o dia para me ver, ou no caso de Sophia para me vigiar. Ela podia parecer desconfortável e intrigada ao mesmo tempo com a situação. Quando finalmente conseguia ficar sozinha, eu escrevia os pensamentos que minha cabeça não conseguia mais guardar, até Am voltar com alguma coisa para comer.

- Você acha que consegue chegar até a arvore? – pergunto me servindo de algumas verduras.

- Pela sua descrição, acho que sim. Não parece ser difícil, ou longe.

- Eu ia sugerir que você tentasse encontrar o caminho hoje, mas seria um teste muito arriscado.

- Se está me obrigando a fazer isso para não levantar mais suspeitas sobre você é melhor ficar com o plano original. Amanhã já é o sexto dia de qualquer maneira – colocou meus medicamentos sobre a mesinha ao lado da cama.

- Estou me sentindo bem melhor. Se não fossem por essas malditas pontadas, eu mesma iria.

- Pelos deuses! Você não aguenta mais ficar esses dias sem vê-lo?

- Confio em você Amber. Sei que entenderá.

Revisamos novamente os detalhes do caminho antes que eu passasse mais uma tarde dormindo e me recuperando. Á noite Phil passava alguns momentos comigo, esperando por Sophia. Todos fingiam preocupação, eu fingia não saber os verdadeiros motivos e Amber tentava parecer segura. Após a ultima medicação do dia nos preparamos para dormir, Am se mexia desconfortável na cama como todas as noites. Eu sabia que estava exigindo demais dela, mas não podia contar com mais ninguém.

Na madrugada do sexto dia tive problemas para desligar minha mente e descansar. Estava preocupada com minha irmã, se alguém a visse saindo ou se ela se perdesse eu nunca poderia me perdoar. Minha imaginação trabalhava sozinha no que poderia acontecer se ela encontrasse Eliot ao invés de apenas deixar o bilhete. Sempre presente também estava a certeza de que eu sentiria falta de vê-lo. As palavras da névoa também estavam comigo, todas as noites eram meu ultimo pensamento antes de adormecer.

Ao abrir os olhos novamente o sol já estava forte e brilhante e quando Am me trouxe os medicamentos estava calada.

- Você não me acordou cedo hoje.

- Reparei que você não dormiu muito bem. Achei que precisava descansar um pouco mais – ela deu de ombros.

- Você descansou? – beberico o chá amargo.

- Como um anjo – mentiu.

Fico olhando para o liquido escuro sem coragem de encara-la.

- Me desculpe Am. Sei que a possibilidade de ser descoberta é grande e que estou pedindo demais.

- Samira, você fez sua escolha. Vamos deixar deste jeito.

Permaneço em silêncio até terminar a bebida. A cada respiração mais pesada eu podia sentir a pontada no peito indo embora aos poucos.

- Hoje será a madrugada do sétimo dia. Me diga como você fará para sair.

- Vou pelo topo das arvores e escalarei o portão lateral, como te ajudei a fazer antes.

- Você dará a volta pelos fundos e seguirá para o norte.

- Num gramado longo terá algumas flores de prata, mas não devo seguir o caminho para o lago prateado ao longo da floresta. Terei que seguir em frente.

- Exato! Após mais ou menos dez minutos de caminhada você irá seguir a depressão do gramado. Estará descendo uma pequena colina para subir outra.

- Depois que subi-la já poderei avistar a arvore há alguns metros.

- Você não terá problemas – sorrio, colocando os medicamentos e o almoço de lado.

- Como ninguém nunca descobriu esta arvore antes? Tão grande e solitária, perto do reino.

- Não tem nada naquela região que possa interessar aos guardiões. Ao leste não há florestas ou frutos pelo o que pude ver. Mais para frente, próximo a Baía Selvagem estão os animais. Esta arvore está no centro de tudo e no meio do nada.

- Bom, assim que avistar a arvore deixo sua mensagem e volto o mais rápido que puder – Am ajeita os panos sobre mim, apesar do calor do dia. – Sabe onde deixei minha capa?

Ela vasculha nosso quarto com o olhar a procura de sua capa. Afirmo que não com a cabeça antes de falar:

- Amber não tenha medo dele. Tente não o ver como um monstro. Eliot não é perigoso – olho em seus olhos.

- Ele sempre foi nosso inimigo – indaga fria.

- Verá como ele é diferente no momento que colocar os olhos nele.

- Não quero vê-lo.

- Abra os olhos para poder enxergar de verdade tudo ao seu redor. Se puder sentir com sua alma saberá tudo que está dentro de mim.

- É difícil mudar todos esses anos de ensinamentos – Am suspira e passa a olhar a luz da tarde que entra pela janela.

- Eu sei, mas nada nunca é tão difícil que não valha a pena tentar.

Ela sorri levemente e nós passamos o resto da tarde no quarto, aproveitando que neste período de recuperação estávamos milagrosamente liberadas dos treinamentos e tarefas. Provavelmente Enzo nos ajudou nessa parte.

Antes de Phil e Sophia chegarem eu entreguei o papel com a mensagem para minha irmã no caso de algum imprevisto. Ela guardou entre os panos de sua roupa e passou o resto da noite desconfortável na presença dos outros guardiões. Felizmente ninguém a conhecia como eu. Sophia poderia informar mais um relatório a Isis sem mais problemas.

A noite se tornava fria e úmida á medida que a madrugada ia se aproximando. Nós fingíamos que estávamos dormindo fazia algumas horas. Quando julguei ser o momento certo, me virei para Am e pude ver seus olhos abertos na meia luz do fogo dentro do pequeno vidro que ficava sobre uma das mesinhas do quarto. Fiz um aceno de cabeça e ela se levantou com cuidado, vestiu minha capa que ela fechou sobre o peito depois segurou minha mão com força antes de sair pela janela. Desejei como nunca que ela ficasse bem e que as coisas dessem certo.

Foi uma madrugada longa sem notícias.

***

Amber seguiu todas as instruções de Samira à risca e quando avistou a arvore sorriu sozinha. Sam estava certa, nunca tinha visto outra igual. Ofegante, não pela corrida e sim pelo nervosismo, aproximou-se da arvore cuidadosamente enquanto segurava a mensagem da irmã contra o peito.

Seus olhos procuravam sombras ou vultos e seus ouvidos aguçados a faziam virar a cabeça a todo o momento em busca de alguém que a estivesse seguindo. Assim que ficou perto o bastante parou para admirar. Era linda! Mais uma olhada ao redor. Nenhum sinal de alguém por perto, melhor assim. Deixaria a mensagem e voltaria o mais rápido possível.

Ela abaixou-se e deixou o papel dobrado cuidadosamente encostado no tronco. Assim que se levantou viu uma sombra mexendo-se entre os galhos da arvore. Ele, cauteloso, manteve distância ao ficar em pé enquanto a guardiã prendia a respiração. Era o servidor, um inimigo.

Ambos se estudavam com atenção. Amber levou a mão ao punho de sua espada por puro instinto, mas tudo que ele queria era saber por que Samira enviaria outra pessoa. Era uma enviada ou haviam sido descobertos?

- Samira corre perigo? – Eliot quebra o silêncio pesado.

Ainda desconfiada a guardiã permanece pronta para defender-se a qualquer momento.

- Vocês dois correm, mas ela teria vindo hoje se não estivesse machucada.

- Machucada? – ele da um passo a frente, saindo inteiramente das sombras. Seu tom é de preocupação.

Podendo vê-lo inteiramente agora, com a claridade da lua acertando em cheio seu rosto, Amber fica titubeante. Ele é um servidor, mas não parece um.

- Está tudo explicado no bilhete.

- Ela lhe contou tudo? – a olhava nos olhos, se esforçando para não assustá-la.

- Sim, nós somos irmãs.

- Vocês têm os mesmos traços do rosto.

Eles ficam acanhados e desconfortáveis, assim o silêncio se instala mais uma vez. Sem querer prolongar aquele momento ela se vira e começa a andar na direção em que veio, porém, ele a chama:

- Por favor. Antes que vá embora, peça a Sam para não ir á próxima batalha. Se você puder também não vá.

- Você está planejando alguma coisa? Eu sabia que não...

- Eu não sei de nada. Pelo menos não exatamente, mas sei que estão escondendo algo e que planejam atacar em breve – pegou o papel ao pé da arvore e deu um passo adiante – Peça a ela que não vá.

Amber apertou os dedos ao redor da espada, um pouco intimidada pela autoridade que Eliot adquiriu na voz. Sustentou o olhar negro, procurando por algum vestígio de que estava mentindo. Não encontrou nenhuma resposta. Era um enigma, uma dúvida: acreditar ou não.

- Eu direi a ela. Prometi a minha irmã que tentaria – fez um aceno de cabeça e começou a se afastar novamente.

- Obrigado – respondeu, mas a guardiã já estava correndo em direção á próxima colina.


***

a essa altura achei que seria muito importante alguma interação entre Amber e Eliot.

Obrigada a todos os comentários, me fazem muito feliz *-* Aos novos leitores que chegaram até aqui, muito obrigada também.

Votem e comentem, pois adoro falar com todos vocês ^^

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